sábado, 2 de agosto de 2008

Reconhecimento de combate por infiltração

Ação tenaz e persistente de pequenas unidades russas, em plena Barbarossa, para estabelecer contato com guerrilheiros.

Durante os últimos dez dias de agosto de 1941, a ofensiva alemã na frente sul deteve-se após atingir o rio Dnepr. Os russos, em posições na sua margem leste ainda realizavam, na região próxima de Cherkassy, alguns contra-ataques limitados.

Enquanto uma divisão de infantaria alemã se preparava para forçar a travessia do rio em Cherkassy, uma outra era empregada numa larga frente com a missão principal de proteger o flanco norte da divisão encarregada do assalto. Ao norte de Cherkassy, uma parte desta última divisão, o 1º Batalhão (reforçado) do 196º RI, foi empregado numa larga frente e em considerável profundidade, entre Dakhnovka e Svidovok. Sua missão era defender o corte do rio contra as tentativas de transposição dos russos.

Face ao 1º Batalhão achava-se um regimento de infantaria russo, reforçado. Suas defesas estavam fortificadas por entrincheiramentos reforçados com madeira e dotados de posições de metralhadoras e por trincheiras de construção primitiva, sem intercomunicações. As posições estavam fortemente guarnecidas e um batalhão completo era mantido em reserva em uma posição central, atrás da linha. Observadores avançados de artilharia e elementos de segurança haviam se estabelecido nas ilhas fluviais. Os russos tinham uma missão tripla: defender o rio contra as tentativas de travessia dos alemães; observar quaisquer sinais que revelassem as intenções do inimigo; e manter contato com uma brigada de guerrilheiros que operava na floresta atrás das linhas alemãs, a oeste do rio.

O regimento russo era composto de combatentes experimentados. A tropa estava bem descansada e se encontrava naquela área e fora de ação há algum tempo. Os suprimentos de alimentos, armas e munições eram satisfatórios. O moral da unidade era bom, porquanto seus veteranos eram fatalistas e os recompletamentos, cuja maioria pertencia à Organização da Juventude Comunista, eram completamente fanáticos.

O batalhão alemão estava com 80% de seu valor combativo. Essa unidade, superiormente treinada e experimentada em combate, estava bem suprida sob todos os aspectos. Embora um pouco fatigada pela constante vigília que mantinha ao longo da linha de frente, ocupada de forma tão diluída, e na área de retaguarda, o moral de seus homens era elevado.

Durante a noite de 21-22 de agosto, três homens, residentes em Svidovok e Dakhnovka, atravessaram a nado o Dnepr com o auxílio de flutuantes feitos de juncos e ramos e atingiram o PC regimental russo. Traziam informações sobre o dispositivo das tropas alemãs, inclusive a provável localização dos PC e armas automáticas. Ao receber essas informações, o comandante do regimento russo decidiu enviar patrulhas de reconhecimento através do rio numa tentativa de obter maiores detalhes. Como medida inicial as forças de cobertura das três ilhas foram reforçadas. O comandante do regimento escolheu então, de seu batalhão reserva, 40 homens que pareciam estar melhor capacitados para a missão de colher informações atrás das linhas inimigas. Foram organizados dois destacamentos de reconhecimento com a seguinte composição: 1 Oficial, 3 sargentos e 16 homens; cada homem estava armado com uma submetralhadora e três granadas de mão e vestia um uniforme de faxina de tecido leve e sapatos de palha; sua idade variava de 16 a 30 anos e todos eram excelentes nadadores.

Na margem leste do rio, oito botes de fundo chato achavam-se prontos para transportar as patrulhas para o outro lado do rio, passando pelas ilhas. Cada bote estava tripulado por pescadores nativos que, alternadamente, o impulsionavam e dirigiam com um remo pequeno, aproveitando ao máximo a corrente.

A 23 de agosto, as seguintes ordens regimentais foram distribuídas às patrulhas de reconhecimento:

"A margem oeste do rio está fracamente ocupada por forças alemãs. De acordo com os relatórios recebidos de Svidovok e Dakhnovka, os vários postos avançados inimigos estão afastados de uma distância de aproximadamente 300 metros. As reservas locais alemãs parecem ser limitadas. A provável localização das posições, segundo informações de civis, está indicada no mapa anexo.

O regimento necessita de informações exatas sobre a localização das posições e a composição das forças nos setores "a" e "b". É importante que se façam alguns prisioneiros a fim de serem interrogados. A operação será protegida pelas forças de cobertura das ilhas e sob a cuidadosa observação dos observadores avançados. Cumprida a missão, as patrulhas de reconhecimento deverão regressar às ilhas".

Após o recebimento dessas ordens, foi formulado o plano de ação. Às 03.00 horas de 24 de agosto, os destacamentos deslocaram-se para suas posições de partida nas ilhas X e Z e ali ficaram até o anoitecer. A fim de evitar sua descoberta prematura, os homens esconderam-se cuidadosamente, assim como também seu equipamento e muito particularmente os botes. A hora H foi marcada para as 22.00 horas. Toda a operação ficou sob o comando do Capitão Orlov, com os tenentes Novikov e Mirskiy na liderança das patrulhas X e Z, respectivamente.

A ambientação final foi realizada durante o dia. Os informantes civis achavam-se presentes e expressaram completa confiança no sucesso desde que a margem oeste fosse atingida sem despertar suspeitas. Já tarde, na noite de 24 de agosto, o PC avançado do regimento foi deslocado para a margem do rio, imediatamente em frente da ilha Z. Um pelotão de comunicações assegurava contato com as ilhas mediante o emprego de sinalizadores óticos.

A. Patrulha Novikov.

Ao cair da noite de 24 de agosto, os botes deslizaram mansamente para as águas do rio, na extremidade norte das ilhas e prepararam-se para a travessia até a margem inimiga. Os botes da ilha X partiram às 21.45 horas, e dirigiram-se para o setor "a" na margem oeste, a pequena distância um atrás do outro. As forquilhas dos remos foram revestidas de panos a fim de evitar qualquer ruído. Cinco minutos depois, o contorno escuro da margem tornou-se visível e após outros cinco minutos todos os quatro botes tocavam a margem que se erguia abruptamente da ordem de 4,5 a 6 metros e que se debruçava sobre o rio em alguns pontos. O Tenente Novikov subiu à ribanceira, olhou em volta e, encontrando a área desocupada, colocou uma marca de madeira num ponto bem escondido.

A um sinal seu, os homens subiram o barranco da margem, um a um. Um grupo de segurança de cinco homens foi separado e recebeu ordem de permanecer próximo do local de desembarque. O restante da patrulha avançou cuidadosamente cerca de uma centena de metros, antes de mudar de direção para o sul.

Por volta das 23.00 horas, ouviu-se o ruído de vozes e passos que se aproximavam. A patrulha rapidamente se escondeu, deitando-se no solo. Pouco depois, quatro alemães passavam bem por perto. A um sinal de mão de Novikov, os russos lançaram-se sobre os soldados alemães e procuraram desarmá-los e capturá-los, com o mínimo de ruído possível. Um dos alemães, entretanto, conseguiu fazer vários disparos com sua submetralhadora enquanto um outro gritava: "Russos, russos!". Na luta corpo a corpo que se seguiu e que durou apenas um minuto, os quatro alemães foram mortos. No final, um dos integrantes da patrulha estava morto e quatro foram feridos, um tão seriamente que teve de ser abandonado.

O barulho do combate alertara os alemães. Pouco depois, ordens eram gritadas e ouviam-se passos pesados aproximando-se de todas as direções. Os russos rapidamente regressaram ao rio; quando se encontravam apenas a cerca de 50 passos de sua margem, os alemães lançaram artifícios luminosos abrangendo toda a área à sua volta e logo abriram fogo sobre os russos com suas metralhadoras, obrigando a patrulha a se abrigar lançando-se ao solo. Soldados alemães aproximavam-se correndo da direção leste e a patrulha viu-se forçada a dar um lanço desesperado até o rio. Um russo foi cortado por uma rajada de metralhadora, mas Novikov e o restante da patrulha chegaram ao rio em segurança, escorregaram ribanceira abaixo, lançaram os botes e afastaram-se remando apressadamente. Artifícios iluminativos alemães, disparados sobre o rio, mostraram os botes e, pouco depois, verificava-se uma troca de tiros. Um dos botes foi atingido e seu remador morto mas o restante de sua tripulação conseguiu agarrar-se a um outro bote e atingir, dessa forma, a ilha Y em segurança.

Não obstante a patrulha de reconhecimento não ter conseguido cumprir sua missão completamente, os russos, por outro lado, puderam verificar a existência real de intervalos entre as posições alemãs, bem como também a atenta vigilância das patrulhas de contato volantes. A situação parecia justificar outros reconhecimentos.

B. Patrulha Mirskiy.

Depois que a Patrulha Z atingiu o setor "b" da margem oeste, o Tenente Mirskiy marcou o local de desembarque com um pedaço de pano branco que escondeu sob um penhasco. Avançou, em seguida, para reconhecer a vizinhança imediata da margem do rio e não encontrou alemães num raio de 50 metros. Deixando o grosso de sua força para trás, Mirskiy escolheu cinco homens e avançou cautelosamente para o sul à procura das posições inimigas.

Após percorrer cerca de 150 passos, sentiu o cheiro de fumaça de cigarro. Cautelosamente, avançou rastejando, enquanto os demais faziam sua cobertura. Poucos minutos depois, atingiu uma rede de arame baixa que parecia ter vários metros de profundidade. Alguns metros mais adiante ouviu um som fraco de conversação e um ruído de metal contra metal.

Cuidadosamente, Mirskiy regressou para junto dos outros cinco homens e em seguida reuniu-se ao restante do grupo. Após designar cinco homens para fazer a segurança na direção sul, conduziu o grosso de sua patrulha para o norte, paralelamente ao rio e a uma distância aproximada de 150 metros de sua margem.

Os russos, deslocando-se com cuidado e habilidade através dos densos arbustos, haviam progredido apenas uma pequena distância quando subitamente uma metralhadora alemã abriu fogo das vizinhanças do local de desembarque, que agora se encontrava para trás e à direita da patrulha. Simultaneamente, ouviram-se fortes ruídos quando os artifícios alemães iluminaram toda a área. A fim de evitar ter o seu retraimento cortado, Mirskiy rapidamente regressou ao local de desembarque. Granadas de mão explodiam à sua volta e uma metralhadora alemã abriu fogo a curta distância. Os russos dispersaram-se rapidamente e tentaram atingir o rio. O fogo intermitente que se ouvia ao sul indicava que o grupo de segurança ainda se encontrava em contato com a patrulha volante alemã.

Onze membros da patrulha russa conseguiram atingir o rio e reuniram-se num ponto ao norte do local de desembarque, onde pacientemente esperaram pelos demais. Enquanto isso, os alemães revistavam cuidadosamente a área. Passou-se uma hora. Os outros nove, inclusive o Tenente Mirskiy e o sargento Petrov, ainda não haviam regressado; em vista disso, o sargento Rudin deu ordem a dois homens para trazerem os botes rio acima, o que fizeram sob a proteção da margem alta e saliente do rio. Os remanescentes da patrulha embarcaram nos botes e atingiram a ilha Z sem maiores incidentes; daí regressaram à margem leste na mesma noite.

Os resultados obtidos por essa patrulha, como os da outra, não foram conclusivos. Embora descobrissem a existência de intervalos nas linhas alemãs, verificaram também que os mesmos eram cuidadosamente vigiados por numerosas patrulhas de contato. Algumas posições inimigas não foram encontradas nos locais indicados pelos informantes civis; os alemães provavelmente haviam realinhado suas forças no período de tempo que decorreu entre a informação e a realização do reconhecimento. Uma coisa, entretanto, ficou clara: fazia-se necessário um outro reconhecimento, de preferência de maior duração. Em vista das possibilidades de dissimulação proporcionadas pela emaranhada vegetação da margem oeste, parecia mais recomendável que o futuro reconhecimento fosse realizado durante o dia, após as forças necessárias terem atravessado o rio e encontrado esconderijos na noite precedente.

C. Exploradores vencem onde as patrulhas fracassaram.

O comandante russo imediatamente decidiu enviar novos elementos para reconhecer as posições alemãs. Dessa vez, deviam também procurar estabelecer contato com a brigada de guerrilheiros, na floresta. Os três informantes civis receberam instruções para regressar a Svidovok e Dakhnovka e estabelecer um sistema de comunicações entre a brigada de guerrilheiros e o PC regimental na margem leste. Mediante sinais de fumaça simples, feitos das chaminés da localidade, os agentes deveriam transmitir informações referentes à chegada de reforços, movimentos de tropas e localização de PC alemães. Além disso, mensagens escritas e detalhadas deveriam ser periodicamente enviadas por correios despachados da margem leste.

Para essa missão, foram selecionados dez soldados do regimento de infantaria, de inteligência acima da média e familiarizados com a região. Receberam flutuantes rústicos e foram numerados. Os exploradores de 1 a 5 foram designados para o setor "a" e os demais para o setor "b".

Todos receberam ordem de atravessar o rio a nado, durante a noite, e de esconder-se no interior da vegetação e sob os penhascos ao longo da margem oeste do rio. Durante o dia, deveriam avançar rastejando, escondidos pelos arbustos e pela vegetação pantanosa, e observar cuidadosamente as vizinhanças imediatas e mais além, tendo em vista determinar o dispositivo, a localização das armas pesadas e o local dos PC alemães; deveriam ainda estabelecer contato com civis de confiança em Dakhnovka e Svidovok e, se possível, com os próprios guerrilheiros; e, finalmente, não deveriam engajar-se em combate com o inimigo, a não ser em último recurso.

Na negra escuridão da noite de 25 de agosto e sob uma fina chuva, os exploradores partiram da ilha X. Cada homem vestia calça e camisa e levava uma faca pendurada no pescoço. Amarrado no flutuante, levavam ainda uma jaqueta e calças de zuarte - de tipo local - sapatos de palha, uma pistola com 25 tiros, um pedaço de mapa e um lápis, tudo embrulhado num invólucro à prova de água.

O explorador 1 atingiu a margem oeste sem ser percebido. Mudou sua roupa num local bem escondido e subiu rastejando o barranco do rio a fim de observar a situação. Não havia tropas inimigas à vista. Escondeu-se sob a densa vegetação a pequena distância do rio e aí permaneceu imóvel, observando a passagem próxima de três patrulhas alemãs sucessivas. Ao alvorecer, notou uma turma de rancho que se aproximava vindo de uma posição a cerca de 150 metros para o sul onde se achavam várias metralhadoras. Depois dos alemães regressarem, o explorador seguiu suas pegadas e, logo depois; descobriu um PC e, em suas proximidades, uma posição de morteiros pesados. Progrediu em seguida várias centenas de metros mas, por volta do meio-dia, decidiu dirigir-se para o norte, deslocando-se a menor distância do rio. Ao parar para observar um ninho de metralhadora, teve seu primeiro momento de perigo. Imaginando terem visto movimentos suspeitos nos arbustos, os alemães revistaram a área. O explorador, entretanto, conseguiu escapar mudando de direção e deslocando-se apressadamente para oeste. Na excitação, perdeu a pistola que, juntamente com outros indícios, os alemães deveriam encontrar no dia seguinte.

Após o escurecer, encontrou um esconderijo num ponto a nordeste de Svidovok e ali permaneceu durante a noite. Na manhã seguinte, 27 de agosto, observou alguns homens e mulheres, escoltados por um soldado alemão, que transportavam baldes de água e feixes de palha e de madeira da localidade para as posições de metralhadoras pesadas situadas nas proximidades. Pouco tempo depois, o explorador viu-os regressar sozinhos e resolveu juntar-se a eles para, destarte, poder entrar na localidade sem ser reconhecido e molestado.

Após comer, estabeleceu contato com um habitante da localidade, que era considerado pelos alemães como anticomunista, e os dois combinaram meios de comunicações. Permanecendo na localidade até 1º de setembro. o explorador aproveitou todas as oportunidades para conseguir informações. Dizendo odiar Stalin e desejar lutar do lado dos alemães, chegou até mesmo a conseguir ser admitido numa cozinha de campanha alemã na qual trabalhou em paga de suas refeições.

Por intermédio das mulheres dos guerrilheiros que residiam na localidade, procurou fazer contato com a brigada que se achava na floresta próxima. Acompanhando algumas dessas mulheres, quando as mesmas saíram em busca de lenha, encontrou-se pela primeira vez com alguns dos guerrilheiros, com os quais trocou informações relativas às forças e posições inimigas e combinou meios de transmissão de mensagens. Terminados os entendimentos, o explorador recebeu um relatório que deveria entregar no PC, após o regresso.

A 2 de setembro, o explorador iniciou sua jornada de volta. Uma vez mais, reuniu-se a um grupo de mulheres que transportavam madeira e água para as posições alemãs. Uma vez fora da localidade, escondeu-se na vegetação e, certificando-se que a "costa estava limpa", rastejou até um ponto desenfiado, localizado entre duas posições alemãs. Perto do escurecer, aproveitando um pesado nevoeiro, deslocou-se até o rio e atingiu a outra margem em segurança.

Os resultados dessa missão de reconhecimento foram tão satisfatórios que os russos conseguiram desencadear um potente ataque contra o PC alemão em Svidovok e contra as posições de armas pesadas no dia seguinte.

O explorador 10 atingiu a margem oeste ao mesmo modo que o explorador 1. Na manhã seguinte, 26 de agosto, iniciou seu deslocamento aproveitando-se de uma vala que se afastava do rio na direção noroeste. Ao chegar próximo de duas posições de metralhadoras pesadas e de alguns soldados que apanhavam água na vala, escondeu-se e ficou observando. De seu esconderijo pode ouvir tiros e gritos partidos de algum lugar mais ao norte. Um cão que latia nas proximidades apareceu subitamente no parapeito da posição e, pouco depois, o explorador ouvia o ruído de alemães que se aproximavam de todos os lados. Sem hesitação, mergulhou na vala, num lugar em que a água cobria até sua cabeça. Enquanto os alemães faziam uma cuidadosa busca nas redondezas, conservou-se submerso, respirando por um canudo de junco que apanhara junto da vala. Após aproximadamente meia-hora, o explorador levantou a cabeça o bastante para poder olhar em torno. Assegurando-se de que o perigo imediato de captura já passara, pôs-se novamente em movimento, nadando ou andando na água conforme sua profundidade permitia. Em pouco tempo, abandonou a vala e rastejou pelo pântano e através da vegetação para oeste até atingir uma encosta íngreme que dominava uma lagoa. Uma vez mais ouviu o latido de um cachorro e, sem um momento de hesitação, lançou-se à lagoa, onde permaneceu por mais de uma hora, parcial ou totalmente submerso, por vezes.

Quando achou que já havia segurança para prosseguir, subiu a encosta e abrigou-se no meio da vegetação. Numerosas patrulhas de reconhecimento e turmas de rancho alemãs passaram por perto do lugar em que se encontrava.

Próximo do escurecer, acompanhou a alguma distância atrás uma das turmas de rancho que se dirigia para o sul. Ao atingir a orla da floresta, subiu em uma árvore e ali ficou escondido até o amanhecer. Ao clarear, pode ver, de seu esconderijo na árvore algumas posições de metralhadoras e morteiros alemães. Em seguida, desceu da árvore e dirigiu-se para o sul, conservando-se junto dos bosques, e em pouco tempo chegava à vila de Dakhnovka. De seu esconderijo num campo de milho, ficou observando a vila até o anoitecer, após o que entabulou conversação com um grupo de mulheres que lhe revelaram estar levando comida para os maridos que pertenciam à brigada de guerrilheiros que se encontrava na floresta. Após identificar-se, o explorador combinou as mulheres de o apanharem no caminho de volta à vila, na manhã seguinte.

Ao atingir Dakhnovka em companhia das mulheres, na manhã seguinte, foi levado para um celeiro que deveria servir-lhe de esconderijo. Mais tarde, nesse dia, encontrou-se com um agente que o preveniu sobre as severas medidas de segurança dos alemães e que lhe trouxe algumas roupas femininas para uso numa emergência. O agente disse-lhe, também, que não havia possibilidade de atravessar a vala e atingir o rio diretamente da vila, porquanto a área estava muito vigiada e não era permitido o trânsito de civis na mesma. O explorador informo-se dos arranjos feitos para lançar de pára-quedas algumas caixas com pombos correios para os guerrilheiros e que cabia a estes a responsabilidade de transportá-los para a vila. Como o explorador permaneceu na vila até 3 de setembro, teve ampla oportunidade de obter informações sobre a guarnição alemã, inclusive a localização do PC da companhia e nas posições de uma seção de obuseiros.

Na noite de 3 de setembro, em companhia das mulheres, o explorador foi ao encontro dos guerrilheiros na floresta, sendo recebido pelo oficial de suprimento da brigada, com o qual discutiu meios de transmissão de mensagens. Os dois homens concordaram que a via de acesso mais apropriada para um correio, entre a floresta e o rio, era a que fora seguida e marcada pelo explorador.

No dia seguinte, utilizando o mesmo caminho da vinda, o explorador regressou. Ao anoitecer de 5 de setembro, atingiu a margem oeste e daí nadou até a margem leste, passando pela ilha Z. As informações obtidas pelos dez exploradores foram comparadas e avaliadas. Em conseqüência desse trabalho, a artilharia russa conseguiu bater com precisão e de forma eficaz alvos vitais alemães.

D. Infiltração de correios russos durante ações diversionárias de patrulhas de combate.

A finalidade principal da operação era o estabelecimento de um serviço regular de correios entre as forças russas na margem leste do Dnepr e a brigada de guerrilheiros na floresta, na margem oeste. A fim de facilitar o deslocamento dos correios, patrulhas de combate deveriam ser empregadas em ações de finta simultâneas contra Svidovok e Dakhnoyka, num esforço para fixar as forças alemãs e distrair sua atenção. A operação foi planejada e dirigida pelo comandante do regimento russo e apoiada pelo fogo concentrado da artilharia em posição na margem leste do rio.

Para realizar as fintas, foram organizados dois destacamentos, constituídos por 50 marinheiros da flotilha do Dnepr, e que atuariam como patrulhas de combate. Cada uma delas recebeu dois correios. As tropas seriam transportadas através do rio em três grandes botes a remo e em várias embarcações fluviais menores. Os marinheiros estavam armados com metralhadoras leves, fuzis automáticos, submetralhadoras e pistolas. Cada correio vestia jaqueta e calças de zuarte de tipo local e sapatos de palha e conduzia uma pistola, 50 tiros, um trecho de mapa à prova d'água e uma caixa com um pombo-correio; além disso, cada um deles recebeu uma cópia da seguinte ordem, a ser transmitida à brigada de guerrilheiros:

"Supremo Quartel General de Guerrilheiros, Ucrânia, 6 de setembro
de 1941.

1. Para cumprimento imediato e de acordo com ordens do QG do Exército, o Coronel N.N. é exonerado do comando da ... Brigada de Guerrilheiros e transferido para o Supremo QG de Guerrilheiros, na Ucrânia. O major M.M assume o comando da Brigada.
2. Aparelhos de rádio não serão distribuídos ainda durante várias semanas.
3. A partir desta data e até 13 de setembro, pombos-correio serão lançados de avião nos locais e horas designados, mediante a transmissão de sinais luminosos pré-determinados.

Por ordem do Comando Supremo de Guerrilheiros, Ucrânia,
General X.X."

Durante a noite de 6-7 de setembro, as vias de Svidovok e Dakhnovka, assim como pontos intermediários, foram varridas por forte barragem de artilharia. Os desembarques foram realizados entre 00.30h e 01.00 hora. No dia seguinte, quando os alemães perceberam que a população civil estava abandonando as vilas e se dirigindo para os campos abertos, ficaram com suspeitas e tomaram precauções que diminuíram consideravelmente suas perdas subseqüentes.

Após atingir a margem oeste, no setor de Svldovok, o Destacamento de Assalto "a" progrediu cerca de 400 metros. As reservas alemãs, concentradas nessa área, enfrentaram os atacantes e os repeliram após um furioso combate corpo a corpo que durou aproximadamente uma hora. Nesse ínterim, os correios haviam-se posto a caminho através das linhas alemãs e, embora um fosse descoberto cerca de 3 horas mais tarde e imediatamente morto, o segundo, contornando amplamente a vila por noroeste, conseguiu atingir o acampamento dos guerrilheiros, na floresta, ao anoitecer.

No setor de Dakhnovka, os alemães achavam-se emboscados, esperando pelo destacamento "b"; em vista disso; o assalto foi frustrado logo no início. Ambos os correios, entretanto, conseguiram desembarcar. Um deles, quando tentava passar através das linhas alemãs, próximo da vila, foi surpreendido por uma patrulha e imediatamente morto a tiros. O segundo correio, seguindo a via de acesso previamente determinada ao longo da vala, atingiu os guerrilheiros sem qualquer incidente.

No curso dessa ação combinada, comportando patrulhas de combate e correios, foram mortos ou feridos 38 russos, enquanto as forças defensoras alemãs perderam apenas 7 mortos e 8 feridos. Os russos, de um modo geral, demonstraram grande habilidade na travessia de importantes barreiras aquáticas, utilizando os meios mais primitivos e, freqüentemente, a natação. Os alemães, em vista disso, tinham de encarar com a máxima suspeita qualquer moita de juncos ou de vegetação aquática que fosse vista flutuando num rio, a despeito de seu aspecto natural ou inofensivo.

Era hábito russo atacar simultaneamente em vários pontos, não obstante o custo da operação, para somente assegurar o êxito da mais ínfima missão. Nas situações em que uma linha contínua não podia ser mantida pelos defensores alemães eram permissíveis intervalos, mas somente nos locais em que dispunham de clara visão e bons campos de tiro. A utilização de arames de alerta e de numerosas patrulhas de contato era muito importante.

Como os russos se deslocavam com relativa facilidade através de rios, pântanos e florestas, sem caminhos e a sua observação pelos alemães era por vezes deficiente, a utilização de cães mostrou-se com freqüência, muito eficaz. Em regra, as tropas russas colaboravam intimamente com a população civil das áreas ocupadas pelos alemães e tiravam vantagem de todos os meios de dissimulação. Isto obrigava os alemães a uma observação intensa dos civis e à realização freqüente de buscas minuciosas, de casa em casa. Pela mesma razão, a confraternização com os russos, civis ou militares, ou a confiança nos mesmos mostraram, com freqüência, serem imprudentes e perigosas para os alemães. A constante mudança de postos de comando e de áreas de acantonamento reduziu drasticamente o perigo das tropas alemãs confraternizarem demais com a população civil.

Fonte deste artigo: Ação das pequenas unidades alemãs na campanha da Rússia. Exército dos EUA. Bibliex.

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