No final de 1858 o governo russo autorizou a formação do grupo de Cossacos Amur para proteger as fronteiras do sudoeste da Sibéria e para comunicação entre os rios Amur e Assuri, uma colonização militar que incluía assentados vindos da "Transbaikalia". Entre 1858 e 1882 foram fundados 63 assentamentos: Radde, Pashkovo, Pompeyevka, Puzino, Yekaterino-Nikolskoye, Mikhailo-Semyonovskoye, Voskresenovka, Petrovskoye, and Ventzelevo; Storozhevoye, Soyuznoye, Golovino, Babstovo, Bidzhan, Bashurovo. Também expedições científicas promoveram o desenvolvimento da região com geógrafos, etnógrafos, naturalistas, botânicos (Venyukov, Leopold von Schrenck, Maksimovich, Gustav Radde, Komarov). Os trabalhos destes homens de ciência resultaram no “Mapa das terras Amur”.
Em 1898 se iniciou a construção da Ferrovia Trans-Siberiana que ligaria Chita, no ocidente, a and Vladivostok, no oriente. A construção dessa ferrovia de bitola 2 metros partiu dos extremos para se encontraram ambas obras no meio do caminho. Esse projeto criou um fluxo de novos assentamentos. Surgiram entre 1908 e 1916 diversas estações na seqüência: Volochayevka, Obluchye, Bira Birakan, Londoko, In, Tikhonkaya. Com a implementação em outubro de 1916 da Ponte Khabarovsk de comprimento 2589 metros, sobre o rio Amur em Khabarovsk. Antes da revolução esse local era habitado por fazendeiros, havendo uma única empresa industrial, a fábrica Tungusskiy de madeiras. Havia mineração de ouro no rio Sutara e pequenos negócios e lojas ligados à ferrovias. Com a guerra civil Russa, esse futuro território (Oblast autônomo) Judeu foi palco de terríveis batalhas, que levaram ao declínio da economia que somente se recuperou ao final dos anos 20.
Em 28 de Março de 1928, o “Presidium” do Comitê Executivo Geral da URSS baixou um decreto definindo como “Komzet” um território livre próximo ao rio Amur no extremo leste para assentamento de trabalhadores judeus. O decreto em verdade dava a entender "a possibilidade de estabelecimento de um território administrativo para os judeus nessa região”.
Em 20 de Agosto de 1930 o Comitê Executivo Geral da então RSFSR aceitou o decreto para “Formação da região nacional de Birobidzhan numa estrutrura de Território do Extremo Oriente”, considerado pelo Comitê de Planejamento do Estado como uma unidade economicamente separada.. Em 1932 os primeiros números (orçamentos) para desenvolvimento de Birobidzhan foram considerados e autorizados.
Em 7 de Maio de 1934 o “Presidium’ do Comitê Executivo Geral aceitou o decreto para transformação na Região Autônoma dos Judeus dentro da Federação Russa e em 1938 o território de Khabarovsk Territory, como Região Autônoma Judaica foi incluída na estrutura da URSS.
Joseph Stalin em sua política de prover aos diversos grupos nacionais da União Soviética territórios separados para desenvolver suas Autonomias Culturais, porém dentro da ideologia Socialista. Isso respondia a dois problemas enfrentados pela União Soviética na sua busca de unificação nacionalista:
- O Judaísmo, com sua oposição a política estatal de Ateísmo.
- O Sionismo, com a criação em 1948 do moderno Estado de Israel.
A idéia era criar um “Sion Soviético”, onde uma cultura proletária Judaica se desenvolveria, com a Língua Iídiche em lugar da Língua hebraica sendo a língua nacional da região. A literatura e as artes socialistas substituiriam a religião como expressões básicas de cultura.
A teoria Stalinista da “Questão Nacional” declarava que um grupo somente pode ser uma nação se tiver um território próprio. Assim, em não havendo um território dos judeus, esses não formavam uma nação e não tinham direitos nacionais. Para resolver esse dilema ideológico, os comunistas judeus sugeriram a criação, a demarcação, de uma área dentro da USSR para esse povo. Essa foi a motivação ideológica para a criação do Oblast judeu.
Também foi considerado politicamente vantajoso criar uma ”Pátria” Soviética para os Judeus como alternativa ao Sionismo e a teoria dos Sionistas Socialistas como “Ber Borochov” de que a questão judaica deveria ser resolvida pela criação de um Estado Judeu na Palestina. Assim, a criação dum território judeu em Birobidzhan era importante para a propaganda contra argumentos de muitos judeus de esquerda de que o Sionismo e o Marxismo fossem rivais e incompatíveis.
Outro objetivo importante do projeto Birobidzhan foi aumentar a ocupação do extremo oriente da União Soviética, em especial ao longo da vulnerável fronteira com a China. Até 1928 não havia assentados na area e os judeus tinham firmes raízes no oeste da União Soviética, na Ucrânia, em Belarus e na própria Rússia. Assim, chegara a haver propostas de assentar os judeus soviéticos na Criméia ou em áreas da Ucrânia, mas essas idéias foram postas de lado em função de rejeição pelos não-judeus nessas regiões.
A geografia e o clima em Birobidzhan eram inóspitos, com muitos pântanos, os novos assentados teriam que construir tudo a partir de quase nada. Alguns diziam que Stalin escolhera tal local por anti-semitismo, querendo mantê-los bem longe dos centros de poder soviéticos. Assim como os Ucranianos e os habitantes da Crimeia haviam manifestado contrariedade à presença dos judeus, povos de outras partes da Rússia também os rejeitavam.
Durante os anos 30 foi feita massiva propaganda para que os judeus aceitassem se assentar na região. Eram usados os meios padronizados de propaganda soviética, os posters de conclamação, filmes e representações em língua acerca das maravilhas dessa utopia judia no extremo leste. Isso beirava o bizarro, panfletos eram lançados por aviões sobre povoações judaicas em Belarus, foi produzido um filme em Iídiche “à procura da felicidade”. Esse filme contava a estória de uma família judia que fugia da Grande depressão dos Estados Unidos da América e ia para uma nova e bela vida em Birobidzhan.
A medida em que crescia a população judia, também aumentavam as influências da língua Iídiche na região. Alguns dados sobre essa influência:
Um jornal em Iídiche: Birobidzhaner Shtern (Биробиджанер Штерн, ביראָבידזשאַנער שטערן), "Estrela de Birobidzhan" foi fundado.
Uma Trupe teatral foi criada.
As novas ruas das cidades passaram a ter nomes de autores Iídiche como “Sholom Aleichem” e “Y. L. Peretz”.
Visando secularizar a população judaica, afastando a mesma do Hebraico, o uso do Iídiche foi incetivado e difundido e, apesar de reações a essa tendência forçada, o jornal Birobidzhaner Shtern ainda apresenta algumas seções em Iídiche.
Assentamentos atuais
Valdgeym é um assentamento judeu dento do Oblast Autônomo Judaico. Foi fundado em 1928 e foi a primeira fazenda coletiva estabelecida no Oblast. Em 1980 foi aberta uma escola de Iídiche no assentamento.
Há assentamentos também em “Amurzet”. Entre 1929 e 1939 essa cidade foi o centro dos assentamentos judaicos ao sul de Birobidzhan. A população de Amurzet ao final de 2006 era de 5.213 pessoas. Outro assentamento antigo é o de Smidovich.
Hoje os membros da comunidade judaica mantém as cerimônias Kabalat “Shabbat”, canta canções Iídiche, apresenta programação de rádio sobre fatos históricos do povo e cultura judaicos. Porém, muitos descendentes dos fundadores dos assentamentos que para ali vieram no início do século XX já deixaram a cidade natal. Os que ficaram em Amurzet, em especial os que têm parentes em Israel continuam a aprender sobre as raízes a as tradições do povo judeu.
A experiência de Birobidzhan foi interrompida nos meados dos anos 30 com a primeira campanha de expurgos por Stalin. Líderes judeus foram presos e executados, as escolas de Iídiche foram fechadas e a seguir, com o inicio da Segunda grande guerra cessaram todos os esforços de levar judeus para o leste da URSS. Nessa mesma época, curiosamente, alguns oficiais japoneses do estado chinês vassalo de Manchukuo na Manchúria pretendiam atrair os judeus de Birobidzhan para seus domínios chineses, conforme o plano chamado “Fugu”.
Depois da Guerra houve algum renascimento nas idéias de levar judeus refugiados para Birobidzhan. Com isso, a população de judeus na região chegou a atingir a um terço do total. Com o chamado “complô dos doutores”, motivado pela criação de um Estado de Israel, Stalin pouco antes de sua morte deu início a novos expurgos de judeus da região e em toda URSS. Lideranças foram presas, tratou-se de apagar traços da cultura Iídiche e judaica na região, a coleção Judaica da biblioteca local foi queimada. Nos anos seguintes não mais se falou nem se pensou numa região autônoma para judeus na União Soviética.
Estudiosos como Louis Rapoport, Jonathan Brent, Vladimir Naumov afirmam que o plano de Stalin era deportar todos os judeus da União Soviética para Birobidzhan como fá fizera com outras nacionalidades minoritárias como os Alemães do Volga e os Tártaros da Criméia. O ‘complô dos doutores” teria sido o primeiro elemento para esses plano, mas isso foi esquecido com sua morte em 5 de março de 1953.
Com o fim da União Soviética vieram novas políticas liberais de imigração e a maioris dos judeus da país foram para Alemanha e para Israel. Em 1991 o “Oblast Autônomo Judaico” foi transferido da jurisdição do “Krai” de “Khabarovsk Krai” para commando da Federação Russa, porém, agora quase todos judeus haviam partido e os que ficaram eram menos que 2% da população. Mesmo assim, voltou a ser ensinado o Iídiche”, foi revivida a radio nessa língua e também as seções em Iídiche do jornal Birobidzhaner Shtern.
Um documentário filmado sobre a criação do “Oblast” por Stalin, L'Chayim, Camarada Stalin foi feito em 2003, mostrando sua história e também cenas e entrevistas com judeus locais na atualidade de Birobidzhan. .
Em 2004 o governo regional anunciou que “Berel Lazar” o Mestre “Rabi” da Rússia concordara em participar da celebração de 70 anos do “Oblast” Judaico. Rabi Lazar e Avraham Berkowitz, Diretor Executivo da Federação de Comunidades Judaicas (CIS) lideraram uma delegação a Birobidzhan para esse evento. O Rabi Mordechai Scheiner, Rabi chefe de Birobidzhan, Chabad Lubavitch, representante da região e apresentador do programa televisivo “Yiddishkeit” declararam que “naquele dia podiam usufruir os benefícios da Cultura Iídiche, sem ter medo de retornar as tradições judaicas, podiam se sentir seguros sem anti-semitismo e abrir uma primeira escola diária judaica". Estima-se que cerca de 3 mil judeus vivam hoje na cidade. Mordechai Scheiner, um israelense pai de seis filhos tem sido o Rabi de Birobidzhan desde então.
A sinagoga de Birobidzhan foi aberta em 2004. A Federação de comunidades judaicas da Rússia estima em cerca de 0,7% da população total do país, que é de 143 milhões. Em Birobidzhan os judeus são cerca de 5% do total de 75 mil habitantes.O governador “Nikolay Mikhaylovich Volkov” declarou apoio a toda e qualquer iniciativa das comunidades judaicas da região.
Em Dezembro de 2005 a cerimônia das velas da “Hanukkah”, “Menorah” no centro da cidade tiveram a participação de “Alexander Vinnikov” que acendeu a chama da vela “shamash” e a passou ao Rabi Chefe do “Oblast” e representante de Chabad Lubavich, Mordechai Scheiner. Para o “Chanukah” de 2007, os oficiais de Birobidzhan (Oblast Autônomo Judaico) declararam ter feito o maior candelabro “Menorah (Hanukkah)”. Lev Toitaman foi presidente para Birobidzhan da seção (4500 membros) da Federação das Comunidades Judaicas da CIS até sua morte em 11 de setembro de 2007.
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