sábado, 21 de junho de 2008

O Lobby de Israel1

John MearsheimerI; Stephen WaltII

IProfessor Wendell Harrison de Ciência Política em Chicago e autor de The tragedy of great power politics
IIProfessor Robert and Renee Belfer de Assuntos Internacionais na Kennedy School of Government em Harvard. Seu livro mais recente é Taming American power: the global response to US primacy





RESUMO

O cerne da política dos Estados Unidos no Oriente Médio deriva das atividades do "Lobby de Israel", que conseguiu desviá-la para longe do interesse nacional e convencer os americanos de que os interesses dos Estados Unidos e os de Israel são idênticos. O artigo sustenta que estratégias comuns ou imperativos morais inarredáveis não são explicações suficientes para explicar o notável nível de apoio material e diplomático fornecido pelos Estados Unidos.

Palavras-chave: Israel; Estados Unidos; Oriente Médio; relações internacionais.

SUMMARY

The thrust of US Middle Eastern policy derives from the activities of the "Israel Lobby", which has managed to divert it as far from what the national interest would suggest, convincing Americans that US interests and those of Israel are identical. The article states that neither shared strategic interests nor compelling moral imperatives can account for the remarkable level of material and diplomatic support provided to Israel by US government.

Keywords: Israel; United States; Middle East; foreign affairs.





Nas últimas décadas, e especialmente desde a Guerra dos Seis dias em 1967, o componente mais importante da política dos Estados Unidos para o Oriente Médio tem sido sua relação com Israel. A combinação de apoio resoluto a Israel com o esforço a ele relacionado de disseminar a "democracia" por toda a região inflamou a opinião árabe e islâmica e pôs em risco não só a segurança dos Estados Unidos, mas também a de grande parte do resto do mundo. Essa situação não tem equivalente na história política americana. Por que os Estados Unidos se dispuseram a deixar de lado sua própria segurança e a de muitos de seus aliados para promover os interesses de outro Estado? Poder-se-ia supor que o vínculo entre os dois países se baseava em interesses estratégicos comuns ou em imperativos morais inarredáveis, mas nenhuma dessas explicações é suficiente para explicar o notável nível de apoio material e diplomático fornecido pelos Estados Unidos.

O cerne da política dos Estados Unidos na região deriva, antes, quase inteiramente da política interna, em especial das atividades do "Lobby de Israel". Outros grupos de interesse específicos conseguiram influenciar a política externa, mas nenhum lobby conseguiu desviá-la para tão longe do que o interesse nacional indicaria, ao mesmo tempo convencendo os americanos de que os interesses dos Estados Unidos e os do outro país — no caso, Israel — são essencialmente idênticos.

Desde a Guerra de Outubro, em 1973, Washington deu a Israel um nível de apoio imensamente maior do que a qualquer outro Estado. Israel foi o maior receptor anual de assistência direta, econômica e militar, desde 1976, e é o maior receptor no total desde a Segunda Guerra Mundial, no montante de bem mais de US$ 140 bilhões (em dólares de 2004). Israel recebe por ano cerca de US$ 3 bilhões em assistência direta, aproximadamente um quinto do orçamento de ajuda externa, e cerca de US$ 500 por ano para cada israelense. Essa prodigalidade é chocante em particular porque Israel é hoje um Estado industrial rico com uma renda per capita mais ou menos igual à da Coréia do Sul ou à da Espanha. Outros países que recebem ajuda americana obtêm o dinheiro em prestações quadrimestrais, mas Israel recebe sua dotação inteira no início de cada ano fiscal e pode portanto ganhar juros sobre ela. A maioria dos que recebem ajuda para propósitos militares deve gastá-la toda nos Estados Unidos, mas Israel é autorizado a usar cerca de 25% de sua dotação para subsidiar sua própria indústria de defesa. É o único país a receber ajuda americana que não precisa explicar como o dinheiro é gasto, o que torna virtualmente impossível evitar que ele seja usado para propósitos aos quais os Estados Unidos se opõem, como construir assentamentos na Cisjordânia. Além disso, os Estados Unidos forneceram a Israel quase US$ 3 bilhões para o desenvolvimento de sistemas de armamentos, e deram ao país acesso a artefatos avançados como helicópteros Blackhawk e jatos F-16. Finalmente, os Estados Unidos dão a Israel acesso a informações que negam a seus aliados da Otan, e fecharam os olhos para a aquisição por Israel de armas nucleares.

Washington também dá a Israel um apoio diplomático permanente. Desde 1982, os Estados Unidos vetaram 32 resoluções do Conselho de Segurança da ONU críticas a Israel, mais do que o número total de vetos de todos os outros membros do Conselho de Segurança. Eles obstruem os esforços de Estados árabes para incluir o arsenal nuclear de Israel na agenda da AIEA. Os Estados Unidos socorrem Israel em tempo de guerra e tomam seu partido quando negociam a paz. O governo Nixon protegeu Israel da ameaça de intervenção soviética e o reabasteceu durante a Guerra de Outubro. Washington se envolveu profundamente nas negociações que terminaram aquela guerra, assim como no demorado processo "passo a passo" que se seguiu, além de ter cumprido um papel decisivo nas negociações que antecederam e se seguiram aos Acordos de Oslo de 1993. Em todos os casos houve sempre atritos ocasionais entre representantes dos Estados Unidos e de Israel, mas os Estados Unidos sempre apoiaram a posição israelense. Um dos participantes americanos em Camp David em 2000 disse depois: "Com demasiada freqüência, nós funcionamos [...] como advogado de Israel". Por fim, a ambição do governo Bush de transformar o Oriente Médio tem como objetivo, pelo menos em parte, melhorar a situação estratégica de Israel.

Essa extraordinária generosidade talvez fosse compreensível se Israel fosse um ativo estratégico vital ou se houvesse um argumento moral inarredável em favor do apoio dos Estados Unidos. Mas nenhuma dessas explicações é convincente. Poder-se-ia argumentar que Israel era um ativo durante a Guerra Fria. Atuando como substituto dos Estados Unidos depois de 1967, Israel ajudou a conter a expansão soviética na região e infligiu derrotas humilhantes a clientes soviéticos como o Egito e a Síria. Ocasionalmente, ajudou e protegeu outros aliados dos Estados Unidos (como o rei Hussein, da Jordânia), e seus feitos militares obrigaram Moscou a gastar mais para apoiar seus Estados-clientes. Israel também forneceu informações úteis sobre a capacidade militar dos soviéticos. No entanto, sustentar Israel não era barato, e complicava as relações dos Estados Unidos com o mundo árabe. Por exemplo, a decisão de dar US$ 2,2 bilhões em assistência militar de emergência durante a Guerra de Outubro provocou um embargo de petróleo da Opep que causou danos consideráveis a economias ocidentais. Por tudo isso, as forças armadas de Israel não tinham condições de proteger os interesses americanos na região. Os Estados Unidos não puderam, por exemplo, recorrer a Israel quando, em 1979, a Revolução Iraniana suscitou preocupações sobre a segurança do fornecimento de petróleo, e tiveram de criar sua própria Força de Ação Rápida.

A primeira Guerra do Golfo revelou em que medida Israel estava se tornando um fardo estratégico. Os Estados Unidos não podiam usar bases israelenses sem romper a coalizão anti-Iraque, e tiveram de desviar recursos (por exemplo, baterias de mísseis Patriot) para evitar que Tel-Aviv fizesse algo que prejudicasse a aliança contra Saddam Hussein. A história se repetiu em 2003: embora Israel estivesse ansioso para que os Estados Unidos atacassem o Iraque, Bush não podia pedir ajuda israelense sem provocar a oposição dos árabes. Assim, Israel mais uma vez ficou à parte.

Desde a década de 1990, e ainda mais depois do 11 de Setembro, o apoio americano foi justificado pela afirmação de que os dois Estados são ameaçados por grupos terroristas que têm origem no mundo árabe e muçulmano, e por rogue states2 que sustentam esses grupos e procuram obter armas de destruição em massa. Considera-se que isso significa não só que Washington deve dar a Israel liberdade para lidar com os palestinos e não pressioná-lo a fazer concessões até que todos os terroristas palestinos estejam presos ou mortos, mas também que os Estados Unidos devem perseguir países como o Irã e a Síria. Israel é visto, portanto, como um aliado decisivo na guerra contra o terror, porque seus inimigos são inimigos dos Estados Unidos. De fato, Israel é um fardo na guerra contra o terror e no esforço mais amplo de lidar com "Estados patifes". O "terrorismo" não é um adversário único, mas uma tática empregada por um amplo conjunto de grupos políticos. As organizações terroristas que ameaçam Israel não ameaçam os Estados Unidos, a não ser quando estes intervêm contra elas (como no Líbano em 1982). Além disso, o terrorismo palestino não é uma violência aleatória dirigida contra Israel ou "o Ocidente"; é basicamente uma resposta à prolongada campanha de Israel para colonizar a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

E o mais importante: dizer que Israel e os Estados Unidos estão unidos por uma ameaça terrorista comum inverte a relação causal: os Estados Unidos têm um problema terrorista em boa parte porque estão intimamente aliados a Israel, e não o contrário. O apoio a Israel não é a única fonte do terrorismo antiamericano, mas é uma fonte importante, que torna mais difícil vencer a guerra contra o terror. Não há dúvida de que muitos líderes da Al-Qaeda, entre eles Osama bin Laden, são motivados pela presença de Israel em Jerusalém e pela difícil situação dos palestinos. O apoio incondicional a Israel torna mais fácil aos extremistas obter apoio popular e atrair recrutas.

Quanto aos chamados rogue states do Oriente Médio, eles não são uma ameaça muito séria a interesses americanos vitais, a não ser na medida em que são uma ameaça a Israel. Mesmo que esses Estados adquiram armas nucleares — o que é obviamente indesejável —, nem os Estados Unidos nem Israel poderiam ser chantageados, porque o chantageador não poderia levar a cabo a ameaça sem sofrer retaliações devastadoras. O perigo de uma transferência de armas nucleares aos terroristas é igualmente remoto, porque um rogue state não poderia ter certeza de que ela passaria despercebida ou de que ele não seria culpado e punido depois. A relação com Israel na verdade torna mais difícil para os Estados Unidos lidar com esses Estados. O arsenal nuclear de Israel é uma das razões pelas quais alguns de seus vizinhos querem armas nucleares, e ameaçá-los com a mudança de regime só faz aumentar esse desejo. Uma última razão para questionar o valor estratégico de Israel é que ele não se comporta como um aliado leal. Os representantes de Israel freqüentemente ignoram os pedidos dos Estados Unidos e descumprem promessas (entre elas compromissos de parar de construir assentamentos e de se abster de "assassinatos planejados" de líderes palestinos). Israel forneceu tecnologia militar sofisticada a rivais potenciais como a China, no que o inspetor-geral do Departamento de Estado americano chamou de "um padrão sistemático e crescente de transferências não autorizadas". Segundo o General Accounting Office, Israel também "executa as mais agressivas operações de espionagem contra os Estados Unidos feitas por qualquer um de seus aliados". Além do caso de Jonathan Pollard, que passou a Israel grande quantidade de material secreto no começo da década de 1980 (que Israel teria passado para a URSS em troca de mais vistos de saída para judeus soviéticos), uma nova controvérsia surgiu em 2004 quando foi revelado que um importante funcionário do Pentágono chamado Larry Franklin tinha passado informações secretas para um diplomata israelense. Dificilmente Israel é o único país que espiona os Estados Unidos, mas sua disposição para espionar seu principal patrono levanta ainda mais dúvidas sobre seu valor estratégico.

E o valor estratégico de Israel não é a única questão. Seus apoiadores também argumentam que ele merece um apoio irrestrito porque é fraco e está cercado por inimigos; é uma democracia; o povo judeu foi vítima de crimes no passado e portanto merece tratamento especial; e a conduta de Israel tem sido moralmente superior à de seus adversários. Analisados em detalhe, nenhum desses argumentos é convincente. Há um forte argumento moral para apoiar a existência de Israel, mas ela não está em risco. Vista objetivamente, sua conduta passada e presente não oferece nenhuma base moral para privilegiar Israel em relação aos palestinos.

Israel costuma ser retratado como Davi confrontado por Golias, mas o inverso está mais próximo da verdade. Ao contrário da crença popular, os sionistas tinham forças maiores e mais bem equipadas durante a Guerra de Independência de 1947-49, e as forças armadas de Israel obtiveram vitórias rápidas e fáceis contra o Egito em 1956 e contra o Egito, a Jordânia e a Síria em 1967 — tudo isso antes de se iniciar a ajuda em grande escala por parte dos Estados Unidos. Hoje, Israel é a potência militar mais forte do Oriente Médio. Suas forças convencionais são muito superiores às de seus vizinhos, e ele é o único Estado na região que possui armas nucleares. O Egito e a Jordânia assinaram tratados de paz com Israel, e a Arábia Saudita se propôs a fazer o mesmo. A Síria perdeu seu patrono soviético, o Iraque foi devastado por três guerras desastrosas e o Irã está a centenas de quilômetros de distância. Os palestinos mal têm uma força policial eficaz, muito menos um exército que pudesse ameaçar Israel. Segundo uma avaliação feita em 2005 pelo Centro de Estudos Estratégicos Jaffee, da Universidade de Tel-Aviv, "o balanço estratégico decididamente favorece Israel, que continuou a aumentar o hiato qualitativo entre sua capacidade militar e as forças de dissuasão de seus vizinhos". Se apoiar o lado mais fraco fosse um motivo obrigatório, os Estados Unidos estariam apoiando os adversários de Israel. O fato de Israel ser uma democracia amiga cercada por ditaduras hostis não é suficiente para explicar o atual nível de ajuda: há muitas democracias no mundo, mas nenhuma recebe o mesmo apoio generoso. Os Estados Unidos derrubaram governos democráticos no passado e sustentaram ditadores quando julgaram que isso serviria a seus interesses — e têm hoje boas relações com algumas ditaduras. Alguns aspectos da democracia israelense estão em choque com valores americanos. Diferentemente dos Estados Unidos, onde as pessoas devem desfrutar de direitos iguais independentemente de raça, religião ou etnia, Israel foi fundado explicitamente como um Estado judeu e sua cidadania é baseada no princípio do parentesco sanguíneo. Em vista disso, não é de surpreender que seus 1,3 milhão de árabes sejam tratados como cidadãos de segunda classe, ou que uma recente comissão governamental israelense tenha concluído que Israel se comporta de maneira "negligente e discriminatória" em relação a eles. O status democrático de Israel é prejudicado também por sua recusa a conceder aos palestinos um Estado próprio viável ou direitos políticos plenos. Uma terceira justificativa é a história do sofrimento dos judeus no Ocidente cristão, especialmente durante o Holocausto. Como os judeus foram perseguidos durante séculos e só podiam se sentir seguros numa pátria judaica, muitas pessoas acreditam hoje que Israel merece tratamento especial por parte dos Estados Unidos. A criação do país foi sem dúvida uma resposta apropriada ao longo histórico de crimes contra os judeus, mas também acarretou crimes contra uma terceira parte, basicamente inocente: os palestinos.

Isso era bem entendido pelos primeiros líderes de Israel. David Ben-Gurion disse a Naum Goldmann, presidente do Congresso Mundial Judaico:

Se eu fosse um líder árabe, nunca faria um acordo com Israel. Isso é natural: nós tomamos a pátria deles [...] Nós nascemos em Israel, mas isso foi há 2 mil anos, e o que isso significa para eles? Houve anti-semitismo, os nazistas, Hitler, Auschwitz, mas que culpa eles tiveram nisso? Eles só vêem uma coisa: nós viemos para cá e roubamos sua pátria. Por que eles têm de aceitar isso?

Desde então, os líderes israelenses têm buscado repetidamente negar as ambições nacionais dos palestinos. Quando era primeira-ministra, Golda Meir declarou que "não existe palestino". A pressão da violência extremista e o crescimento da população palestina forçaram líderes israelenses subseqüentes a se retirar da Faixa de Gaza e a considerar outros compromissos territoriais, mas nem mesmo Yitzhak Rabin se dispôs a oferecer aos palestinos um Estado viável. A oferta supostamente generosa de Ehud Barak em Camp David teria dado a eles só um conjunto desarmado de bantustões controlados de fato pelos israelenses. A trágica história do povo judeu não obriga os Estados Unidos a ajudar Israel hoje independentemente do que ele faça. Os apoiadores de Israel também o apresentam como um país que sempre buscou a paz e mostrou grande contenção mesmo quando provocado. Os árabes, ao contrário, teriam agido com grande maldade. Contudo, no campo de batalha, o histórico de Israel não é distinguível do de seus adversários. Ben-Gurion reconheceu que os primeiros sionistas estavam longe de ser benevolentes em relação aos árabes palestinos, que resistiam a seus abusos — o que não é de surpreender, dado que os sionistas estavam tentando criar seu próprio Estado em terra árabe. Da mesma forma, a criação de Israel em 1947-48 envolveu ações de limpeza étnica, inclusive execuções, massacres e estupros por parte de judeus, e a conduta subseqüente de Israel foi muitas vezes brutal, contradizendo qualquer reivindicação de superioridade moral. Entre 1940 e 1956, por exemplo, as forças de segurança israelenses mataram entre 2700 e 5 mil árabes infiltrados, cuja esmagadora maioria estava desarmada. As forças armadas israelenses mataram centenas de prisioneiros de guerra egípcios nas guerras de 1956 e 1967, e em 1967 Israel expulsou entre 100 mil e 260 mil palestinos da recém-conquistada Cisjordânia, e obrigou 80 mil sírios a deixar as colinas de Golan.

Durante a primeira intifada, as forças armadas israelenses distribuíram bastões a suas tropas e as estimularam a quebrar os ossos dos manifestantes palestinos. A filial sueca da Save the Children estimou que "entre 23.600 e 29.900 crianças precisaram de tratamento médico para ferimentos de pancadas nos primeiros dois anos da intifada". Quase um terço dessas crianças tinha dez anos de idade ou menos. A resposta à segunda intifada foi ainda mais violenta, levando o Ha'aretz a declarar que "as forças armadas israelenses [...] estão se transformando em uma máquina de matar cuja eficiência é admirável, mas chocante". As forças armadas israelenses dispararam 1 milhão de balas nos primeiros dias do levante. Desde então, para cada israelense perdido, Israel matou 3,4 palestinos, na maioria observadores inocentes; a relação entre crianças palestinas e israelenses mortas é ainda mais alta (5,7:1). Vale a pena lembrar também que os sionistas recorreram a bombas terroristas para tirar os ingleses da Palestina, e que Yitzhak Shamir, ex-terrorista que mais tarde se tornou primeiro-ministro israelense, declarou que "nem a ética judaica nem a tradição judaica podem desqualificar o terrorismo como um meio de combate".

O recurso palestino ao terrorismo é errado, mas não é de surpreender. Os palestinos acreditam que não têm nenhuma outra forma de obrigar Israel a fazer concessões. Como admitiu certa vez Ehud Barak, se tivesse nascido palestino, ele "teria ingressado em uma organização terrorista".

Então, se nem argumentos estratégicos nem argumentos morais justificam o apoio dos Estados Unidos a Israel, como podemos explicá-lo?

A explicação é o poder sem igual do Lobby de Israel. Usamos "o Lobby" como uma forma abreviada de identificar a frouxa coalizão de indivíduos e organizações que trabalham ativamente para empurrar a política externa dos Estados Unidos numa direção pró-Israel. Com isso não queremos sugerir que "o Lobby" seja um movimento unificado com uma liderança central, nem que as pessoas que participam dele não discordam em certas questões. Nem todos os judeus americanos fazem parte do Lobby, porque para muitos deles Israel não é uma questão relevante. Segundo um levantamento feito em 2004, por exemplo, cerca de 36% dos judeus americanos disseram que "não eram muito" ou "não eram nada" ligados emocionalmente a Israel.

Os judeus americanos também diferem a respeito de políticas israelenses específicas. Muitas das principais organizações do Lobby, como o American-Israel Public Affairs Committee (Aipac) e a Conference of Presidents of Major Jewish Organisations, são dirigidas por linha-duras que em geral apóiam as políticas expansionistas do Partido Likud, entre elas a hostilidade ao processo de paz de Oslo. O grosso dos judeus americanos, no entanto, está mais inclinado a fazer concessões aos palestinos, e alguns grupos — como o Jewish Voice for Peace — defendem fortemente esses passos. Apesar dessas diferenças, tanto os moderados quanto os linha-duras aprovam um apoio firme a Israel. Como seria previsível, líderes judeus americanos costumam consultar representantes israelenses, para se certificar de que suas ações contribuem para os objetivos israelenses. Um ativista de uma importante organização judaica escreveu: "para nós é rotineiro dizer: 'Esta é nossa política em certa questão, mas devemos verificar o que os israelenses pensam'. Como comunidade, fazemos isso o tempo todo". Há um forte preconceito contra criticar a política israelense, e pressionar Israel é considerado inaceitável. Edgar Bronfman, presidente do Congresso Judaico Mundial, foi acusado de "perfídia" quando escreveu uma carta ao presidente Bush em meados de 2003 instando-o a convencer Israel a interromper a construção de sua controvertida "cerca de segurança". Os críticos de Bronfman diziam que "seria obsceno que em qualquer momento o presidente do Congresso Mundial Judaico tentasse convencer o presidente dos Estados Unidos a resistir a políticas promovidas pelo governo de Israel". Da mesma forma, quando o presidente do Israel Policy Forum, Seymour Reich, aconselhou Condoleezza Rice, em novembro de 2005, a pedir a Israel que reabrisse uma passagem de fronteira crítica na Faixa de Gaza, seu ato foi denunciado como "irresponsável": "Não há", diziam os críticos, "absolutamente nenhum espaço no mainstream judaico para que se aja vigorosamente contra políticas relacionadas à segurança [...] de Israel". Recuando diante desses ataques, Reich anunciou que "a palavra 'pressão' não faz parte de meu vocabulário quando se trata de Israel".

Os judeus americanos criaram um conjunto impressionante de organizações para influenciar a política externa americana, das quais o Aipac é a mais poderosa e mais conhecida. Em 1997, a revista Fortune pediu a membros do Congresso e a suas equipes que listassem os lobbies mais poderosos de Washington. O Aipac ficou em segundo lugar, atrás da American Association of Retired People mas à frente da AFL-CIO e da National Rifle Association. Um estudo do National Journal de março de 2005 chegou a conclusão semelhante, situando o Aipac em segundo lugar (empatada com a American Association of Retired People) na "lista dos mais influentes" de Washington.

O Lobby também inclui destacados cristãos evangélicos como Gary Bauer, Jerry Falwell, Ralph Reed e Pat Robertson, além de Dick Armey e Tom DeLay, ex-líderes da maioria na Câmara dos Deputados, e todos eles acreditam que o renascimento de Israel é o cumprimento de uma profecia bíblica e apóiam a agenda expansionista de Israel; agir de outro modo, acreditam eles, seria contrariar a vontade de Deus. Gentios neoconservadores como John Bolton; Robert Bartley, ex-editor do Wall Street Journal; William Bennett, ex-secretário de Educação; Jeane Kirkpatrick, ex-embaixadora dos Estados Unidos na ONU; e o influente colunista George Will, também são apoiadores firmes.

A forma de governo dos Estados Unidos oferece aos ativistas muitas maneiras de influenciar o processo político. Grupos de interesse podem pressionar deputados eleitos e membros do Executivo, fazer doações para campanha, votar nas eleições, tentar moldar a opinião pública etc. Eles dispõem de um grau exagerado de influência quando estão comprometidos com uma questão à qual o grosso da população é indiferente. Os responsáveis pelas decisões políticas tendem a contentar aqueles que se importam com a questão, mesmo que o número deles seja pequeno, confiando em que o resto da população não vai penalizá-los por agirem assim.

Em suas operações básicas, o Lobby de Israel não é diferente do lobby da agricultura, do lobby do aço ou dos sindicatos de trabalhadores da indústria têxtil, nem dos lobbies étnicos. Não há nada de impróprio na tentativa dos judeus americanos e de seus aliados cristãos de controlar a política dos Estados Unidos: as atividades do Lobby não são uma conspiração do tipo descrito em tratados como os Protocolos dos Sábios do Sião. Na maioria, os indivíduos e grupos que o compõem estão fazendo apenas o que outros grupos de interesse especial fazem, só que fazem muito melhor. Em contraste, os grupos de interesse pró-árabes, quando existem, são fracos, o que torna ainda mais fácil a tarefa do Lobby de Israel.

O Lobby adota duas estratégias amplas. Primeiro, ele exerce sua influência significativa em Washington, pressionando tanto o Congresso quanto o Executivo. Sejam quais forem as visões políticas de um legislador ou responsável por decisões políticas, o Lobby tenta tornar o apoio a Israel a escolha "inteligente". Em segundo lugar, ele se esforça para assegurar que o discurso público retrate Israel de forma positiva, repetindo mitos sobre sua fundação e promovendo seu ponto de vista nos debates sobre políticas. O objetivo é evitar que comentários críticos obtenham audiência imparcial na arena política. Controlar o debate é essencial para garantir o apoio dos Estados Unidos, porque uma discussão franca das relações entre Estados Unidos e Israel poderia levar os americanos a preferir uma política diferente.

Um dos principais pilares da eficiência do Lobby é sua influência no Congresso, onde Israel é virtualmente imune à crítica. Isso é por si só notável, porque o Congresso raramente evita questões contenciosas. No que diz respeito a Israel, no entanto, críticos potenciais silenciam. Uma das razões para isso é que alguns membros importantes do Congresso são sionistas cristãos, como Dick Armey, que disse em setembro de 2002: "Minha prioridade número um em política externa é proteger Israel". Poder-se-ia pensar que a prioridade número um de qualquer congressista fosse proteger os Estados Unidos. Há também senadores e deputados judeus que trabalham para garantir que a política externa dos Estados Unidos apóie os interesses de Israel. Outra fonte do poder do Lobby é o uso que ele faz de funcionários do Congresso. Como admitiu certa vez Morris Amitay, ex-presidente do Aipac, "há muitas pessoas trabalhando aqui" — no Capitólio — "que são judeus, que estão dispostas [...] a considerar certas questões em termos de sua judaicidade [...] São todas pessoas que têm condições de tomar a decisão nessas áreas pelos senadores [...] É possível fazer um trabalho incrível apenas no nível dos funcionários".

É o próprio Aipac, no entanto, que constitui o núcleo da influência do Lobby no Congresso. Seu sucesso se deve à capacidade de recompensar legisladores e candidatos ao Congresso que apóiam sua agenda, e de punir aqueles que a contestam. O dinheiro cumpre um papel decisivo nas eleições dos Estados Unidos (como nos lembra o escândalo sobre as negociações obscuras do lobista Jack Abramoff), e o Aipac assegura a seus amigos um forte apoio financeiro dos muitos comitês de ação política pró-Israel. Quem for visto como hostil a Israel pode ter certeza de que o Aipac direcionará contribuições de campanha para seus adversários políticos. O Aipac também organiza campanhas de redação de cartas e estimula editores de jornais a apoiar candidatos pró-Israel.

Não há dúvida sobre a eficácia dessas táticas. Eis um exemplo: nas eleições de 1984, o Aipac ajudou a derrotar o senador Charles Percy, de Illinois, o qual, de acordo com uma destacada figura do Lobby, tinha "demonstrado insensibilidade e mesmo hostilidade em relação a nossas preocupações". Thomas Dine, presidente do Aipac na época, explicou o que aconteceu: "Todos os judeus nos Estados Unidos, de costa a costa, se juntaram para expulsar Percy. E os políticos americanos — aqueles que hoje ocupam cargos políticos e aqueles que aspiram a eles — captaram a mensagem".

A influência do Aipac no Capitólio chega ainda mais longe. Segundo Douglas Bloomfield, ex-funcionário do Aipac, "é comum que membros do Congresso e suas equipes recorram primeiro ao Aipac quando precisam de informação, antes de ir à Biblioteca do Congresso, ao Serviço de Pesquisa do Congresso, aos funcionários da comissão ou a especialistas do governo". E o mais importante, ele observa que o Aipac "é solicitado muitas vezes a escrever discursos, elaborar legislação, dar conselhos sobre tática, fazer pesquisas, conseguir co-patrocinadores e angariar votos".

O fundamental é que o Aipac, de fato um agente que trabalha para um governo estrangeiro, tem uma mordaça sobre o Congresso, e o resultado é que a política dos Estados Unidos em relação a Israel não é debatida ali, embora tenha conseqüências importantes para o mundo inteiro. Em outras palavras, um dos três principais ramos do governo está firmemente comprometido com o apoio a Israel. Como observou um ex-senador democrata, Ernest Hollings, ao deixar o cargo, "não se pode ter nenhuma política em relação a Israel que não seja a que o Aipac propõe aqui". Ou, como disse Ariel Sharon a uma platéia americana, "quando as pessoas me perguntam como podem ajudar Israel, eu digo a elas: 'ajudem o Aipac'".

Graças em parte à influência que os eleitores judeus exercem nas eleições presidenciais, o Lobby tem também um efeito importante sobre o Executivo. Embora constituam pouco mais de 3% da população, esses eleitores fazem grandes doações de campanha a candidatos de ambos os partidos. O Washington Post estimou certa vez que os candidatos democratas à Presidência "dependem de apoiadores judeus para obter 60% do dinheiro". E como os eleitores judeus têm altas taxas de comparecimento nas votações e estão concentrados em estados importantes como Califórnia, Flórida, Illinois, Nova York e Pensilvânia, os candidatos à Presidência fazem de tudo para não desagradá-los.

Organizações importantes do Lobby se dedicam a assegurar que críticos de Israel não obtenham cargos importantes na área de política externa. Jimmy Carter queria fazer de George Ball seu primeiro secretário de Estado, mas sabia que Ball era visto como crítico de Israel e que o Lobby se oporia à indicação. Dessa forma, qualquer aspirante a um cargo no governo é encorajado a se tornar um franco apoiador de Israel, e é por esse motivo que os que criticam abertamente a política israelense se tornaram uma espécie em extinção no establishment da política externa.

Quando Howard Dean pediu que os Estados Unidos assumissem um papel mais "imparcial" no conflito árabe-israelense, o senador Joseph Lieberman o acusou de trair Israel e disse que sua declaração era "irresponsável". Praticamente todos os democratas importantes na Câmara assinaram uma carta criticando as observações de Dean, e o Chicago Jewish Star relatou que "atacantes anônimos [...] estão entupindo as caixas de entrada de e-mail de líderes judeus em todo o país, advertindo — sem muitas provas — que Dean seria de alguma forma ruim para Israel".

Essa preocupação era absurda; Dean é de fato bastante truculento quando se trata de Israel: um dos chefes de sua campanha era um ex-presidente do Aipac, e Dean dizia que suas visões sobre o Oriente Médio refletiam mais as do Aipac do que as da mais moderada Americans for Peace Now. Ele havia sugerido simplesmente que para "conciliar os dois lados", Washington devia agir como um intermediário honesto. Essa dificilmente é uma idéia radical, mas o Lobby não tolera a imparcialidade.

Durante o governo Clinton, a política para o Oriente Médio era basicamente elaborada por funcionários que tinham laços estreitos com Israel ou com organizações notoriamente pró-Israel; entre eles, Martin Indyk, ex-vice-diretor de pesquisa do Aipac e co-fundador do pró-israelita Washington Institute for Near East Policy (Winep); Dennis Ross, que ingressou no Winep depois de deixar o governo em 2001; e Aaron Miller, que viveu em Israel e costuma visitar o país. Esses homens estavam entre os conselheiros mais íntimos de Clinton na reunião de cúpula de Camp David em julho de 2000. Embora os três apoiassem o processo de paz de Oslo e a criação de um Estado palestino, faziam isso apenas nos limites do que seria aceitável para Israel. A delegação americana seguiu a orientação de Ehud Barak, coordenou previamente com Israel as posições que adotaria na negociação e não apresentou propostas independentes. Como era de esperar, os negociadores palestinos se queixaram de que estavam "negociando com duas equipes israelenses — uma empunhando uma bandeira israelense, a outra, uma bandeira americana". A situação é ainda mais pronunciada no governo Bush, em cujas fileiras se incluíram defensores tão ardorosos da causa israelense como Elliot Abrams, John Bolton, Douglas Feith, I. Lewis ("Scooter") Libby, Richard Perle, Paul Wolfowitz e David Wurmser. Como veremos, esses funcionários sempre defenderam políticas apoiadas por Israel e sustentadas por organizações do Lobby. É claro que o Lobby não quer um debate aberto, porque isso poderia levar os americanos a questionar o nível de apoio que dão a Israel. Da mesma forma, as organizações pró-Israel se esforçam para influenciar as instituições que têm mais peso na moldagem da opinião popular.

A perspectiva do Lobby prevalece na mídia convencional: o debate entre especialistas em Oriente Médio, escreve o jornalista Eric Alterman, é "dominado por pessoas que não conseguem imaginar criticar Israel". Ele lista 61 "colunistas e comentaristas com quem se pode contar para apoiar Israel de forma reflexiva e irrestrita". Por outro lado, ele encontrou apenas cinco especialistas que sempre criticam as ações israelenses ou endossam posições árabes. Os jornais publicam ocasionalmente textos de articulistas convidados contestando a política israelense, mas o balanço das opiniões favorece claramente o outro lado. É difícil imaginar qualquer órgão da mídia convencional nos Estados Unidos publicando um artigo como este.

"Shamir, Sharon, Bibi — qualquer coisa que esses caras queiram está ótimo para mim", observou uma vez Robert Bartley. Previsivelmente, seu jornal, o Wall Street Journal, ao lado de outros jornais de destaque como o Chicago Sun-Times e o Washington Times, publicam regularmente editoriais que apóiam solidamente Israel. Revistas como Commentary, New Republican e Weekly Standard defendem Israel em todas as ocasiões.

A parcialidade editorial pode ser encontrada também em jornais como o New York Times, que critica ocasionalmente políticas israelenses e às vezes admite que os palestinos têm queixas legítimas, mas não é imparcial. Em suas memórias, Max Frenkel, ex-editor executivo do jornal, reconhece o impacto de sua atitude sobre as decisões editoriais que tomou: "Eu estava muito mais profundamente dedicado a Israel do que ousava declarar [...] Baseado em meu conhecimento de Israel e em meus amigos lá, eu próprio escrevia a maioria de nossos comentários sobre o Oriente Médio. Como mais eleitores árabes do que judeus reconheciam, na época eu adotava uma perspectiva favorável a Israel".

Os relatos dos noticiários são mais imparciais, em parte porque os repórteres se esforçam para ser objetivos, mas também porque é difícil cobrir os acontecimentos nos Territórios Ocupados sem reconhecer as ações de Israel no campo de batalha. Para desestimular relatos desfavoráveis, o Lobby organiza campanhas de redação de cartas, manifestações e boicotes a órgãos noticiosos cujo conteúdo considera contrário a Israel. Um executivo da CNN disse que às vezes recebe 6 mil mensagens de e-mail em um único dia reclamando de uma história. Em maio de 2003, o Committee for Accurate Middle East Reporting in America (Camera) organizou manifestações do lado de fora de estações da National Public Radio em 33 cidades; e tentou também persuadir contribuintes a retirar o apoio à NPR até que sua cobertura do Oriente Médio se torne mais simpática a Israel. A WBUR, estação da NPR em Boston, teria perdido mais de 1 milhão de dólares em contribuições em conseqüência desses esforços. Outras pressões sobre a NPR vêm dos amigos de Israel no Congresso, que pediram, além de mais supervisão, uma auditoria internacional de sua cobertura sobre o Oriente Médio.

O lado israelense também domina os think tanks que cumprem um papel importante na formulação do debate público assim como das políticas. O Lobby criou seu próprio think tank em 1985, quando Martin Indyk ajudou a fundar o Winep. Embora tente menosprezar sua ligação com Israel, afirmando fornecer uma perspectiva "equilibrada e realista" sobre questões do Oriente Médio, o Winep é financiado e dirigido por pessoas profundamente comprometidas com a promoção da agenda de Israel.

Mas a influência do Lobby se estende para muito além do Winep. Nos últimos 25 anos, as forças pró-Israel estabeleceram uma presença poderosa no American Enterprise Institute, na Brookings Institution, no Center For Security Policy, no Foreign Policy Research Institute, na Heritage Foundation, no Hudson Institute, no Institute for Foreign Policy Analysis e no Jewish Institute for National Security Affairs (Jinsa). Esses think tanks empregam, se tanto, poucos críticos do apoio dos Estados Unidos a Israel.

Consideremos a Brookings Institution. Durante muitos anos, seu principal especialista em Oriente Médio foi William Quandt, um ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional com uma merecida reputação de imparcialidade. Hoje, a cobertura da Brookings é feita por meio do Saban Center for Middle East Studies, que é financiado por Haim Saban, um empresário israelita-americano e sionista ardoroso. O diretor do centro é o ubíquo Martin Indyk. O que era antes um instituto de políticas apartidário é hoje parte do coro pró-Israel.

Onde o Lobby tem tido a maior dificuldade é no debate em campi universitários. Na década de 1990, quando estava em curso o processo de paz de Oslo, havia apenas uma crítica moderada a Israel, mas ela ficou mais forte com o colapso de Oslo e a ascensão de Sharon ao poder, tornando-se bastante incisiva quando as forças armadas israelenses reocuparam a Cisjordânia na primavera de 2002 e empregaram forças maciças para dominar a segunda intifada. O Lobby passou imediatamente a "recuperar os campi". Surgiram novos grupos, como a Caravan for Democracy, que levou porta-vozes israelenses para faculdades dos Estados Unidos. Grupos estabelecidos como o Jewish Council for Public Affairs e o Hillel se juntaram, e um novo grupo, Israel on Campus Coalition, foi formado para coordenar os muitos agrupamentos que agora buscavam defender o ponto de vista de Israel. Por fim, o Aipac mais que triplicou seus gastos em programas para monitorar atividades universitárias e treinar jovens defensores, com o objetivo de "expandir enormemente o número de estudantes envolvidos no campus [...] no esforço nacional em favor de Israel".

O Lobby também monitora o que os professores escrevem e ensinam. Em setembro de 2002, Martin Kramer e Daniel Pipes, dois neoconservadores passionalmente pró-Israel, criaram um website (Campus Watch) que postava dossiês sobre acadêmicos suspeitos e estimulava os estudantes a relatar observações sobre comportamento que pudesse ser considerado hostil a Israel. Essa tentativa transparente de chantagear e intimidar acadêmicos provocou uma reação dura, e mais tarde Pipes e Kramer removeram os dossiês, mas o website ainda convida os estudantes a relatar atividades "anti-Israel".

Grupos que fazem parte do Lobby pressionam determinados acadêmicos e universidades. Um dos alvos freqüentes foi Columbia, sem dúvida em razão da presença do falecido Edward Said em seu corpo docente. "Pode-se ter certeza de que qualquer declaração pública em apoio ao povo palestino feita pelo proeminente crítico literário Edward Said provoca centenas de e-mails, cartas e artigos jornalísticos que nos convocam a denunciar Said e a aplicar a ele sanções ou demiti-lo", relatou Jonathan Cole, ex-superintendente de Columbia. Quando a Columbia contratou o historiador Rashid Khalidi, de Chicago, aconteceu a mesma coisa. Esse também foi um problema enfrentado por Princeton alguns anos depois, quando considerou a possibilidade de trazer Khalidi de Columbia.

Uma ilustração clássica do esforço para policiar a academia ocorreu perto do final de 2004, quando o David Project produziu um filme alegando que membros do corpo docente do programa Middle East Studies, de Columbia, eram anti-semitas e estavam intimidando estudantes judeus que apoiavam Israel. Columbia recebeu críticas severas, mas uma comissão docente incumbida de investigar as acusações não encontrou nenhuma prova de anti-semitismo, e o único incidente possivelmente digno de nota constatado foi que um professor tinha "reagido com raiva" à pergunta de um estudante. A comissão também descobriu que os acadêmicos em questão tinham sido alvo de uma franca campanha de intimidação.

Talvez o aspecto mais perturbador de tudo isso sejam os esforços de grupos judeus para forçar o Congresso a estabelecer mecanismos para monitorar o que os professores dizem. Se eles conseguirem aprovar isso, universidades julgadas como adotando um viés anti-Israel deixariam de receber financiamento federal. Os esforços desses grupos ainda não alcançaram sucesso, mas são uma indicação da importância que é dada ao controle do debate.

Alguns filantropos judeus criaram recentemente programas de Estudos Israelenses (que vieram se somar aos cerca de 130 programas de Estudos Judaicos já existentes), de modo a aumentar o número de acadêmicos simpáticos a Israel no campus. Em maio de 2003, a New York University anunciou a criação do Taub Center for Israel Studies; programas semelhantes foram criados em Berkeley, Brandeis e Emory. Administradores acadêmicos ressaltam o valor pedagógico desses programas, mas a verdade é que eles pretendem em grande parte promover a imagem de Israel. Fred Laffer, presidente da Taub Foundation, deixa claro que sua fundação financiou o centro da NYU para ajudar a rechaçar o "ponto de vista arábico [sic]" que ele julga prevalecer nos programas de Oriente Médio da NYU.

Nenhuma discussão sobre o Lobby estaria completa sem um exame de uma de suas armas mais poderosas: a acusação de anti-semitismo. Qualquer pessoa que critique as ações de Israel ou argumente que os grupos pró-Israel exercem uma influência significativa sobre a política dos Estados Unidos para o Oriente Médio — influência esta que o Aipac comemora — tem boas chances de ser rotulada de anti-semita. Na verdade, qualquer pessoa que simplesmente declare que existe um Lobby de Israel corre o risco de ser acusado de anti-semitismo, embora a mídia israelense se refira ao "Lobby Judeu" dos Estados Unidos. Em outras palavras, o Lobby primeiro se gaba de sua influência e depois ataca qualquer um que chame a atenção para ela. É uma tática muito eficaz: o anti-semitismo é algo de que ninguém quer ser acusado.

Os europeus têm mostrado mais disposição do que os americanos para criticar a política israelense, o que algumas pessoas atribuem a um ressurgimento do anti-semitismo na Europa. Estamos "chegando a um ponto", disse no começo de 2004 o embaixador americano na União Européia, "em que ele é tão ruim quanto na década de 1930". Medir o anti-semitismo é uma questão complicada, mas o peso das evidências aponta na direção oposta. Na primavera de 2004, quando acusações de anti-semitismo na Europa inundaram os Estados Unidos, levantamentos separados de opinião pública européia feitos pela Anti-Defamation League, baseada nos Estados Unidos, e pelo Pew Research Center for the People and the Press concluíram que ele estava de fato declinando. Na década de 1930, ao contrário, o anti-semitismo era não apenas disseminado entre europeus de todas as classes, mas considerado bastante aceitável.

O Lobby e seus amigos costumam retratar a França como o país mais anti-semita da Europa. Mas em 2003, o presidente da comunidade judaica francesa disse que "A França não é mais anti-semita do que os Estados Unidos". De acordo com um artigo publicado recentemente no Ha'aretz, a polícia francesa relatou que os incidentes anti-semitas sofreram uma redução de quase 50% em 2005; e isso apesar de a França ter a maior população muçulmana de todos os países europeus. Finalmente, quando um judeu francês foi assassinado em Paris no mês passado3 por uma gangue muçulmana, dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas para condenar o anti-semitismo. Jacques Chirac e Dominique Villepin compareceram à cerimônia em memória da vítima para demonstrar solidariedade.

Ninguém negaria que há anti-semitismo entre os muçulmanos europeus, parte dele provocada pela conduta de Israel em relação aos palestinos e parte francamente racista. Mas esse é outro assunto, que pesa pouco na avaliação de se a Europa de hoje é semelhante à Europa da década de 1930. Ninguém negaria também que ainda há alguns anti-semitas autóctones virulentos na Europa (como há nos Estados Unidos), mas o número deles é pequeno e suas visões são rejeitadas pela vasta maioria dos europeus.

Os defensores de Israel, quando pressionados a ir além da mera declaração, afirmam que há um "novo anti-semitismo", que eles igualam à crítica a Israel. Em outras palavras, criticar a política israelense torna alguém por definição um anti-semita. Quando o sínodo da Igreja da Inglaterra aprovou recentemente vender sua participação acionária na Caterpillar Inc baseado no fato de que ela fabrica os tanques usados pelos israelenses para demolir casas palestinas, o Rabino Chefe reclamou que isso teria "as repercussões mais adversas sobre [...] as relações judaico-cristãs na Inglaterra", enquanto o rabino Tony Bayfield, chefe do movimento de Reforma, disse: "Há um problema claro de atitudes anti-sionistas — que beiram o anti-semitismo — surgindo nas bases, e mesmo nos escalões intermediários da Igreja". Mas a igreja era culpada simplesmente de protestar contra a política do governo israelense.

Os críticos também são acusados de enquadrar Israel em um padrão injusto ou de questionar seu direito à existência. Mas essas acusações também são falsas. Os críticos ocidentais de Israel praticamente nunca questionam seu direito a existir: eles questionam seu comportamento em relação aos palestinos, como fazem os próprios israelenses. E Israel não está sendo julgado injustamente. O tratamento israelense dos palestinos suscita críticas porque é contrário a noções amplamente aceitas de direitos humanos, à legislação internacional e ao princípio de autodeterminação nacional. E certamente Israel não é o único Estado que enfrentou críticas severas por causa disso.

No outono de 2001, e especialmente na primavera de 2002, o governo Bush tentou reduzir o sentimento antiamericano no mundo árabe e solapar o apoio a grupos terroristas como a Al-Qaeda detendo as políticas expansionistas de Israel nos Territórios Ocupados e defendendo a criação de um Estado palestino. Bush tinha à disposição meios muito importantes de persuasão. Ele podia ter ameaçado reduzir o apoio econômico e diplomático a Israel, e é quase certo que o povo americano o teria apoiado. Uma pesquisa de maio de 2003 constatou que mais de 60% dos americanos estavam dispostos a suspender a ajuda se Israel resistisse às pressões americanas para resolver o conflito, e esse número subia para 70% entre os "politicamente ativos". Na verdade, 73% diziam que os Estados Unidos não deveriam favorecer nenhum dos lados.

Mas o governo não conseguiu mudar a política israelense e Washington terminou por apoiá-la. Com o passar do tempo, o governo também adotou as justificativas de Israel para sua posição, de maneira que a retórica dos Estados Unidos começou a imitar a retórica israelense. Em fevereiro de 2003, uma manchete do Washington Post resumiu a situação: "Bush e Sharon quase idênticos sobre a política para o Oriente Médio". A principal razão para essa mudança foi o Lobby. A história começa no final de setembro de 2001, quando Bush começou a pressionar Sharon para afrouxar as rédeas nos Territórios Ocupados. Ele também o pressionou a permitir que o primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, se encontrasse com Yasser Arafat, embora ele (Bush) fosse extremamente crítico da liderança de Arafat. Bush chegou a dizer publicamente que apoiava a criação de um Estado palestino. Alarmado, Sharon o acusou de tentar "satisfazer os árabes à nossa custa", advertindo que Israel "não será a Tchecoslováquia".

Bush teria ficado furioso ao ser comparado a Chamberlain, e o secretário de imprensa da Casa Branca chamou as declarações de Sharon de "inaceitáveis". Sharon ofereceu uma desculpa pró-forma, mas logo juntou forças com o Lobby para convencer o governo e o povo americano de que os Estados Unidos e Israel enfrentavam uma ameaça comum do terrorismo. Membros do governo israelense e representantes do Lobby insistiram que não havia nenhuma diferença real entre Arafat e Osama bin Laden: os Estados Unidos e Israel, diziam eles, deviam isolar o líder eleito dos palestinos e não ter nada a ver com ele.

O Lobby também trabalhou no Congresso. Em 16 de novembro, 89 senadores mandaram a Bush uma carta elogiando-o por se recusar a encontrar-se com Arafat, mas também exigindo que os Estados Unidos não impedissem Israel de fazer retaliações contra os palestinos; o governo, escreveram eles, devia declarar publicamente que apoiava Israel. Segundo o New York Times, a carta "teve origem" em uma reunião duas semanas antes entre "líderes da comunidade judaica americana e senadores importantes", acrescentando que o Aipac estava "particularmente ativo no fornecimento de conselhos para a carta".

No final de novembro, as relações entre Tel-Aviv e Washington tinham melhorado consideravelmente. Isso se deu em parte graças aos esforços do Lobby, mas também à vitória inicial dos Estados Unidos no Afeganistão, que aparentemente reduziu a necessidade de apoio árabe para lidar com a Al-Qaeda. Sharon visitou a Casa Branca no começo de dezembro e teve uma reunião amistosa com Bush.

Em abril de 2002 surgiram novos problemas, depois que as forças armadas israelenses lançaram a Operação Escudo de Defesa e retomaram o controle de praticamente todas as áreas palestinas importantes na Cisjordânia. Bush sabia que as ações de Israel causariam danos à imagem dos Estados Unidos no mundo islâmico e minariam a guerra ao terrorismo, portanto ele exigiu que Sharon "interrompesse as incursões e começasse a retirada". Ele sublinhou essa mensagem dois dias depois, dizendo que queria que Israel "se retirasse sem demora". Em 7 de abril, Condoleezza Rice, na época conselheira de Segurança Nacional de Bush, disse aos repórteres: "'sem demora' significa sem demora. Significa agora". No mesmo dia, Colin Powell partiu para o Oriente Médio para persuadir todos os lados a parar de lutar e começar a negociar.

Israel e o Lobby agiram sem demora. Funcionários favoráveis a Israel no gabinete do vice-presidente e no Pentágono, assim como especialistas neoconservadores como Robert Kagan e William Kristol, intimidaram Powell. Eles chegaram mesmo a acusá-lo de ter "praticamente apagado a distinção entre terroristas e aqueles que combatem os terroristas". O próprio Bush foi pressionado por líderes judeus e cristãos evangélicos. Tom DeLay e Dick Armey foram particularmente francos sobre a necessidade de apoiar Israel, e DeLay e o líder na minoria do senado, Trent Lott, visitaram a Casa Branca e aconselharam Bush a recuar.

O primeiro sinal de que Bush estava cedendo veio em 11 de abril — uma semana depois de ele ter dito a Sharon para retirar suas forças —, quando o secretário de imprensa da Casa Branca disse que o presidente acreditava que Sharon era "um homem de paz". Bush repetiu essa declaração publicamente por ocasião da volta de Powell de sua malsucedida missão, e disse aos repórteres que Sharon tinha reagido satisfatoriamente a sua exigência de uma retirada total e imediata. Sharon não fizera nada disso, mas Bush não estava mais disposto a insistir nessa questão.

No meio-tempo, o Congresso também se movimentava para apoiar Sharon. Em 2 de maio, ele sobrepujou as objeções do governo e aprovou duas resoluções reafirmando o apoio a Israel. (A votação no Senado foi de 94 a 2; a versão da Câmara dos Deputados foi aprovada por 352 a 21.) As duas resoluções sustentavam que os Estados Unidos "mantêm a solidariedade a Israel" e que os dois países, citando a resolução da Câmara, estavam "agora envolvidos em uma luta comum contra o terrorismo". A versão da Câmara também condenava "o permanente apoio ao terror e sua coordenação por parte de Yasser Arafat", que era retratado como uma peça central do problema do terrorismo. As duas resoluções foram redigidas com a ajuda do Lobby. Alguns dias depois, uma delegação bipartidária do Congresso enviada a Israel em missão de levantamento de informações declarou que Sharon devia resistir à pressão dos Estados Unidos para que negociasse com Arafat. Em 9 de maio, uma subcomissão de dotações da Câmara se reuniu para discutir a concessão a Israel de mais US$ 200 milhões para o combate ao terrorismo. Powell se opôs ao pacote, mas o Lobby o apoiou e Powell perdeu.

Em resumo, Sharon e o Lobby jogaram contra o presidente dos Estados Unidos e ganharam. Hemi Shalev, um jornalista do jornal israelense Ma'ariv, relatou que os auxiliares de Sharon "não conseguiam esconder sua satisfação em vista do fracasso de Powell. Sharon esperou o melhor momento para agir, eles se gabaram, e o presidente piscou primeiro". Mas foram os defensores de Israel nos Estados Unidos, não Sharon nem Israel, que desempenharam o papel principal na derrota de Bush.

A situação mudou pouco desde então. O governo Bush se recusou repetidas vezes a fazer acordos com Arafat. Depois de sua morte, o governo americano aceitou o novo líder palestino, Mahmoud Abbas, mas pouco fez para ajudá-lo. Sharon continuou a desenvolver seu plano de impor uma solução unilateral aos palestinos, baseado numa "desocupação" de Gaza combinada a uma expansão contínua na Cisjordânia. Ao se recusar a negociar com Abbas e tornar impossível para ele apresentar benefícios palpáveis ao povo palestino, a estratégia de Sharon contribuiu diretamente para a vitória eleitoral do Hamas. Com o Hamas no poder, no entanto, Israel tem mais uma desculpa para não negociar. O governo americano apoiou as ações de Sharon (e as de seu sucessor, Ehud Olmert). Bush endossou até mesmo as anexações israelenses unilaterais dos Territórios Ocupados, invertendo a política declarada de todos os presidentes desde Lyndon Johnson.

Os representantes americanos dirigiram críticas moderadas a algumas das ações israelenses, mas pouco fizeram para ajudar a criar um Estado palestino viável. Sharon consegue que Bush "faça tudo que ele quer", disse o ex-conselheiro de segurança nacional Brent Scowcroft em outubro de 2004. Se Bush tentar distanciar os Estados Unidos de Israel, ou mesmo criticar as ações israelenses nos Territórios Ocupados, certamente enfrentará a ira do Lobby e de seus apoiadores no Congresso. Os candidatos democratas à Presidência entendem isso como ossos do ofício, e é essa a razão pela qual John Kerry fez de tudo para exibir apoio irrestrito a Israel em 2004, e Hillary Clinton está fazendo o mesmo hoje. Manter o apoio dos Estados Unidos às políticas de Israel contra os palestinos é essencial para o Lobby, mas suas ambições não param aí. Ele quer também que os Estados Unidos ajudem Israel a continuar sendo a potência regional dominante. O governo israelense e grupos pró-Israel nos Estados Unidos trabalharam juntos para moldar a política do governo americano em relação ao Iraque, à Síria e ao Irã, assim como seu grandioso esquema para reordenar o Oriente Médio.

As pressões de Israel e do Lobby não foram o único fator responsável pela decisão de atacar o Iraque em março de 2003, mas foram um fator decisivo. Alguns americanos acreditam que aquela foi uma guerra por petróleo, mas dificilmente há uma evidência direta que sustente essa afirmação. Antes, a guerra foi motivada em boa parte por um desejo de tornar Israel mais seguro. Segundo Philip Zelikow, ex-membro do Foreign Intelligence Advisory Board do presidente, diretor executivo da Comissão do 11 de Setembro, e hoje assessor de Condoleezza Rice, a "ameaça real" do Iraque não era uma ameaça aos Estados Unidos. A "ameaça não declarada" era a "ameaça contra Israel", disse Zelikow a uma platéia na Universidade da Virginia em setembro de 2002. "O governo americano", ele acrescentou, "não quer insistir demais nisso retoricamente, porque não é algo que tenha muita aceitação popular".

Em 16 de agosto de 2002, onze dias antes de Dick Cheney iniciar a campanha pela guerra com um discurso linha-dura aos Veterans of Foreign Wars, o Washington Post relatou que "Israel está exigindo que os representantes americanos não adiem um ataque militar contra Saddam Hussein, do Iraque". Nessa altura, de acordo com Sharon, a coordenação estratégica entre Israel e os Estados Unidos alcançou "dimensões sem precedentes", e funcionários da inteligência israelense passaram a Washington uma variedade de relatos alarmantes sobre programas de desenvolvimento de armas de destruição em massa do Iraque. Como disse mais tarde um general israelense aposentado, "a inteligência israelense teve participação plena na elaboração do quadro apresentado pela inteligência americana e britânica em relação à capacidade militar não-convencional do Iraque".

Os líderes israelenses estavam profundamente tensos quando Bush decidiu seguir os termos da autorização do Conselho de Segurança para a guerra, e se preocuparam ainda mais quando Saddam concordou em permitir o retorno ao país dos inspetores da ONU. "A campanha contra Saddam Hussein é inevitável", disse Shimon Peres aos repórteres em setembro de 2002. "Inspeções e inspetores são bons para pessoas decentes, mas pessoas desonestas conseguem enganar facilmente inspeções e inspetores."

Ao mesmo tempo, Ehud Barak escreveu um artigo para o New York Times advertindo que "o maior risco agora é a inação". Seu antecessor como primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, publicou um artigo semelhante no Wall Street Journal, intitulado: "O argumento para derrubar Saddam". "Hoje nada menos do que desmontar seu regime funcionará", ele declarou. "Creio que falo pela esmagadora maioria dos israelenses ao apoiar um ataque preventivo contra o regime de Saddam." Ou, como relatou o Ha'aretz em fevereiro de 2003, "a liderança militar e política anseia pela guerra no Iraque".

Como sugeriu Netanyahu, no entanto, o desejo de guerra não se restringia aos líderes de Israel. Além do Kuwait, que Saddam invadiu em 1990, Israel era o único país no mundo onde tanto os políticos como o público apoiavam a guerra. Como observou na época o jornalista Gideon Levy, "Israel é o único país no Ocidente cujos líderes apóiam irrestritamente a guerra e onde nenhuma opinião alternativa é expressada". De fato, os israelenses estavam tão animados que seus aliados nos Estados Unidos disseram a eles para moderarem sua retórica, senão pareceria que a guerra seria travada em benefício de Israel.

Nos Estados Unidos, a principal força propulsora da guerra era um pequeno bando de neoconservadores, muitos com ligações com o Likud. Mas líderes das principais organizações do Lobby emprestaram suas vozes à campanha. "Quando o presidente Bush tentou vender a [...] guerra no Iraque", relatou o Forward, "as organizações judaicas mais importantes dos Estados Unidos se manifestaram em uníssono em sua defesa. Numa declaração atrás da outra os líderes da comunidade enfatizaram a necessidade de livrar o mundo de Saddam Hussein e de suas armas de destruição em massa". O editorial diz ainda que "a preocupação com a segurança de Israel influenciou justificadamente as deliberações dos principais grupos judeus".

Embora os neoconservadores e outros líderes do Lobby estivessem ansiosos para invadir o Iraque, a comunidade judaica americana em geral não estava. Logo depois do início da guerra, Samuel Freedman relatou que "uma compilação de pesquisas de opinião de âmbito nacional feita pelo Research Center mostra que os judeus apóiam menos a guerra do Iraque do que a população em geral, 52% a 62%". Evidentemente, seria errado atribuir a culpa pela guerra no Iraque à "influência judaica". Antes, ela se deveu em grande parte à influência do Lobby, especialmente à dos neoconservadores que fazem parte dele.

Os neoconservadores estavam determinados a derrubar Saddam mesmo antes de Bush se tornar presidente. Eles causaram alvoroço no início de 1998 ao publicar duas cartas abertas a Clinton, exigindo a remoção de Saddam do poder. Os signatários, muitos deles com laços estreitos com grupos pró-Israel como o Jinsa e o Winep, e entre os quais estavam Elliot Abrams, John Bolton, Douglas Feith, William Kristol, Bernard Lewis, Donald Rumsfeld, Richard Perle e Paul Wolfowitz, não tiveram dificuldade para persuadir o governo Clinton a adotar a meta geral de desalojar Saddam. Mas eles não conseguiram vender a idéia de uma guerra para alcançar esse objetivo. E nos primeiros meses do governo Bush foram igualmente incapazes de gerar entusiasmo pela invasão do Iraque. Eles precisavam de ajuda para alcançar seu objetivo, e ela chegou com o 11 de Setembro. Especificamente, os acontecimentos daquele dia levaram Bush e Cheney a inverter o curso e tornar-se fortes proponentes de uma guerra preventiva.

Numa reunião decisiva com Bush em Camp David, em 15 de setembro, Wolfowitz defendeu atacar o Iraque antes do Afeganistão, embora não houvesse nenhuma prova de que Saddam estava envolvido nos ataques aos Estados Unidos e se soubesse que bin Laden estava no Afeganistão. Bush rejeitou o conselho e preferiu atacar o Afeganistão, mas a guerra ao Iraque era agora considerada uma possibilidade séria, e em 21 de novembro o presidente encarregou planejadores militares de desenvolver planos concretos para uma invasão.

Enquanto isso, outros neoconservadores trabalhavam nos corredores do poder. Ainda não dispomos da história completa, mas pesquisadores como Bernard Lewis, de Princeton, e Fouad Ajami, da Johns Hopkins, teriam cumprido papéis importantes no convencimento de Cheney de que a guerra era a melhor opção, embora neoconservadores da equipe dele — Eric Edelman, John Hannah e Scooter Libby, chefe de gabinete de Cheney e uma das pessoas mais poderosas do governo — também tenham cumprido seu papel. No começo de 2002, Cheney tinha convencido Bush; e com o engajamento de Bush e Cheney a guerra era inevitável.

Fora do governo, especialistas neoconservadores apressaram-se a apresentar o argumento de que invadir o Iraque era essencial para ganhar a guerra contra o terrorismo. Seus esforços se destinavam em parte a manter a pressão sobre Bush, e em parte a superar a oposição à guerra dentro e fora do governo. Em 20 de setembro, um grupo de importantes neoconservadores e seus aliados publicou mais uma carta aberta: "Mesmo que as evidências não liguem diretamente o Iraque ao ataque," dizia ela, "qualquer estratégia que tenha por objetivo a erradicação do terrorismo e de seus patrocinadores deve incluir um esforço determinado para remover Saddam Hussein do poder no Iraque". A carta também lembrava a Bush que "Israel tem sido e continua a ser o aliado leal dos Estados Unidos contra o terrorismo internacional". No número de 1º de outubro da Weekly Standard, Robert Kagan e William Kristol exigiam a mudança do regime no Iraque tão logo o Talibã fosse derrotado. No mesmo dia, Charles Krauthammer argumentou no Washington Post que, depois que os Estados Unidos tivessem terminado com o Afeganistão, o próximo deveria ser a Síria, seguida pelo Irã e pelo Iraque: "A guerra contra o terrorismo vai se concluir em Bagdá", quando pusermos fim ao "regime terrorista mais perigoso do mundo".

Esse foi o começo de uma campanha implacável de relações públicas para conquistar apoio a uma invasão do Iraque, que tinha como uma de suas partes cruciais a manipulação de informações de modo a fazer parecer que Saddam era uma ameaça iminente. Por exemplo, Libby pressionou analistas da CIA a encontrar provas que sustentassem o argumento em favor da guerra e ajudassem a preparar o hoje desacreditado relato de Colin Powell ao Conselho de Segurança da ONU. Dentro do Pentágono, o Policy Counterterrorism Evaluation Group foi encarregado de encontrar ligações entre a Al-Qaeda e o Iraque que a comunidade de inteligência supostamente deixara escapar. Seus dois principais membros eram David Wurmser, um neoconservador empedernido, e Michael Maloof, um libanês-americano estreitamente ligado a Perle. Outro grupo do Pentágono, o chamado Office of Special Plans, recebeu a tarefa de descobrir provas que pudessem ser usadas para vender a guerra. Ele era chefiado por Abram Shulsky, um neoconservador com laços antigos com Wolfowitz, e tinha entre seus membros pessoas recrutadas de think tanks pró-Israel. Esses órgãos foram criados depois do 11 de Setembro e se reportavam diretamente a Douglas Feith. Como praticamente todos os neoconservadores, Feith está profundamente comprometido com Israel e também tem laços antigos com o Likud. Ele escreveu artigos na década de 1990 apoiando os assentamentos e argumentando que Israel devia manter os Territórios Ocupados. Mais importante, juntamente com Perle e Wurmser, ele redigiu em junho de 1996 o famoso relatório "Clean Break" para Netanyahu, que acabara de se tornar primeiro-ministro. Entre outras coisas, o relatório recomendava que Netanyahu "se concentrasse em remover Saddam Hussein do poder no Iraque — um objetivo estratégico israelense importante por si só". Também exigia que Israel tomasse medidas para reordenar todo o Oriente Médio. Netanyahu não seguiu o conselho deles, mas Feith, Perle e Wurmser logo estavam pressionando o governo Bush para que adotasse os mesmos objetivos. O colunista Akiva Eldar, do Ha'aretz, advertiu que Feith e Perle "estão caminhando sobre uma linha estreita entre sua lealdade aos governos americanos [...] e aos interesses israelenses".

Wolfowitz está igualmente comprometido com Israel. O Forward o descreveu uma vez como "a mais belicosa voz pró-Israel no governo", e o escolheu em 2002 como o primeiro entre cinqüenta notáveis que "adotaram conscientemente o ativismo judeu". Mais ou menos na mesma época, o Jinsa concedeu a Wolfowitz o "Henry M. Jackson Distinguished Award" por ele ter promovido uma forte parceria entre Israel e os Estados Unidos; e o Jerusalem Post, descrevendo-o como "fortemente pró-Israel", o indicou como "Homem do Ano" em 2003.

Finalmente, cabe um breve comentário sobre o apoio dado antes da guerra pelos neoconservadores a Ahmed Chalabi, o inescrupuloso exilado iraquiano que dirigia o Iraqi National Congress (INC). Eles apoiaram Chalabi porque ele tinha estabelecido laços estreitos com grupos judeu-americanos e prometido fomentar boas relações com Israel quando conquistasse o poder. Isso era precisamente o que os proponentes da mudança de regime favoráveis a Israel queriam ouvir. Matthew Berger expôs a essência do pacto no Jewish Journal: "O INC via uma melhora das relações como um modo de tirar proveito da influência judaica em Washington e Jerusalém e ganhar maior apoio para sua causa. De sua parte, os grupos judeus viam uma oportunidade de criar condições para melhorar as relações entre Israel e o Iraque, se e quando o INC estiver envolvido na substituição do regime de Saddam Hussein".

Dada a dedicação dos neoconservadores a Israel, sua obsessão com o Iraque e sua influência no governo Bush, não é de surpreender que muitos americanos suspeitassem que a guerra tinha por objetivo promover interesses israelenses. No mês de março passado, Barry Jacobs, do American Jewish Committee, reconheceu que a crença de que Israel e os neoconservadores tinham conspirado para levar os Estados Unidos a uma guerra no Iraque estava "disseminada" na comunidade de inteligência. Mas poucas pessoas diriam isso em público, e a maioria das que o fizeram — entre elas o senador Ernest Hollings e o deputado James Moran — foi condenada por levantar a questão. Michael Kinsley escreveu no final de 2002 que "a falta de discussão pública sobre o papel de Israel [...] é o proverbial elefante na sala". A razão para a relutância a falar sobre isso, observou ele, era o medo de ser rotulado de anti-semita. Há pouca dúvida de que Israel e o Lobby foram fatores fundamentais na decisão de ir à guerra. Trata-se de uma decisão que os Estados Unidos teriam muito menos probabilidade de tomar sem os esforços desenvolvidos por eles. E se pretendia que a guerra fosse só o primeiro passo. Uma manchete de primeira página do Wall Street Journal logo depois do início da guerra diz tudo: "O sonho do presidente: mudar não só o regime mas uma região: uma área democrática pró-EUA é uma meta que tem raízes israelenses e neoconservadoras".

As forças pró-Israel estão há muito tempo interessadas em que as forças armadas dos Estados Unidos se envolvam mais diretamente no Oriente Médio. Mas tiveram pouco sucesso durante a Guerra Fria, porque os Estados Unidos agiram como um "equilibrador off-shore" na região. A maioria das forças criadas para o Oriente Médio, como a Rapid Deployment Force, foi mantida "no horizonte" e fora de alcance. A idéia era jogar potências locais uma contra a outra — e foi por isso que o governo Reagan apoiou Saddam contra o Irã revolucionário durante a guerra Irã-Iraque — com o objetivo de manter um balanço favorável aos Estados Unidos.

Essa política mudou depois da Guerra do Golfo, quando o governo Clinton adotou uma estratégia de "contenção dual". Forças americanas substanciais ficavam estacionadas na região para conter tanto o Irã como o Iraque, em vez de um ser usado para controlar o outro. O pai da contenção dual foi ninguém menos que Martin Indyk, o primeiro a esboçar a estratégia em maio de 1993 no Winep e quem depois a implementou como diretor do Near East and South Asian Affairs no Conselho de Segurança Nacional. Em meados da década de 1990 havia uma considerável insatisfação com a contenção dual, porque ela tornava os Estados Unidos o inimigo mortal de dois países que se odiavam, e obrigava Washington a carregar o peso de conter ambos. Mas era uma estratégia que o Lobby apoiava e trabalhava ativamente no Congresso para preservar. Pressionado pelo Aipac e por outras forças pró-Israel, Clinton endureceu a política na primavera de 1995 ao impor um embargo econômico ao Irã. Mas o Aipac e os outros queriam mais. O resultado foi o Iran and Libya Sanctions Act, de 1996, que impôs sanções a qualquer empresa estrangeira que investisse mais de US$ 40 milhões para desenvolver recursos petrolíferos no Irã ou na Líbia. Como notou na época Ze'ev Schiff, correspondente militar do Ha'aretz, "Israel é apenas um minúsculo elemento do grande esquema, mas não se deve concluir que ele não é capaz de influenciar aqueles que estão em Washington".

No entanto, no final da década de 1990, os neoconservadores argumentavam que a contenção dual não era suficiente e que a mudança de regime no Iraque era essencial. Ao derrubar Saddam e transformar o Iraque em uma democracia, eles argumentavam, os Estados Unidos deflagrariam um processo de mudança de longo alcance em todo o Oriente Médio. A mesma linha de raciocínio era evidente no estudo "Clean Break", que os neoconservadores redigiram para Netanyahu. Em 2002, quando uma invasão do Iraque estava na ordem do dia, a transformação regional era um artigo de fé em círculos neoconservadores. Charles Krauthammer descreve esse esquema grandioso como fruto da imaginação de Natan Sharansky, mas israelenses de todo o espectro político acreditavam que derrubar Saddam alteraria o Oriente Médio em favor de Israel. Aluf Benn relatou no Ha'aretz (17 de fevereiro de 2003):

Oficiais de alto escalão das forças armadas israelenses e aqueles próximos do primeiro-ministro Ariel Sharon, como o conselheiro de Segurança Nacional Ephraim Halevy, pintam um quadro cor-de-rosa do maravilhoso futuro que Israel pode esperar depois da guerra. Eles imaginam um efeito-dominó, com a queda de Saddam Hussein seguida pela de outros inimigos de Israel [...] Com o desaparecimento desses líderes, desaparecerão o terror e as armas de destruição em massa.

Quando Bagdá caiu em meados de abril de 2003, Sharon e seus tenentes começaram a pressionar Washington para se voltar contra Damasco. Em 16 de abril, Sharon, entrevistado no Yedioth Ahronoth, pediu que os Estados Unidos fizessem uma pressão "muito forte" sobre a Síria, enquanto Shaul Mofaz, seu ministro da Defesa, entrevistado pelo Ma'ariv, disse: "Temos uma longa lista de questões que pensamos em exigir do sírios, e é adequado que isso seja feito por meio dos americanos". Ephraim Halevy disse a uma platéia da Winep que agora era importante que os Estados Unidos endurecessem com a Síria, e o Washington Post relatou que Israel estava "alimentando a campanha" contra a Síria ao fornecer à inteligência americana relatórios sobre as ações de Bashar Assad, o presidente sírio.

Membros importantes do Lobby usaram os mesmos argumentos. Wolfowitz declarou que "é preciso haver uma mudança de regime na Síria", e Richard Perle disse a um jornalista que "uma mensagem curta, de poucas palavras" podia ser enviada a outros regimes hostis no Oriente Médio: "Vocês são os próximos". No começo de abril, a Winep divulgou um comunicado bipartidário declarando que a Síria "não deve esquecer a mensagem de que países que adotam o comportamento temerário, irresponsável e desafiador de Saddam podem ter o mesmo destino que ele". Em 15 de abril, Yossi Klein Halavi escreveu um artigo no Los Angeles Times intitulado "Depois, apertar a Síria", enquanto no dia seguinte Zev Chafets escreveu um artigo para o New York Daily News intitulado "A Síria, amiga do terror, também precisa de uma mudança". Insuperável, Lawrence Kaplan escreveu na New Republic em 21 de abril que Assad era uma séria ameaça aos Estados Unidos.

No Capitólio, o congressista Eliot Engel havia reapresentado o Syria Accountability and Lebanese Sovereignty Restoration Act. Ele ameaçava com sanções contra a Síria se o país não se retirasse do Líbano, desistisse de suas armas de destruição em massa e parasse de apoiar o terrorismo, e também exigia que a Síria e o Líbano tomassem medidas concretas para fazer as pazes com Israel. Essa legislação era fortemente apoiada pelo Lobby — especialmente pelo Aipac — e "arquitetada", segundo a Jewish Telegraph Agency, "por alguns dos melhores amigos de Israel no Congresso". O governo Bush tinha pouco entusiasmo por ela, mas o decreto anti-Síria foi aprovado por uma maioria esmagadora (398 a 4 na Câmara; 89 a 4 no Senado), e Bush o sancionou em 12 de dezembro de 2003.

O governo ainda estava dividido a respeito da sensatez de atacar a Síria. Embora os neoconservadores estivessem ansiosos para começar uma briga com Damasco, a CIA e o Departamento de Estado se opunham à idéia. E mesmo depois de Bush ter sancionado a nova lei, ele enfatizou que a implementaria lentamente. Sua ambivalência é compreensível. Primeiro, o governo sírio não só estava fornecendo informações importantes sobre a Al-Qaeda desde o 11 de Setembro: tinha também avisado Washington sobre um possível ataque terrorista no Golfo e dado a interrogadores da CIA acesso a Mohammed Zamar, o suposto recrutador de alguns dos seqüestradores do 11 de Setembro. Visar o regime de Assad poria em risco essas valiosas ligações, e portanto prejudicaria a guerra geral contra o terrorismo. Em segundo lugar, as relações da Síria com Washington antes da guerra do Iraque não eram ruins (o país tinha até votado a favor da resolução 1441 da ONU), e ela não era uma ameaça aos Estados Unidos. Jogar pesado com ela faria os Estados Unidos parecerem um valentão com uma propensão insaciável por derrotar Estados árabes. Em terceiro lugar, colocar a Síria na lista de alvos daria a Damasco um poderoso incentivo para criar problemas no Iraque. Mesmo que se quisesse pressionar, era melhor primeiro terminar o trabalho no Iraque. Mas o Congresso insistia em apertar Damasco, basicamente em resposta à pressão de representantes israelenses e grupos como o Aipac. Se não houvesse o Lobby, não teria havido o Syria Accountability Act, e a política dos Estados Unidos para Damasco estaria mais alinhada com o interesse nacional.

Os israelenses tendem a descrever qualquer ameaça nos termos mais tenebrosos, mas o Irã é visto em geral como seu inimigo mais perigoso, porque é o que tem maior probabilidade de adquirir armas nucleares. Praticamente todos os israelenses consideram um país islâmico do Oriente Médio com armas nucleares uma ameaça à sua existência. "O Iraque é um problema [...] mas você deve entender que, em minha opinião, hoje o Irã é mais perigoso que o Iraque", observou o ministro da Defesa, Binyamin Ben-Eliezer, um mês antes da guerra do Iraque.

Sharon começou a empurrar os Estados Unidos para o confronto com o Irã em novembro de 2002, em uma entrevista ao Times. Descrevendo o Irã como "centro do terror mundial", e propenso a adquirir armas nucleares, ele declarou que o governo Bush devia se voltar contra o Irã "no dia seguinte" à conquista do Iraque. No final de abril de 2003, o Ha'aretz relatou que o embaixador israelense em Washington estava exigindo uma mudança de regime no Irã. A derrubada de Saddam, ele observou, "não é suficiente". Em suas palavras, os Estados Unidos "têm de continuar. Ainda temos grandes ameaças da mesma magnitude vindas da Síria, vindas do Irã".

Também os neoconservadores se apressaram a argumentar em favor da mudança de regime em Teerã. Em 6 de maio, o American Enterprise Institute co-patrocinou uma conferência de dia inteiro sobre o Irã com a Foundation for the Defense of Democracies e o Hudson Institute, ambos defensores de Israel. Os conferencistas eram todos muito favoráveis a Israel, e muitos exigiram que os Estados Unidos substituíssem o regime iraniano por uma democracia. Como sempre, um grande número de artigos de neoconservadores proeminentes apresentou argumentos para atacar o Irã. "A libertação do Iraque foi a primeira grande batalha pelo futuro do Oriente Médio [...] mas a próxima grande batalha — não, esperamos, uma batalha militar — será pelo Irã", escreveu William Kristol na Weekly Standard em 12 de maio.

O governo reagiu à pressão do Lobby trabalhando exaustivamente para interromper o programa nuclear do Irã. Mas Washington tem tido pouco sucesso, e o Irã parece determinado a criar um arsenal nuclear. Em conseqüência, o Lobby intensificou sua pressão. Artigos de opinião e outros artigos agora chamam a atenção para os perigos iminentes de um Irã nuclear, advertem contra qualquer conciliação com um regime "terrorista", e insinuam sombriamente uma ação preventiva se a diplomacia fracassar. O Lobby está pressionando o Congresso para a aprovação do Iran Freedom Support Act, que ampliaria as sanções existentes. Representantes israelenses também advertem que podem empreender a ações dissuasivas caso o Irã continue no caminho nuclear, ameaças que pretendem em parte manter a atenção de Washington sobre o assunto.

Poder-se-ia argumentar que Israel e o Lobby não tiveram muita influência na política para o Irã, porque os Estados Unidos têm suas próprias razões para evitar que o Irã adquira armamentos nucleares. Há alguma verdade nisso, mas as ambições nucleares do Irã não são uma ameaça direta aos Estados Unidos. Se Washington conseguiu viver com uma União Soviética nuclear, uma China nuclear ou mesmo uma Coréia do Norte nuclear, pode também viver com um Irã nuclear. E é por isso o que o Lobby precisa manter uma pressão constante para que os políticos confrontem Teerã. O Irã e os Estados Unidos dificilmente seriam aliados mesmo que o Lobby não existisse, mas a política dos Estados Unidos seria mais moderada e a guerra preventiva não seria uma opção séria. Não é de surpreender que Israel e seus defensores americanos queiram que os Estados Unidos lidem com toda e qualquer ameaça à segurança de Israel. Se seus esforços para moldar a política dos Estados Unidos forem bem-sucedidos, os inimigos de Israel serão enfraquecidos ou derrubados, Israel terá liberdade para fazer o que quiser com os palestinos, e os Estados Unidos travarão a maioria dos combates, morrendo, reconstruindo e pagando. Mas mesmo que os Estados Unidos não consigam transformar o Oriente Médio e se vejam em conflito com um mundo árabe e islâmico cada vez mais radicalizado, Israel terminará protegido pela única superpotência do mundo. Esse não é um resultado perfeito do ponto de vista do Lobby, mas é obviamente preferível ao distanciamento de Washington, ou ao uso pelos Estados Unidos de sua influência para obrigar Israel a fazer a paz com os palestinos.

O poder do Lobby pode ser reduzido? Seria de se pensar que sim, dadas a derrocada do Iraque, a óbvia necessidade de reconstruir a imagem dos Estados Unidos no mundo árabe e islâmico e as recentes revelações sobre a passagem a Israel, por funcionários do Aipac, de informações secretas do governo americano. Poder-se-ia pensar também que a morte de Arafat e a eleição do mais moderado Mahmoud Abbas levariam Washington a pressionar vigorosamente e de forma mais isenta por um acordo de paz. Em resumo, há amplas bases para que os líderes se distanciem do Lobby e adotem uma política para o Oriente Médio mais coerente com os interesses americanos gerais. Em particular, usar o poder americano para alcançar uma paz justa entre Israel e os palestinos ajudaria a avançar a causa da democracia na região.

Mas isso não vai acontecer — de qualquer maneira, não logo. O Aipac e seus aliados (entre eles os sionistas cristãos) não têm oponentes sérios no mundo do lobby. Eles sabem que ficou mais difícil defender Israel hoje, e reagem contratando pessoal e expandindo suas atividades. Além disso, os políticos americanos permanecem extremamente sensíveis a contribuições de campanha e outras formas de pressão política, e os órgãos mais importantes da mídia provavelmente continuarão a ser simpáticos a Israel independentemente do que Israel faça.

A influência do Lobby causa problemas em várias frentes. Aumenta o perigo terrorista que todos os Estados enfrentam — inclusive os aliados europeus dos Estados Unidos. Tornou impossível pôr fim ao conflito israelense-palestino, uma situação que dá aos extremistas uma poderosa ferramenta de recrutamento, aumenta a reserva de potenciais terroristas e simpatizantes, e contribui para o radicalismo islâmico na Europa e na Ásia. Igualmente preocupante, a campanha do Lobby em favor da mudança de regime no Irã e na Síria pode levar os Estados Unidos a atacar esses países, com efeitos potencialmente desastrosos. Não precisamos de mais um Iraque. No mínimo, a hostilidade do Lobby em relação à Síria e ao Irã torna quase impossível para Washington recrutá-los para a luta contra a Al-Qaeda e a insurgência iraquiana, na qual a ajuda deles é extremamente necessária.

Há aqui também uma dimensão moral. Graças ao Lobby, os Estados Unidos se tornaram na prática o capacitador da expansão israelense nos Territórios Ocupados, o que fez deles cúmplices nos crimes perpetrados contra os palestinos. Essa situação debilita os esforços do governo americano para promover a democracia no exterior e o faz parecer hipócrita quando pressiona outros Estados a respeitar os direitos humanos. Os esforços americanos para limitar a proliferação nuclear parecem igualmente hipócritas dada a sua disposição de aceitar o arsenal nuclear de Israel, o que só estimula o Irã e outros a buscar uma capacidade semelhante.

Ademais, a campanha do Lobby para reprimir o debate sobre Israel é perniciosa para a democracia. Silenciar os céticos organizando listas negras e boicotes — ou sugerindo que os críticos são anti-semitas — viola o princípio do debate aberto do qual a democracia depende. A incapacidade do Congresso para conduzir um debate genuíno dessas questões importantes paralisa todo o processo de deliberação democrática. Os apoiadores de Israel devem ter liberdade para apresentar seus argumentos e contestar aqueles que discordam deles, mas os esforços para abafar o debate por meio de intimidação devem ser vigorosamente condenados.

Por fim, a influência do Lobby tem sido ruim para Israel. Sua capacidade de convencer Washington a apoiar uma agenda expansionista desestimulou Israel a aproveitar oportunidades — entre elas um tratado de paz com a Síria e uma pronta e plena implementação dos acordos de Oslo — que teriam poupado vidas israelenses e encolhido as fileiras de extremistas palestinos. Negar aos palestinos seus direitos políticos legítimos por certo não tornou Israel mais seguro, e a longa campanha para matar ou marginalizar uma geração de líderes palestinos reforçou grupos extremistas como o Hamas, e reduziu o número de líderes palestinos dispostos a aceitar um acordo justo e capazes de pô-lo em prática. Até Israel estaria provavelmente melhor se o Lobby fosse menos poderoso e a política dos Estados Unidos mais imparcial.

Contudo, há um raio de esperança. Embora o Lobby continue sendo uma força poderosa, os efeitos adversos de sua influência são cada vez mais difíceis de esconder. Estados poderosos podem manter políticas errôneas por muito tempo, mas a realidade não pode ser ignorada para sempre. O que é necessário é uma discussão franca da influência do Lobby e um debate mais aberto sobre os interesses dos Estados Unidos nessa região vital. O bem-estar de Israel é um desses interesses, mas sua ocupação continuada da Cisjordânia e sua agenda regional mais ampla não são. O debate aberto exporá os limites do argumento estratégico e moral em favor do apoio americano unilateral e poderia levar os Estados Unidos a uma posição mais coerente com seus interesses nacionais, com os interesses de outros Estados da região e também com os interesses de longo prazo de Israel.





tradução do inglês de Otacílio Nunes Jr.
[1] Artigo publicado na London Review of Books em 23 de março de 2006. [ ]
[2] Rogue states (Estados "patifes" ou "vis"): expressão usada pelo governo dos Estados Unidos para se referir a Estados governados por regimes autoritários que restringem fortemente os direitos humanos, acusados de patrocinar o terrorismo e de buscar obter armas de destruição em massa. O governo Clinton, durante seus últimos seis meses, a substituiu pela expressão "states of concern" (Estados preocupantes, que merecem atenção), e no governo Bush os Estados considerados rogue pelo governo americano (Coréia do Norte, Iraque, Irã, Afeganistão e Líbia) passaram a ser caracterizados pelo presidente como "Eixo do Mal". Depois da invasão americana do Afeganistão e do Iraque, evidentemente, e de acertos diplomáticos entre o governo americano e a Líbia, esses três países foram excluídos da lista. (N. T.)
[3] Os autores se referem ao assassinato de Ilan Halimi, em fevereiro de 2006. (N. E.)

Com amigos assim, quem precisa de inimigos?1
Dois neo-realistas reduzem a amizade entre os EUA e Israel ao tráfico de influência


Peter Demant
Historiador especialista em Oriente Médio, doutor pela Universidade de Amsterdã, é professor de relações internacionais na USP e autor de, entre outras obras, O mundo muçulmano (Contexto, 2004)


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RESUMO
Em resposta ao artigo "O Lobby de Israel", sustenta-se que a proximidade entre os EUA e Israel é cultivada pelo Lobby e não por ele criada. Defende-se também que as conclusões de Mearsheimer e Walt são baseadas em pesquisa descuidada, deturpações e lógica falsa, mas que ainda assim a tese central é digna de debate.
Palavras-chave: "O Lobby de Israel"; Palestina; Oriente Médio; relações internacionais.
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SUMMARY
In response to the article "The Israel Lobby", this essay states that proximity between USA and Israel is cultivated by the Lobby, not created by it. It is also argued that Mearsheimer and Walt's conclusions are based on poor research, debasement and false logics, but that its main argument deserves serious debate.
Keywords: "The Israel Lobby"; Palestine; Middle East; international relations.
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O artigo de Mearsheimer e Walt, que analisa a "gravata" aplicada pelo Lobby de Israel à política externa dos EUA, despertou na academia norte-americana uma tempestade que não se via desde que Samuel Huntington publicou "O choque das civilizações", no Foreign Affairs, em 1993. A tese dos autores é que a política externa americana está alinhada em excesso, e desnecessariamente, com Israel, e que tal "relação especial" causa problemas evitáveis para o interesse nacional dos EUA nas suas relações com o mundo árabe-muçulmano e na luta contra o terrorismo.2 Segundo eles, esse alinhamento não decorre da importância estratégica de Israel para os EUA, nem de qualquer justificativa moral, mas das pressões e manipulações de um lobby pró-Israel extremamente poderoso, multifário e centrado na comunidade judaica organizada.3 Exatamente como os autores previam, suas afirmações provocaram tumulto entre intelectuais pró-israelenses; os autores foram acusados de anti-semitismo (eles sustentam que isso é uma tática padrão do Lobby). O que eles talvez não tenham previsto é o uso de seu texto, nos EUA e afora, para fortalecer argumentos de forças anti-israelenses, anti-sionistas e anti-semitas da extrema esquerda e da direita e no mundo muçulmano. As análises, refutações e apologias à tese de Mearsheimer e Walt já seriam suficientes para preencher vários livros. Não compartilho as conclusões dos autores, baseadas em pesquisa descuidada, deturpações e lógica falsa, mas isso não torna a tese central totalmente inválida, insignificante ou indigna de debate sério.
John Mearsheimer, da Universidade de Chicago, e Stephen Walt, da John F. Kennedy School of Government, de Harvard, são especialistas conhecidos e respeitados em relações internacionais. Ambos integram a escola "linha-dura" neo-realista, que enfatiza Estados, poder militar e a inelutabilidade das políticas de equilíbrio de poder, além de expressar ceticismo quanto à relevância de atores não-estatais e ao potencial da cooperação internacional. Mearsheimer atacou em publicações anteriores o otimismo pós-Guerra Fria, avisando que novos conflitos entre grandes potências seriam inevitáveis. Tanto ele quanto Walt foram contra a guerra do Iraque, argumentando que Saddam Hussein não constituía perigo e poderia ser contido por sanções e outros meios não-militares. Seu artigo "O Lobby de Israel" foi originalmente encomendado pelo Atlantic Review; por motivos não-divulgados, foi duas vezes recusado. Meio ano depois, saiu na London Review of Books, publicação mais à esquerda. Simultaneamente, uma versão mais extensa (e bem mais radical), com copiosas notas de rodapé, foi incluída no site de Harvard; posteriormente, Harvard retirou seu logotipo da página em que estava o artigo.
Será que as relações entre EUA e Israel são tão próximas e tão sintonizadas com os interesses israelenses quanto Mearsheimer e Walt afirmam? Quanto a essa primeira questão factual, eles estão bem fundamentados e não acrescentam nada de efetivamente novo. Desde 1967, o vínculo dos EUA com Israel é forte e vem se fortalecendo. Desde os anos 1980, é uma quase-aliança informal e nos últimos anos eles têm sido os parceiros mais fiéis.
Os EUA fornecem o principal apoio diplomático e militar a Israel, ambos estão do mesmo lado na "guerra contra o terror", além de partilhar sólidos laços econômicos, culturais, acadêmicos e humanos. A situação privilegiada de Israel na política externa dos EUA não está em dúvida. Recebendo perto de US$ 3 bilhões por ano, Israel é o destinatário da maior ajuda estrangeira oferecida pelos EUA, apesar de seu tamanho e população minúsculos (21.000 km2, 6 milhões de habitantes, PIB de US$ 154 bilhões). Nos primeiros anos do Estado, a ajuda estrangeira, na ocasião indenizações alemãs e filantropia judaica ao invés de ajuda bilateral americana, foi fundamental para sua sobrevivência. Mas há muito tempo Israel deixou o grupo de países pobres, e a porcentagem de contribuições estrangeiras em relação ao PIB tem caído continuamente. Porém, Mearsheimer e Walt omitem o fato de que a maior parte desse dinheiro de contribuintes norte-americanos vai para gastos militares e não para melhorar o padrão de vida dos israelenses.4 Provavelmente, essa verba continua vital para a capacidade defensiva de Israel. Mearsheimer e Walt também estão errados ao afirmar que a ajuda dos EUA é usada para construir assentamentos nos territórios palestinos: pelo contrário, Israel tem evitado usar o dinheiro americano para a expansão da colonização; mesmo assim, os EUA por vezes retiveram parte do dinheiro (cortando garantias de empréstimo) em protesto contra a política de colonização de Israel. É, portanto, incorreto sugerir que Israel não tenha de prestar contas sobre o gasto do dinheiro americano, ainda que a ajuda dos EUA libere outros recursos financeiros que Israel pode usar para políticas com as quais os EUA não necessariamente concordam. (Essa lógica subjaz aos apelos para redução dos repasses vindos de grupos pró-palestinos, por exemplo nas igrejas anglicanas e universidades).
Também não há dúvida sobre a extensão da cooperação militar, diplomática e de inteligência. Basta lembrar a consulta de Israel aos EUA antes da Guerra de 1967 e 1982, o apoio dos EUA em emergências como a Guerra de Outubro de 1973 e a Guerra do Golfo em 1991, ou a longa lista de vetos que o EUA lançaram no Conselho de Segurança da ONU para evitar resoluções críticas a Israel.
Mas isso não prova que não existam importantes diferenças de opinião. Por exemplo, os governos americanos antes de George W. Bush insistiram que Israel se retirasse da vasta maioria dos territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias de 1967 em troca do reconhecimento pelos vizinhos. Israel discordou. Só a pressão combinada dos EUA, de fora, com o movimento de paz israelense, de dentro, superou a resistência de Menachem Begin, de forma que a paz com o Egito pôde ser alcançada em troca da retirada israelense do Sinai. Contudo, do ponto de vista ideológico, o Sinai era o território menos importante para sionistas religiosos de direita. De 1977 até o inicio dos anos 1990, governos israelenses de direita rejeitaram qualquer retirada adicional; e os EUA não a impuseram. Em conseqüência, a mediação norte-americana no conflito árabe-israelense, criticada por Mearsheimer e Walt, teve seus maiores sucessos quando a esquerda estava no poder, sob Yitzhak Rabin (1992-1995) e Ehud Barak (1999-2001). Também é verdade que os EUA não questionam as armas nucleares não-declaradas que Israel desenvolveu nos anos 1960 com apoio francês, antes da aproximação com os EUA, porque entendem que a existência de Israel é ameaçada por seus vizinhos. A "relação especial" existe; ela é invocada regularmente tanto pelos EUA quanto por Israel e seus resultados são concretos e inegáveis. A questão é saber se esse relacionamento é tão pernicioso quanto os autores afirmam — e se de fato é o efeito de um lobby.
Meus comentários tratarão das duas suposições de Mearsheimer e Walt. Será que essa relação realmente não é baseada nem em interesse estratégico nem em considerações morais? Nesse caso, pode realmente ser atribuída às maquinações do "Lobby de Israel"?

ESTRATÉGIA, ÉTICA OU NENHUMA DAS DUAS?
Mearsheimer e Walt afirmam que há uma onda de sentimento antiamericano no mundo árabe, causado em parte pelo apoio dos EUA ao tratamento que Israel dá aos Palestinos e à sua "recusa a conceder aos palestinos um Estado próprio viável" (p.48). Que o antiamericanismo vem crescendo e a ordem mundial, ainda liderada pelo ocidente, com valores originários do ocidente, vem sendo contestada com veemência, já era sabido. Na realidade, porém, a rejeição à hegemonia americana não é exclusiva do Oriente Médio muçulmano, embora encontre ali sua expressão mais virulenta: cresce na Europa Ocidental, na América Latina e também entre aliados dos EUA, tais como Índia, Japão e a Coréia do Sul. Não está ausente em Israel e entre muitos norte-americanos. Mesmo uma pesquisa superficial no Oriente Médio e entre os árabes e muçulmanos ao redor do mundo não deixa dúvida de que os EUA são percebidos como o protetor principal da opressão israelense aos direitos palestinos.
Mas a essas percepções falta precisão analítica: às vezes Israel é visto como um prolongamento do imperialismo americano, em outras os EUA são vistos como manipulados por uma sinistra conspiração sionista (o artigo de Mearsheimer e Walt tende para esta última). Será que essa percepção prova a "culpa" dos EUA? Israel certamente não é a única causa do antiamericanismo no mundo islâmico. Mearsheimer e Walt argumentam que "os Estados Unidos têm um problema terrorista em boa parte porque estão tão intimamente aliados a Israel, e não o contrário".(p.46) Isso é falso: como analisei em outras publicações,5 o terrorismo islamista contra objetivos ocidentais resulta de um processo muito mais antigo e amplo de rejeição à influência e poder ocidentais no mundo muçulmano (conseqüência do crescente desenvolvimento das capacidade ocidental para a industrialização e modernização política, associada à simultânea decadência dos impérios muçulmanos); do fracasso em aplicar os modelos ocidentais de modernidade nacionalista, liberal ou socialista para democratizar e desenvolver o mundo árabe e recuperar seu poder e dignidade; e, finalmente, do aparecimento de um contra-modelo fundamentalista, antimoderno, antidemocrático e antiocidental: o islamismo. Tudo isso tem pouco a ver com Israel. Osama bin Laden radicalizou o pensamento islamista transferindo a violência que estes antes usavam contra oponentes locais (ditadores "hereges" como Sadat, mulheres, cristãos, minorias sexuais e outros) para a sua "causa original": os muçulmanos, concluiu, têm de atacar o poder do ocidente em sua própria casa. A formação de Bin Laden foi no wahabismo saudita, no jihadismo egípcio e na luta anti-soviética no Afeganistão.
Embora a Al-Qaeda, como muitos islamistas, seja um grupo anti-semita, a Palestina ocupa um lugar secundário ou terciário em suas prioridades. Seu antiamericanismo decorre em primeiro lugar da "ocupação americana" na Arábia Saudita.6 É inegável a preocupação de Osama com o destino de Jerusalém, terceira cidade mais santa do islã e desde 1967 sob controle israelense. Mas podem os ataques inspirados na Al-Qaeda em Madri, Casablanca, Bali e Bagdá; as matanças terroristas de origem islamista na Rússia, Nigéria, e Índia; os novos ataques planejados contra aviões americanos e o intencionado massacre de 10 milhões de cidadãos americanos ter como motivação o apoio dos EUA a Sharon e Olmert? Ou será que o surpreendente êxito econômico, cultural e militar de Israel torna o minúsculo Estado judeu um objeto tão visível e conveniente de ódio que nacionalistas árabes e fundamentalistas muçulmanos frustrados o teriam inventado se não existisse?
O ódio desproporcional projetado sobre Israel e sua bem conhecida conexão com Tio Sam parece tornar plausível a afirmação de Mearsheimer e Walt, segundo a qual Israel, em vez de recurso estratégico, tornou-se um risco estratégico. Nos anos 1950 e 1960, Israel era um (talvez demasiadamente valorizado) "agente policial" regional do ocidente contra clientes pró-soviéticos no Oriente Médio, como Nasser, no Egito; porém, a França e a Inglaterra se beneficiaram disso mais do que os EUA. Uma aproximação estratégica clara com os EUA só aconteceu depois de 1967, quando Israel provou seu vigor e "valor" ao derrotar sozinho três exércitos árabes. Nos anos 1970 e 1980, Israel era uma útil estação de escuta contra movimentos soviéticos; o departamento de golpes baixos também poderia confiar-lhe operações secretas, particularmente na África — um pouco como o papel que Cuba teve para a URSS no mesmo período. Porém, a utilidade de Israel declinou abruptamente com o fim da Guerra Fria. Desde então, o seu contínuo conflito com os palestinos e a publicidade negativa daí decorrente transformou Israel num fardo.
Essa avaliação não ficou inconteste. De uma perspectiva não menos "realista" do que Mearsheimer e Walt, o pesquisador pró-israelense Martin Kramer defende o interessante contra-argumento de que "os Estados Unidos traduziram seu (...) total e incondicional (...) apoio a Israel em concessões israelenses que são o fundamento da Pax Americana no Levante".7 Ele considera que, sendo os EUA considerados a única potência que pode fazer Israel renunciar aos territórios, a ocupação de terras árabes por Israel criou uma rede de novos clientes que precisavam da mediação dos EUA para reaver seu território.8 Assim, a ocupação e a ligação de Israel com o EUA, ao invés de prejudicar, criou poder para os EUA no Oriente Médio. Além disso, Israel é um estado-cliente especialmente confiável porque a inimizade árabe leva todos os setores de sua população a uma posição pró-ocidental. Onde tais clientes estão ausentes ou instáveis, como o xá do Irã ou Saddam no Iraque, os EUA se vêem obrigados a intervir, alimentando o antiamericanismo e o terrorismo. Portanto, sugere Kramer, quando se tem um Israel leal no papel de "valentão mais forte do pedaço", não há por que se preocupar. Contudo, esta lógica perde força por duas considerações.
Primeiro, o preço de manter um amigo tão impopular como Israel se torna rapidamente mais alto do que as vantagens. Hamas e Hizbollah, originalmente apenas antiisraelenses, tornaram-se dores de cabeça norte-americanas de dimensões globais. No mundo árabe, o apoio dos EUA a Israel tem um alto custo; e dada a impopularidade global de Israel, nem traz ganhos alhures. Segundo, a lógica de canalizar as retiradas israelenses pela mediação dos EUA é autodestruidora.
Se a tese de Kramer fosse verdade, os governantes americanos não estariam com pressa de viabilizar a paz entre árabes e israelenses, paz que tornaria os futuros parceiros independentes dos EUA. Mas tal comportamento egoísta e calculista é o oposto do envolvimento pessoal quase obsessivo com a paz entre Israel e árabes de presidentes como Carter e Clinton, além de uma tropa de políticos e funcionários americanos de segundo escalão.
Israel, então, tem algum valor estratégico para os EUA, mas nem tanto quanto proclamado por seus defensores nem tão desprezível quanto dizem Mearsheimer e Walt. No final das contas, o custo de apoiar Israel pode exceder os ganhos. Porém, a verdade paradoxal é que quanto menos importante Israel se tornou como peão geopolítico para os EUA, mais fortes se tornaram seus laços e a preocupação dos EUA com sua segurança. Isso não pode ser explicado por cálculo estratégico.

CAPITAL MORAL DECLINANTE
Depois de ter desmantelado, não sem êxito, o valor estratégico de Israel para os EUA, Mearsheimer e Walt tentam, em uma das seções mais feias do artigo, destruir as reivindicações morais de Israel pela empatia americana que, como eles adivinham corretamente, é o que realmente determina a relação. "[Aqueles que apóiam Israel]... também argumentam que ele merece um apoio irrestrito porque é fraco e está cercado por inimigos; é uma democracia; o povo judeu foi vítima de crimes no passado e portanto merece tratamento especial; e a conduta de Israel tem sido moralmente superior à de seus adversários".(p.47) Novamente, trata-se de percepções subjetivas, não de fatos históricos. Pois é a aceitação subjetiva dessas afirmações pelo público e pelas autoridades norte-americanas que explica por que, como critica o articulista anti-israelense Tony Judt, "o poder imperial e a reputação internacional dos Estados Unidos estão tão estreitamente alinhados com um pequeno e controverso Estado-cliente mediterrâneo."9
Mearsheimer e Walt enfatizam o sucesso com que o Lobby apóia Israel, atuando como um censor que policia o pensamento dos EUA nesses assuntos. Na verdade, a título de argumentação, eles não precisariam lidar com a essência desses argumentos. Teria sido suficiente mostrar que a maioria dos americanos acredita neles. Eles optaram por fazê-lo, talvez para melhor preparar o leitor (que ainda poderia ter alguma compaixão pelo Estado judeu) para absorver sua conclusão: "Analisados em detalhe, nenhum desses argumentos é convincente. (p.47) (...) Israel pode não ter agido pior do que outros países, mas certamente não agiu melhor".10 São muitas as alegações que precisariam de réplica mais extensa, mas alguns pontos não podem ficar sem resposta.
Antes de mais nada, Mearsheimer e Walt afirmam que em suas sucessivas guerras Israel era muito mais forte do que é geralmente aceito. Trata-se de uma meia verdade. O fato de Israel ter ganhado a guerra de 1948 não prova que não fosse desamparado; na realidade, armas externas foram fundamentais à sobrevivência do nascente Estado judeu, e difíceis de conseguir. Se a imagem "Davi contra Golias" da propaganda sionista exagerou na desigualdade das forças e recursos, proclamar o lado árabe como um novo Davi não é menos absurdo. Ainda que mal treinados e dirigidos, os exércitos árabes tiveram à disposição uma quantidade muito maior de equipamento; o número de soldados nas batalhas era aproximadamente igual, mas o lado árabe tinha amplas reservas (não usadas); os judeus não. As discrepâncias quantitativas não foram menos marcantes nas guerras de 1967 e 1973. Mearsheimer e Walt declaram: "Se apoiar o lado mais fraco fosse um motivo obrigatório, os Estados Unidos estariam apoiando os adversários de Israel" (p. 48). Essa perspectiva, porém, negligencia um fator moral essencial: a liderança sionista aceitou (ainda que com o coração pesado) o plano de partilha da ONU, enquanto o lado árabe rejeitou qualquer acordo e declarou uma guerra de extermínio, repetindo a tentativa de 1967. A diferença no campo de batalha foi a ineficácia da liderança árabe associada a um moral israelense mais elevado, inclusive porque os israelenses sabiam não estar lutando pela vitória ou pela honra, mas pela sobrevivência coletiva. Ora, a vitória do fraco sobre o forte não prova a posteriori que o fraco era tão forte que nem precisou ou precisa de ajuda externa.
Mearsheimer e Walt também pensam que "ser democrático não justifica nem explica o apoio de Israel pela América",11 uma vez que os EUA, como citam com aprovação, apoiaram muitas ditaduras (e, podemos acrescentar, ajudaram a minar vários governos eleitos...). Isso mostra claramente a postura amoral dos autores — assim como também a da política externa dos EUA durante a Guerra Fria, quando, grosso modo, seguiam preceitos realistas. Desde os anos 1990 e mais enfaticamente após o 11 de setembro, porém, os objetivos da política externa americana sofreram uma mudança dramática. Ao não mais se prostrar diante de ditadores amigáveis para equilibrar adversários comunistas, os EUA visam fortalecer sua segurança facilitando — em sua forma mais radical e neoconservadora — a democracia no exterior para cortar as raízes do terrorismo. O comportamento amoral no passado não pode ser usado como modelo para decisões políticas futuras. É possível que uma derrota no Iraque possa defensivamente trazer de volta políticas de poder amorais. Isso também seria uma derrota para a moralidade.
Mearsheimer e Walt compilaram um catálogo de más intenções e maus comportamentos sionistas e israelenses para minar a justificativa de que Israel merece consideração especial. Algumas de suas acusações são bastante verdadeiras (a maioria vem de fontes de dentro de Israel, onde a discussão de tais assuntos é rotineira, embora poucas vezes, infelizmente, conclusiva). Israel está longe de ser uma democracia perfeita; isso é particularmente verdadeiro em relação ao tratamento da minoria árabe, onde a igualdade civil pró-forma é prejudicada pela discriminação social informal (o que reflete a tensão entre a dupla identidade de Israel, democracia e Estado judeu); e até mais em relação aos palestinos da Cisjordânia e Gaza, uma população civil sob ocupação por vezes molestada desnecessariamente e que freqüentemente ficou entre o martelo de atos terroristas cometidos por sua própria resistência e a bigorna da reação com mão de ferro de Israel: castigos coletivos. Porém, Mearsheimer e Walt estão completamente errados ao afirmar que só judeus podem ser cidadãos israelenses: 20% são não-judeus. Eles fazem afirmações tendenciosas e falsas como:
a liderança sionista não estava interessada em estabelecer um estado binacional ou em aceitar a partilha permanente da Palestina. A liderança às vezes estava preparada para aceitar a partilha como um primeiro passo, mas isso era uma manobra tática e não seu verdadeiro objetivo.12
Isso é falso. O binacionalismo nunca foi uma plataforma majoritária entre os partidos sionistas pré-Estado, mas teve importante apoio na esquerda sionista. O que tornou o binacionalismo (reavivado em nossos dias por palestinos radicais) um plano natimorto foi sua absoluta rejeição pelos árabes.13 Os autores repetem o que é essencialmente uma visão de soma zero da disputa pré-1948 pela Palestina, um assunto importante, mas intrinsecamente insolúvel. Sendo não-determinista, minhas conclusões a posteriori são ligeiramente menos pessimistas. Se o conflito era mesmo totalmente insolúvel sem e antes do estabelecimento de um Estado judeu independente, então isso fortalece a justificativa sionista de que o direito à sobrevivência dos judeus, existencialmente ameaçados na Europa dos anos 1930, prevalecia sobre os intrínsecos direitos territoriais dos árabes na Palestina. O líder da direita sionista Vladimir Jabotinsky comparou isso sarcasticamente a reivindicações contrapondo apetite e fome.
É difícil rejeitar a reclamação de que os palestinos tiveram que pagar o preço por um crime europeu, o Holocausto; é também verdade que muitos palestinos foram expulsos de suas casas em 1948. Porém, a alegação de que a liderança sionista intencionalmente tenha planejado uma limpeza étnica não está provada. Benny Morris, um dos "novos historiadores" que Mearsheimer e Walt favoravelmente citam como tendo explodido os mitos sionistas, expõe como a maioria dos refugiados palestinos fugiu por medo ou percepção do perigo de guerra e não por estar na mira de um fuzil (Morris severamente rejeita o artigo de Mearsheimer e Walt, mostrando que eles destorcem os fatos).14 Mearsheimer e Walt têm razão ao denunciar a persistência de atitudes israelenses favorecendo a "transferência". Mas eles esquecem de mencionar ponderações e desejos paralelos do lado árabe da colina, desejo de que os "outros" simplesmente desapareçam. Tais atitudes são lamentáveis, mas não o mesmo que planejamento e implementação de fato de limpeza étnica premeditada. Atitudes negativas sobre o outro são tanto causa quanto conseqüência do conflito e se encontram em todo o mundo. Se uma minoria tem de viver sob o domínio de uma maioria, a democracia israelense, com todos seus defeitos, é ainda preferível ao equivalente regional mais próximo (os curdos na Turquia, ou os bahais ou sunitas no Irã).
Mearsheimer e Walt negligenciam a longa história sionista e israelense de tentativas de acordo e a constante rejeição dos árabes a quase toda proposta de coexistência. Os "novos historiadores" demoliram muitos enfeites propagandísticos, mas alguns fatos básicos não podem ser eliminados. A partilha já tinha sido proposta pela Inglaterra em 1937, aceita pelo movimento sionista, mas rejeitada pelos árabes. Em 1947, a Agência Judaica aceitou a partilha proposta pela ONU, mas os árabes rejeitaram direitos dos judeus a mesmo uma polegada de território. Se o lado árabe tivesse aceitado a partilha, não teria havido o problema dos refugiados palestinos nem 60 anos de conflito árabe-israelense. Mearsheimer e Walt esquecem também convenientemente que os palestinos eram liderados nos anos 1930 e 1940 por Hajj Amin al-Husseini, admirador e ativo aliado de Hitler. O oponente sionista dele, Ben-Gurion, dizem Mearsheimer e Walt na versão completa do artigo, "viu o problema claramente", ao escrever em 1941 que "é impossível imaginar o afastamento geral [da população árabe] sem uso de força, e força brutal."15 Isso é uma citação deturpada do livro Righteous victims, de Benny Morris, onde na realidade ele diz:
Mas, ele [Ben Gurion] escreveu: "A transferência completa sem coação - e coação cruel na verdade - é dificilmente imaginável." (...) e [Ben-Gurion] conclui que os judeus não precisavam desencorajar outros, britânicos ou americanos, que favorecem a transferência de defender tal linha, mas nós não deveríamos de nenhuma maneira tornar isto parte de nosso programa.
Mearsheimer e Walt não mencionam essa conclusão, muito mais cautelosa. (Líderes sionistas tais como Chaim Weizmann e David Ben-Gurion ocasionalmente discutiram a idéia da transferência e se necessário, a expulsão; Morris observa que desde a revolta palestina de 1936-1939, "nenhum líder da linha central [sionista] pôde conceber a coexistência e paz futuras sem uma separação física clara entre os dois povos"). Novamente, especulações e cenários não são decisões políticas.16 Mearsheimer e Walt também silenciam sobre Munique, 1972, Entebbe, 1976, e outros atos de terrorismo palestino que moldaram nos EUA a identificação pública com Israel. Quando o lado árabe começou finalmente a se mover na direção de um reconhecimento mútuo, nos anos 1980 — mais por fraqueza do que por uma mudança no coração — os israelenses tinham desistido da paz como um sonho utópico; a direita sionista expansionista estava em ascensão.
A pressão através de violência extremista e o crescimento da população palestina forçou líderes israelenses subseqüentes a liberar alguns dos territórios ocupados e a analisar um acordo territorial, mas nenhum governo israelense estava disposto a oferecer aos palestinos um Estado viável.17
Isso é o oposto do que de fato aconteceu: tentativas de diálogo da esquerda sionista com a OLP nos anos 1980 mudaram a posição das lideranças em Israel; a rejeição árabe manteve-se intransigente por muito tempo e destruiu seu potencial de negociação. Os autores também repetem o mito que "a oferta supostamente generosa do Primeiro-Ministro Ehud Barak em Camp David, em julho de 2000, teria outorgado aos palestinos apenas uma coleção desarmada e desmembrada de 'Bantustões', de fato sob controle israelense".18 Sem louvar indevidamente o comportamento de Israel, e sem fazer julgamento definitivo (pois dependemos mais de memórias do que de documentos oficiais), parece-me que esse mito foi enterrado por todas as testemunhas oculares exceto uma: Arafat, responsável por rejeitar todas as ofertas.19 Tentando provar que "o comportamento de Israel não é moralmente distinguível das ações de seus oponentes",20 Mearsheimer e Walt podem com justiça citar algumas atrocidades cometidas por forças israelenses (além de muitas burrices cometidas por políticos israelenses). Muitos crimes que não devem ser maquiados foram cometidos por ambos os lados; e o prontuário de Israel está longe de ser imaculado. Mas não deveríamos manchar injustamente um lado só. Insinuar que o prontuário de Israel pode ser comparado àquele do Iraque ou Sudão é como dizer que as violações de direitos humanos sob o governo militar brasileiro foram semelhantes às da junta argentina, ou da Indonésia, que matou meio milhão de comunistas. Os 200 mil palestinos que fugiram da Cisjordânia em 1967 não foram expulsos. Desde 2000, houve realmente cerca de mil vítimas israelenses da nova onda de violência, contra cerca de 3 mil palestinos. Porém, a desproporção é mais um resultado de ineficácia palestina do que da sua intenção. A grande maioria dos mortos israelenses foram vítimas civis de ataques terroristas; a maioria dos palestinos, membros da resistência que os próprios palestinos chamam corretamente de combatentes. Muitos (embora não todos) civis palestinos mortos eram escudos humanos voluntários ou involuntários de outros palestinos.
Por fim, Mearsheimer e Walt negam que o fato de ser vítima do terrorismo desse a Israel o direito à proteção dos EUA, pois na luta pela independência, as forças da direita sionista também usaram métodos terroristas contra britânicos e árabes. Isso é verdade, mas eles omitem que o Irgun e o Stern Gang, que cometeram os atentados, eram apenas uma pequena minoria. A maioria sionista conduzida por Ben-Gurion energicamente os rejeitou e combateu. Por outro lado, a violência contra civis tem sido a marca das principais facções palestinas e continua se beneficiando do apoio de segmentos consideráveis da opinião pública palestina.21
De fato, ainda que Mearsheimer e Walt rejeitem o terrorismo palestino, eles observam que "não é surpreendente", pois "os palestinos acreditam que não têm nenhuma outra forma de obrigar Israel a fazer concessões. Como admitiu certa vez [o ex-Primeiro Ministro] Ehud Barak, se tivesse nascido palestino, ele teria ingressado em uma organização terrorista" (p.49). Essa é uma citação fora de contexto (o termo "organização terrorista" é usado no jargão israelense como rótulo para qualquer milícia palestina que tenha alguma vez usado violência; e Barak acrescentou ser contra o terrorismo).22 Além do mais, "não há outra alternativa" é um argumento usado por terroristas em todo o mundo: por qual motivo deve ser aceito literalmente? Entre 1992 e 2000, concessões israelenses significativas obtidas pelos palestinos, tais como volumosas retiradas territoriais, autogoverno local, patrulhas de segurança e ajuda econômica, deram-se não através de atos terroristas, mas pela negociação. Não há dúvida de que, com a continuação do processo de paz, poderiam ter ganhado muito mais.
Numa sentença ambígua e bastante desumana, Mearsheimer e Walt concluem que "a trágica história do povo judeu não obriga os Estados Unidos a ajudar Israel hoje independentemente do que ele faça." (p. 49) A sobrevivência de Israel "não está em dúvida", pontificam, "mesmo se alguns extremistas islâmicos fazem referências revoltantes e irrealistas a 'varrê-lo do mapa'".23 É compreensível que os israelenses sejam mais céticos e prefiram garantias mais confiáveis do que as de amigos como Mearsheimer e Walt. Na verdade, se a existência de Israel está segura, é em grande parte por sua habilidade em mobilizar amigos verdadeiros — exatamente a ação que Mearsheimer e Walt lamentam tanto.

O LOBBY
Se o interesse estratégico dos EUA para se alinhar com Israel não parece mais tão urgente, os imperativos morais permanecem fortes. Não considero convincentes os ataques de Mearsheimer e Walt contra esses imperativos. A maioria dos americanos concorda comigo, como comprovam inúmeras pesquisas.24 Obviamente, o fato de o povo e a elite abraçarem o argumento moral em favor de Israel não significa que não haja um forte e organizado lobby pró-Israel nos EUA. De acordo com Mearsheimer e Walt, a forte identificação que muitos americanos continuam a ter com o Estado judeu é precisamente um problema de "falsa consciência": o Lobby
...se esforça para assegurar que o discurso público retrate Israel de forma positiva, repetindo mitos sobre sua fundação e promovendo seu ponto de vista nos debates sobre políticas. O objetivo é evitar que comentários críticos consigam uma audiência imparcial na arena política. Controlar o debate é essencial para garantir o apoio dos Estados Unidos, porque uma discussão franca das relações entre Estados Unidos e Israel poderia levar os americanos a preferir uma política diferente. (p.52)
Eles detalham uma rede de grupos e indivíduos ocupados em promover os interesses de Israel, influenciando senadores e congressistas, candidatos democratas e republicanos em tempos de eleição, autoridades no governo, na mídia e na academia. Essas forças emanam, na visão de Mearsheimer e Walt, principalmente de dentro da comunidade judaica. No centro está o poderoso Aipac, sigla em inglês para Comitê Americano-Israelense de Afazeres Públicos. Mearsheimer e Walt não chegam a afirmar que o lobbying étnico seja ilegítimo ("Na maioria, os indivíduos e grupos que o compõem estão fazendo apenas o que outros grupos de interesse especial fazem, só que fazem muito melhor"). Porém, eles falam claramente que seus efeitos são danosos tanto para os interesses dos EUA quanto para os de Israel. É preciso avaliar essas afirmações.
Para começar, o que é exatamente esse Lobby? Não fica claro no artigo de Mearsheimer e Walt quais seus elementos constitutivos e limites. Faz sentido incluir a Aipac e algumas outras organizações especificamente pró-israelenses. Porém, Mearsheimer e Walt parecem incluir qualquer americano, judeu ou não, homem de negócios, jornalista ou professor universitário, que já tenha alguma vez expressado uma opinião favorável ao Estado de Israel. Inclui pessoas tão diferentes como Douglas Feith, secretário de defesa entre 2001 e 2005, neoconservador próximo do Likud que firmemente se opôs ao processo de Oslo, e Dennis Ross, um dos arquitetos do processo de paz mediado pelos EUA, que chegou a receber cartas de ódio chamando-o de "self-hating Jew".25 Não há dúvida de que a Aipac e organizações correlatas de fato são bastante eficientes na promoção de posições pró-israelenses. Parecem particularmente hábeis em colocar parlamentares americanos sob pressão suficiente para manter o fluxo de dinheiro e armas para Israel. Organizações a favor de Israel conseguem forçar os políticos americanos a não adotar decisões anti-israelenses. Esse Lobby (se os grupos que o constituem forem suficientemente coesos a ponto de constituir um lobby) parece o mais eficiente em seu próprio território: Israel (voltaremos à sua suposta influência em outras questões como o Iraque e Irã) — em particular se e enquanto não enfrentam outros lobbies (por exemplo o dos sauditas) ou outros interesses opostos.
Poderoso, porém, não significa todo-poderoso. Diferentemente da afirmação de Mearsheimer e Walt, sua influência é bastante menos pronunciada sobre o Executivo do que sobre o Legislativo. E a política externa é muito mais moldada pelo Presidente, pelo Pentágono e pelo Ministério do Exterior do que pelo Congresso, particularmente em tempos de crise (e o Oriente Médio está numa crise quase constante).
Há muitos exemplos de casos em que os interesses dos EUA e de Israel divergiam nitidamente, e o Lobby não ajudou Israel. Não é preciso voltar até 1957, quando Eisenhower forçou Israel a sair do Sinai — época em que a Aipac ainda não existia. Por suas próprias razões geopolíticas, Nixon impôs um fim à Guerra de Outubro de 1973, quando Israel estava a ponto de vencer. Os acordos de separação de forças subseqüentes, mediados pelo secretário de Estado Henry Kissinger, também estavam longe de ser unilateralmente favoráveis a Israel, ainda que abrissem caminho para a paz com o Egito. No contexto do acordo de Sinai II, em 1975, os EUA prometeram não falar com a OLP, mas, em 1989, o presidente Reagan estabeleceu diálogo com a organização à revelia de Israel. Em 1977, o Lobby de Israel não impediu Carter de pressionar Begin. Em 1981, Israel se opôs à venda de aviões de espionagem avançada para a Arábia Saudita, mas os Sauditas os obtiveram mesmo assim. Nos final dos anos 1980, as políticas de assentamento israelenses geraram grave tensão com os EUA: com lobby ou sem lobby, o governo de George H. Bush impôs sanções financeiras a Israel. Na guerra de 1991, o Iraque bombardeou Israel: a pressão americana impediu Israel de retaliar. Depois de derrotar Saddam, o secretário de Estado americano, Jim Baker, iniciou o primeiro encontro direto entre Israel e estados Árabes. Israel teria que sentar à mesma mesa e trocar apertos de mão com uma delegação palestino-jordaniana: Yitzhak Shamir, um expansionista radical do Likud, se opôs ativamente. Ele teve de ser arrastado à Conferência de Madri, mas acabou indo. Todos esses fatos não se ajustam à tese de Mearsheimer e Walt.
É verdade que desde 1992, nos governos Clinton e Bush II, o atrito entre EUA e Israel tem sido menor. Mas isso decorre mais da concepção de paz compartilhada por Rabin, Barak e os "clintonianos" do que de manipulações do Lobby. Mearsheimer e Walt afirmam que funcionários do governo americano como Dennis Ross, Martin Indyk e Aaron Miller, centrais na mediação de paz sob Clinton, integram o Lobby de Israel. Na realidade, eles estavam mais próximos do Peace Now do que da Aipac, assim como Clinton, sua secretária de Estado, Madeleine Albright, Shimon Peres e Rabin. A Aipac não permaneceu passiva: tentou ativamente prejudicar os esforços de paz de Rabin! Pois embora no papel a Aipac represente um amplo espectro de organizações judaicas americanas, na realidade ela é controlada por um punhado de "coronéis" da extrema-direita, como Michael Massing documentou em um artigo muito útil.26 Mais próximo ao líder do Likud anexionista Binyamin Netanyahu do que dos trabalhistas, o Lobby de Israel se opôs ao Processo de Oslo, à retirada israelense de territórios palestinos e à idéia da partilha da terra entre judeus e árabes, que é a base do sionismo trabalhista e sem a qual a paz não passa de um castelo no ar. Rabin tentou isolar a Aipac; mas ela respondeu com moções no Congresso que exigiam a transferência da embaixada dos EUA em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. Devido às reivindicações mutuamente excludentes e não resolvidas sobre Jerusalém, tal mudança teria destituído os EUA do papel de mediador. Rabin entendeu e se opôs à idéia. Apesar da pressão do Lobby, Clinton fez o mesmo, vetando o plano, e assim vem fazendo Bush II depois dele.27 Em outras palavras, não só o Lobby não reflete as atitudes mais conciliatórias da maioria dos judeus americanos: às vezes fica frontalmente às turras com Israel. Depois que Netanyahu assumiu o poder, em 1996, houve novamente um ajuste quase total entre as posições de Israel e do Lobby. Sob a pressão do time de Clinton, Netanyahu se viu obrigado a comparecer à Conferência de Wye River com os palestinos com quem jurara, poucos meses antes, não negociar. Como Shamir antes dele, reclamou, mas foi. O Lobby foi mais uma vez ineficaz.
Mearsheimer e Walt ignoram esses matizes. Sua análise do Lobby é imprecisa. Exceto algumas táticas famosas, como campanhas por carta, distribuição de contribuições arrecadadas por políticos "leais" ou ainda insinuações com base no que dizem certos senadores, não ouvimos como o Lobby de Israel funciona exatamente: Mearsheimer e Walt só apontam os supostos resultados. Para um texto que promete lidar com o Lobby de Israel, é surpreendentemente vago. (Não por acaso, os autores ignoram as pesquisas mais sólidas).28 Também é amplamente a-histórico, sem qualquer análise sobre quando começou, como se desenvolveu, etc. Suas afirmações taxativas, embora sustentadas por centenas de fontes secundárias rotuladas pelos autores, um tanto ingenuamente, de "insuspeitas", não se baseiam em qualquer pesquisa primária (por exemplo, entrevistas com ex-lobistas, políticos, etc.) mas em fontes secundárias e nem sempre fidedignas. Pintam um quadro monolítico e bastante sinistro desse "agente de facto para um governo estrangeiro" aplicando uma "gravata" no Congresso dos EUA.29 Alguns líderes da Aipac se gabam da própria atuação, pois têm interesse em maximizá-las, até pela competição com outras organizações judaicas.30 A isso Mearsheimer e Walt chamam "evidência". Seus exemplos e fontes são fracos e a conclusão é bastante exagerada.
O que dizer do caráter judeu do Lobby de Israel? Claramente não há nada de excepcional ou impróprio no ato de agir em favor de seu povo ou país de origem. Nos EUA, o lobby é uma indústria, que funciona sob o princípio de que um interesse urgente para um pequeno grupo (indústria, igreja, diáspora ou qualquer grupo político, local, ambiental ou identitário) muitas vezes deixa a maioria indiferente. Divulgar esses interesses em troca de uma compensação pode fazer sentido, o custo político é baixo e a tarefa do lobby é suavizar a transação. A menos que outro grupo de interesse expresse demandas contrárias... Os EUA têm uma gama extensa de lobbies étnicos com prioridades na política externa, mais do que alhures, porque são por excelência uma sociedade de imigrantes e refugiados. Americanos irlandeses influenciam a política dos EUA na Irlanda, taiwaneses fazem sentir seu peso no caso da China, exilados cubanos mantêm o embargo a Fidel, refugiados iraquianos pressionam para desalojar Saddam, exilados iranianos fazem intrigas contra os aiatolás. (O fenômeno não se restringe aos EUA; a recente legislação francesa, criminalizando a negação do genocídio armênio, tem algo a ver com a presença na França de 1,5 milhão armênios). É surpreendente que muitos judeus norte-americanos sejam ativos em favor de Israel?
Os judeus constituem menos de 2% dos americanos, mas têm uma tradição de expressividade e engajamento políticos e estão concentrados em cidades e profissões politicamente sensíveis. Também marcam forte presença na academia, na mídia, na indústria de entretenimento e em muito mais. A maioria se importa com Israel, o que torna fácil a mobilização da boa vontade, filantropia e esforço pessoal por parte dessa comunidade politizada e próspera. Fora disso, porém, as opiniões divergem tanto entre os judeus dos EUA quanto entre outros americanos. É verdade que os judeus são super-representados entre os neoconservadores, quase todos favoráveis a Israel por razões ideológicas (por exemplo, William Kristol, Norman Podhoretz, Paul Wolfowitz, Richard Perle, Douglas Feith, Bernard Lewis). Porém, muitos "neocons" são não-judeus, como Francis Fukuyama, Jeane Kirkpatrick e Max Boot (ultimamente também Christopher Hitchens se juntou a eles, e não pode ser suspeito de simpatias sionistas).31 Mas os judeus são também super-representados na esquerda velha e nova (Thomas Friedman, Paul Berman, Michael Walzer e anti-sionistas extremos, como Noam Chomsky, Tom Judt e Norman Finkelstein), além do neo-realismo centrista que Mearsheimer e Walt integram (Kissinger, Martin Kramer, Daniel Pipes). Na realidade, são super-representados em todas as correntes políticas, à exceção da Velha Direita anti-semita. Tal representação desproporcional também se encontra em muitos outros países: as razões são complexas, mas certamente não têm nada a ver com qualquer motivo conspiratório!
Os judeus não são, de longe, os únicos a promover Israel. Mearsheimer e Walt em grande parte ignoram os fundamentalistas protestantes e outros grupos não-judeus. Igrejas cristãs evangélicas nos EUA acreditam que o Segundo Advento do Cristo depende da conversão anterior dos judeus ao cristianismo, algo que só pode acontecer após a volta de todos os judeus para a Terra Santa. Essa teologia conduz alguns a posições políticas extremamente pró-israelenses (e não raramente islamofóbicas); e Israel não hesita em explorar essa simpatia. Os fundamentalistas cristãos são um componente crucial do Lobby de Israel.
O Lobby não é o único a negociar o campo minado Israel-Palestina. Há nos EUA entre 4 e 6 milhões de muçulmanos, sendo uma proporção significativa deles descendentes de imigrantes árabes, além de árabes cristãos. Muitos são prósperos e ativamente engajados na questão da Palestina ou no lobby árabe-americano. Organizações como o Conselho de Relações Islâmicas Americanas, o Instituto Americano Árabe, o Comitê Americano-Árabe de Anti-discriminação e outros agem contra o Lobby de Israel com um ponto de vista anti-sionista e pró-palestino, embora seu impacto seja bem menor. Judeus anti-sionistas são também ativos, assim como algumas igrejas cristãs críticas a Israel. Embora suas opiniões sejam opostas, tanto judeus quanto árabes se interessam pelo conflito no Oriente Médio; essa preocupação alimenta um interesse desproporcional dos veículos de comunicação.
Mearsheimer e Walt acusam o Lobby de Israel de manipular a mídia, apesar de aceitar que as reportagens sejam mais equilibradas do que certos editoriais. Porém, mesmo os comentários do New York Times, supostamente de tendência pró-sionista, são com freqüência bastante críticos a práticas israelenses (o Times é às vezes considerado anti-semita em círculos do Likud). Eles também criticam os esforços do Lobby para "evitar que Israel seja criticado nos campi universitários", embora admitam que o esforço "não foi tão bem-sucedido na academia quanto em Capitol Hill".32
Alguns think tanks aos quais Mearsheimer e Walt se referem (o Washington Institute for Near East Policy, a Heritage Foundation, entre outros) de fato assumem posições pró-israelenses. Mas centros de estudo e propaganda pró-árabes não ganham menor atenção da mídia. Os campi americanos são há tempos campos de batalha entre forças pró e anti-israelenses. O debate é vigoroso, até áspero, e não há sinais de que a crítica a Israel seja reprimida. Em termos de produção intelectual e ativismo estudantil, a tendência predominante parece antes favorecer os críticos de Israel — o que preocupa as forças pró-israelenses: será que a opinião dos alunos é termômetro para uma futura mudança, mais ampla, na opinião da sociedade?
É claro que grupelhos pró-Israel tais como o Campus Watch seguem de perto qualquer fala de professores pró-árabes, como o recém-falecido Edward Said, ou Rashid Khalidi e Joseph Mattar. Porém, a mesma tentativa de "policiar o pensamento" é dirigida a acadêmicos pró-Israel, como Alan Dershowitz, Daniel Pipes e Bernard Lewis. Mearsheimer e Walt têm provavelmente razão quando dizem que acusações de anti-semitismo são facilmente proclamadas pelos judeus. É uma arma eficaz, pois ninguém quer ser tachado de anti-semita. Mas rótulos como racista, fascista ou imperialista, às vezes usados por oradores pró-árabes, podem ser "silenciadores" igualmente efetivos. Terrorismo intelectual não adianta. Em ambos os lados, há métodos impróprios e abusivos para silenciar o outro. As comunidades judaicas, que incluem ainda milhares de sobreviventes do Holocausto, são compreensivelmente supersensíveis ao mais leve sintoma de anti-semitismo e propensas a reações defensivas exageradas. Muitos vêem Israel como o último refúgio e garantia de sobrevivência judaica e alguns têm dificuldade em distinguir entre a crítica a Israel, o anti-sionismo e o anti-semitismo, embora os três fenômenos sejam analiticamente distintos. A mesma confusão é comum entre israelófobos menos sofisticados, criando um círculo vicioso. Não esqueçamos que o anti-semitismo na realidade está longe de ser extinto; a garantia de Mearsheimer e Walt de que está recuando na Europa não é confirmada pelos fatos.33 Aqui Mearsheimer e Walt estão pouco fundamentados.
Na realidade, se o Lobby de Israel fosse realmente culpado de todas as coisas de que eles o acusam, provavelmente precisaria de mais funcionários do que a Casa Branca, Ministério do Exterior, Pentágono e Congresso juntos. Para lavar tão drástica e permanentemente o cérebro de milhões, teríamos de transformar o poder do Lobby numa conspiração onipresente — ou então duvidar da inteligência e força de vontade da maioria dos americanos: qualquer dessas pressuposições é ultrajante. É verdade que a opinião pública nos EUA costuma estar mal-informada sobre assuntos internacionais (por exemplo, a convicção popular, não provada, de que existiam ligações entre Saddam Hussein e Osama bin Laden). Também é verdade que o Lobby de Israel influencia o tom do discurso público sobre o conflito árabe-israelense — sendo provavelmente mais influente nessa área do que em decisões específicas34 de política externa; ou seja, seu impacto é principalmente difuso, doméstico e ideológico. Mas, se as vozes pró-Israel conseguem ultrapassar as pró- árabes, o desequilíbrio não é exatamente ensurdecedor; sugerir que, apesar da extensa liberdade de expressão prevalecente nos EUA, o Lobby de Israel pode impedir opiniões contrárias por controle de pensamento é incrível. Além disso, o potencial de qualquer lobby é inerentemente limitado: pode encorajar ou censurar, mas não ditar opiniões e, ainda menos, decisões. O consistente e quase-unânime apoio a Israel no Congresso e na grande maioria do público americano é sem dúvida estimulado e aplaudido pelos amigos de Israel e pode ser baseado em informações unilaterais. Mas talvez Clinton, Bush e todos esses Senadores e americanos "ingênuos" simplesmente acreditem nisso! Pode-se argumentar que a política americana no Oriente Médio superestima a necessidade da segurança de Israel em comparação à demanda árabe por justiça, ou é otimista demais ao acreditar que Israel optará pela rota da paz, ou é reticente demais ao exigir um preço político pela ajuda.35 Em outras palavras, seria possível defender que suas posições simplesmente tornam os EUA inadequados no papel de "corretor honesto" (embora não haja outro corretor em vista). Mas não é preciso um "Lobby de Israel" para explicar o que no olhar dos críticos é uma abordagem errada. A responsabilidade por isso é dos políticos democraticamente eleitos. E os presidentes dos EUA, de Carter a Bush II, têm refletido em suas políticas para o Oriente Médio a preferência de seu eleitorado. Erros foram cometidos; porém um julgamento falível não significa que a maioria dos americanos careça de uma bússola moral.
Isso me leva ao que vejo como o maior engano de Mearsheimer e Walt: ao contrário do que argumentam, o alinhamento político dos EUA com Israel não está baseado numa percepção unilateral da realidade israelo-palestina — unilateral, eles afirmam, em decorrência do controle do Lobby de Israel sobre órgãos de informação —, mas numa identificação emocional da maioria dos americanos com o Estado judeu. O ponto fundamental é que essa identificação se baseia em valores compartilhados, mais do que em interesses comuns. O que o Lobby de Israel faz é organizar e dar forma política às preferências já existentes da maioria dos cidadãos.36 A consonância de valores explica o êxito de sua atuação. Na percepção norte-americana, ambos os países se desenvolveram a partir de comunidades de pioneiros idealistas e vítimas de perseguição, obrigados a sobreviver num ambiente novo, duro e hostil; os norte-americanos vêem ambas as sociedades à luz da tradição de acolher e dar amplas oportunidades a recém-chegados; ambos se entendem como democracias pluralistas num mundo cheio de ditadores agressivos; além do mais, para dezenas de milhões de americanos cristãos religiosos, Israel é também o lar do povo eleito de Deus, com uma missão religiosa para cumprir na terra — lembrando o chamado Bíblico ao povo judeu (reelaborado no sionismo clássico e soando agora bastante irônico) para se tornar uma "luz para as nações". Se adicionarmos a todas essas semelhanças a experiência que milhões de americanos tiveram através do turismo em Israel e as amizades interpaíses, a "relação especial" pode ser entendida como a expressão de um "agrupamento civilizacional".37 O conceito nem sempre tem o poder que Huntington lhe atribui, mas parece bastante adequado para a relação EUA-Israel. A rejeição ao extremismo e terrorismo árabe ou muçulmano reforça os sentimentos de solidariedade para com o "coitadinho" (Mearsheimer e Walt podem zombar desse moralismo sentimental, porém, o apoio aos palestinos, na medida em que está presente, é baseado em reflexos semelhantes de proteger o oprimido e a vítima). Recentemente, Israel chegou a também ser visto como um aliado, aliás muito experiente, na "guerra contra o terror". A tradicional falta de interesse do público norte-americano em questões internacionais desapareceu depois do 11 de setembro. O sentimento em relação ao mesmo inimigo letal estimula a empatia. Há uma percepção de que a condição geopolítica de Israel se assemelha à dos próprios EUA, até mesmo quando seus interesses geopolíticos de curto prazo não necessariamente coincidem. O público americano não se mostra avesso a que os EUA apliquem mais pressão sobre ambos os lados para superar o conflito.38 Porém, enquanto Israel for visto como disposto a pagar um preço razoável pela paz, e o outro lado como pouco disposto a aceitar mesmo a existência de Israel, imagino que um comprometimento com a justiça manterá os EUA ao lado de Israel apesar de sua inconveniência política.39
Se é assim, por que os EUA estiveram distantes de Israel nos anos 1950? A relação especial (e o Lobby) só cresceu após 1967, depois da ocupação por Israel dos territórios que, na visão de Mearsheimer e Walt, prejudicam os interesses dos EUA. A diferença pode ter a ver com um medo residual do socialismo e da nostalgia pró-soviética dos sionistas durante a Guerra Fria; além do mais, Israel desfrutava então de uma latitude mais ampla, jogando com várias potências. É inegável que quanto mais Israel ficou isolado, mais os EUA lhe estenderam sua guarda protetora. Uma causa pode ter sido a democratização da sociedade americana, que por fim também atingiu a esfera das relações exteriores. Até os anos 1950, a política estava sob o domínio dos WASP (White anglo-saxon protestants). A emancipação e a entrada de católicos, negros, judeus, etc, estava apenas começando nos anos 1950 e 1960. Roosevelt, por exemplo, apesar da visão social transformadora e dos instintos antifascistas, era impermeável aos interesses judeus. Sob Truman e Eisenhower, a política para o Oriente Médio estava ainda nas mãos de arabistas profissionais, interessados em petróleo e antipáticos ao sionismo. Isto tem mudado gradualmente a favor de Israel.
Como bons realistas, os autores supõem que a política externa seja movida por interesses nacionais. Porém, motivos idealistas se intrometem periodicamente. Pesquisas de opinião mostram que o público norte-americano prefere uma política externa não realista, movida por valores morais. Assim como nos países escandinavos, na Holanda e talvez na Alemanha do pós-guerra (e em contraste, por exemplo, com a Rússia), a maioria do público norte-americano não aceita o preceito de que a atuação internacional de seu país deva ser guiada por interesses egoístas. Os autores presumem que a doutrinação pelo Lobby de Israel é o que impede a população norte-americana de formar uma opinião "melhor" (isto é, mais crítica) sobre Israel. Mas é provável que as posições do governo estadunidense no que diz respeito a Israel e à Palestina (até agora muito amplamente apoiadas pelo público) pouco mudariam sem o Lobby.
Se fosse tão fácil, quanto Mearsheimer e Walt sugerem, para "um agente de facto de um governo estrangeiro"40 moldar a política externa de um Estado soberano, por que não há um Lobby de Israel na França ou Inglaterra (onde Tony Blair compartilha muitas das posições geopolíticas de Bush, menos na questão Palestina)? Pelo mesmo raciocínio, também a Alemanha poderia, em razão de seu passado, ser facilmente induzida a manter o passo com os EUA em sua posição pró-Israel. Mas não o faz. Se o Lobby de Israel fosse eficaz graças à presença de uma diáspora judaica ativa e simpática a Israel, existiriam lobbies equivalentes na França e talvez na Rússia. Não é o caso. A diferença pode se explicar pelo caráter mais aberto e pluralista da política externa americana comparada à de países europeus (e, presumivelmente, do Brasil). O mesmo pluralismo a torna também mais aberta às pressões contrárias (por exemplo, de americanos árabes). A hegemonia ideológica nunca é incontestável. Na verdade, a contestação já começou há algum tempo. Com os desastres se acumulando no Iraque, Irã, Líbano e alhures, há motivos para que cresça ainda mais.

IRAQUE: ALEGAÇÃO NÃO COMPROVADA
Uma das afirmações mais mirabolantes de Mearsheimer e Walt sustenta que o Lobby de Israel levou os EUA à Guerra do Iraque. Segundo eles, o Lobby seqüestrou a política dos EUA para o Oriente Médio e criou uma guerra que serviria não a propósitos americanos, mas israelenses. Mearsheimer e Walt também dizem que o mesmo Lobby pressiona agora por um ataque contra o Irã, o que, advertem, seria até pior para os interesses americanos, pois inflamaria ainda mais a opinião pública árabe e muçulmana.
Para fortalecer a afirmação sobre o Iraque, Mearsheimer e Walt apontam, em primeiro lugar, uma série de falas de líderes israelenses (e sinais de entusiasmo na imprensa israelense) clamando por uma guerra dos EUA contra o Iraque; em segundo, ligações entre os "neocons" pró-guerra nos EUA e Israel. Ambas as afirmações devem ser qualificadas. Assim como a opinião pública americana em geral e a comunidade judaica nos EUA, também a opinião israelense estava dividida quanto à guerra. Havia nervosismo sobre o suposto arsenal de armas de destruição em massa de Saddam Hussein, motivado por suas ameaças e ataques contra Israel em 1990 e 1991 e pelo histórico de uso de armas químicas na guerra contra o Irã e contra sua própria população civil curda. Contudo, houve também um longo debate na elite de segurança israelense sobre quem seria o inimigo mais perigoso para Israel: Irã ou Iraque? Muitos apontaram o Irã como risco maior, uma vez que o Iraque de Saddam permaneceu mais ou menos contido depois de 1991. Além disso, havia o medo de que o extremismo religioso islâmico fosse mais intransigente do que o nacionalismo árabe. Uma guerra preventiva contra Saddam poderia complicar ou tornar inviável um futuro conflito com um Irã dotado de bomba nuclear, liderado por radicais que odeiam Israel.41 (Este parece ser o rumo que as coisas estão tomando agora). Forçada pelo duro ambiente do Oriente Médio, a política externa de Israel é mais realista do que a americana. Os israelenses foram e são céticos quanto ao efeito da campanha de democratização que os "neocons" esperavam desencadear no Oriente Médio. Temem que eleições possam alçar ao poder movimentos islamistas populares ainda mais perigosos para Israel do que ditadores corruptos. Dizer que Israel ou seu Lobby induziram a guerra, portanto, está muito longe da verdade. Isso não significa que não tenha havido entusiasmo em Israel com a perspectiva de eliminar Saddam, ou mesmo o devaneio de que um tsunami de mudanças positivas transformaria o Oriente Médio depois da destruição do potencial agressivo do Iraque.42 Considerando o consenso entre os serviços de inteligência americano, israelense, francês e russo em 2002 e 2003 sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, não invadi-lo teria sido a decisão mais irresponsável. Mesmo não tendo participado, Israel mais ou menos paralisou sua economia durante a guerra por medo de retaliações iraquianas, tal como em 1991.
Dentro dos EUA, os que preconizavam a invasão do Iraque eram um grupo maior do que o Lobby de Israel. Inclui árabes e muçulmanos como Kanan Makiya, Fouad Ajami, Michael Maloof, Ahmed Chalabi e Zalmay Khalilzad. Existe uma sobreposição parcial entre os "neocons" americanos e lobistas pró-Israel (Feith, por exemplo). Mas tal correlação não prova que o Lobby tenha causado a guerra. A maioria dos "neocons" não tem pessoalmente nada a ver com Israel. "Neocons" acreditam em "tornar o mundo seguro para a democracia", projeto com nuances protestantes, kantianas e wilsonianas; a política externa israelense, por sua vez, é baseada num prisma amargo, implicitamente realista, de um mundo hostil, predominantemente anti-semita, onde todo o poder emana do cano do fuzil. Os "neocons" acreditam que a expansão de "valores americanos" (valores da modernidade que surgiram primeiro no ocidente, mas são vistos como universalizáveis: democracia, direitos humanos, paz internacional, etc.) tornará as sociedades do Oriente Médio menos extremistas e diminuirá a atração exercida pelo terrorismo; eles vêem isso como um fator crítico para tornar os EUA mais seguros e querem usar o poder dos EUA "para o bem comum" da humanidade. A maioria dos políticos israelenses não compartilha esse otimismo. "Neocons" como Wolfowitz aplaudiram a intervenção da Otan em Kosovo, em 1998, para proteger uma população muçulmana albanesa contra Milosevic; Israel manteve uma linha cautelosamente pró-Sérvia. Além do quê, muitos "neocons" são neoliberais ao extremo, assunto de importância secundária no Oriente Médio. Tendo sofrido na própria carne, israelenses vêem o terrorismo como ameaça principal; Netanyahu não é o único a deplorar a ausência de um esforço concertado internacional para eliminar o terrorismo; e naturalmente os israelenses são sensíveis a qualquer sinal de apaziguamento. Mas poucos acharam que Saddam Hussein estivesse por trás do 11 de setembro.
Já em 1998, um grupo de americanos incluindo Elliott Abrams, Francis Fukuyama, Robert Kagan, William Kristol e Paul Wolfowitz solicitaram que Clinton depusesse Saddam Hussein.43 Mas a pressão neoconservadora não foi suficiente para provocar a desejada invasão. Em 2001, o novo governo Bush não era intervencionista: tentava diferenciar-se do que via como o idealismo nation-building criticável dos democratas, e desengajou-se visivelmente do processo de paz árabe-israelense. Também não havia, ao tempo dos ataques de Bin Laden, muitos soldados americanos na Arábia Saudita. Como Mearsheimer e Walt confirmam, somente após o 11 de setembro Bush tornou-se favorável à guerra. Não é segredo que sua família mantinha estreitas relações com membros da elite saudita, que depois de 1990 tem muito mais contas a acertar com os iraquianos do que Israel. Observar que Bush, Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Colin Powell e Condoleezza Rice mudaram de opinião depois do 11 de setembro não significa que fossem vítimas indefesas de algum incansável lobby israelense. Os EUA tinham muitas razões para invadir o Iraque, e a preocupação com a segurança de Israel pode ter sido um motivo secundário. Mearsheimer e Walt não conseguem demonstrar que foi o principal. Mas "a derrota é órfã": culpar um fator externo pela atual crise dos EUA no Oriente Médio é conveniente...44
Mearsheimer e Walt repetem uma linha bastante atual, que responsabiliza a política americana no Oriente Médio, com suas invasões do Afeganistão, Iraque e a "exportação da democracia", pelo terror islamista. "A tentativa do governo Bush de transformar a região numa comunidade de democracias ajudou a produzir uma insurgência resistente no Iraque, uma violenta elevação nos preços mundiais do petróleo e ataques terroristas em Madri, Londres e Amã."45 Isso vira as coisas de ponta-cabeça. Até 2001, os EUA estavam basicamente fazendo o prescrito por neo-realistas como Mearsheimer e Walt. Foi o terrorismo islamista que os fez mudar a estratégia. Até os anos 1990, a política americana no Oriente Médio era amplamente baseada no equilíbrio de poder. Após o fim da Guerra Fria, a prioridade da estabilidade sobre a justiça fica clara no modo como os EUA encerraram a guerra do Golfo, em 1991: George H. Bush chamou os curdos e xiitas para protestar contra Saddam Hussein e depois permitiu a este massacrar as revoltas: ante o perigo de desestabilização e uma possível fragmentação do Iraque, era preferível a continuação da ditadura enfraquecida de Saddam.46 Clinton acrescentou uma dose de idealismo a seus esforços pela paz entre Israel e Palestina, mas no geral os EUA mantiveram o apoio a aliados repugnantes, como os monarcas absolutistas sauditas, Hosni Mubarak, do Egito, e os emires kuwaitiano e do Golfo; somente contra o Irã e o Iraque foi conduzida a malsucedida política de "contenção dupla". Nem Clinton nem Bush II prestaram muita atenção ao terrorismo islamista, até que os EUA foram atacados de maneira traumática e sem precedentes. Realistas com foco no Estado não tinham explicações nem recomendações políticas a oferecer em face da virulência e efetividade do súbito terror empreendido por um ator não-estado e movido por ideologia. Já os neoconservadores tinham diagnóstico e terapia: era a vez deles. É possível que as intervenções americanas tenham criado um mecanismo de feedback negativo, no qual a reação ao terror cria e legitima mais terror islamista antiocidental (a Al-Qaeda parece dar boas vindas ao potencial radicalizante da "agressão dos cruzados e judeus"). Mas isso é diferente de identificar a reação como causa básica. É bem possível que a causa da atual bagunça não tenha sido o fato em si de eliminar tiranos odiosos, mas a maneira como a operação foi executada.
Mearsheimer e Walt também foram atacados de uma direção inesperada, a extrema esquerda, ao subestimar o fator petróleo como gerador da guerra do Iraque. Noam Chomsky e Stephen Zunes, por exemplo, os acusaram de subestimar o impacto militarista dos interesses petrolíferos.47 Permitir acesso e fornecer petróleo a preços acessíveis é sem dúvida um interesse chave do ocidente (até mais europeu e japonês do que norte-americano). Contudo, não havia risco de falta de petróleo antes da invasão, e o Iraque teve papel secundário no que foi uma guerra movida por geopolítica e ideologia. A acusação a grupos de interesse econômico reforça a fantasia conspiratória de Chomsky sobre a ação dos EUA no mundo e não deve ser levada ao pé da letra. Mas seria loucura negar que a política norte-americana para o Oriente Médio seja produto de fatores diversos: Mearsheimer e Walt focalizam um único — o Lobby de Israel, negligenciando todos os outros.
Os autores estão mais bem fundamentados quando acusam vozes a favor de Israel de pressionar o governo Bush para uma postura mais ativa contra a Síria e o Irã. Eles também acreditam que um Irã com bomba nuclear não é uma ameaça para os EUA ou Israel. Ocorre que o Lobby de Israel não é o único ou mais forte elemento a se preocupar com o Irã: a IAEA, França e Alemanha não estão menos alarmados, pois um Irã nuclear dedicado à hegemonia regional, controle de petróleo e choque de civilizações não vai ameaçar apenas Israel. Se Israel tentou forçar uma guerra, seus esforços não geraram frutos e parecem ilustrar antes os limites do Lobby do que sua onipotência. Mearsheimer e Walt declaram que "Irã e EUA dificilmente seriam aliados se o Lobby de Israel não existisse, mas a política americana seria mais moderada e a guerra preventiva não seria uma opção séria".48 Mas quando foi uma opção séria?
Não é correto definir as relações entre Israel e EUA como se um fosse uma marionete nas mãos do outro. A maioria dos norte-americanos apóia Israel. E a grande maioria em Israel apóia a aliança com os EUA, pois em vista do que é percebido como ameaça, contar com um amigo forte não é exatamente uma escolha. Israel é o cliente, e muitas vezes mais dependente da superpotência do que o oposto, pois simplesmente não tem alternativa para suas necessidades militares e apoio político. Os EUA, por outro lado, poderiam se desvincular do inconveniente protegido sem colocar em risco os interesses nacionais. O fato de ser possível discutir, como Mearsheimer e Walt fazem, se o apoio incondicional a Israel é desfavorável aos EUA, já define a relação como oposta à doutrina realista.
O apoio americano convém aos interesses de Israel no longo prazo? Mearsheimer e Walt negam. O apoio cego a políticas direitistas como a colonização da Cisjordânia também é ruim para Israel, pois não fosse o suporte americano, Israel teria aceitado mais oportunidades para fazer a paz. É razoável supor que, ao negar direitos políticos aos palestinos, Israel não se tornou mais seguro e contribuiu para tornar os inimigos mais extremistas. Israel precisa mais da paz e do reconhecimento que o lado árabe. Mas sua disposição para assumir riscos pela paz é condicionada à existência de uma crença recíproca de que a paz é desejável e alcançável se forem dados os passos corretos. Pode Israel ser acusado unilateralmente pelo desaparecimento dessa esperança? Mearsheimer e Walt também acreditam que a paz com a Síria e a implementação total dos acordos de Oslo teriam sido possíveis não fosse a amizade entre EUA e Israel. Isso parece exagerar as possibilidades da política externa americana. A oposição dos EUA aos assentamentos foi declarada freqüente e enfaticamente, sem resultado. Mearsheimer e Walt acreditam que uma política americana mais assertiva poderia ter impedido Israel de continuar construindo. Meus estudos da política de assentamentos de Israel apontam na direção contrária: essa colonização é um processo interno e só marginalmente influenciado por fatores internacionais.49 De qualquer forma, mesmo uma potência amiga dificilmente convenceria o governo e o eleitorado israelenses se não houver certeza quanto às intenções árabes. O governo do Likud (1996-1999) tem uma parcela de responsabilidade pelo fracasso do processo de Oslo. Contudo, a evaporação da confiança, ainda que limitada, após 1999 parece-me ser mais responsabilidade do Hamas, Hizbollah e seus aliados árabes do que de Israel. Ainda que uma consistente maioria israelense apóie a idéia da partilha e de um Estado palestino, um profundo pessimismo quanto à paz negociada está agora enraizado. Israel não cederá a pressões estrangeiras mais do que o lado árabe. Afinal, a não ser que haja uma guerra catastrófica, transformações em conflitos étnico-religiosos prolongados somente podem vir de dentro para fora. A mediação externa pode ser indispensável para que ambos os lados superem suas reticências; por outro lado, as condenações e sanções que expressariam uma política para o Oriente Médio mais "equilibrada", tal como esperam Mearsheimer e Walt, apenas causarão — pode-se prever com confiança — a reação oposta. Será que uma política americana mais punitiva vis-à-vis Israel conseguiria estimular fatores árabes e muçulmanos que querem destruir e tornar Israel mais desmoralizado, medroso, agressivo e pronto a lançar uma guerra regional preventiva? Extremistas de ambos os lados esperam por isso.
É plausível argumentar que o terrorismo islamista foi desenhado e cronometrado para prejudicar os passos em direção à paz árabe-israelense, mais do que para protestar pela demora. Nem Hamas, Al-Qaeda, Hizbollah ou Irã consideram desejável a paz com Israel: todos dizem abertamente que querem sua destruição e aceitam a violência maciça, inclusive massas de vítimas árabes e muçulmanas, como um preço aceitável. Esse programa seria obviamente uma calamidade para toda a região. Não fica claro como tal cenário poderia servir aos interesses americanos.

CONCLUSÃO
O apoio americano a Israel não ficará necessariamente em seu nível atual. A rejeição popular contra a guerra do Iraque poderia gerar uma reação adversa, assim como a eleição de um presidente mais crítico a Israel. Não quero afirmar que a relação especial seja inatacável, mas ela é no máximo cultivada pelo Lobby de Israel e não por ele criada. A relação está fundamentada em valores compartilhados pela maioria dos cidadãos norte-americanos. Se uma profunda mudança ocorresse nas atitudes americanas em relação ao Oriente Médio, nenhum lobby pró-Israel o salvaria.50
O artigo de Mearsheimer e Walt é anti-semita como alguns proclamam? Eu não acho. Não há necessidade de impugnar a integridade de autores que não têm precedentes anti-semitas. Eles repetidamente enfatizam o direito à existência de Israel e a legitimidade do Lobby. Também não dizem que o Lobby é idêntico à comunidade judaica, todo-poderoso ou monolítico. Contudo, para além dos numerosos erros factuais e raciocínio tendencioso, sua formulação nesse terreno supersensível é pouco cuidadosa. A sugestão de uma conspiração judaica, a não dita, porém inquestionável acusação de dupla lealdade judaica, o uso de Israel e do Lobby de Israel como bode expiatório para as falhas americanas no Oriente Médio — todos estão ali e servem ao clássico repertório racista. O líder da Ku Klux Klan e ex-congressista David Duke valeu-se do artigo em apoio a suas idéias anti-semitas; Mearsheimer e Walt parecem sinceramente horrorizados por esse mau uso. Contudo, se eles se sentem mal compreendidos, é porque deram muita abertura para isso. Mearsheimer apoiou Israel antes de "converter-se" à postura anti-israelense por meio das leituras dos "novos historiadores", como Morris, Avi Shlaim e Ilan Pappe. Trata-se de um viés de leitura bastante seletivo. A despeito do realismo frio e da rejeição à moralidade nas relações internacionais, os autores não parecem imunes à necessidade psicológica de identificação com o lado bom, rejeitando o lado mau em conflitos complexos que não permitem moralização fácil e onde ambos os lados têm fortes argumentos morais. Precisamos de compaixão e de uma mão amiga mais do que de falsos moralismos unilaterais. Mearsheimer e Walt justificam a publicação do artigo pelo desejo de livrar os EUA de um abominável tabu público. Desconfio que haja outro: irritação com a ineficácia da capacidade explicativa e preditiva de sua ferramenta teórica, o neo-realismo, e a crença de que mesmo valores profundamente arraigados são em última instância gerados ou mantidos externamente. Em outras palavras: eles precisam se agarrar à supremacia de fatores externos na formação da política internacional. Por ora, essa relação especial turbinada por valores éticos e culturais parece mais forte do que qualquer cálculo estratégico frio. É uma pena que a análise de Mearsheimer e Walt seja prejudicada por tantas falhas, pois a essência da tese suscita questões dignas de discussão. Assumir que a excessiva proximidade no alinhamento da política externa americana com Israel é prejudicial a ambos é uma posição defensável (mas na minha opinião errônea). Afirmar que esse alinhamento resulta das maquinações do Lobby de Israel é amplamente exagerado.


Recebido para publicação em 30 de outubro de 2006.


[1] Este artigo foi escritos por encomenda de Novos Estudos. Tradução do inglês de Eliane M. Rosenberg Colorni.
[2] "O interesse nacional americano deveria ser o primeiro objetivo da política externa norte-americana. Nas últimas décadas, porém, e em particular desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, a peça central da política americana para o Oriente Médio tem sido a sua relação com Israel. A combinação do constante apoio a Israel e o esforço associado para difundir na região a democracia tem inflamado a opinião árabe e muçulmana e posto em perigo a segurança dos EUA." Mearsheimer e Walt, p. 1. (As indicações de página em nota de rodapé referem-se à versão extensa do artigo, disponível em http://ksgnotes1.harvard.edu/Research/wpaper.nsf/ rwp/RWP06-011/$File/rwp_06_011_walt.pdf. Já as citações acompanhadas de indicação de página no corpo do texto remetem à versão publicada nesta edição de Novos Estudos).
[3] Op. cit, p. 14.
[4] US$ 2.3 bilhões dos menos de US$ 2.6 bilhões que Israel recebeu em 2005; a parcela não-militar está sendo reduzida desde 1998 e em dois anos deve zerar. Dennis Ross, in: "The Israel Lobby: Does it Have Too Much Influence on US Foreign Policy?", [ Links ] debate promovido pela London Review of Books, 10 de outubro de 2006. Ver http://www.scribemedia.org/2006/ 10/10/transcript-israel-lobby/. [ Links ]
[5] Peter Demant, O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2005. [ Links ] Versão atualizada: Islam vs. Islamis: The dilemma of the Muslim world. Westport, CT and London: Praeger, 2006. [ Links ]
[6] cf. "World Islamic Front for Jihad Against Jews and Crusaders: Initial 'Fatwa' Statement," assinado por Osama bin Laden e publicado no jornal árabe al-Quds al-'Arabi (Londres), 23 de fevereiro de 1998, p. 3. Tradução em http://www.ict.org.il/articles/fatwah.htm. [ Links ] Cf. Peter Bergen, "What were the causes of 9/11". In: Prospect Magazine 126, September 2006 http: //www.prospect-magazine.co. uk/article_details.php?id=7717 [ Links ]
[7] Martin Kramer, "Stephen Walt's World". Sandstorm. 17 de março de 2006. http://www.martinkramer.org /index. html. [ Links ]
[8] Como observou sarcasticamente o ex-Ministro do Exterior israelense Shlomo Ben-Ami, os palestinos não esperam que os EUA façam a mediação, mas que entreguem Israel: "The complex truth". In: Foreign Policy, julho-agosto de 2006, pp. 62-63. [ Links ]
[9] Tony Judt, "A lobby, not a conspiracy". New York Times, 19 de abril de 2006. http://travel2.nytimes.com/ 2006/04/19/opinion/19judt.html. [ Links ]
[10] p. 14.
[11] Op. cit., p. 9.
[12] p. 10
[13] Aharon Cohen, Israel and the Arab world. Boston: Beacon, 1976. [ Links ] Walter Laqueur, A history of Zionism. New York: Schocken, 1976, pp. 266-267. [ Links ]
[14] Benny Morris, The birth of the Palestinian refugee problem, 1947-1949. Cambridge: Cambridge University Press, 1988. [ Links ] Morris,"And Now For Some Facts". The New Republic, 8 de maio de 2006. [ Links ]
[15] p. 10.
[16] Morris, Righteous victims, pp. 168-169, 139. [ Links ] Cf. Dershowitz, Debunking the Newest — and Oldest — Jewish Conspiracy: a Reply to the Mearsheimer-Walt "Working Paper" (http:// www.ksg.harvard.edu/research/working_papers/dershowitzreply.pdf). [ Links ] O texto fornece muitos exemplos de citações errôneas. Não quero exonerar Israel da sua responsabilidade fundamental pelo êxodo palestino de 1948. Mas a preferência sionista era não pela guerra, e sim por uma troca de populações, presumivelmente como o exemplo grego-turco mediado pela Liga das Nações nos anos 1920. A questão é se a separação era ainda evitável, uma vez que o conflito se tonara mais intenso, como nos anos 1930. A sorte dos judeus na Palestina teria sido pior se os árabes tivessem vencido a guerra: Azzam Pasha, o secretário-geral da Liga Árabe previa: "Isso será uma guerra de extermínio, um massacre que será lembrado como os massacres mongóis e as cruzadas." (citado em Larry Collins e Dominique Lapierre, O Jerusalem! New York: Pocket Book, 1973. p. 457). [ Links ]
[17] p. 11.
[18] Ibid.
[19] A idéia dos Bantustões pode ter tido sua origem numa proposta israelense precoce, pré-Camp David, e posteriormente substituída por outras, mais generosas: Mideastweb http:// www.mideastweb.org/lastmaps.htm. Certos autores desacreditam a noção de que os palestinos nunca fizeram contrapropostas. A impressão geral é de que a paz esteve ao alcance. Documentos relevantes incluem: Hussein Agha, Robert Malley, "Camp David: The Tragedy of Errors". The New York Review of Books, 9 de agosto de 2001 (http://www.nybooks.com/articles/14380); [ Links ] Benny Morris, "Camp David and After: An Exchange (1. An Interview with Ehud Barak)". NYR, 13 de junho de 2002 (http://www.nybooks.com/articles/15501); [ Links ] Benny Morris, Ehud Barak, Reply by Hussein Agha, Robert Malley, "Camp David and After—Continued". NYR, 27 de junho de 2002. (http://www.nybooks.com/articles/15540); [ Links ] o debate entre Benny Morris e Avi Shlaim em The Guardian 21/22 de fevereiro de 2002; cf. MEMRI Inquiry 68 "The (Revised) Palestinian Account of Camp David Part I: The Refugee Issue"; the July 2000 Camp David diary of Shlomo Ben-Ami, Maariv, 6 de abril de 2002, traduzido em MEMRI (Special Dispatches 207 e 209, 20 de abril de 2001). Aparentemente, Memri retirou esse documento de seu site, mas partes continuam sendo acessíveis em: http://www. jewishvirtuallibrary.org/jsource/Peace /benamidiary.html; Dennis Ross, The missing peace. New York: Farrar, Strauss and Giroux, 2004. [ Links ] Shlomo Ben Ami, Scars of war, wounds of peace. Oxford UP, 2006; [ Links ] Charles Enderlin, Shattered dreams. New York: Other Press, 2003; [ Links ] Menachem Klein, The Jerusalem Problem. University of Florida Press, 2003. [ Links ]
[20] p.11.
[21] Khalil Shikaki, "Willing to Compromise: Palestinian Public opinion and the Peace Process". United States Institute of Peace, Special Report 158 (Janeiro 2006). http://www.usip.org/ pubs/specialreports/sr158.html. [ Links ]
[22] Jerusalem Post, 8 de março de 1998.
[23] p. 11.
[24] O apoio a Israel é mais forte nos EUA do que em qualquer país do mundo. Pew Research Center, 19 de julho de 2006, "The U.S. Public's Pro-Israel History: In Mid-East Conflicts, Americans Consistently Side with Israel" (http://pewresearch.org/obdeck /?ObDeckID=39). [ Links ] A pesquisa demonstra que entre 1993 e 2006 o apoio a Israel entre os norte-americanos era mais ou menos estável entre 41 e 48 % (com tendência para crescer), enquanto o apoio para os palestinos flutuava entre 21 e 13 % (com tendência decrescente).
[25] Avi Shlaim, "The lost steps". The Nation, 12 de agosto de 2004. [ Links ] Obviamente, Ross e outros funcionários americanos identificados como judeus são vistos, pelos negociadores e mídia árabes, como pró-israelenses em excesso. Contudo, tais suspeitas não provam a "onipresença" de qualquer lobby pró-Israel ou judeu.
[26] Michael Massing, "The storm over the Israel Lobby". New York Review of Books, 8 de julho de 2006. [ Links ]
[27] As posições americana e israelense nem sempre coincidiram. Na fracassada cúpula de Camp David de julho de 2000, Clinton quis oferecer aos palestinos a soberania sobre o Haram al-Sharif/Monte do Templo, ao que Barak se opôs. Finalmente, Israel cedeu, mas Arafat recusou mesmo assim.
[28] Mitchell Bard, “The Israeli and Arab lobbies”: http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/US-Israel/lobby.html; [ Links ] Michael Massing, “Deal breakers”. The American Prospect, 3 de novembro de 2002: http://www.prospect.org/web/page.ww?section= root-&name=ViewPrint&articleId=6166. [ Links ]
[29] Numa resenha importante em Salon, Michelle Goldberg observa que Mearsheimer e Walt ... "juntam grupos meramente simpáticos a Israel com outros que ativamente apóiam as políticas de linha dura do Likud.... a discussão sobre o dinheiro judeu como uma força monolítica é tão feia quanto enganadora." Ver http://www. salon.com /news/feature/2006/04/ 18/lobby/ index_np.html
[30] Asad AbuKhalil, http://angryarab.blogspot.com/2006/03/note-of-dissent-on-israel-lobby-piece.html; cf. Michael Kinsley, "You never know where you're going to find anti-Semitic propaganda". Slate, 12 de março de 2003. [ Links ]
[31] Christopher Hitchens, "Overstating Jewish Power: Mearsheimer and Walt give too much credit to the Israeli lobby". Slate, 27 de março de 2006. [ Links ]
[32] p. 24.
[33] Ver "US State Department Report on Anti-Semitism: Europe and Eurasia", 5 de janeiro de 2005. http:// usinfo.state.gov/eur/Archive/2005/ Jan/ 05-93928.html [ Links ]
[34] Rashid Khalidi e Tony Judt, "The Israel Lobby: Does it Have Too Much Influence on US Foreign Policy?". Debate promovido pela London Review of Books, 10 de outubro de 2006. [ Links ]
[35] Avi Shlaim, "The lost steps". The Nation, 12 de agosto de 2004. [ Links ]
[36] Ver entrevista com Abraham Ben-Tsvi em Haaretz, 19 de outubro de 2006: http://www.haaretz.com/ hasen/pages/rosnerGuest.jhtml?itemNo =775072. [ Links ]
[37] Samuel Huntington, The clash of civilizations and the remaking of world order. New York: Touchstone, 1996, pp. 272-290. [ Links ]
[38] The PIPA/Knowledge Networks Poll, "What Kind of Foreign Policy Does the American Public Want?", p. 9. http://www.worldpublicopinion. org/pipa/pdf/oct06/SecurityFP_ Oct06_rpt.pdf [ Links ]
[39] O Egito e a Jordânia assinaram acordo de paz com Israel; a OLP reconheceu sua existência como Estado e fez diversos acordos; a Liga Árabe propôs reconhecimento e paz em troca da retirada completa. Mas são atos políticos das elites árabes; com o passar do tempo, esmaecem. O recente terrorismo antiisraelense por islamistas e nacionalistas árabes extremos, reforçado pelas demonstrações beligerantes e conclamações à destruição de Israel, se fixa de forma mais duradoura nas percepções americanas. Correta ou incorretamente, a crescente intolerância a Israel no mundo muçulmano se associa facilmente, no entendimento de milhões de norte-americanos, ao terror antiocidental que ameaça a própria segurança dos EUA; pode também se misturar a preconceitos islamófobos.
[40] p. 18.
[41] Martin Kramer, "Sandstorm: Israel and the Iraq War", 12 de abril de 2006. http://www.geocities.com/ martinkramerorg/2006_04 _12.htm. [ Links ]
[42] "(...) desde que os líderes de Israel perceberam que o governo Bush falava absolutamente a sério sobre o afastamento de Saddam, eles entraram no trem. Os políticos israelenses integraram o coro e a elite de segurança israelense entrou na fila." Kramer, op. cit.
[43] http://www.newamericancentury.org/iraqclintonletter.htm.
[44] Norman Finkelstein, "It's not either/or". Counterpunch, 1 de maio de 2006. http://www.counterpunch. org/ finkelstein05012006.html. [ Links ]
[45] p. 1.
[46] Foram necessários a fuga maciça dos curdos para a Turquia e o risco concomitante de desestabilização regional para que a ONU chegasse a proteger os "safe havens" em 1991.
[47] Noam Chomsky, "The Israel Lobby?". ZNet, 6 de março de 2006 (http: //www.zmag.org/content/showarticle.cfm?ItemID=9999); [ Links ] Stephen Zunes, "The Israel Lobby: How Powerful is it Really?". Foreign Policy in Focus, 16 de maio de 2006 (http://www.fpif. org/fpiftxt/3270). [ Links ]
[48] p. 39.
[49] Peter Demant, "A Colonização Israelense nos Territórios Palestinos Ocupados, 1974-1977". Revista de História Contemporânea 4, novembro de 2003, pp.74-92; [ Links ] Cf. Gershom Gorenberg, The accidental empire. New York: Times Books, 2006. [ Links ] Shlomo Ben-Ami sugere que os EUA hesitaram em aplicar pressão mais forte não por causa de qualquer lobby, mas porque os estadistas americanos supunham que isso poderia gerar uma crise em Israel, afetando sua disposição para fazer concessões mais substanciais nos estágios posteriores e decisivos do processo de paz.
[50] De acordo com uma pesquisa da Zogby International, publicada em 10 de outubro de 2006, quase 40 % dos eleitores norte-americanos acreditam que o Lobby de Israel é pelo menos parcialmente responsável pela invasão dos EUA no Iraque: http://www. cnionline.org/learn/polls/czandlobby/X-CNI.pdf.

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