quinta-feira, 3 de julho de 2008

EUA e Israel ajudaram no resgate de Ingrid Betancourt e mais 14 reféns das Farc

03/07/2008

RIO - O resgate cinematográfico de Ingrid Betancourt e outros 14 reféns contou com a ajuda de equipes de Israel e dos Estados Unidos. Um grupo de quatro oficiais de alto escalão da reserva israelense treinou durante um ano e meio unidades de elite do Exército colombiano, implantando novas técnicas de combate, coleta de informações e inteligência em campo. Outro grupo de especialistas americanos ajudou o Exército colombiano, mais recentemente, com táticas de inteligência e planejamento, além de fornecer imagens via satélite e ajudar a interceptar o celular da liderança das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A Casa Branca admitiu que participou do plano de resgate dos 15 ex-reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. De acordo com a porta-voz Dana Prino, os Estados Unidos forneceram "algum apoio" na operação na Colômbia, país com o qual mantêm uma cooperação militar.

- Estávamos a par desta fase preparatória, mas esta operação foi idealizada e conduzida pelos colombianos, com nosso total apoio. Eles não precisaram, porém, de nossa autorização - afirmou a porta-voz da Casa Branca.

Entre as 16h e 16h30 (em Brasília) de quarta-feira, Bush foi informado por assessores de que "a operação tinha sido executada e concluída com sucesso", ressaltou. Perino atribuiu ao Governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe, e ao Exército do país o sucesso da missão, "com algum apoio nosso, mas foi uma operação fundamentalmente da Colômbia", afirmou.

- Fazia tempo que a operação de resgate estava sendo preparada. Faz tempo que trabalhamos com os colombianos - disse Perino.

Na quinta-feira, funcionários do governo americano confirmaram que o país providenciou suporte de inteligência para a operação. Eles deram alguns detalhes, segundo o jornal "New York Times", mas um dos oficiais disse que os Estados Unidos forneceram imagens de satélite ao governo colombiano, quando a operação era planejada.

Além disso, segundo ele, o Exército colombiano vem monitorando - através de escutas - as conversas de um dos líderes da guerrilha.

De acordo com a denúncia americana, Gerardo Antonio Aguilar Ramirez, guerrilheiro conhecido como "Cesar" que foi capturado na operação de quarta-feira, se comunicou através de rádio de um centro na localidade de Villavicencio.

Esses centros têm a capacidade de receber ligações de membros das Farc que utilizam rádios de curta distância - disse um deles.

A parceria entre Colômbia e Israel foi selada no início de 2007, após a determinação do ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, de buscar novas tecnologias militares com empresas privadas israelenses. O contrato para o treinamento teria custado US$ 10 milhões ao governo de Bogotá, numa negociação intermediada pelo ex-chanceler israelense Shlomo Ben Ami. O general de reserva Israel Ziv foi o responsável por ajudar o Exército da Colômbia a reformar sua unidade de inteligência. Ziz, ex-diretor de Operações do Exército israelense, deixou o uniforme em 2005 para se dedicar à consultoria militar. Ele passou a maior parte do último ano na Colômbia.

- Foi preciso disciplina para superar as diferenças culturais entre israelenses e colombianos, mas eles se esforçaram e entraram no ritmo. Fomos contactados para ajudar a reformar a inteligência, ensinar novas técnicas de combate ao terror e elaborar estratégias. A guerrilha é dinâmica e obriga seus adversários a tomar decisões rápidas, conforme mudanças táticas no campo de batalha - contou.

Segundo Ziv, ainda há agentes israelenses operando em território colombiano. Ele não revela o número exato, mas entre eles haveria ex-oficiais do Exército, Shin Bet, e até mesmo do lendário Mossad, o serviço secreto de Israel. O pesquisador Eli Carmon, do Centro Interdisciplinar de Hertzelia, afirmou que a tática de infiltrar-se entre o inimigo e ludibriá-lo é uma marca israelense que ficará na história da Colômbia.

De fato, além das informações sobre a localização e a rotina dos seqüestrados fornecidas por reféns libertados e por um policial que conseguiu fugir do cativeiro, a operação Xeque contou com um ex-guerrilheiro das Farc, que desertou da guerrilha, se entregou ao Exército e voltou infiltrado como espião.

Os números das exportações israelenses para a América do Sul são mantidos em sigilo, mas especula-se que pelo menos 70% dos equipamentos desenvolvidos no país - entre tanques, munições, sistemas eletrônicos, armas e bombas - sejam destinados ao comércio exterior. Israel é o quarto maior exportador de armamentos do mundo. Para não cair em mãos erradas, o porta-voz do ministério da Defesa de Israel, Shlomo Dror, afirmou que todas as transações têm de passar pelo crivo do ministério e receber aprovação do governo.

- A Colômbia é um país amigo e não temos problema em permitir negócios como esse. No caso da libertação de Betancourt, é importante ressaltar que houve apoio israelense, mas privado. Não foi um apoio do governo de Israel - disse.

http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/07/03/eua_israel_ajudaram_no_resgate_de_ingrid_betancourt_mais_14_refens_das_farc-547086579.asp

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