O NOVO ESTADO JUDAICO NA AMÉRICA DO SUL
"O êxito de nosso plano defensivo depende da fé em Deus,
do patriotismo, da abnegação e da determinação com que se
lhe encare. Se fraquejamos, tudo se haverá perdido e seremos,
os homens da atual geração, os únicos responsáveis ante Deus,
ante nossos filhos, ante a História e ante a Pátria submetida."
Esta documentada informação está destinada a apreciar com a maior amplitude o mais sombrio panorama que ameaça nosso país, que tanto pode constituir a perda total de nosso território, como seu despojo parcial, e em tal caso, compreenderia a zona mais extensa e mais rica de nosso solo pátrio.
Muitos são os que assinalam o perigo comunista, mas ninguém indica quem foram os criadores do comunismo, que são os que forneceram os fundos para a consolidação, propagação e expansão do comunismo. O comunismo em si não constitui outra coisa que vis elementos de outras organizações - também internacionais - mil vezes mais perigosas e mais diabólicas que todos os comunistas juntos.
A profunda penetração comunista no governo argentino e em todas as suas instituições fundamentais não é um a casualidade, nem tampouco um plano isolado; não é uma confabulação recente, nem tampouco improvisada, e sim é um plano cientificamente concebido, coordenado internacionalmente. Sua planificação minuciosa - podemos comprová-lo - parte de 1882, seu estudo e colocação em marcha, de 1897, no Congresso Mundial Judaico na Basiléia (Suíça), e aqui se aprovaram dois planos concebidos pelo judeu Leon Pinsker, em seu livro Auto-Emancipação e a seguir terminado pelo judeu Theodor Herzl, em seu livro O Estado Judaico, ambos consistentes em criar dois Estados judaicos, a saber:
I) Criar um Estado judaico das possibilidades práticas na América, tomando a Argentina como primeiro objetivo. Com tal motivo, de imediato se empreenderam as seguintes ações:
a) o começo da imigração em massa;
b) a compra centralizada de grandes extensões de terras pela Jewish Company Association Colonization, com centro em Londres;
c) a constituição de grandes sociedades anônimas, como a Bemberg, Dreyfus, Bunge y Born S.A etc., que atualmente são donas de enormes extensões de terras como a La Forestal do Chaco e numerosas estâncias como os grupos Estanar S.A, Comega S.A, etc..
II) Criar um Estado das possibilidades ideais na Palestina, o que, com o mesmo processo especificado no ponto I, logrou-se com a declaração da independência do Estado de Israel (14 de maio de 1948) e depois dessa data se centraliza todo o poder judaico do mundo para apoderar-se da Argentina e com isso de toda a América. Demonstraremos qual é o plano e que foi favorecido extraordinariamente pelo cripto-marxista e ex-presidente da nação, Arturo Frondizi.
Criar um Estado das possibilidades práticas na América e um Estado das possibilidades ideais na Palestina. 1882 - 1897.
Este é o ponto de partida do plano internacional de apoderamento do território argentino, o qual se encontra atualmente na última etapa.
Na França, em 1882, publicou-se o livro Auto-Emancipação, de Leon Pinsker, judeu nascido em Odessa (Rússia), que concebia o plano de criar dois Estados judaicos, um na América e outro na Palestina. O primeiro preferentemente na Argentina. Este plano, que naquela época não foi mais que um sonho (em aparência), foi o ponto de partida de uma realidade assombrosa, que foi se incrementando paulatina mas inexoravelmente até nossos dias.
Assim, vemos a nova atualização do plano de Pinsker na página 398 do livro História e Destino dos Judeus , do Dr. Josef Kastein, que transcrita diz:
"... Pinsker propõe aos judeus voltar a infundir uma realidade em sua vida de aparência, na Palestina e na América - um centro novo. Fixa sua atenção em dois países: Argentina, como país das possibilidades práticas, e Palestina, no das possibilidades ideais.
O barão Maurice de Hirsch, da França, independentemente de Pinsker, compreende a falta de pátria dos judeus e, em 1891, organiza a emigração de dois terços dos judeus da Rússia (algo mais que nove milhões, então). Com tal motivo, manda comprar terras na Argentina, de onde, desde 1889, haviam emigrado mais de 7.000 judeus. No outono de 1891, funda a Jewish Colonization Association, com assento em Londres, que haveria de levar a cabo o assentamento em massa dos judeus russos na América, especialmente na Argentina" .
Cabe destacar que enquanto isto se maquinava na França (centro de ação e expansão judaica), em 1889, em Tulchin (Rússia), já circulavam sigilosamente diários sobre a colonização judaica na América, sobre o qual nos adverte o judeu Alberto Gerchunoff (nascido na Rússia), em seu livro Entre Rios, Meu País, cuja transcrição diz assim:
"Em nossa casa celebram-se tertúlias interessantes... o rabino religioso, o rabino civil, os dignitários das sinagogas e os vizinhos mais veneráveis... Nessas reuniões ouvi pela primeira vez falar da América... a tentativa de colonização do barão de Hirsch iluminava aos israelitas de Tulchin, como a esperança messiânica do retorno ao reino de Israel... Assim, abandonou-se tudo para ir à América, à Argentina, que o diário de propaganda glorificava e comparava com Sião. Do Hotel de Imigrantes e de Buenos Aires, levaram-nos a Moisés Ville, na Província de Santa Fé... fundada pelo barão de Hirsch..." .
Concordante com o plano de Pinsker, em 1895, o judeu Theodor Herzl, nascido em Budapeste (Hungria), que se criou e educou em Viena, trabalhando como periodista em Paris, escreveu um folheto intitulado O Estado Judaico. Este folheto foi difundido em todos os âmbitos judaicos do mundo. Em 1896, convoca um Congresso Mundial Judaico na Basiléia (Suíça). Aqui foi aprovado o Plano cientificamente preparado para apoderar-se da Argentina e da Palestina. Nessa oportunidade, foi criado por Herzl o Sionismo Político, que em si representa a Nação Judaica, diz o autor. Tese confirmada pela opinião mundial do judaísmo, demonstrada por numerosas obras até nossos dias, neste congresso foi aprovada, ademais, a criação de numerosas associações, comitês, etc. em todo o mundo... "Mais de novecentas agrupações sionistas", diz Wolf Nijelsohn em seu livro História do Sionismo . As mais importantes foram as seguintes: o Congresso Mundial Judaico, na Basiléia (Suíça); o Grande Comitê de Ação, na América do Norte; o Comitê Executivo, em Viena (Áustria); a Jewish Association Colonization, em Londres; a Jewish Company, em Londres, ficando com estas constituído um verdadeiro e gigantesco Estado Judaico Mundial, com todos os seus organismos em marcha .
Este gigantesco plano, concebido por Pinsker, aperfeiçoado e compaginado cientificamente por Herzl, em cujos fundamentos destaca a necessidade de criação do Estado Judaico, ou seja, "obter terras onde assentar seu reino", já que o sionismo em si constitui o "povo", somente necessita a base onde firmar-se e pôr em marcha e - agrega - "... isto deve ser de acordo com as necessidades judaicas" .
Como Pinsker, em seu Auto-Emancipação, Herzl, em seu O Estado Judaico, tomou como objetivos: Palestina, como nação histórica e Argentina, como a Terra Prometida e, em tal sentido, Herzl escreve:
"A Argentina, por natureza, é um dos países mais ricos da terra, de imensa superfície, população escassa e clima temperado. A República Argentina teria o maior interesse em nos ceder uma porção de terra..." .
O primeiro Congresso da Basiléia estabeleceu para a massa Sionista três consignas de enorme repercussão:
a) "Conquista às comunidades" (para infiltrar-se em sua vida e organizações)
b) "Esclarece as consciências dessas multidões" (Marx e Engels, divisão de classes, comunismo)
c) "Organiza suas forças e discipline-as para uma finalidade determinada" (a organização comunista, para levar a cabo a Revolução Social) .
"Os judeus cultos e sem bens aderem-se ao socialismo (comunismo). A batalha social será defendida, em todo caso, sobre as nossas espaldas, porque nos achamos nos pontos mais avançados, tanto no campo capitalista, como no socialista (comunismo)" .
"Os componentes de nossas camadas inferiores tornam-se proletários, afiliam-se nos partidos subversivos..., enquanto aumenta o tremendo poder do dinheiro em nossas camadas superiores..." .
A potência judaica invisível resume-se em duas poderosas forças que se complementam: o Capitalismo Mundial, com assento nos EUA, preponderantemente, e o Comunismo Internacional, com assento m Moscou .
Existe outra força secreta que regula e orienta a ação das duas primeiras, que são dois extremos que não devem, por razões estratégicas, manter contatos diretos: a Maçonaria Internacional. Seus integrantes, muitos sem serem judeus, apoiam e defendem a posição destes, facilitando ademais seus negócios e sua infiltração nos governos. Por outro lado, os mesmos maçons, muitos sem serem comunistas, apoiam e defendem secretamente a posição destes, permitindo sua infiltração e facilitando sua ação na perturbante mescla "democrática", que é a camada onde nada se define e tudo se confunde.
Naturalmente, tudo se esclarece se escutamos as palavras do embaixador judeu em Buenos Aires, quando em um banquete em honra do ministro de Finanças de Israel e da coletividade judaica na Argentina, expressou em 25 de abril de 1955:
a) A hora da judiaria argentina.
b) A comunidade argentina, novo centro judaico.
"A história da diáspora está composta pelos anais de centros judaicos sempre cambiantes..."
"As comunidades surgem, desenvolvem-se, marcam nossa história com seu selo, dão ao nosso povo grandes valores e homens notáveis e depois de ter desempenhado seus papel nos destinos judaicos, cedem seu lugar a outros centros e a outras comarcas..." .
c) Centros judaicos sempre cambiantes. Cambiantes de acordo com os planos de conquista estabelecidos pelo Kahal.
1°) Quando na França tiveram que desencadear a miséria, o caos e a revolução social, para lá se dirigiram os judeus em massa, para o que agitaram o anti-semitismo na Rússia, Áustria, Polônia, Alemanha, etc. Sumida a França no caos, miséria , sangue e lágrimas, exterminados seus principais dirigentes, os judeus passam seus centros a outro país.
2°) A Alemanha: tomaram por objetivo esta nação e para lá se dirigiram, agitando para isso o anti-semitismo na França e demais nações vizinhas. Devido à formação patriótica do povo alemão, não puderam conquistá-la, tornando-se este país destinado a ser vítima da guerra mundial. Debandaram-se os judeus, reagruparam suas forças e trasladaram seus centros a outra nação.
3°) O Império Austro-Húngaro: submeteram-no ao caos, miséria, sangue e corrupção; desagregaram-no em múltiplas pequenas nações, para nunca mais recuperar seu poderio. Submetido ao domínio judaico, estes trasladaram seus centros a outra nação.
4°) A Rússia: a ela se dirigiram os judeus de todas as nações européias, mas ao cerrar-lhes este império o passo, dirigiram-se em massa a:
5°) Estados Unidos da América: adotam a cidadania norte-americana e como tais emigram à Rússia, mas esta tampouco lhes admite. Então, desencadeiam uma grande pressão diplomática contra o governo estadunidense, até obrigar à denúncia de um importante e antigo tratado comercial com a Rússia czarista, contrário aos interesses da nação e a favor da coletividade judaica. Assim lograram, com a morte de Nicolau II, acrescentar a imigração judaica e fortalecer suas organizações na Rússia e, com a ajuda econômica do capitalismo judaico norte-americano, alemão, etc., em 1917, estalou a Revolução Social e caiu a Rússia vítima do judaísmo internacional. Sobre o tema, ilustra-nos o grande judeu Josef Kastein, na página 370 de seu livro História e Destino dos Judeus, que nos diz, referindo-se à Revolução Russa: "Não tinha mais que o nome... era judaica em seu fundo. Seu exército foi desfeito e convertido em escória". Caída a Rússia, arrasado o seu exército, assassinados 17 milhões de seus melhores homens em menos de dois anos (10 milhões morreram de fome), para nunca mais recuperar sua liberdade, trasladaram-se a outros centros.
6°) A Palestina: para lá trasladaram suas forças e concentraram todos os seus esforços. Emigraram em massa, especialmente da Rússia e Polônia, logo da Alemanha, para o que agitaram violentamente o anti-semitismo em todos os países europeus. Caída Alemanha vítima da guerra mundial, como anteriormente a Rússia, a Palestina foi submetida ao terror, à miséria, mortes, revoluções e guerras e, de acordo com o plano de Theodor Herzl, em 14 de maio de 1948, constituiu-se o Estado de Israel , com ajuda das grandes potências e das organizações judaicas mundiais. Caída a Palestina definitivamente, o Centro Judaico traslada-se a outros centros, a outras comarcas, como diz Kubovy:
7°) À Argentina: sim, aqui, onde já desde 1883 haviam se infiltrado, a partir da tomada da Palestina, começam os judeus a concentrar todo seu poderio, sua grande imigração, seu poderio econômico, sua influência política e a pressão internacional. Radicação em massa, tomada de possessão das riquezas vitais, compras centralizadas de terras, englobamento dos rumos do ensino primário, secundário e universitário; englobamento de todos os organismos do Estado, desde a Presidência da Nação até o Congresso, ministérios, organismos econômicos, etc. Sumido o país na miséria, na corrupção e no caos, o desprestígio interno e internacional de suas instituições fundamentais em geral, das Forças Armadas em especial. A mal chamada "legalidade", longe de significar bem-estar ou progresso, trará emparelhadas grandes lutas, sangue, fogo e morte com o estalido da Revolução Social e sua imediata conseqüência: a implantação do Comunismo e o extermínio do argentino. Sua conseqüência imediata será a criação do Estado judaico, como o planejou o profeta Theodor Herzl. Muito provavelmente ANDÍNIA, cujo mapa opera em poder de nossos Serviços de Informações. A confusão atual, a desagregação do povo, a perseguição das organizações autenticamente argentinas e de seus integrantes, significam que estamos na última etapa do Plano.
Analisando o expresso anteriormente, veremos com mais clareza o movimento perfeitamente coordenado das três forças:
a) o Capitalismo Judaico Internacional, que aceleradamente se estabelece em nosso país, com uma imigração judaica massiva, a qual chegou às suas máximas conseqüências em 1962;
b) o Comunismo, que englobou o governo e todos os seus organismos, tanto na ordem nacional quanto na provincial e municipal. Infiltra-se nas organizações religiosas, nas Forças Armadas, nos centros estudantis, nas agrupações sindicais, enfim, na própria vida da Nação, com absoluta liberdade, em nome da "liberdade" e da "legalidade";
c) A Maçonaria: membros proeminentes desta seção internacional, encastelados em altas posições de todas as instituições fundamentais do país e até na própria Presidência da Nação e nos mandos superiores das Forças Armadas, fazem o jogo de intermediários entre o Comunismo e o Capitalismo Judaicos, facilitando e apoiando a penetração e ação de ambas as forças, que vão neutralizando a segurança e defesa do Estado com toda impunidade.
Comparando com os acontecimentos e modalidades dos comunistas aplicados em outros países, especialmente na Palestina, comprovaremos que não variaram em absoluto seus métodos, posicionando-se de todos os âmbitos e meios mencionados e que tanto o capitalismo internacional que se radica no país é judaico, como a quase totalidade dos comunistas que tomaram posse de organismos vitais, são também judeus.
Analisando o transcrito mais acima e continuando com a declaração do embaixador de Israel em Buenos Aires, Dr. Arieh León Kubovy, comprovaremos de fé e irrefutavelmente todo o expressado no presente informe e que o centro Judaico atualmente se encontra na Argentina. A declaração expressa:
"Tampouco há dúvidas de que os dirigentes do judaísmo argentino se revestiram de uma nova hierarquia no mundo judaico, contraindo a responsabilidade de ënobreza obrigatóriaí". Significa isto que se os judeus europeus tomaram a Palestina, é justo que os judeus da Argentina tomem a Argentina. "Se julgamos segundo as lições do passado, dois grupos de homens decidirão a resposta que a Argentina judaica dará à História".
"Os homens de espírito e os homens de meios... Dos homens de espírito aguarda nosso povo esta chispa de fogo que prova que são depositários do gênio judaico... Aos homens de meios (capitalistas) mostrar-se, por meio do dinheiro adquirido, dignos de serem filhos de Rei Benei Melej... A ambição que eu alento é que um número sempre crescente de gente de meios adquira consciência do papel excepcional que está chamada a desempenhar, da grande oportunidade que tem sido outorgada à nossa geração..."
Com respeito à "grande oportunidade" que menciona, devemos recordar que na data de sua declaração (25/04/55), havia se realizado a grande concentração e o ataque mais violento conhecido em nosso país, desde o estádio de Luna Park, contra a Igreja e os católicos, pelos comunistas, judeus, maçons e o governo de Perón, fomentando um ambiente propício para desencadear a revolução social, aproveitando a credulidade das massas populares, ignorantes do jogo ao qual estava submetidas.
"Chegou a hora de irromper na História..."(diz Kubovy) e agrega: "...espero ardentemente que este serão marque o começo de uma etapa decisiva para o judaísmo argentino, pois sei que os centros judaicos mostraram-se sempre à altura de seu destino quando a hora irromper na História havia chegado".
Na página 75 do citado livro afirma Kubovy: "A comunidade argentina: novo centro judaico". (Ressaltamos que isto o expressa um alto funcionário judeu, de destacada representação). Não podemos suspeitar.
Para concluir com as declarações do Sr. Kubovy, transcreveremos, dada sua extensão, somente uma parte, a que não nos deixará dúvidas. Logo, é necessário tomar consciência do perigo e nos pôr em guarda contra os ocultos e verdadeiros inimigos de nossa Pátria.
Declara Kubovy: "Israel espera a Argentina Judaica e, estou seguro, que a Argentina Judaica responderá: Presente!" .
Antes das grandes empresas a empreender por um povo, tanto em sua defesa como em missão de conquista, sempre seus dirigentes apelam ao poder divino. Tal o faz Kubovy, em sua alocução à D.A.I.A., em seu 20° aniversário (12/12/55), dizendo:
"Dai força o Senhor ao povo, bendizei o Senhor a seu povo com a paz. Força e paz. Força material e espiritual e paz para a judiaria argentina, para o povo judaico e para o Estado de Israel, que é nossa coroa" . (Aqui mostra que o reinado judaico deve ser na Argentina.)
É indubitável que a oração de Kubovy nesse momento encerra um profundo meditar, porque com a revolução de 1955 haviam se desbaratado seus planos ao não reagir a massa e desencadear a revolução social, pois nessa massa eles haviam cifrado suas esperanças, preparada cuidadosa e fanaticamente por Vuletich. Não concorreram ao chamado deste e assim lhes fracassou o primeiro intento de exterminar as classes dirigentes do povo argentino.
É mister recordar a apelação à consciência dos "homens de meios" feita por Kubovy, pois três anos após essa data (26/04/55) os "homens de meios" tomaram o governo (1°/05/58) e desde esta data está a Nação inteira regida pelos arbítrios dos homens de empresa, interna e internacionalmente. Isto é inegável. Daí a destruição e descrédito de todo o nacional e a entrega e sujeição total do nacional à força política, econômica, cultural e social, internacional.
Desta maneira, a força econômica tomou o Poder, arrastando incontinentemente a Nação ao desastre total. Primeiramente, com as desacertadas medidas econômicas do governo de Perón, seguidas pelo desastroso governo de Aramburu e logo levada ao extremo pelo governo de Frondizi, que nos conduz ao caos, miséria e corrupção. Estes não são desacertos. São planos perfeitamente preestabelecidos no "sanhedrin" (governo secreto judaico estabelecido em nosso país, como em cada uma das nações do mundo) . Estes são sempre os "conselheiros" de todos os governos em matéria econômica e política interna e internacional. Planos que se concretizam assim:
a) Malgastar as divisas fortes e metálicas que possui a nação, fomentando a corrupção administrativa (negociações e subtração de fundos do Estado).
b) Desencadear o ágio e a especulação, fazendo o jogo com o fomento de aumento de salários e, ao mesmo tempo, o aumento em maior escala dos preços dos artigos essenciais de consumo.
c) Com isto logram empobrecer a Nação, agitar o ambiente de mal-estar no seio do povo e concretizar a entrega da economia nacional aos capitalistas internacionais judeus.
d) Tomar o poder com homens procedentes dos grandes centros econômicos (judeus, maçons e comunistas internacionais, em sua totalidade) e...
e) Preparar a revolução social .
Aqui chegamos hoje. Enquanto os "homens de meios" englobaram o poder econômico da nação e exercem sua influência no âmbito internacional, os "homens de espírito" (dirigentes) organizam suas forças revolucionárias com absoluta liberdade e impunidade, caotizando e corrompendo todos os centros intelectuais, culturais, sociais, militares, estudantis, religiosos, políticos e científicos.
O mesmo processo sofrem todos os demais países latino-americanos; é que o Plano concerne a toda a América Latina, cujo primeiro objetivo é a Argentina. Esta deve ser a Capital da grande nação judaica latino-americana, como expressa o judeu nascido na Argentina, Carlos E. Etkin, em seu livro Abraham León e o Povo Judaico Latino-Americano .
O plano em si consiste em (dizem Sigfredo Krebs e Isaac Arcavi, atual decano do Colégio Sarmiento, no livro Páginas Escolhidas):
"O Plano, em sua forma original, deve ser extremamente simples, se se pretende que o compreendam todos".
"Deve-se-nos conceder a soberania sobre uma porção de superfície da terra adequada às nossas necessidades e às nossas justas ambições de povo e... a todo o demais, já proveremos nós mesmos" .
"A aparição de uma nova soberania não é ridícula, nem impossível... Os governos dos países afetados pelo anti-semitismo têm sumo interesse em nos ajudar a obter a soberania. Para esta tarefa, simples em princípio, mas complicada em sua realização, criam-se dois grandes órgãos: a Society of Jewish e a Jewish Company"
"O que a Society of Jewish preparou científica e politicamente... a Jewish Company põe em prática..."
"Agora bem: se se quer fundar hoje em dia uma nação, não se há que fazê-lo da maneira que faz mil anos foi a única possível. Por exemplo, se tivéssemos que exterminar as feras (feras ou bestas, nome que o Talmud atribui aos não judeus ) em determinado país (Argentina), não faríamos à maneira dos europeus do século V. Não atacaríamos isoladamente à Los Osos, armados de dardos e lanças, e sim organizaríamos uma grande e alegre caçada, acossaríamos as bestas (argentinos) até tê-las reunidas e, então, lançaríamo-lhes uma bomba de melinita (em preparação)" .
"Quem queira marchar conosco, que jure à nossa bandeira e lute por ela por meio da palavra, oral ou escrita, e mediante a ação. Os judeus que aceitam nossas idéias do Estado, se agrupam em torno da Society of Jewish Esta obtém de tal modo a autoridade necessária para falar e negociar ante os governos, em nome dos judeus. A Society será reconhecida, para dizê-lo com uma analogia tomada do Direito Internacional, como autoridade capaz de constituir um Estado e, ao declará-lo, o Estado já estaria constituído."
"Dois países têm que ser tomados em conta: Palestina e Argentina."
"Em ambos os países têm sido feitas notáveis tentativas de colonização, baseadas no princípio de infiltração paulatina dos judeus (Plano Rabino Weizman). A infiltração tem que acabar sempre mal, diz Herzl, pois se chega inevitavelmente a que o governo, baixo a pressão da população que se sente ameaçada, proíbe a imigração de judeus. Por conseguinte, a imigração só tem sentido quando sua base é nossa soberania garantida" .
"A Society of Jewish entabulará negociações com as autoridades supremas do país e com o protetorado das potências européias e norte-americana."
PALESTINA OU ARGENTINA?
"A qual das duas há que se dar preferência? A Society tomará o que se lhe dê e até o que se incline a opinião geral do povo judaico". A "Society" averiguará ambas as coisas (diz Theodor Herzl), para continuar, insinuando sua preferência, e agrega:
"A Argentina, por natureza, é um dos países mais ricos da terra, de imensa superfície, população escassa e clima temperado."
"A Argentina teria o maior interesse em nos ceder uma porção de terra" . E logo esclarece Theodor Herzl: "Palestina é nossa inolvidável pátria histórica... A Jewish Company Colonization Association está concebida, em parte, segundo o modelo das grandes companhias de colonização. Será fundada como companhia por ações, com caráter de entidade jurídica, de acordo com as leis inglesas e baixo a proteção da Inglaterra. Terá seu assento principal em Londres... Direi que necessitamos 1.000 milhões de marcos..." .
A compra de terras:... "A terra cedida à Society of Jewish, de acordo com o Direito Internacional, há de ser adquirida, naturalmente, segundo as normas do direito privado... Ela assegurará para si as terras necessárias por meio da compra centralizada. Tratar-se-á principalmente da aquisição de domínios pertencentes às atuais autoridades supremas do país" .
Na página 126, diz Theodor Herzl, verdadeiramente, ou seja, dialeticamente, qual seria o aspecto da luta pela emancipação do território que conquistar:
"... As possessões abandonadas pelos judeus farão possível a ascensão da Massa à felicidade... A Revolução Francesa mostrou em pequena escala algo parecido ao que vai se suceder, mas para isso tiveram que correr as torrentes de sangue baixo as guilhotinas, em todas as províncias da nação. Invalidou-se direitos adquiridos e herdados e com isso se enriqueceram somente os astutos compradores de bens do Estado."
Analisando o plano do profeta judeu Theodor Herzl, vemos o seguinte:
1°) Que a "Society of Jewish" é, na realidade, a representação legal internacional de todos os judeus do mundo. Que centraliza toda a autoridade e a faculdade de um governo ambulante que busca um território onde assentar seu povo, que é o Sionismo Mundial, que em si constitui o Estado Judaico, segundo seu fundador, Dr. Herzl.
No dia seguinte do Primeiro Congresso Sionista, Herzl apontou em seu diário: "Se hei de resumir os resultados do Congresso da Basiléia em poucas palavras - que me guardarei de dizer em público - diria o seguinte: em Basiléia fundei o Estado Judaico. Se eu o dissesse em público, todo o mundo se riria de mim. Quiçá dentro de cinco anos, mais seguramente dentro de cinqüenta, todos me darão razão . O Estado fundamenta-se essencialmente na vontade de Estado do povo. O território é tão só a base concreta; o Estado, ainda quando possua um território, é algo abstrato... Fundei, pois, em Basiléia, esta coisa abstrata, invisível portanto para a maioria" .
"O que a Society of Jewish preparou científica e politicamente, a Jewish Company executa...", diz o autor na pág. 110.
Pelo exposto, fica de fé provado que ambas as Sociedades representam ao gestor o governo que busca a terra onde construir ou assentar o seu povo, que é o Sionismo Mundial. Sua instalação, então, dentro do território nacional significa: a constituição de um Estado dentro de outro Estado e que sua finalidade imediata ou mediata é a de obter sua independência com Estado judaico, com o apoio e a pressão das potências e organizações internacionais.
2°) Que, ao preparar seu Plano, tomou com clara e expressa determinação a criação de dois Estados judaicos, um na palestina e outro na Argentina. Para destacar sua preferência em ordem de prioridade, Theodor Herzl descreveu em primeiro termo a Argentina, destacando-a como "a terra mais rica do mundo" e, em segundo termo, a Palestina, como "a Pátria histórica".
Sobre isto, no livro História e Destino dos Judeus , se diz: "... que o barão de Hirsch havia mandado comprar terras na Argentina" e que em 1881 já haviam emigrado 7.000 judeus. Arieh León Kubovy - embaixador de Israel na Argentina, em um discurso pronunciado em 28 de maio de 1955, na V Convenção do comitê Sefardim da Argentina, diz: "A comunidade Sefardim na Argentina é a mais numerosa do mundo: conta com 75.000... Têm as condições requeridas para poder e dever se pôr à cabeça das Comunidades... Que podiam consagrar-se às coisas públicas... E digo poder e dever porque quem pode, deve".
"Nossa concepção do mundo nos indica que o poder nos foi dado para cumprir com nosso dever e para encontrar satisfação na realização desse dever."
Para precisar a que "dever" e a que "poder" se refere, agrega: "E todos temos um juiz incorruptível: o sentimento, ao qual já me referi várias vezes, à opinião pública judaica e à história judaica" (Por isto ao presidente Frondizi não lhe afetou que o povo argentino o repudiasse, pois não era a opinião judaica).
A isto agregamos o que nos informa Ana C. Schlesinger, em seu livro Mil Perguntas e Respostas do Judaísmo , onde diz: "Quantos judeus vivem na América do Sul?" e responde: "Aproximadamente 700.000 judeus, dos quais 400.000 vivem na Argentina, 125.000 no Brasil, 40.000 em Uruguai e 30.000 no Chile" .
Transcreve-se aqui outra informação que põe de manifesto, por si, a gravidade que encerra esta informação e cujo texto diz:
"POPULAÇÃO JUDAICA"
"A República Argentina vem a ser atualmente o segundo país do mundo enquanto à densidade de população judaica se refira e é somente superada pelos Estados Unidos da América". É necessário destacar que a própria nação judaica, Israel, não têm dentro de suas fronteiras a população judaica que temos nós e que alcançava, em junho de 1960, quase três milhões de pessoas.
"Assimilação ao meio: Não há assimilação ao meio... Existe, sim, um divórcio absoluto para com nossa tradição, para com nossa história e para as ansiedades argentinas de um futuro melhor, freadas pelo antinacional e anticristão". A razão está em que os judeus, considerando-se superiores, negaram-se, desde o princípio de suas peregrinações, a mesclar-se com os autóctones. "Convencido de sua superioridade sobre os demais nacionais, o povo judaico quis ser uma Potência". Assim diz o judeu Bernard Lazare em O Anti-semitismo .
Terror ou luta política sionista. Manifesta o atual Primeiro Ministro de Israel, em um folheto de S. Aharonovich, intitulado Ladrões na Noite à Luz do Dia .
"Luta política sionista significa: Imigração, sempre e em todas as circunstâncias e condições; Colonização, por meio de todos os esforços e com a máxima capacidade; Educação do povo: e sua mobilização pela auto-redenção; ganhar a opinião pública, em favor da solução sionista, a opinião dos governantes, dirigentes trabalhistas, dos partidos políticos, de congregações religiosas, de toda classe de organizações e do jornalismo; combater as discriminações e a limitação de nossos direitos, resistir a elas em caráter de comunidade organizada, consciente de sua vontade, de seu objetivo e de sua potencialidade determinada contra os detratores, os inimigos e opressores; combate racional, responsável, planejado e meditado e com a firme determinação de defender-se e oferecer combate. Tudo isto está compendiado em nossa luta política. "
Com isto, põe-se em evidência que as palavras do embaixador judaico na Argentina, incitando às hostes judaicas a tomarem o poder, não são efêmeras nem ilusórias. Com efeito, o tomaram em 1958.
Na página 144 do livro Páginas Escolhidas, Krebs expressa:
"Que podem surgir novos Estados? O sabemos, o vemos... As Colônias (judaicas) se declaram independentes da metrópole... Os Vassalos se emancipam do Soberano; territórios recém descobertos se constituem em Estados independentes..."
"É certo que o estado Judaico está concebido como uma criação completamente original, em um território que não foi todavia destinado para tal fim... Mas não são as existências de terras as que constituem o Estado, e sim os homens unidos pela soberania."
Daqui as manifestações de Herzl; daqui a ação do Sionismo; daqui a imigração em massa e a formação da "Confederação de Províncias Patagônicas" que abarca toda a extensão da Cordilheira dos Andes; daqui o paralelo 42, as concessões petrolíferas, a radicação de capitais forâneos, etc.. Na mesma página, destaca:
"Existe, por exemplo, uma soberania sem fundamento material (território), a mais respeitada do mundo: a Soberania do Papa". (Por isso a criação do Sionismo como organismo mundial, em sujo seio foi reconhecido uma representação chamada Comitê.)
Isto o planejou Herzl em 1896. Em 1914-1918 se produz a guerra mundial e no Acordo de Versalhes nasce a primeira organização mundial: a Sociedade das Nações, que em si constitui o ensaio do Governo Mundial, meta do Judaísmo Internacional, da Maçonaria e do Comunismo. Isto origina a elevação internacional da posição judaica. Em 1939-1945, a segunda guerra mundial deu origem à Organização das Nações Unidas (ONU), em substituição da Sociedade das Nações. Em ambas as organizações, foram numerosos os judeus intervenientes, e suas resoluções foram impostas de acordo às conveniências judaicas . Hoje vemos que todos os países do mundo sujeitam até as questões mais insignificantes às decisões de organismos internacionais, regidos por judeus, que tratam de centralizar todas as atividades econômicas, políticas, sociais, educacionais, militares, etc..
"Nas Ciências Políticas tem-se atualmente geral aceitação a teoria da necessidade fundada na razão. Esta teoria é suficiente para justificar a origem do Estado e não pode ser refutada historicamente como a Teoria do Contrato." (Referindo-se ao "Contrato Social" de J.J. Rousseau.)
O território de Israel não cobre as necessidades judaicas e com este pretexto eles se adjudicam o direito de apoderar-se de outro território para agrupar a sua coletividade mundial, que chegaria atualmente a algo mais de 20 milhões de indivíduos .
"No que concerne ao surgimento do estado judaico" diz Herzl "apoio-me absolutamente na teoria da necessidade fundada na razão" e agrega: "mas nesta Teoria se ilude a Questão do Estado."
"Resulta imprescindível uma razão legítima."
Se esta "razão legítima" à qual faz referência não existia, fez-se necessário criá-la e, para criá-la, nada melhor que a agitação das massas, a cuja obtenção só se poderá chegar provocando o caos, acrescentando a miséria, corrompendo de forma deliberada e constante, juntamente com a negação de todos os direitos soberanos da Nação. Esta ação provoca nas Províncias o desejo de independentizar-se do Governo Central corrupto e ditatorial. Sucintamente, esta é a política adotada por nosso atual Governo.
Cabe agora perguntar-se por que e para que nasceu a idéia da criação da criação da "Confederação de Províncias Patagônicas".
Reflitamos também sobre a situação do Governo Central com respeito às províncias em matéria política e econômica e se as dissidências que se produziram e continuam se produzindo não são provocadas e se isso não poderia constituir a invocada razão legítima".
Estão se dando as condições para que uma circunstancial Confederação de Províncias, baseada nesta "razão legítima" (provocada) rompa com o Governo Central, declare sua independência e peça seu reconhecimento às Organizações Mundiais (OEA e ONU) e às grandes potências, EUA, URSS, Inglaterra, França e conhecendo que tanto essas organizações mundiais como as grandes potências estão regidas, direta ou indiretamente, por judeus, é de se presumir que o reconhecimento se outorgaria "ipso facto" .
Em tal caso, cabe se perguntar se poderia o Governo Central (ainda no caso de ser exercido por argentinos patriotas) intervir com suas forças para reprimir a estas províncias rebeldes. Evidentemente, NÃO; pois se o intentasse não faria outra coisa que invadir os territórios de uma nação recentemente criada e reconhecida por países e organismos mundiais. Se tal ocorresse, daria lugar a que estas Organizações Mundiais concorressem com forças armadas em auxílio da Nova Nação, em uso das faculdades que lhes foram conferidas e já com muitos precedentes (casos da Coréia, Congo, Canal de Suez e inclusive a sanção aplicada pela OEA à República Dominicana).
Então, de uma ou outra maneira, a Argentina seria submetida e obrigada à perda da região mais rica de seu território ou, em seu defeito, à perda total de sua soberania.
Nisto consiste realmente o Plano e o que está se passando em nosso país não é outra coisa que o Plano posto em prática e, atualmente, em pleno desenvolvimento e evolução.
A maioria dos argentinos ignora esta conspiração, mas há outros que conscientemente a apoiam. Muito duros teremos que ser com eles.
Têm estreita relação com o Plano a totalidade das concessões nacionais de petróleo, estrategicamente situadas; as vendas de grandes extensões do território andino de um extremos ao outro do território pátrio; a radicação indiscriminada de capitais internacionais judaicos, sem ajustar-se às mínimas prescrições legais existentes, com a única escusa de ganhar tempo para o desenvolvimento da Nação; a exaltação de todo o estrangeiro e a inferiorização e o desprezo por todo o argentino; et cetera.
Outra das coisas que está intimamente ligada ao Plano é a liberação de impostos ao sul do Paralelo 42, criando uma situação de privilégio para essa zona e acendendo um antagonismo, já manifesto, com o resto do país.
Atualmente sofremos a submissão total de nossa economia e da soberania nacional ao capitalismo e política judaica internacional (muito significativo é o caso do seqüestro de Eichmann ).
Referindo-se Herzl a esta "razão legítima" para a ruptura de relações ou vínculos de dependência com o Governo Central e a criação justificada de um Novo Estado, diz: "Creio que esta razão legítima pode ser encontrada na negotiorum gestio , para o qual há que considerar o conjunto dos cidadãos sem discriminação (dominus negotiorum - sic ) e ao governo como gestor... Os romanos, graças à sua maravilhosa consciência do direito, criaram a negotiorum gestio, uma preciosa obra mestra".
O fundamento legal da "razão legítima" estaria então sustentado juridicamente na mencionada lei romana.
"Quando perigam os bens de uma pessoa que não pode cuidar deles por si mesma, qualquer um tem o direito de intervir para salvá-los."
Este não é senão um reflexo da Doutrina de Monroe (02/12/1923), que constitui o fundamento da política de expansão imperialista dos Estados Unidos da América, tendente à submissão de todos os países latino-americanos. Confirma-o o expressado pelo presidente Coolidge, em Nova Iorque, em seu discurso de 23 de abril de 1927:
"As pessoas e as propriedades dos cidadãos norte-americanos formam parte do domínio geral da nação, ainda quando se encontrem no estrangeiro. Os governos que se respeitam têm a clara obrigação de proteger a pessoa e a propriedade de seus cidadãos, onde quer que seja."
À mesma doutrina se refere Nicholas John Spyckman: "O poderoso se alça com o que pode e o débil cede o que tem que ceder ".
Haya de la Torre, referindo-se à Doutrina Monroe, diz: "Com o transcurso do tempo adveio não somente uma doutrina nacionalista dos Estados Unidos, senão uma doutrina imperialista de sua classe dominante ". Não ignoramos que a classe dominante nos Estados Unidos é a capitalista judaica.
Com isto, fica provado quais são os instrumentos legais que os judeus vão esgrimir e as cumplicidades internacionais às quais vão recorrer para justificar o despojo do território e patrimônio argentinos.
É de se fazer notar que isto não é uma descoberta recente; pelo contrário, é um fato conhecido pelos homens de governo desde longa data. Já em 1936, na Conferência Pan-americana realizada em Buenos Aires, o então ministro de Relações Exteriores da República Argentina, referindo-se à Doutrina Monroe, a qualificou de "Armadilha para Incautos", agregando: "... é nada menos que o instrumento por meio do qual os Estados Unidos esperavam estender seu poder e influência sobre as demais nações do hemisfério".
Herzl, na enumeração de seu Plano, diz:
"O gestor não atua por encargo de ninguém. A ordem lhe vem ditada por uma necessidade superior. Em qualidade de tal se inteira da emergência que exige a intervenção..."
"O Estado nasce como resultado da luta de um povo por sua existência. Nestas lutas não é possível fazer largas tramitações para receber determinada ordem... O gestor toma o mando e se põe à cabeça."
"O gestor do Estado está suficientemente autorizado quando a coisa pública está em perigo e o dominus se encontra impossibilitado de agir por si mesmo."
De uma simples análise destes últimos parágrafos do "plano", surgem claramente as intenções e se vislumbram as armadilhas preparadas. Estabeleçamos três interrogações:
1°) Quem é atualmente o "gestor" das radicações e grandes capitais judaicos na Argentina?
- Evidentemente, os Estados Unidos da América.
2°) Quem o quais seriam o ou os "gestores" do povo judaico que velam pela vida e interesses da coletividade judaica radiada na Argentina?
- O Presidente do Sionismo Mundial e Presidente do Congresso Mundial Judaico (Basiléia, Londres e Nova Iorque). Atualmente, o Sr. Naum Goldman, que visitou Buenos Aires em 21 de março de 1960, procedente dos Estados Unidos .
3°) Quando poderiam considerar ditos "gestores" que as vidas e interesses de sua coletividade estão em perigo, devendo auxiliá-los com suas forças?
- Duas são as circunstâncias porque dobradas são as vias que utilizam sempre para o logro de seus desígnios ("estamos na cúpula do Comunismo e na cúpula do Capitalismo", diz Theodor Herzl ).
I) Quando devam intervir em defesa da soberania de ANDÍNIA, ao declarar sua independência ( "negotiorum gestio" e Doutrina Monroe).
II) A outra "razão legítima" surgiria quando do estalido na Argentina de uma revolução comunista e o governo argentino se mostre impotente para salvaguardar as "vidas e interesses" dessa coletividade. A intervenção encontraria também justificativo nas sabotagens e matanças generalizadas, realizadas por elementos revolucionários "irresponsáveis".
Estas são as circunstâncias previstas como a "razão legítima", que dará lugar à intervenção de forças armadas internacionais em nosso território e que o atual governo argentino, solapadamente, vai preparando de forma acelerada. Por um lado submete o país à total hegemonia norte-americana e pelo outro facilita o englobamento comunista em todo o território argentino.
Os antecedentes documentais são numerosos e estão ao alcance de quem queira consultá-los. A fim de não prolongar excessivamente o presente escrito não se transcreveu importantes declarações e páginas significativas, mas com os elementos aportados ficam em evidência todos os detalhes do Plano.
O plano de ação para resistir às funestas intenções dos inimigos de nossa Pátria e ávidos cobiçadores de nosso Patrimônio, material e espiritual, é um iniludível dever de todo argentino.
As condições para a consumação deste sinistro plano estão dadas. O país se debate entre o aperto econômica de suas classes baixa e média e a folga das classes poderosas, detentoras da soma dos meios econômicos e, com as grandes empresas, monopolizadoras de todas as expressões da economia, em mãos do capital internacional judaico. A qualquer momento, inclusive disfarçado de movimento libertador, o judaísmo, que poderia contar até com a indignação e a dor do povo argentino pauperizado, pode concretizar seus planos, afundando o país no comunismo, como primeiro passo. As Forças Armadas, consumidas, anarquizadas e sujeitas ao vaivém da inescrupulosa política de confusão do atual governo, seriam impotentes para resistir à ação de elementos numerosos, perfeitamente equipados e com uma meta definida e um caminho traçado. Os meios para concretizar seus planos seriam: revolução interna, guerra com países vizinhos e, se isto não fosse suficiente, a guerra mundial.
O êxito do nosso plano defensivo depende da fé em Deus, do patriotismo, da abnegação e da determinação com que se lhe encare. Se fraquejamos, tudo se haverá perdido e seremos, os homens da atual geração, os únicos responsáveis ante Deus, ante nossos filhos, ante a História e ante a Pátria submetida.
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O PLANO ANDÍNIA
Theodor Herzl, jornalista judeu fundador do SIONISMO e organizador do Congresso da Basiléia, em agosto de 1897 (cujas atas secretas se conhecem como Os Protocolos dos Sábios de Sião), ruminava a criação de um Estado Judeu ou Cidade de Sião, para o qual era necessário apoderar-se de algum território alheio. Um era a Palestina, como lar bíblico-talmúdico, desértico e pobre, o outro era a Argentina, com um território vastíssimo, pouco povoado e imensamente rico e mal explorado, projetando-se sobre a Antártida e controlando a passagem entre dois oceanos, ademais distante dos centros conflituosos. Fixaram um prazo de 50 anos e justo em maio de 1948, com a ajuda do barão de Hirsch e toda a família Rotschild, em nome da Inglaterra o lorde Balfour dá aval à fundação de Israel, com toda sua horrenda seqüela de despojo e morte que até hoje segue desgarrando ao valente povo árabe.
Em 1882, o judeu russo Leon Pinsker publicou "Auto-Emancipação", estabelecendo o mesmo, mas dando a preferência à Argentina "pelas suas possibilidades práticas".
Chegam a sua melhor solução: estabelecer-se na Palestina enquanto iniciam a ocupação encoberta do país argentino, a fim de trasladar-se em data posterior. Todavia, para controlar o Estreito faz falta ademais arrebatar a soberania do Chile, tanto mais ao determinar-se que, em caso de guerra atômica, a nuvem radioativa não afetaria o Sul do Chile.
O PLANO ANDÍNIA é, em resumo, o traslado de Israel ao Cone Sul da América, com o conseguinte despojo de territórios, expulsão de habitantes e escravização de muitos deles.
Assim é, como em 23 de março de 1969, entre 21 e 23 horas, celebrou-se no Templo Israelita do Passo 423, Buenos Aires, uma reunião de rabinos e dirigentes sionistas presidida pelo grão-rabino Gordon, do Kahal de Nova Iorque (kahalI é o governo supranacional que instauram os judeus sionistas em cada país). Este rabino insistiu na fundamental importância do Plano "cujo fracasso NÃO se admitia", pois tanto Israel como a Diáspora (judiaria dispersa em todo o mundo), dependiam do êxito total "para sua glória ou penúria".
Logo detalha suas vantagens agrícolas, minerais e econômicas, declarando com grande desfaçatez: "Se agregamos a isto o espírito e o gênio judeu, terão compreendido as enormes vantagens que significarão para LOGRAR O CONTROLE DO MUNDO, regulando-o de acordo com nossa conveniência".
E segue a macabra análise: "Argentina é o país mais estrategicamente situado no mundo. Estimando que com os avanços modernos para a guerra se pudesse atacá-la, está circundada pela Cordilheira dos Andes, baixo cujo solo pode se construir cidades e mais cidades para todo o nosso povo, todas as nossas indústrias e mantermo-nos nelas por anos, por serem então inexpugnáveis até para a própria bomba atômica".
Resta mais que claro o interesse do Grande Kahal, dos SÁBIOS DE SIÃO, em apoderar-se de nosso Sul Chileno e de toda a Argentina. E este sórdido e ominoso plano está em marcha por todos os meios e vias, inexoravelmente, sem piedade alguma. Por incrível e descabelado que pareça, é uma amarga realidade.
PROVAS: Os PROTOCOLOS exigem governos democráticos em todas as nações para dominá-las mais facilmente. No Chile, utilizaram o marxismo para seus planos e baixo o judeu Allende GOSSENS, o caos foi quase total, mas um governo nacional apolítico, ou seja, não-democrático, nos resgatou dessa hecatombe e nos colocou à cabeça de todas as nações latino-americanas. Algo assim não poderiam tolerar, por isso moveram todos os seus fios para boicotar esse governo que escapava ao seu controle, chegando inclusive a arrastar-nos a uma guerra, ainda que sem declará-la; buscavam só o desgaste que tal situação produzia e a distração de recursos e esforços a que obrigava, entorpecendo o avanço do país. E da solução deste conflito artificial se encarregou o cardeal judeu Samoré. Pior ainda, nomeiam-se delegações por ambas as partes a cujas cabeças não vão Chilenos, nem Argentinos, somente JUDEUS!
Em ambos os lados da Cordilheira, a subversão armada e o terrorismo têm sido dirigidos e protegidos por judeus, descobrindo-se inegáveis conexões com a alta banca mundial, judaica por suposto. O Sul do Chile é recorrido incessantemente por bandos de comandos israelitas disfarçados de mochileiros, o que afortunadamente restou a descoberto ao caírem vários deles em crateras, enquanto levantavam cartas geográficas de seu futuro país, ANDÍNIA. Também a imprensa nos tem informado sobre projetos para trazer imigrantes e colonos "russos" a ambos os países. Não esqueçamos como o maçom Alfonsin rasgava as vestes defendendo a trazida massiva de israelitas, ao mesmo tempo em que favorecia canalhescamente a intromissão soviética em território argentino, supostamente soberano.
O despojo descarado de nossa LAGUNA DO DESERTO e a mordida argentina a nossos CAMPOS DE GELO próxima a se aprovar, se marcam sem lugar a dúvidas neste maldito PLANO ANDINIA.
Se você tem consciência de PÁTRIA, deve se informar a fundo e adotar uma atitude valente e firme ante o grave perigo que denunciamos, o maior que ameaça o nosso CHILE e nossa vida em liberdade.
Consiga e leia "O PLANO ANDÍNIA". Amanhã poderá chorar a escravidão de seus filhos e netos.
VIVA CHILE LIVRE !!!
Tradução de panfleto divulgado pela organização MNCh, do Chile
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Historia y Destino de los Judios, Dr. Josef Kastein, Ed. Claridad, Buenos Aires, 1945
o.c., pág. 399
o.c., págs. 11, 12 e 13
Historia del Sionismo, Wolf Nijelsohn, M. Gleizer ed., Buenos Aires, 1945, pág. 231
Páginas Escogidas, Sigfredo Krebs /Isaac Arcavi, Ed. Israel, Sarmiento 2198, Bs. As., 1949, p. 50/1
idem, págs. 49, 68, 70, etc.
El Estado Judío, Theodor Herzl, pág. 112
idem, pág. 21
idem, pág. 102
Historia del Sionismo, Wolf Nijelsohn, M. Gleizer ed., Buenos Aires, 1945, pág. 237
El Estado Judío, Theodor Herzl, pág. 105
idem, pág. 108
N.E.: Sobre o capitalismo, leia-se Wall Street, Nova Iorque, etc. Quanto ao comunismo, com a quebra da antiga URSS, entende-se que esteja bem mais difuso atualmente, sem um pólo centralizador.
Serás siempre David, Dr. Arieh León Kubovy, Editorial Losada, Bs. As., 1953/58, pág. 75
Así se Forjó el Estado de Israel, pág. 251
Serás siempre David, Dr. Arieh Kubovy, Editorial Losada, Buenos Aires, 1958, págs. 75/76
o.c., págs. 77/78
o.c., págs. 123/129
N.E.: O "sanhedrin" é uma espécie de corte ou câmara judaica formada por seus sábios e religiosos, que julga e orienta a atuação dos judeus da comunidade e serve de intermediária junto ao governo do país. Como seu "poder de sugestão" é bastante forte, quase infalível, os anti-sionistas costumam designá-lo "governo secreto" ou ZOG ("Zionist Occupational Government", ou seja, Governo Sionista de Ocupação). Um exemplo dos mais clássicos é a atuação do "sanhedrin" junto ao interventor romano, na condenação de Jesus.
N.E.: Pareceria muita coincidência se lembrarmos que o Brasil já passou por todas estas fases recentemente? Nossas divisas se esgotaram na mão de corruptos, dívidas junto ao FMI e planos de governo, como os do ex-ministro da Economia, Sr. Simonsen (judeu, por sinal), que geraram uma inflação exorbitante no país. Após a queda do militarismo, passamos pelo ágio e especulação em todos os governos democráticos, especialmente após o governo Sarney (maçom). Tivemos jogadas absurdas na economia, como o confisco promovido pelo ex-presidente Collor (judeu), que surpreendentemente teve seu mandado cassado. Hoje temos um presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre cujas origens pesam muitas suspeitas, mas sobre quem se sabe ser maçom e possuir inúmeros familiares e assessores de origem judaica, o que não é de se estranhar, lembrando-se que foi um esquerdista auto-exilado na França, onde se educou na Sourbonne, um ninho de judiaria. Embora nas "águas mornas" da social-democracia tenhamos encontrado relativa estabilidade político-econômica, assistimos a um processo de globalização e concessão demasiada aos socialistas, que certamente será o processo para entregar o país à Revolução Social. Ou alguém ainda acredita no caráter filantrópico do Movimento Sem Terra, apoiado e patrocinado pelo governo, mas que não passa de um movimento guerrilheiro socialo-comunista? Já temos o nosso "Sendero Luminoso" tupiniquim, e sua revolução está por vir...
Abraham León y el Pueblo Judío Latinoamericano, Carlos E. Etkin, Ed. Indoamericana, 25 de Mayo 35, Buenos Aires, 1954, pág. 84
Paginas Escogidas, S. Krebs/I.Arcavi, Ed. Israel, Sarmiento 2198, Buenos Aires, 1949, pág. 10
Goldsmidt, T.VII, pág. 815, de "Baba Mesia" 114 b-18. (N.E.: o Baba Mesia é apenas um dos livros componentes do Talmud que atacam e ofendem os gentios, e todos os demais o fazem igualmente. A classificação genérica para gentio é goy, que significa exatamente besta, ou algo inumano.)
o.c., pág. 110
o.c., pág. 111
o.c., pág. 112
o.c., pág. 115
o.c., pág. 116
N.E.: Em menos de cinqüenta anos, várias pessoas já haviam percebido o perigo do Estado Judaico. A denúncia e o combate ao sionismo por nações conscientizadas, como a Alemanha e a Itália, p.ex., foi o detonador da Segunda Guerra Mundial. Os sionistas não aceitariam menos que destruição de qualquer força que pudesse se opor aos seus projetos. Teria conseguido realmente eliminar seus inimigos?...
o.c., pág. 49
Historia y Destino de los Judios, Dr. Josef Kastein, Ed. Claridad, Buenos Aires, 1945, pág. 399
N.E.: A raça judaica se subdivide em algumas etnias, facilitando a classificação conforme sua procedência territorial. Os sefardim ou sefarditas são os judeus provenientes dos países da Península Ibérica (Portugal, Espanha), ou seja, os judeus latinizados. Existem, ainda, os asquenazim, da região germânica, entre outras subdivisões.
1.000 Preguntas y Respuestas del Judaísmo, Ana C. Schlesinger, 1954, pág. 14
N.E.: São dados de 1954, não podemos nos esquecer. Hoje, as cifras seriam muito maiores, mas a apuração não é uma informação livre, por certo.
LíAntisémitisme, Bernard Lazare, Ed. Crés, Paris, 1934, págs. 186/7.
Ladrones en la noche a la luz del dia, S. Aharonovich, pág. 31
N.E.: Por suposto, esqueceu-se de elencar como uma das táticas a do terror, não só contra os hospedeiros, mas contra seu próprio povo. Relembremos que, em 1992, uma explosão destruiu a Embaixada de Israel em Buenos Aires, provocando a comoção nacional e internacional, acusando-se a árabes e nazistas como autores de um "atentado" anti-judaico. Em agosto de 1996, porém, a Suprema Corte Argentina, mediante prova pericial em processo instaurado, declarou que o prédio sofreu não uma explosão externa, mas sim uma explosão interna, envolvendo um estoque de munição e armamentos existentes em suas dependências! (Incógnita a sua finalidade... ) Em 1994, foi a vez da explosão do prédio que sediava as centrais da AMIA (Associação Mutual Israelense-Argentina) e da DAIA (Delegação de Associações Israelenses-Argentinas). Novamente, acusações de terrorismo para todos os lados, sem prova alguma. Há quem afirme com veemência tratar-se de mais um caso de "auto-atentado", mas tudo dependerá das provas periciais. Em outros países, como no Chile, ocorreram casos semelhantes e até mesmo no Brasil, em proporções ainda muito pequenas. Quais seriam os fundamentos de um auto-atentado? 1) Vitimizar o povo judaico, mostrando-o como sofrido, perseguido, minando os argumentos dos que denunciam suas ações conspiracionistas; 2) Chamar a atenção dos organismos estrangeiros para a situação judaica na Argentina (ou em qualquer outro Estado), provocando a interferência internacional em assuntos concernentes à soberania do país; 3) Criar uma histeria coletiva dentro da própria comunidade judaica, evitando a sua dispersão ou, como se diz, "o medo fortalece".
N.E.: E assim ainda o é. Como exemplo claro podemos citar as intervenções da ONU na questão Palestina ou os ataques à soberania do Iraque, duas nações claramente adversárias não só de Israel, como Estado, mas do próprio Judaísmo, enquanto religião ou etnia. Ainda que não sejam decisões publica ou diretamente tomadas por judeus, e sim por seus testas-de-ferro, misteriosamente sempre favorecem os interesses israelitas e americanos...
o.c., pág. 144
N.E.: Não se esquecer de que esta obra conta já com mais de 20 anos e que não dispomos, até o momento, de estatísticas atualizadas.
Organização dos Estados Americanos
N.E.: À semelhança do que é descrito, evocamos as diferenças políticas promovidas entre os Estados do sul e os do norte/nordeste brasileiros. Incalculáveis divisas são produzidas pelo sul, região com mínima representatividade política, as quais são remetidas ao Governo Central, que supostamente as aplica em projetos de desenvolvimento da região norte/nordeste do país, cujos resultados nunca são efetivamente observados. A revolta dos contribuintes é, vez por outra, explorada com denúncias de movimentos secessionistas. A separação dos Estados brasileiros seria um dos tópicos do "Plano Andínia"? Ou seria mera coincidência estes movimentos separatistas ocorrerem quase que exclusivamente da região sul, tão avizinhada da Argentina, Uruguai, Chile, etc.? Poder-se-ia questionar, ainda, porque esta região atingiu tamanho desenvolvimento industrial, em grande parte pela instalação de multinacionais e monopólios, enquanto a mão-de-obra mais barata se encontra, realmente, na região norte/nordeste (e que o diga a massiva migração!).
N.E.: O autor se refere ao seqüestro do alemão, Tenente-Coronel da GESTAPO, Karl Adolf Eichmann, efetuado em 1960, por forças secretas israelenses, dentro do território argentino. Ainda que acusado de crimes cometidos na Alemanha e Polônia, Eichmann só poderia ser extraditado a pedido destes países, com permissão do governo da Argentina. Ressalte-se que à época dos crimes que lhe são atribuídos (deportação e suposto genocídio de judeus europeus - e não cabe aqui julgarmos o mérito das acusações), o Estado de Israel sequer existia. A ação israelense foi, portanto, não só uma afronta à soberania argentina, mas também às normas e tratados internacionais que regem a defesa da soberania das nações. Pior do que isso, foi um atentado impune. Em Israel, Eichmann foi posteriormente "julgado" e condenado à morte, em 1961.
N.E.: Negotiorum Gestio ou gestão de negócios, figura do Direito que trata da administração espontânea, e à revelia, de negócios alheios, que alguém empreende em interesse do dono.
N.E.: O termo correto seria Dominus Negotii, ou seja, o senhor do negócio jurídico, aquele que, por preponderância eventual, impõe as condições, geralmente o proprietário.
Estados Unidos Frente al Mundo, Nicholas John Spyckman, ed. n/c, data n/c, pág. 74 .
Teoria y Táctica del Aprismo, Haya de la Torre, ed. n/c, data n/c, pág. 11.
N.E: Hoje o Congresso Mundial Judaico é presidido por Edgard Bronfmann, pessoa de grandes relações no mundo dos negócios e proprietário de grandes produtoras multinacionais de bebidas alcoólicas.
El Estado Judío, Theodor Herzl, pág. 105
http://members.libreopinion.com/us/revision5/andinia.htm
domingo, 29 de junho de 2008
sábado, 28 de junho de 2008
14% da Amazônia é “terra de ninguém”, diz estudo oficial
(27/06/2008 11:34)
Um levantamento recém-concluído pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) revela que o órgão desconhece uma área da Amazônia Legal que, somada, equivale a duas vezes o território da Alemanha ou às áreas dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná juntas.
O Incra não sabe se esses 710,2 mil quilômetros quadrados estão nas mãos de posseiros ou de grileiros. Nem o que está sendo produzido, plantado ou devastado nessas terras públicas da União. O volume desconhecido, que representa 14% da Amazônia Legal e 65% da parte sob responsabilidade exclusiva do Incra na região, está espalhado pelos Estados do Norte e Mato Grosso. Também na Amazônia Legal, o Maranhão não possui terras nessa situação, segundo o levantamento do órgão obtido pela Folha.
A maior quantidade de terrenos desconhecidos do ponto de vista de situação fundiária está no Pará, com 288,6 mil quilômetros quadrados, área equivalente ao Rio Grande do Sul e que representa 23% da área total do Estado. No Pará, chama a atenção o fato de as “manchas” desconhecidas estarem sobrepostas às rodovias BR-163 (Cuiabá-Santarém) e Transamazônica e ao leste do Estado, onde há o forte avanço da pecuária e da mineração.
No ranking, o Pará é seguido por Amazonas (141,8 mil quilômetros quadrados) e Rondônia (89,3 mil quilômetros quadrados). Em relação ao tamanho do Estado, o maior percentual de terrenos desconhecidos está em Rondônia (37%), Roraima (29%) e Amapá (25%).
Para mudar esse quadro e fugir da visão parcial de satélites, o Incra terá de fazer a regularização fundiária, ou seja, promover o georreferenciamento das glebas públicas federais, que é um mapa preciso com as coordenadas da propriedade, fazer a varredura in loco de cada uma delas, regularizar os documentos, afastar os grileiros e dar uma destinação a essas áreas, como transformá-las em reserva ambiental e assentamento ou simplesmente incluí-las no eixo de desenvolvimento da economia local.
Dos 710,2 mil quilômetros quadrados de áreas desconhecidas, o governo pretende concluir o trabalho em pelo menos 200 mil quilômetros quadrados delas até o final deste ano.
“O nosso objetivo é estabelecer um plano para os próximos cinco, seis anos. O momento exige que a gente faça mais e mais rápido”, disse o presidente do Incra, Rolf Hackbart.
“Mas [esse prazo] não [pode ser cumprido] com o Incra como está hoje. É preciso mais servidores e mais equipamentos, além de parcerias com os militares e com os institutos de terra dos Estados. Não queremos mais grilagem, e sim terra legal na Amazônia Legal.”
O documento do Incra será entregue na semana que vem pelo ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) ao colega Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), em reunião do PAS (Programa Amazônia Sustentável).
A idéia de Cassel, do qual o Incra é subordinado, é apontar a divisão de responsabilidades na Amazônia Legal. Segundo o documento, cabe ao Incra uma extensão não-contínua de 1,1 milhão de quilômetros quadrados da Amazônia Legal , sendo cerca de 35% disso áreas de assentamentos. O restante dos 5 milhões de quilômetros quadrados (59% do território nacional) cabe ao governo do Amazonas, à Funai (Fundação Nacional do Índio), ao Ministério do Meio Ambiente e às Forças Armadas, entre outros.
http://www.primeiraedicao.com.br/?pag=meio_ambiente&cod=680
Comentário: E Lula diz que a soberania da Amazônia não corre risco. Mas como não corre risco se não temos pleno controle dela.
Um levantamento recém-concluído pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) revela que o órgão desconhece uma área da Amazônia Legal que, somada, equivale a duas vezes o território da Alemanha ou às áreas dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná juntas.
O Incra não sabe se esses 710,2 mil quilômetros quadrados estão nas mãos de posseiros ou de grileiros. Nem o que está sendo produzido, plantado ou devastado nessas terras públicas da União. O volume desconhecido, que representa 14% da Amazônia Legal e 65% da parte sob responsabilidade exclusiva do Incra na região, está espalhado pelos Estados do Norte e Mato Grosso. Também na Amazônia Legal, o Maranhão não possui terras nessa situação, segundo o levantamento do órgão obtido pela Folha.
A maior quantidade de terrenos desconhecidos do ponto de vista de situação fundiária está no Pará, com 288,6 mil quilômetros quadrados, área equivalente ao Rio Grande do Sul e que representa 23% da área total do Estado. No Pará, chama a atenção o fato de as “manchas” desconhecidas estarem sobrepostas às rodovias BR-163 (Cuiabá-Santarém) e Transamazônica e ao leste do Estado, onde há o forte avanço da pecuária e da mineração.
No ranking, o Pará é seguido por Amazonas (141,8 mil quilômetros quadrados) e Rondônia (89,3 mil quilômetros quadrados). Em relação ao tamanho do Estado, o maior percentual de terrenos desconhecidos está em Rondônia (37%), Roraima (29%) e Amapá (25%).
Para mudar esse quadro e fugir da visão parcial de satélites, o Incra terá de fazer a regularização fundiária, ou seja, promover o georreferenciamento das glebas públicas federais, que é um mapa preciso com as coordenadas da propriedade, fazer a varredura in loco de cada uma delas, regularizar os documentos, afastar os grileiros e dar uma destinação a essas áreas, como transformá-las em reserva ambiental e assentamento ou simplesmente incluí-las no eixo de desenvolvimento da economia local.
Dos 710,2 mil quilômetros quadrados de áreas desconhecidas, o governo pretende concluir o trabalho em pelo menos 200 mil quilômetros quadrados delas até o final deste ano.
“O nosso objetivo é estabelecer um plano para os próximos cinco, seis anos. O momento exige que a gente faça mais e mais rápido”, disse o presidente do Incra, Rolf Hackbart.
“Mas [esse prazo] não [pode ser cumprido] com o Incra como está hoje. É preciso mais servidores e mais equipamentos, além de parcerias com os militares e com os institutos de terra dos Estados. Não queremos mais grilagem, e sim terra legal na Amazônia Legal.”
O documento do Incra será entregue na semana que vem pelo ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) ao colega Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), em reunião do PAS (Programa Amazônia Sustentável).
A idéia de Cassel, do qual o Incra é subordinado, é apontar a divisão de responsabilidades na Amazônia Legal. Segundo o documento, cabe ao Incra uma extensão não-contínua de 1,1 milhão de quilômetros quadrados da Amazônia Legal , sendo cerca de 35% disso áreas de assentamentos. O restante dos 5 milhões de quilômetros quadrados (59% do território nacional) cabe ao governo do Amazonas, à Funai (Fundação Nacional do Índio), ao Ministério do Meio Ambiente e às Forças Armadas, entre outros.
http://www.primeiraedicao.com.br/?pag=meio_ambiente&cod=680
Comentário: E Lula diz que a soberania da Amazônia não corre risco. Mas como não corre risco se não temos pleno controle dela.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Judeus porcos não respeitam o cristianismo
Judeus atacam procissão de gregos ortodoxos em Jerusalém
12/10/2004 - 13h40
Jerusalém, 12 out (EFE).- Um grupo de judeus atacou hoje, terça-feira, uma procissão de gregos ortodoxos na cidade velha de Jerusalém e tomou a cruz do assistente do religioso que liderava a procissão, o pope Nourham.
O procissão ia ao Santo Sepulcro para rezar "quando colonos judeus atacaram os gregos ortodoxos, arrancaram do peito a cruz do assistente do pope Nourham e atacaram as pessoas que os acompanhavam", relatou o advogado Ibrahim Kandalaft.
Os episódios de ataques de judeus contra religiosos cristãos na cidade velha de Jerusalém têm acontecido ultimamente.
O arcebispo armênio na Terra Santa, Nourhan Manougian, foi interrogado ontem pela polícia israelense após bater no domingo em um estudante judeu que cuspiu na Santa Cruz que foi levada em procissão pelas ruas da cidade velha de Jerusalém.
O procissão da Exaltação da Santa Cruz ia pela Cidade Velha, liderada por Nourhan Manougian, que levava o objeto sagrado, quando um estudante de uma escola de rabinos se colocou na frente e cuspiu na cruz.
Após ser agredido a socos, a procissão acabou em tumulto e um medalhão cerimonial utilizado pelos arcebispos armênios e que data do século XVII acabou destruído.
O fato causou profunda consternação na cada vez mais menor comunidade armênia da cidade velha de Jerusalém, que ocupa um dos quatro bairros em que está dividida: cristão, muçulmano, judeu e armênio.
Todas as comunidades cristãs de Jerusalém sabem que na passagem da cruz, os judeus ortodoxos escondem o rosto ou simplesmente cospem.
No entanto, os armênios, cuja instituição é a igreja cristã mais antiga do mundo, são os que mais sofrem humilhações por seu bairro estar ao lado do judaico.
O arcebispo armênio, interrogado pela polícia israelense, disse que não se importa "que as pessoas ao redor cuspam na rua quando saímos em procissão, mas alguém ficar no meio dela e cuspa na cruz na frente de todos os curas da comunidade é humilhante e não estamos dispostos a aceitar isso".
Ee acrescentou que "o governo israelense denuncia qualquer coisa feita contra qualquer judeu em qualquer ponto do mundo, mas não está interessado quando os cristãos são humilhados diariamente".
A polícia israelense estuda entrar com ações judiciais contra o arcebispo e acusá-lo por agressão, informava ontem o jornal "Ha'aretz".
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2004/10/12/ult1766u5955.jhtm
Comentário: E depois eles reclamam do anti-semitismo.
12/10/2004 - 13h40
Jerusalém, 12 out (EFE).- Um grupo de judeus atacou hoje, terça-feira, uma procissão de gregos ortodoxos na cidade velha de Jerusalém e tomou a cruz do assistente do religioso que liderava a procissão, o pope Nourham.
O procissão ia ao Santo Sepulcro para rezar "quando colonos judeus atacaram os gregos ortodoxos, arrancaram do peito a cruz do assistente do pope Nourham e atacaram as pessoas que os acompanhavam", relatou o advogado Ibrahim Kandalaft.
Os episódios de ataques de judeus contra religiosos cristãos na cidade velha de Jerusalém têm acontecido ultimamente.
O arcebispo armênio na Terra Santa, Nourhan Manougian, foi interrogado ontem pela polícia israelense após bater no domingo em um estudante judeu que cuspiu na Santa Cruz que foi levada em procissão pelas ruas da cidade velha de Jerusalém.
O procissão da Exaltação da Santa Cruz ia pela Cidade Velha, liderada por Nourhan Manougian, que levava o objeto sagrado, quando um estudante de uma escola de rabinos se colocou na frente e cuspiu na cruz.
Após ser agredido a socos, a procissão acabou em tumulto e um medalhão cerimonial utilizado pelos arcebispos armênios e que data do século XVII acabou destruído.
O fato causou profunda consternação na cada vez mais menor comunidade armênia da cidade velha de Jerusalém, que ocupa um dos quatro bairros em que está dividida: cristão, muçulmano, judeu e armênio.
Todas as comunidades cristãs de Jerusalém sabem que na passagem da cruz, os judeus ortodoxos escondem o rosto ou simplesmente cospem.
No entanto, os armênios, cuja instituição é a igreja cristã mais antiga do mundo, são os que mais sofrem humilhações por seu bairro estar ao lado do judaico.
O arcebispo armênio, interrogado pela polícia israelense, disse que não se importa "que as pessoas ao redor cuspam na rua quando saímos em procissão, mas alguém ficar no meio dela e cuspa na cruz na frente de todos os curas da comunidade é humilhante e não estamos dispostos a aceitar isso".
Ee acrescentou que "o governo israelense denuncia qualquer coisa feita contra qualquer judeu em qualquer ponto do mundo, mas não está interessado quando os cristãos são humilhados diariamente".
A polícia israelense estuda entrar com ações judiciais contra o arcebispo e acusá-lo por agressão, informava ontem o jornal "Ha'aretz".
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2004/10/12/ult1766u5955.jhtm
Comentário: E depois eles reclamam do anti-semitismo.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
"Operação Ajax" : como a América mudou o mapa do Médio Oriente em 1953
06.02.2003
Para entender a "Operação Ajax", a mais bem sucedida tentativa da CIA para derrubar um governo estrangeiro, é preciso remontar a 1941. Mais precisamente a 16 de Setembro, quando Reza Xá, fundador da dinastia Pahlavi no Irão e simpatizante de Hitler, foi forçado pelas potências que combatiam a Alemanha nazi a entregar o Trono do Pavão ao seu filho, Mohammed Reza.
Sem poder militar efectivo e com o país no caos, o jovem soberano (22 anos) tentou atenuar a pesada herança de um autocrático antecessor com medidas populares. Devolveu ao Estado uma parte da fortuna familiar, libertou presos e reduziu impostos. Também fez concessões aos teólogos xiitas, revogando uma das proibições impostas pelo pai, a de as mulheres usarem o "chador", túnica que as cobre da cabeça aos pés.
A primeira década de reinado de Mohammed Reza foi de sobrevivência. A maior ameaça vinha do Tudeh, o partido comunista, pró-soviético, que defendia uma solução marxista para a desigual sociedade iraniana. Os seus 400.000 militantes eram intelectuais da classe média e operários de cidades industrializadas.
Foi o Tudeh que, em 4 de Fevereiro de 1949, declarou guerra à dinastia Pahlavi, com quatro tiros disparados contra Mohammed Reza quando ele descia do seu Rolls-Royce para uma cerimónia na Universidade de Teerão. O imperador escapou à morte por um triz.
O Tudeh foi ilegalizado.
No ano seguinte, uma outra "guerra" começou: com a Anglo-Iranian Oil Company. A AIOC era um conglomerado dominado pela Grã-Bretanha desde que o petróleo começou a ser explorado em 1908. O contrato que o Xá assinou com a companhia era uma afronta aos súbditos - a AIOC pagava ao Irão direitos no valor de 45 milhões de dólares, mas Londres recebia 142 milhões de dólares de impostos sobre lucros.
1. A nacionalização do petróleo
Em 25 de Novembro de 1950, uma comissão criada pelo Majlis (Parlamento) e presidida pelo carismático deputado Mohammed Mossadegh, um aristocrata da anterior dinastia qajar, rejeitou o acordo entre o Xá e a AIOC.
A 15 de Março de 1951, o advogado Mossadegh, líder da Frente Nacional, convence o Majlis a nacionalizar, por esmagadora maioria, a AIOC. O Irão torna-se o primeiro país do Terceiro Mundo a desafiar os interesses económicos de uma grande potência. Em 29 de Abril, inquieto com uma opinião pública que rejubilou com a "restauração da soberania", o Xá oferece ao dissidente que o seu pai mandara prender o cargo de primeiro-ministro.
Os patrões da AIOC foram rápidos a reagir à perda da maior e mais rica companhia inglesa fora do Reino Unido. Os jornais londrinos chamaram a Mossadegh "ladrão oriental", "fanático" e "louco extremista". Executivos da indústria petrolífera desdenharam da capacidade de os iranianos operarem os poços e refinarias do país. Pára-quedistas britânicos posicionaram-se em Chipre e navios de guerra foram enviados para o Golfo Pérsico.
Ainda a recuperar dos efeitos devastadores da II Guerra Mundial, os britânicos pediram ajuda aos EUA para derrubar Mossadegh. Na altura, a Administração democrata de Harry Truman tentou estabelecer um compromisso entre Teerão e Londres, mas o primeiro-ministro iraniano não cedeu. Foi então que o Reino Unido anunciou um embargo ao petróleo iraniano nos mercados internacionais.
2. O medo da "ameaça comunista"
O embargo, que gerou centenas de milhares de desempregados, foi devastador para a economia da antiga Pérsia. Mossadegh, o herói popular, começou a ser contestado e ameaçou virar-se para a URSS. Foi um erro fatal. O Ocidente, dependente do petróleo do Médio Oriente, ficou apavorado com a ideia de o Irão juntar forças com os vizinhos soviéticos.
Em 1952, com os comunistas do Tudeh a controlar as ruas do Irão e o republicano Dwight Eisenhower na presidência dos EUA, a CIA começa a planear a saída de cena de Mossadegh. Washington, que encarava a situação sob a única perspectiva da Guerra Fria, temia que o Irão se pudesse transformar numa "segunda Coreia".
No final de Abril de 1953, com a aprovação do seu director, Allen Dulles, e do embaixador dos EUA em Teerão, Loy Anderson, a CIA recruta Donald Wilber, um "perito em arquitectura persa", para preparar a "Operação Ajax", o golpe que haveria de restaurar a autoridade absoluta de Mohammed Reza.
Em 13 de Agosto, seguindo contrariado instruções dos conspiradores americanos, o Xá mandou o coronel Nematollah Nassiri informar o seu primeiro-ministro que este tinha sido demitido. O mensageiro foi preso. O monarca refugiou-se em Kalardasht, nas montanhas sobranceiras ao mar Cáspio. O exército permaneceu nos quartéis.
Em 16 de Agosto, uma rádio local noticiou o fracasso de uma tentativa de oficiais para depor Mossadegh. Um temeroso Xá foge do país, pilotando o seu bimotor até Bagdad. Dois dias depois segue para Roma, onde a embaixada iraniana lhe nega alojamento. Instala-se numa suite do Hotel Excelsior, emprestada por um industrial amigo. Com muito pouco dinheiro, torna-se uma espécie de exilado político, repetindo todavia que não abdicara do trono.
3. A conspiração do neto de Roosevelt
Em Teerão, estava em marcha, desde Junho, a "Operação Ajax", liderada por Kermit Roosevelt, um operacional da CIA no Médio Oriente. Com muitos milhões de dólares para gastar, a principal agência de espionagem americana serviu-se dos contactos facilitados pelo MI-6 (serviços secretos britânicos) e subornou militares, comerciantes do bazar, políticos e outros para que participassem no golpe. Infiltrou-se em meios religiosos e patrocinou atentados. O objectivo era colocar na chefia do Executivo Fazlollah Zahedi, um general que os britânicos e os russos detiveram no passado por colaboração com os nazis, mas que Londres e Washington entretanto reabilitaram.
Em 18 de Agosto, reagindo à contra-informação de que o Tudeh poderia formar o futuro governo, o exército saiu à rua para esmagar os manifestantes. Com os comunistas fora de cena, Kermit, neto de Theodor Roosevelt, organizou uma marcha em direcção ao gabinete do primeiro-ministro. Pelo menos 300 mortos foi o balanço de nove horas de confrontos com partidários de Mossadegh. Este é preso.
Em Roma, o homem em cujo nome o golpe foi feito almoçava com a segunda mulher, Soraya, num restaurante do Hotel Excelsior. Desconheciam tudo o que se passava até que um jornalista da Associated Press lhes entregou um telex: "Mossadegh derrubado. Tropas imperiais controlam Teerão". O monarca exclamou: "Eu sabia que eles me amavam!" Mais tarde agradeceria a Kermit Roosevelt: "A Deus e a si devo o meu trono."
4. A vingança do imperador
De regresso à capital iraniana, o Xá ordenou o julgamento público de Mossadegh num tribunal militar. O réu não se deixou intimidar e denunciou, perante os aplausos da assistência, o golpe da CIA. Foi condenado a três anos de cadeia, por traição. Cumprida a pena, isolou-se numa quinta, em Ahmad-Abad. Morreu de cancro, em 1967, aos 85 anos. O soberano negou-lhe um funeral de Estado. O seu túmulo está num dos quartos da sua residência.
Com o afastamento do homem que considerava os EUA "a única grande potência capaz de mudar o mundo a favor das nações que sofreram com o imperialismo europeu", só a religião foi capaz de novamente mobilizar as massas no Irão.
Em 1979, neutralizados os democratas laicos, foi fácil ao "ayatollah" Ruhollah Khomeini destronar o Xá e lançar a sua sangrenta e anti-americana Revolução Islâmica. O ressentimento era imenso, gerado pela "Operação Ajax", mas também pelos biliões de petrodólares que Reza Pahlavi subsequentemente esbanjou em armas importadas dos EUA, e pelas mortes e torturas infligidas pela Savak - cruel polícia secreta treinada pela CIA e pela Mossad israelita.
5. O protegido Saddam
Dez anos depois da "TP Ajax" (verdadeiro nome de código da operação), um protegido da CIA, Saddam Hussein, foi também encorajado a derrubar, em 1963, um regime que nacionalizara interesses petrolíferos estrangeiros no Iraque.
Em 1968, um segundo golpe, igualmente inspirado pela CIA, colocou Saddam como adjunto de um líder militar. Em 1979, Saddam tornou-se ditador de Bagdad.
http://dossiers.publico.pt/noticia.aspx?idCanal=1041&id=278384
Para entender a "Operação Ajax", a mais bem sucedida tentativa da CIA para derrubar um governo estrangeiro, é preciso remontar a 1941. Mais precisamente a 16 de Setembro, quando Reza Xá, fundador da dinastia Pahlavi no Irão e simpatizante de Hitler, foi forçado pelas potências que combatiam a Alemanha nazi a entregar o Trono do Pavão ao seu filho, Mohammed Reza.
Sem poder militar efectivo e com o país no caos, o jovem soberano (22 anos) tentou atenuar a pesada herança de um autocrático antecessor com medidas populares. Devolveu ao Estado uma parte da fortuna familiar, libertou presos e reduziu impostos. Também fez concessões aos teólogos xiitas, revogando uma das proibições impostas pelo pai, a de as mulheres usarem o "chador", túnica que as cobre da cabeça aos pés.
A primeira década de reinado de Mohammed Reza foi de sobrevivência. A maior ameaça vinha do Tudeh, o partido comunista, pró-soviético, que defendia uma solução marxista para a desigual sociedade iraniana. Os seus 400.000 militantes eram intelectuais da classe média e operários de cidades industrializadas.
Foi o Tudeh que, em 4 de Fevereiro de 1949, declarou guerra à dinastia Pahlavi, com quatro tiros disparados contra Mohammed Reza quando ele descia do seu Rolls-Royce para uma cerimónia na Universidade de Teerão. O imperador escapou à morte por um triz.
O Tudeh foi ilegalizado.
No ano seguinte, uma outra "guerra" começou: com a Anglo-Iranian Oil Company. A AIOC era um conglomerado dominado pela Grã-Bretanha desde que o petróleo começou a ser explorado em 1908. O contrato que o Xá assinou com a companhia era uma afronta aos súbditos - a AIOC pagava ao Irão direitos no valor de 45 milhões de dólares, mas Londres recebia 142 milhões de dólares de impostos sobre lucros.
1. A nacionalização do petróleo
Em 25 de Novembro de 1950, uma comissão criada pelo Majlis (Parlamento) e presidida pelo carismático deputado Mohammed Mossadegh, um aristocrata da anterior dinastia qajar, rejeitou o acordo entre o Xá e a AIOC.
A 15 de Março de 1951, o advogado Mossadegh, líder da Frente Nacional, convence o Majlis a nacionalizar, por esmagadora maioria, a AIOC. O Irão torna-se o primeiro país do Terceiro Mundo a desafiar os interesses económicos de uma grande potência. Em 29 de Abril, inquieto com uma opinião pública que rejubilou com a "restauração da soberania", o Xá oferece ao dissidente que o seu pai mandara prender o cargo de primeiro-ministro.
Os patrões da AIOC foram rápidos a reagir à perda da maior e mais rica companhia inglesa fora do Reino Unido. Os jornais londrinos chamaram a Mossadegh "ladrão oriental", "fanático" e "louco extremista". Executivos da indústria petrolífera desdenharam da capacidade de os iranianos operarem os poços e refinarias do país. Pára-quedistas britânicos posicionaram-se em Chipre e navios de guerra foram enviados para o Golfo Pérsico.
Ainda a recuperar dos efeitos devastadores da II Guerra Mundial, os britânicos pediram ajuda aos EUA para derrubar Mossadegh. Na altura, a Administração democrata de Harry Truman tentou estabelecer um compromisso entre Teerão e Londres, mas o primeiro-ministro iraniano não cedeu. Foi então que o Reino Unido anunciou um embargo ao petróleo iraniano nos mercados internacionais.
2. O medo da "ameaça comunista"
O embargo, que gerou centenas de milhares de desempregados, foi devastador para a economia da antiga Pérsia. Mossadegh, o herói popular, começou a ser contestado e ameaçou virar-se para a URSS. Foi um erro fatal. O Ocidente, dependente do petróleo do Médio Oriente, ficou apavorado com a ideia de o Irão juntar forças com os vizinhos soviéticos.
Em 1952, com os comunistas do Tudeh a controlar as ruas do Irão e o republicano Dwight Eisenhower na presidência dos EUA, a CIA começa a planear a saída de cena de Mossadegh. Washington, que encarava a situação sob a única perspectiva da Guerra Fria, temia que o Irão se pudesse transformar numa "segunda Coreia".
No final de Abril de 1953, com a aprovação do seu director, Allen Dulles, e do embaixador dos EUA em Teerão, Loy Anderson, a CIA recruta Donald Wilber, um "perito em arquitectura persa", para preparar a "Operação Ajax", o golpe que haveria de restaurar a autoridade absoluta de Mohammed Reza.
Em 13 de Agosto, seguindo contrariado instruções dos conspiradores americanos, o Xá mandou o coronel Nematollah Nassiri informar o seu primeiro-ministro que este tinha sido demitido. O mensageiro foi preso. O monarca refugiou-se em Kalardasht, nas montanhas sobranceiras ao mar Cáspio. O exército permaneceu nos quartéis.
Em 16 de Agosto, uma rádio local noticiou o fracasso de uma tentativa de oficiais para depor Mossadegh. Um temeroso Xá foge do país, pilotando o seu bimotor até Bagdad. Dois dias depois segue para Roma, onde a embaixada iraniana lhe nega alojamento. Instala-se numa suite do Hotel Excelsior, emprestada por um industrial amigo. Com muito pouco dinheiro, torna-se uma espécie de exilado político, repetindo todavia que não abdicara do trono.
3. A conspiração do neto de Roosevelt
Em Teerão, estava em marcha, desde Junho, a "Operação Ajax", liderada por Kermit Roosevelt, um operacional da CIA no Médio Oriente. Com muitos milhões de dólares para gastar, a principal agência de espionagem americana serviu-se dos contactos facilitados pelo MI-6 (serviços secretos britânicos) e subornou militares, comerciantes do bazar, políticos e outros para que participassem no golpe. Infiltrou-se em meios religiosos e patrocinou atentados. O objectivo era colocar na chefia do Executivo Fazlollah Zahedi, um general que os britânicos e os russos detiveram no passado por colaboração com os nazis, mas que Londres e Washington entretanto reabilitaram.
Em 18 de Agosto, reagindo à contra-informação de que o Tudeh poderia formar o futuro governo, o exército saiu à rua para esmagar os manifestantes. Com os comunistas fora de cena, Kermit, neto de Theodor Roosevelt, organizou uma marcha em direcção ao gabinete do primeiro-ministro. Pelo menos 300 mortos foi o balanço de nove horas de confrontos com partidários de Mossadegh. Este é preso.
Em Roma, o homem em cujo nome o golpe foi feito almoçava com a segunda mulher, Soraya, num restaurante do Hotel Excelsior. Desconheciam tudo o que se passava até que um jornalista da Associated Press lhes entregou um telex: "Mossadegh derrubado. Tropas imperiais controlam Teerão". O monarca exclamou: "Eu sabia que eles me amavam!" Mais tarde agradeceria a Kermit Roosevelt: "A Deus e a si devo o meu trono."
4. A vingança do imperador
De regresso à capital iraniana, o Xá ordenou o julgamento público de Mossadegh num tribunal militar. O réu não se deixou intimidar e denunciou, perante os aplausos da assistência, o golpe da CIA. Foi condenado a três anos de cadeia, por traição. Cumprida a pena, isolou-se numa quinta, em Ahmad-Abad. Morreu de cancro, em 1967, aos 85 anos. O soberano negou-lhe um funeral de Estado. O seu túmulo está num dos quartos da sua residência.
Com o afastamento do homem que considerava os EUA "a única grande potência capaz de mudar o mundo a favor das nações que sofreram com o imperialismo europeu", só a religião foi capaz de novamente mobilizar as massas no Irão.
Em 1979, neutralizados os democratas laicos, foi fácil ao "ayatollah" Ruhollah Khomeini destronar o Xá e lançar a sua sangrenta e anti-americana Revolução Islâmica. O ressentimento era imenso, gerado pela "Operação Ajax", mas também pelos biliões de petrodólares que Reza Pahlavi subsequentemente esbanjou em armas importadas dos EUA, e pelas mortes e torturas infligidas pela Savak - cruel polícia secreta treinada pela CIA e pela Mossad israelita.
5. O protegido Saddam
Dez anos depois da "TP Ajax" (verdadeiro nome de código da operação), um protegido da CIA, Saddam Hussein, foi também encorajado a derrubar, em 1963, um regime que nacionalizara interesses petrolíferos estrangeiros no Iraque.
Em 1968, um segundo golpe, igualmente inspirado pela CIA, colocou Saddam como adjunto de um líder militar. Em 1979, Saddam tornou-se ditador de Bagdad.
http://dossiers.publico.pt/noticia.aspx?idCanal=1041&id=278384
Turbulência no Oriente Médio: Como a Revolução Iraniana de 1979 foi retratada pela mídia impressa brasileira
Andrew Patrick Traumann
O objetivo deste artigo é analisar como a Revolução Iraniana de 1979 foi noticiada pela imprensa escrita brasileira. Por meio de pesquisas realizadas nos arquivos da Editora Abril, em que foram consultados jornais como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, entre outros, além da revista Veja, buscamos observar se houve necessariamente o que poderíamos chamar de “visão brasileira” do processo, ou se a imprensa nacional apenas reverberou conceitos e preconceitos das agências de notícias internacionais. É importante lembrar de que este é um trabalho em progresso, em que teceremos considerações preliminares sobre o processo que culminou na instauração de uma República Islâmica no Irã.
“Revoluções são como febre” escreveu o norte-americano Crane Brinton, professor da Universidade de Harvard, em seu clássico “The Anatomy of Revolution”, (BRINTON, 1965, P.18) A fase inicial é marcada por alta temperatura e delírios. Na segunda fase, a temperatura diminui e há uma longa convalescença. E finalmente há a recuperação e a volta à saúde normal. O elemento religioso, onipresente na Revolução Iraniana não é novo, pois, em menor ou maior grau estava presente em vários movimentos históricos como a Reforma, o Renascimento e, senão de forma direta, no fervor e na ética dos jacobinos franceses. No caso da Revolução Iraniana, a fase do delírio é marcada pela execução sumária de contra-revolucionários e membros do antigo regime, além da célebre tomada da embaixada norte-americana em Teerã, que durou quatrocentos e quarenta e quatro dias. Além do já citado livro de Brinton, na parte teórica deste projeto, fiz uso de textos que se reportam à área historiográfica conhecida como História do Tempo Presente. Dentro do livro “Usos e Abusos da História Oral”, organizado por Janaína Amado e Marieta de Moraes Ferreira, utilizei o texto de Luísa Passerini, intitulado “A ‘lacuna’ do presente”, em que a autora discorre sobre os “marcos históricos” de diversas nações, como o ano de 1789 para a França e o de 1936 para a Espanha. A Revolução Iraniana de 1979, é, sem sombra de dúvida, um divisor de águas na história do País, ainda mais tendo em vista que, segundo dados estatísticos, cerca de sessenta por cento da população do país tem menos de trinta anos, e portanto, nem se recorda da ditadura do xá e jamais viveu em um outro regime que não seja o vigente. Assim como na parábola de Kafka citada por Passerini, o presente iraniano tem sido empurrado de lá pra cá pelo seu passado e pelo seu futuro, muitas vezes indeciso entre a questão ideológica de manter vivos os ideais de uma Revolução realizada há mais de duas décadas e o desafio de se manter política e, sobretudo, economicamente viável no processo de globalização.
Lidar com a história do tempo presente é, com certeza, uma experiência interessante, pois aquele que produz o texto vivencia o momentum em que o processo histórico está sendo deflagrado. Claro que no caso deste trabalho, por se tratar de um regime instável como o iraniano, corre-se o risco de se perder a atualização dos fatos, já que a Revolução ainda está em curso e o período de convalescença que vive não exclui totalmente uma recaída ao estado febril. Mas como diz François Bedarida em seu texto “Tempo presente e a presença da História”:
A história do tempo presente é, por definição, uma história inacabada: uma história em constante movimento, refletindo as comoções que se desenrolam diante de nós sendo, portanto, objeto de uma renovação sem fim. (P.229).
Segundo Pierre Nora, em sua entrevista à Jean Jacques Brochier, inclusa no livro A Nova História,
...não existe o pseudo-acontecimento. É o próprio acontecimento que, em relação à História Tradicional, mudou de natureza, por causa da transformação operada pelos mass-media. (...) Outrora, num sistema de informações tradicional, passavam-se coisas que não afetavam profundamente a vida das massas, ou estas massas não sabiam que essas coisas afetavam profundamente as suas vidas, ou então ninguém lhes prestava atenção. (...) O nascimento e o desenvolvimento dos mass-media alterou completamente a estabilidade do sistema: aquelas três instancias agora não são mais que uma. (...) Não há acontecimento sem os media. (Nora, 1977, p.46).
Atualmente, a informação é adquirida primeiramente de modo visual, ligado às imagens e apenas posteriormente podem ser acrescentadas análises mais profundas do acontecido. A chegada do Homem à Lua, por exemplo, está indelevelmente ligado às imagens do desembarque dos astronautas.
O que Nora nos diz é que nas outras divisões tradicionais da historiografia francesa (História Antiga e Moderna), o acontecimento histórico só se tornava um marco, porque os historiadores assim o decidiam, em função do que determinado fato pudesse ter provocado. Na História Contemporânea, no entanto, o historiador perdeu o controle sobre o que é acontecimento. Devido ao grande fluxo de informações existente, o fato, por si só, se impõe ao historiador. (NORA, 1977, p.49). Hoje, o historiador interpreta o mundo juntamente com outros profissionais como sociólogos e geógrafos e seu diferencial está em fornecer explicações plausíveis aos problemas colocados,pois devido à enorme torrente de informações o público sente a necessidade de compreensão imediata dos fatos e de entender suas raízes históricas (NORA,1977,p. 48). Atualmente, somos diariamente bombardeados com os mais diversos tipos de conhecimentos, úteis ou inúteis, principalmente através da TV e da internet. O ambiente tecnológico do final do século XX criou percepções de tempo e espaço inéditas na história humana. Nunca foi tão fácil informar-se sobre o que se passa nos recônditos mais distantes do planeta. Após a Guerra do Golfo,em 1991,em que a rede de TV norte-americana CNN transmitiu pela primeira vez uma guerra ao vivo, a tradicional imprensa escrita precisou adaptar-se a um novo tipo de leitor, mais acostumado a receber informações através de imagens, e com menos paciência para textos demasiadamente longos. Segundo José Arbex Jr., autor da tese de doutorado “Telejornovelismo (Mídia e História no contexto da Guerra do Golfo)”,
À exceção de poucos jornais e revistas, a imprensa escrita adotou uma série de procedimentos destinados a “competir com a TV” (textos curtos, parágrafos pequenos, letras em corpos garrafais, fotos coloridas) de tal forma que o leitor não se sinta “cansado” e possa ler de maneira mais rápida e cômoda possível.Assim, o leitor do jornal está exposto ao impacto da televisão,mesmo que não assista á televisão.(Arbex,2000,p.16)
No entanto, paralelo a todo esse desenvolvimento tecnológico, ocorreu uma grande concentração de poder nas mãos de alguns conglomerados de mídia, que determinam ao leitor o que é ou não notícia, e se for, como esta será transmitida ao leitor ou telespectador. Ao contrário do que muitos esperavam a popularização da TV á cabo, não levou a um jornalismo mais independente, mas apenas o domínio desta pelas grandes corporações de mídia. Ainda segundo Arbex,
A mídia cria diariamente a sua própria narrativa sobre o mundo e a apresenta aos telespectadores - ou aos leitores de jornais – como se essa narrativa fosse a própria história do mundo. Os fatos, transformados em notícia, são descritos como eventos autônomos, completos em si mesmos. Os telespectadores, passivamente embalados pelo “estado hipnótico” diante da tela de TV, acreditam que aquilo que vêem é o mundo em estado “natural”, é “o” próprio mundo. (Arbex, 2000, p.67)
Um bom exemplo disto é o conflito entre israelenses e palestinos. Cada ação perpetrada por grupos extremistas palestinos é visto como não tendo uma motivação palpável, uma origem histórica que a desencadeasse ou que esta motivação fosse apenas o “fanatismo” ou a “loucura” característica dos “fundamentalistas” islâmicos. A visão palestina raramente é mostrada, como a ocupação que já dura trinta e sete anos, a política de repressão de direitos civis, a instalação de postos militares que impedem a livre circulação da população em seu próprio território e a desobediência às resoluções da ONU, que ordenam a retirada israelense dos territórios ocupados. Todos estes fatores são omitidos do telespectador ou leitor na transmissão da notícia Israel é invariavelmente retratado como uma vítima, um pequeno país cercado de inimigos que apenas se defende. Segundo Carlos Dornelles, autor de Deus é inocente, sobre a cobertura da imprensa nos conflitos do Oriente Médio.
Cabe aqui lembrar o tipo de linguagem ideológica utilizado pela imprensa para descrever os conflitos. Todo ataque de Israel é considerado “retaliação” ou “resposta” ou “reação”. Para os palestinos, a definição oficial é “atentado”, como se não houvesse o menor motivo para uma retaliação contra a ocupação ou contra os ataques israelenses. (Dornelles, 2002, p.240)
A análise de Dornelles é um bom exemplo de como a mídia muitas vezes interpreta uma notícia de acordo com os interesses norte-americanos na região. Veremos adiante que Saddam Hussein já foi aliado dos Estados Unidos, e, na época, mesmo já sendo um ditador cruel para seu povo, era poupado pelas agências de notícias internacionais.
Contudo, para uma melhor análise dos acontecimentos no Irã e para inteirar o leitor do contexto histórico da época, faz-se necessária uma breve retrospectiva histórica do processo.
Por sua posição geográfica estratégica, entre o Oriente e o Ocidente, e por suas riquezas naturais, o Irã foi alvo de diversas invasões ao longo de sua História, desde os antigos gregos, liderados por Alexandre, o Grande, passando por árabes, mongóis e turcos, até a Inglaterra. Este contato com outros povos proporcionou aquisições a adaptações culturais importantes, como a religião islâmica trazida pelos árabes, a medicina judaica e o uso do inglês como segunda língua.
O Irã é particularmente único. Ao lado do Iraque é um dos únicos países islâmicos de maioria xiita, e o único formado por arianos. Etnicamente, está entre árabes, asiáticos e indo-afegão-paquistaneses. O Tadjiquistão, único país além do Irã a usar o idioma farsi, é sunita, ou seja, faz parte da vertente majoritária do Islã.
No século XX, Rússia e Reino Unido dividem o território em áreas de influência. A dinastia dos Pahlevi surgiria em 1921, quando o general Reza Khan derruba o último sultão Kajar, e proclama-se rei (xá, em farsi). Foi Reza Khan quem, em 1935 batizou o país com seu nome atual, Irã, já que até então seu território ainda era denominado Pérsia. A mudança de nome é uma clara alusão à origem indo-européia daquele povo. Em 1941, o xá é forçado a abdicar por forças inglesas e soviéticas devido à sua simpatia pelo nazi-fascismo. Em seu lugar assume seu filho Mohamad Reza Pahlevi, que logo perde o poder numa eleição democrática para o primeiro-ministro Mohamad Mosadegh, que em 1953, nacionalizou as companhias petrolíferas. Tal medida incomodou de sobremaneira as potências imperialistas, nem um pouco interessadas em qualquer movimento que pudesse levar á independência de seus protetorados. O serviço secreto inglês, juntamente com a CIA americana, tramou e executou um golpe militar para alçar Pahlevi novamente ao poder. Este episódio, conhecido como “Crise de 53” provoca, na maior parte dos iranianos, uma sensação de derrota e humilhação frente à Comunidade Internacional.
Em 1962, o agora xá Reza Pahlevi anuncia a implantação da chamada Revolução Branca, baseada no capitalismo de Estado, na abolição de formas semifeudais de distribuição de renda e de uma popularização do ensino. O xá passa a cortejar os Estados Unidos e a apoiar o Estado de Israel, obtendo assim, grande apoio do Ocidente, que o recompensava com pesados investimentos, mantendo a economia em bom funcionamento.Obviamente essas medidas não encontraram eco nas massas iranianas, solidárias à causa palestina.
O plano de desenvolvimento proposto por Pahlevi mostrou-se deficiente em longo prazo, pois beneficiava somente uma elite urbana em detrimento da maioria da população que vivia na zona rural, e que não possuía sequer luz elétrica ou água encanada. O governo, ao invés de reinvestir os lucros dos seus projetos em programas sociais, passou a investir em tecnologia militar de ponta, tornando-se, em pouco tempo, o maior comprador mundial da produção bélica americana. Assim, apenas aumentou o fosso entre a elite ocidentalizada e os pobres tradicionalistas. A conseqüência desta falta de apoio à agricultura, foi um grande êxodo rural, que em dez anos chegou quase a dobrar o número de habitantes da capital, Teerã. Esta mão-de-obra desqualificada para serviços urbanos, fixava-se nas periferias, inchando-as, evidenciando as abissais diferenças entre pobres e ricos, tanto econômica quanto culturalmente. A título de exemplo, às vésperas da Revolução,em 1979, apenas 1% da população concentrava 80% da renda privada do país. (Jornal do Brasil, 20/01/79).
O xá sabia que, para implantar sua revolução precisaria usar de métodos repressivos. Assim, instaurou um regime ditatorial e silenciou a oposição usando para isso sua polícia secreta, a Savak, que funcionava nos moldes do Mossad israelense. Embora tenha sido oficialmente criada como um grupo de contra-espionagem, suas principais táticas eram a tortura e a intimidação, fazendo com que os opositores do regime se sentissem como prisioneiros em seu próprio país, e ainda com a conivência dos Estados Unidos e de Israel. Os intelectuais iranianos mostravam-se preocupados, pois tinham consciência de que a modernização ocorrera depressa demais, e o iraniano médio sentia-se desorientado. O filósofo Ahmad Fardid cunhou o termo “ocidentoxicação” (ARMSTRONG, 2001, p.277-279) para descrever o sentimento geral. Não que estes intelectuais não se sentissem atraídos pelos valores democráticos ocidentais, mas não sabiam como adaptar esses valores ao Irã, sem perder a identidade cultural e a soberania política e econômica.
Em 1973, ocorreu a crise do petróleo, que provocou uma terrível inflação no país, levando ao desemprego mais de um milhão de iranianos, além de levar à falência muitos comerciantes que não conseguiram suportar a concorrência estrangeira no mercado. Em 1977, pela primeira vez a inflação passa a afetar também a classe média. Nesse contexto surgiram dois grupos guerrilheiros, o marxista Fedayin-e-Khalk, e o islâmico Mujahedin-e Khalk, que passam a praticar atentados contra militares e consultores americanos. O ressentimento contra os americanos era enorme, pois pareciam lucrar com o caos no país. O Fedayin-e-Khalk era ligado ao Tudeh Party of Iran (TPI), ou Partido Popular do Irã em português, que nasceu das cinzas do Partido Comunista Iraniano, fundado em 1920, e duramente perseguido por Reza Shah. O Tudeh se formou em 1941, aproveitando o breve vácuo de poder criado pela derrubada de Reza Shah pelos ingleses, após este ter cedido bases iranianas a Hitler quando os alemães atacaram a URSS. Os comunistas iranianos foram beneficiados pela libertação de presos políticos, entre eles, muitos membros de seu partido. Os principais ideais do grupo que nascia eram lutar pela soberania do país, pela reforma agrária, por uma reforma no sistema tributário e pelo confisco dos bens de Reza Shah em favor do povo iraniano. O partido teve também papel ativo no apoio ao governo nacionalista de Mossadegh no início da década de 50, e na resistência ao governo entreguista de Pahlevi.
Na Revolução Iraniana, o Tudeh foi de grande importância na mobilização e conscientização das massas, distribuindo panfletos, criando um jornal próprio (“Navid”) e realizando palestras onde lembravam o povo da necessidade de viver em um país realmente soberano, e que para isso, segundo o partido, o xá deveria ser derrubado e as empresas do país, nacionalizadas.
Com a oposição de religiosos e marxistas o regime do xá tornava-se cada vez mais autoritário e repressor. Muitos iranianos buscaram ajuda nos ulemás (líderes religiosos), embora estes se mostrem receosos em se envolver, ou por medo, ou por não acreditar que alguma mudança fosse possível. O aiatolá Ruhollah Khomeini, que havia sido preso em 1963, devido ás suas idéias, consideradas subversivas pelo regime, e que vivia então exilado no Iraque, torna-se o maior símbolo da resistência á tirania do Xá. Quando estudantes fizeram um protesto, em 1975, para lembrar a prisão de Khomeini, a polícia invadiu a madrasah (escola religiosa) Fayzyya e atirou um estudante do telhado, matando-o. Em seguida, fechou a escola, numa evidente demonstração que o xá não aceitaria qualquer tipo de oposição. Com este ato, Pahlevi só fez crescer sua fama de inimigo da religião e aumentou a popularidade de Khomeini.
Em 1977, Jimmy Carter ascende á presidência dos EUA, e inicia uma campanha pelos direitos humanos. Ao tomar conhecimento de um relatório da Anistia Internacional sobre os tribunais e prisões iranianas, convence o governo iraniano a afrouxar a censura, resultando numa onda de publicações de teor oposicionista oriundas de quase todas as camadas sociais.
Porém, ainda não existia clima de revolução. Apesar da maioria dos religiosos manterem-se em silêncio, os intelectuais promoviam leituras de textos francamente hostis ao governo no Instituto Goethe de Teerã. Mas a trégua foi curta. Em três de novembro de 1977, o filho de Khomeini, Mustafá, morre envenenado no Iraque. As principais suspeitas recaem sobre a Savak. Multidões choraram a morte do filho de Khomeini, mas ainda não havia sinal de levante generalizado. No dia 13 do mesmo mês, Pahlevi viajou aos EUA, onde se encontrou com Carter. Na virada daquele ano, Carter retribuiria a visita, e chegaria à Teerã em péssima hora. O xá havia acabado de proibir as manifestações de pesar por Mustafá, que segundo a tradição xiita deveriam acontecer 40 dias após a morte da pessoa. Ao visitar o país nessas circunstancias para demonstrar apoio ao governo, Carter assumiu claramente o papel de inimigo. Os iranianos não conseguiam compreender como o presidente americano, que se apresentava como um cristão praticante podia apoiar um governante que reprimia e torturava seu próprio povo.
No começo do ano seguinte, Pahlevi comete um erro grosseiro: manda distribuir um panfleto que absurdamente acusava Khomeini de trabalhar para o Serviço Secreto Inglês, além de por em dúvida sua integridade moral.
Quatro mil estudantes saem ás ruas em protesto exigindo liberdade de expressão, a reabertura da madrasah Fayzyya, a libertação de presos políticos e o retorno de Khomeini. O que obtém, em troca, é a violência: a polícia abre fogo contra a população desarmada matando 70 pessoas. Foi o começo do fim para o xá.
Era o estopim da revolução. Se antes a oposição era liderada por intelectuais e acadêmicos, agora os ulemás tomavam a linha de frente. Entre junho e julho o xá, pressionado, prometeu eleições livres e a volta do pluripartidarismo, medidas que acalmaram especialmente os intelectuais,que deram a luta por vencida. Mas um incêndio criminoso atribuído à Savak ocorrido num cinema da cidade de Abadan, que resultou na morte de cerca de 400 pessoas reacendeu as chamas da revolução, que agora era irrefreável. Em quatro de setembro, ocorreu uma grande marcha pacífica no centro de Teerã, em que os manifestantes oferecem flores aos soldados. Pela primeira vez nem um tiro foi disparado e a manifestação contou com a participação da classe média. Finalmente abandonado pelas classes mais abastadas, o xá numa medida desesperada decide proibir qualquer tipo de aglomeração. Os manifestantes ignoraram a lei marcial e o que ocorre em seguida foi um verdadeiro massacre: 900 pessoas foram mortas pela polícia. A comoção toma conta de todo o país e os operários da indústria petrolífera decidiram cruzar os braços. O xá ficou cada vez mais isolado. Khomeini, que havia sido expulso do Iraque a pedido do xá,e encontrava-se exilado em Paris, passa a coordenar da capital francesa as manifestações que se agigantavam e chegavam a atrair dois milhões de pessoas. A situação era absolutamente insustentável: as promessas do xá, já não recebiam crédito e sua saída começou a ser negociada.Finalmente o soberano do Irã percebe o absurdo de ter como principal inimiga sua própria população e deixou o país rumo ao exílio no Egito. Seus representantes, liderados por Shapur Bakhtiar, ainda fizeram um último esforço para manter-se no poder, dissolvendo a Savak e libertando presos políticos, mas viram-se forçados a tender a principal reivindicação popular, que era a autorização do retorno de Khomeini, que chega à Teerã em 01/02/79, onde foi recebido por um milhão de pessoas.
Ente todas as revoluções da História, a iraniana primou pela quase unanimidade da oposição à ordem reinante, já que cerca de noventa por cento da população colocou-se contra o governo Pahlevi. Ao contrário da Revolução Russa, comandada pelos bolcheviques, uma minoria dentro daquela sociedade, o levante no Irã mobilizou todos os setores sociais, desde os mais pobres até a elite. Este particular fez da Revolução Iraniana um dos mais importantes movimentos sociais do século XX.
A COBERTURA INICIAL:
Analisando os periódicos da época da Revolução notamos que, inicialmente o processo revolucionário contava com a simpatia da muitas pessoas, especialmente de setores da esquerda. A violência do regime do xá era amplamente divulgada, e de forma geral a imagem que se tinha era de que um movimento genuinamente popular havia chegado ao poder no Irã.Podemos perceber nas palavras da enviada especial á Teerã, Mara Pinheiro, do Jornal da Tarde, um certo ar de fascínio,quando ela descreve as manifestações.
A verdade é que nenhum dos jornalistas estrangeiros em Teerã jamais havia visto tanta gente reunida de uma só vez. Pois o que aconteceu nesses últimos dois dias na capital do Irã, ultrapassou todo e qualquer prognóstico. As dimensões das duas manifestações são tão gigantescas que qualquer paralelo com outra manifestação já vista torna-se impossível. [...] Uma cidade inteira nas ruas manifestando-se pacificamente. (Jornal da Tarde, 28/12/78)
A edição do Jornal do Brasil de 17/01/79, narrou assim a reação do povo iraniano à partida do xá:
A Rádio Irã anunciou a partida do xá no noticiário das 14 horas locais.Imediatamente milhares de pessoas saíram ás ruas, jogando balas, cravos vermelhos e beijos aos soldados.[...],enquanto todos os motoristas faziam soar as buzinas e acendiam os faróis de seus veículos gritando em coro: “O xá partiu, viva Khomeini!”.(idem).
Quando o regime cai definitivamente, o mesmo jornal, em sua edição de 25/02/79, o repórter parece de certa forma contagiado pelo espírito da revolução:
No dia 11 de fevereiro, naufragou definitivamente o efêmero governo de Shapur Bakhtiar, e com ele, o que restava do odiado regime do xá Reza Pahlevi. (idem).
Até a revista Veja que, como veremos adiante, se tornaria no Brasil a mais ferrenha crítica do regime de Khomeini, comentou a apoteótica chegada do aiatolá ao Irã, e a alegria do povo com o evento. No entanto, esta postura está claramente atrelada á posição norte-americana na época:
A recomendação do embaixador americano em Teerã, William Sullivan, seria a de deixar que o processo revolucionário seguisse seu curso; apoiar Khomeini, líder de um movimento que,em última análise,seria,apesar de tudo, basicamente,pacifista, e, dessa forma,se tentaria evitar uma confrontação em larga escala que poderia terminar beneficiando os marxistas.” (Veja,07/02/1979)
No âmbito internacional, especialmente na mídia francesa, a postura era francamente pró-revolução como atestam as seguintes manchetes:
“A abominável repressão no Irã”, de 30/01/1976, “O massacre dos manifestantes de Teerã”, de 11/09/78, ambas do Lê Monde ou a reportagem da revista Lundi, intitulada “Todo um povo contra o tirano”. Na edição do jornal francês sobre o massacre há uma irônica charge em que o xá, portando uma faca ensangüentada afirma: “Fiz isso para salvar a democracia.”
No entanto, os revolucionários assumiram um país falido, pois no fim da monarquia, pela absoluta impossibilidade de se tocar qualquer negócio, mais de três bilhões de dólares foram retirados do Irã. Além disso, assim que a revolução foi consumada surgiram as primeiras fissuras na coalizão oposicionista que conduzia a luta contra o xá.
E o confronto principal seria entre esquerda e religiosos. O jornal O Estado de S. Paulo fez uma análise bastante lúcida sobre como eram os frágeis e totalmente vinculadas ao momento a união entre os dois grupos.
A débil aliança formada entre os religiosos xiitas e os marxistas que integram a Frente Nacional, parece estar chegando ao fim. A decisão de Khomeini de excluir de seu “Governo Provisório Islâmico” tanto o líder da frente Karim Sandjabi, quanto os demais esquerdistas que o apoiaram na luta contra o xá, já está provocando manifestações de protesto e ira.[...]. O confronto e a cisão já eram esperados. Khomeini e seus seguidores se opuseram ao xá por este ter tentado ocidentalizar e industrializar o Irã, deitando por terra algumas tradições muçulmanas [...].Os líderes da Frente Nacional, por sua vez, decidiram lutar contra o soberano por ele ter se negado a promulgar reformas políticas e democráticas, por ter dado amplos poderes ao exército e à polícia secreta, e , finalmente por ter permitido a dilapidação dos cofres públicos. A única coisa que os religiosos e os políticos tinham em comum, era o ódio ao soberano. Com a saída deste do país, ressurgiram as velhas diferenças. (18/01/79)
A escritora norte-americana Robin Wright, em seu livro The Last Great Revolution, lembra que, a principio, Khomeini não reivindicava o exercício do poder (WRIGHT, 2000 p. 16). Pelo contrário, para perplexidade da mídia ocidental, assim que a euforia pelo seu retorno arrefeceu, Khomeini voltou á Faculdade de Teologia de Qom, onde lecionava antes de ir ao exílio. Pretendia deixar o poder nas mãos dos revolucionários. No entanto, o quadro muda assim que se começa a falar sobre a elaboração de uma constituição para o país. Os grupos revolucionários eram muito heterogêneos, e cada qual tinha sua visão para o que deveria ser o novo Irã. Alguns queriam o modelo francês, com um presidente forte, outros sugeriam outras mudanças, mas nenhum sequer citava o clero em suas propostas. Temerosos de serem marginalizados, ou mesmo excluídos do processo, seguidores de Khomeini conseguiram introduzir uma emenda que vetava certas candidaturas. Funcionou, e, assim, conseguiram a maioria. O poder do presidente ficou reduzido, pois ficaria abaixo do Líder Supremo, o Velayat-e Faqih, comumente chamado Faqih, cujos poderes eram enormes, com poder de veto até sobre o nome do comandante-em-chefe.
O poder foi dividido á moda ocidental, em executivo, legislativo e judiciário, mas para cada cargo havia outro, com poder ao menos equivalente exercido por um clérigo. No judiciário foram criados tribunais revolucionários para julgar, sempre a portas fechadas, pessoas acusadas de comportamento anti-revolucionário. No legislativo, os duzentos e setenta membros do parlamento estavam à sombra dos doze membros do Conselho dos Guardiões, que tinham poder de veto sobre leis consideradas anti-islâmicas.
A partir deste momento, o tom da imprensa em relação à revolução começa a mudar. A repressão aos anti-revolucionários e o modelo de governo que se configurava, nitidamente não ocidental, fez com que as primeiras críticas mais contundentes surgissem. No final de 1979, ocorreria algo que faria do regime iraniano um pária na comunidade internacional.
No dia quatro de novembro de 1979, cerca de quinhentos estudantes iranianos cercaram a embaixada norte-americana em Teerã, que consideravam um QG da contra-revolução, tomando como reféns cerca de cem pessoas, das quais cinqüenta e duas ficaram sob o poder dos estudantes durante exatos quatrocentos e quarenta e quatro dias. O estopim do seqüestro foi o fato dos EUA terem aceitado a entrada de Reza Pahlevi no país para o tratamento de um câncer, em setembro daquele ano. Muitos iranianos não acreditavam que o ex-soberano estivesse realmente doente, e temiam que sua entrada nos EUA, representasse uma nova tentativa de reconduzi-lo ao poder, como em 1953. Segundo entrevista concedida por um dos líderes do cerco, Ibrahim Asghrzadeh (WRIGHT, 2000, P.255) á Robin Wright, a principio, os objetivos dos estudantes eram limitados, pretendiam tomar a embaixada por três ou quatro dias no máximo. Mas o que os estudantes não esperavam era o apoio de Khomeini. Relatos dos reféns americanos são unânimes ao relembrar os rostos estupefatos dos estudantes,quando ao aiatolá apareceu na TV, dando sua “benção” à ocupação, chamando-a de “a segunda revolução”. Com esse gesto, Khomeini transformou um protesto estudantil em um ato de terrorismo de Estado, já que estava, em rede nacional, dando seu aval a um seqüestro, iniciando uma enorme crise internacional. Toda e qualquer simpatia que o Ocidente pudesse ter pela revolução se esvaiu neste episódio. A partir de então o processo revolucionário iraniano estaria definitivamente ligado aos termos “fanatismo” e “radicalismo” e a palavra “xiita”, que nada mais é do que um grupo minoritário dentro da religião islâmica se tornaria de uso corrente no Brasil, especialmente na mídia impressa para designar pessoas de posturas radicais.
Com a morte de Reza Pahlevi no Egito, em 1980 e a invasão do Iraque ao Irã os seqüestradores tornam-se mais receptivos à negociação. Carter, totalmente desgastado com o prolongamento da crise que já se arrastava há mais de um ano, perde as eleições para o ex-ator de filmes de faroeste, Ronald Reagan. Com a intermediação de diplomatas argelinos, o seqüestro chega ao fim, em 20/01/81, ironicamente no dia da posse de Reagan.
O IRÃ NA BERLINDA
Uma das mais longas e sangrentas guerras do século XX iniciou-se no final de setembro de 1980, quando o ditador iraquiano Saddam Hussein invadiu o Irã. O pretexto foi o repúdio, por parte do Iraque, ao acordo de Argel (1975), mediado pelo então secretário de Estado Henry Kissinger. O referido acordo definiu os limites dos dois países ao Shatt Al Arab (“Costa árabe”), um canal de duzentos quilômetros formado pela confluência dos rios Tigre e Eufrates e que passa entre os dois países. O Iraque alegava necessitar de uma saída para o mar, o que facilitaria o escoamento de sua produção de petróleo. A região abriga importantes instalações petrolíferas, tanto do Irã, quanto do Iraque. Saddam Hussein desejava voltar à situação anterior a 1937, quando o Iraque detinha soberania sobre a totalidade do curso de água. Outro motivo que levou Saddam a considerar que sua empreitada seria bem-sucedida era o enfraquecimento do exército iraniano, já que os principais generais e demais comandantes militares de alta patente do exército do Irã haviam sido executados pelos revolucionários. O ditador estimou que talvez jamais se repetissem condições históricas tão favoráveis para o Iraque árabe derrotar o antigo inimigo persa e com isso arrebatar para si o posto de senhor do Golfo Pérsico, vago desde a queda do xá. O momento também parecia propício para Saddam ocupar o papel de líder do mundo árabe, sucedendo o nacionalista egípcio Gamal Abdel Nasser, morto em 1970.
O conflito durou oito anos e matou cerca de um milhão e meio de pessoas, e feriu muitas mais, gerando ainda, milhões de refugiados. Do lado iraquiano pereceram por volta de 375.000 pessoas, enquanto que do lado iraniano mais de 300.000, além dos milhares de mutilados que, infelizmente, levariam para sempre as marcas desta guerra. No fim, nenhum dos motivos alegados para o início da guerra havia encontrado solução. As fronteiras entre os dois países permaneceram praticamente inalteradas.
A guerra Irã-Iraque, no entanto, pode servir como um exercício de observação de como a mídia pode construir a imagem de um aliado ou inimigo de acordo com o que pedem as circunstâncias. Analisando o conflito com o distanciamento que mais de duas décadas permitem, não deixa de ser curioso notar como o “inimigo” que toda potência hegemônica precisa ter para justificar o seu domínio pode mudar de rosto. Sabemos que, após a Guerra do Golfo de 1991, Saddam Hussein se transformou, na mídia e conseqüentemente no imaginário ocidental na mais completa tradução do que seria o “Mal Absoluto”, sendo inúmeras vezes comparado a ditadores como Hitler e sendo chamado de sanguinário,carniceiro,louco e outros adjetivos tão “abonadores” quanto.
No entanto, no começo da década de 1980, o “Mal” atendia pelo nome aiatolá Khomeini, e Saddam era o líder moderno e laico que poderia refrear a exportação da Revolução Islâmica que ameaçava os interesses econômicos do ocidente na região.
Em 01/10/1980, a guerra entre Irã e Iraque foi matéria de capa da revista Veja, a principal revista semanal de informação do país. Nesta matéria, Saddam Hussein, então aliado norte-americano, é descrito como “aguerrido” e sempre chamado de “presidente” e não de ditador, epíteto que se tornou inseparável de Saddam na mídia ocidental na década de 1990.
Segundo a cobertura da prestigiada revista, que hoje soaria irônica, “até os adversários mais ferrenhos admitem que Hussein talvez seja hoje em dia, o mais objetivo e pragmático líder entre os potentados árabe do petróleo.” (Veja, 01/10/80 p.36)
O citado periódico ainda revelava que o bilionário banqueiro David Rockefeller costumava passar horas em amistosa conversa com o ditador, descrito como “cavalheiro de maneiras educadas, impecáveis ternos de corte europeu, tem uma coleção de cachimbos Danhill e se locomove numa limusine Mercedes-Benz”. (idem, p.35). No decorrer da matéria o autor, cujo nome não é revelado quando a revista quer passar sua opinião, ainda tece loas ao processo de modernização vivido pelo Iraque sob sua gestão. Em nenhum ponto da reportagem é citado o fato de que Saddam ascendeu ao poder por meio de um golpe militar, mas seu partido o Baath, é elogiado por ser “ferrenhamente anticomunista”, o que, em tempos de Guerra Fria, era o que bastava para ser considerado um país aliado.
Como se vê, o benefício da dúvida concedido pelo Ocidente á revolução iraniana, durou muito pouco tempo. Após o seqüestro na embaixada americana, o regime iraniano passa a ser demonizado. Simplesmente todas as declarações dadas pelo clero iraniano eram rechaçadas e ridicularizadas, enquanto que as afirmações de qualquer ocidental sempre eram avalizadas, num surto de etnocentrismo raras vezes visto na mídia brasileira até então. Infelizmente este processo de não legitimização do argumento do “inimigo” se tornaria comum após os atentados ao World Trade Center em 2001. De acordo com Dornelles,
“... a idéia sempre foi mostrar Bin Laden como um fanático religioso disposto a destruir uma civilização, alguém que não tem motivação política, mas que é movido pela inveja, pelo rancor. Duas semanas depois dos atentados, Bin Laden mandou uma carta á rede de TV Al Jazira criticando os Estados Unidos pelo apoio á Israel e pela presença de tropas americanas na Arábia Saudita. Mas a imprensa americana e toda a imprensa ocidental destacaram apenas a questão religiosa.” (Dornelles, 2002, p. 183).
No jornal inglês The Independent, de 16/11/2001, o jornalista inglês Robert Fisk afirmou: “Nos próximos dias será feito um esforço para esquecer os motivos dos atentados. E as atenções estarão voltadas para quem e como foram executados.”
Guardadas as devidas proporções foi isto que aconteceu na cobertura jornalística da Revolução após o seqüestro na embaixada americana. De repente, os motivos da revolução e os massacres promovidos pelo xá foram esquecidos. Após o caso dos reféns raramente se lê na imprensa sobre os anos pré-revolução. Passa a ser construída a imagem de um regime opressor e marcado pelo fanatismo religioso, omitindo o fato de que a revolução foi um movimento que englobou todos setores da sociedade iraniana e contou com amplo apoio popular.Porém, a partir do momento que este regime chocou-se com o governo norte-americano, o Irã passa a ser tratado como um Estado bárbaro, ou como afirmaria um repórter não-identificado da revista Veja “inegavelmente, um dos regimes mais detestáveis, incômodos e criadores de caso que o mundo contemporâneo já conheceu.” (Veja, 01/10/80)
Obviamente que não queremos aqui justificar seqüestros ou atentados, mas o fato da mídia ter, nestes casos, ocultado ou minimizado o fato de que ambos os atos tinham alegado fundo político (o exílio do xá e a presença de tropas norte-americanas na Arábia Saudita, respectivamente),concorreu para que os autores destes atos fossem retratados como indivíduos movidos unicamente pelo fanatismo religioso,o que evidentemente não era o caso dos iranianos, que pelos relatos dos reféns não possuíam grande fervor religioso,mas sim eram extremamente politizados, chegando ao ponto de tentar “doutrinar” os reféns para que estes entendessem sua revolta anti-americana.(WRIGHT,2000,P.145)
No final de 1986, mais um capítulo da animosidade entre EUA e Irã seria escrito. Este caso seria conhecido como Irã - Contras. Tal episódio consistiu numa negociata secreta entre o governo de Ronald Reagan e o de Khomeini, para libertar reféns norte-americanos no Líbano, em troca de armas. Com o dinheiro obtido nesta venda, Washington patrocinava a ação dos “contras”, guerrilheiros que lutavam contra o regime socialista instaurado na Nicarágua pela Revolução Sandinista (ARBEX,1993). Toda a operação havia se iniciado em 1985,quando o então Primeiro-Ministro de Israel, Shimon Peres, comunica a Reagan a proposta de poderosos executivos israelenses, de vender armas ao Irã, para facilitar a libertação de reféns americanos no Líbano. A mando de Reagan, John Poindexter, assessor de segurança nacional da Casa Branca e seu braço direito, o coronel Oliver North, organiza missões secretas. Tendo Israel como parceiro no transporte de armamentos e peças para helicópteros e caças para o Irã, vários reféns norte-americanos são libertados. Na época, o Irã encontrava-se em guerra com o Iraque e sofria com a falta de reposição de peças de reposição devido ao embargo americano. Uma das ilegalidades deste caso é que Reagan precisava ter notificado o Congresso para a suspensão temporária do embargo, que, aliás, ele próprio havia assinado. Como não fez isso, transgrediu as leis norte-americanas, e criou um problema para o Senado e na Casa dos Representantes. Em ambas as instituições foram abertas comissões de inquérito, que quase levariam Reagan ao impeachment. Além disso, o presidente norte-americano se mostrou totalmente incoerente em relação á política oficial de seu país que era de não negociar com terroristas.
A revista Veja fez uma cobertura parcial do caso. Na edição de 26/11/86, numa matéria de três páginas, o lado iraniano da história, ou seja, Khomeini merece poucas linhas, em que é retratado como já era de hábito: simplesmente um lunático.
...o aiatolá Khomeini [...] emitiu seu repúdio a Reagan: “Uma grande explosão ocorreu na casa negra”, vociferou o aiatolá referindo-se à Casa Branca, agora que a política de Reagan foi revelada. Chamando o presidente dos Estados Unidos de “Grande Satã” como de costume, Khomeini sepultou qualquer intenção de entendimento que porventura o governo americano tenha cultivado desde que as negociações secretas entre os dois começaram, há dezoito meses.”
Os termos são escolhidos a dedo. Khomeini “vocifera”, enquanto os políticos americanos entrevistados no restante da reportagem “afirmam”. O aiatolá chama os EUA de grande satã, “como de costume”, passando a imagem de alguém irremediavelmente agressivo e fanático, a qual não se deve dar ouvidos. Mas o pior fica para o fim das parcas linhas dedicadas a Khomeini. Apesar do longo histórico dos EUA em apoiar interesses que poderiam prejudicar politicamente o Irã (golpe de 53, xá Reza Pahlevi, Saddam Hussein, etc.), Khomeini é acusado pela referida revista de “sepultar qualquer intenção de entendimento”, como se as concessões tivessem que partir apenas do Irã, e apenas dele dependesse o entendimento entre os dois países.
No final de novembro de 1986, o secretário da Justiça dos EUA, Edwin Meese, revelou que boa parte do dinheiro arrecadado com a venda de armamentos ao Irã, cerca de trinta milhões de dólares, havia sido depositado na conta de contra-revolucionários nicaragüenses. No entanto, o Congresso havia proibido ao governo americano prestar qualquer ajuda aos “contras” sem que antes houvesse um amplo debate no Parlamento. Em poucas palavras, o Governo estava burlando a lei, mediante o uso de uma operação clandestina. Durante os interrogatórios das comissões de inquérito ficou claro que altos funcionários do governo estavam envolvidos na operação, inclusive o então vice-presidente George Bush. O presidente Reagan negou totalmente qualquer responsabilidade, que foi totalmente assumida pelo Coronel North. A popularidade do presidente, que estava em baixa, cresceu quando assumiu que, a seu ver, qualquer ação visando a erradicação do comunismo era legítima. O mesmo ocorreu com North, apoiado até em manifestações de rua, que foi condenado a apenas três anos de prisão domiciliar, uma pequena multa e serviços à comunidade. Das investigações emergiram contrabandistas de armas, especuladores, tráfico de influência, mas, sobretudo a falta de ética manifestada pelo Poder Executivo.
A MORTE DE KHOMEINI: O ADEUS DO IMAM.
Praticamente, desde o início da Revolução, Khomeini que, na época, já tinha 76 anos, preparava o espírito da nação para a ocasião de sua morte.
Segundo matéria publicada no Jornal da Tarde, transcrita da revista alemã Der Spiegel:
Ele autorizou o governo a sonegar a notícia de sua morte pelo tempo que julgar necessário para o interesse da segurança do Estado. [...] Mas aqui está a providência mais importante: Khomeini assinou e lacrou, em 1983, um documento de 30 páginas e determinou que este só fosse lido depois de sua morte. E só se dispõe a revelar antecipadamente um ponto do testamento: o de que hipotecava plena confiança ao aiatolá Hussein Ali Montazeri. (23/12/85).
Os últimos meses de liderança do imam[1] foram conturbados. Além da polêmica sobre o livro de Salman Rushdie, autor de Os versos satânicos, acusado por Khomeini de blasfemo, e que resultou numa sentença de morte que nunca foi efetivamente cumprida, até por ser contrária á própria lei islâmica, que não permite julgamentos extraterritoriais, o líder iraniano ainda expulsou do governo seu ex-aluno e, aquele que, segundo o Der Spiegel seria o seu sucessor, Ali Montazeri. O motivo da mudança de planos foi um discurso realizado por ocasião dos festejos do décimo aniversário da Revolução, em que Montazeri convocava o governo a reparar certos erros do passado e admitindo que a Revolução não houvesse conseguido cumprir muitas de suas promessas. Além disso, em entrevista ao The New York Times, Montazeri mostrara-se preocupado com a péssima repercussão do caso Rushdie para a imagem do país. A fala de Montazeri e a rígida medida adotada por Khomeini, ajudaram a causar um clima de instabilidade. Este clima se agravaria pouco tempo depois.
No dia 23/05/89, Khomeini foi submetido a uma cirurgia de emergência para estancar uma hemorragia no aparelho digestivo. Estava reagindo bem, mas dez dias, 03/06/89, seu estado piorou e o líder da Revolução morreu. Apenas oito horas após o anúncio da morte, a Assembléia dos Sábios designou Ali Khamenei, então presidente do país, como novo Líder Supremo. Assim que a morte do imam foi anunciada, a mídia de todo o mundo iniciou um debate sobre a sua sucessão, mal conseguindo esconder a torcida por um líder laico exilado. O jornal O Estado de S. Paulo de 05/06, publicou uma pequena matéria em que o filho do xá Reza Ciro, acenava com a possibilidade de retorno e assegurava que, com Khomeini, morria também a Revolução. O Jornal da Tarde da mesma data procurou também Shapur Bakhtiar e Bani Sadr.
Shapur Bakhtiar não considera importante a forma de governo. Cita a monarquia espanhola como exemplo de democracia e a república chilena como exemplo de ditadura. A seu ver a República Islâmica está morta e os próprios religiosos sabem disso. (05/06/89).
Bani Sadr afirmava o mesmo com palavras diferentes, insinuando um golpe ao lembrar pela enésima vez suas boas relações com as Forças Armadas. O fato é que toda a mídia considerava a Revolução morta e bastava agora que se decidisse entre a volta da monarquia, a um governo parlamentarista ou um regime apoiado pelos militares. Aparentemente, não passava pela cabeça de ninguém que o Irã continuaria a Revolução. Sem o mesmo fervor de dez anos antes e mais amadurecido, mas certamente repudiando a volta de velhos membros da política iraniana.
Enquanto isso no Irã, esses nomes nem eram lembrados. Para a população em geral, com a transferência de cargo de Khamenei de presidente para Líder Supremo, deixando a presidência vaga era chegada à hora de decidir entre o filho do imam, Ahmad Khomeini e o presidente do parlamento Ali Akhbar Rafsanjani. Khamenei logo demonstrou seu apoio à Ahmad que, certo da vitória, já discursava como presidente, embora sem sequer oficializar sua candidatura. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo,
Depois do luto, a incerteza política no Irã deve crescer até agosto, quando se realizarão eleições para a Presidência da República. Até agora o único candidato é Rafsanjani. Juntamente com a escolha do novo chefe de Estado, deve ser aprovada uma reforma na constituição que dará mais poderes ao presidente. (06/06/89).
No citado periódico, explicava-se também a indiferença iraniana em relação a possíveis sucessores de Khomeini que se encontravam no exílio.
Os grupos que mantém uma parcela do poder atualmente no Irã constataram, com certo alívio, que a oposição iraniana no exílio está tão ou mais dividida do que o próprio regime. Isso faz com que a preocupação principal no momento se situe no plano interno. Nada indica que os vários grupos em Paris, Nova York ou Bagdá possam concluir alianças táticas à curto prazo para ameaçar o poder dos religiosos em Teerã. (idem).
No dia 07/06, Khomeini seria sepultado numa das maiores manifestações públicas da História. Cerca de quatro milhões de pessoas acompanharam o funeral. Oito pessoas morreram na tumultuada cerimônia.
Na mídia brasileira, destacou-se a cobertura da revista Veja. Não por seu jornalismo sério e imparcial, mas por uma das maiores demonstrações de sensacionalismo e etnocentrismo jamais vistas nestas plagas. Comecemos pelo título e subtítulo:
Pandemônio do adeus: numa explosão de fanatismo e histeria, os iranianos se despedem de Khomeini e cultuam seu legado de ódio e intolerância. (14/06/89).
A referida publicação comete, já no início da matéria, um grave erro: a generalização. Não são alguns, ou uma parte da população, mas “os iranianos”, ou seja, um todo, a população de um país, cultua o “ódio” e a “intolerância”, passando assim, a imagem de um povo de má índole que odeia (especialmente a “nossa” civilização ocidental), e não uma população que estava, à sua maneira, lamentando a morte de um líder querido, de alguém que teria libertado-os do regime opressor do xá. A principal característica da matéria é a absoluta incompreensão do significado de um aiatolá para um xiita. A palavra aiatolá, vem do árabe, e significa “sinal de Deus”, e Khomeini era considerado um imam, um legítimo sucessor de Ali e Hussein, respectivamente genro e neto do Profeta Mohammad. No entanto, é impossível descrever o preconceito que permeia todo o texto sem citar alguns trechos.
... O Irã entrou em transe para se despedir do aiatolá Ruhollah Khomeini, chefe supremo, ditador e pai espiritual dos 60 milhões de iranianos e dos xiitas de todo o mundo [...] Cenas dramáticas, quase grotescas marcaram as cerimônias fúnebres do homem venerado há décadas com fanatismo crescente por seus seguidores. (idem).
O fato de o funeral ter sido um tanto tumultuado, algo inevitável devido à intensa aglomeração de pessoas e o forte choque emocional pelo qual passavam, foi usado pela revista como “prova” do fanatismo iraniano. Segundo a Veja, o que houve foi um “desvario”, e o locutor da TV iraniana emocionado, “descabelava-se”. O repórter não identificado mostrava-se atônito com a admiração ao homem que segundo ele,
... Lançou o Irã nas trevas da intolerância e condenou-o ao isolamento internacional, persistiu por oito anos numa guerra cruel, e economicamente devastadora e levou à morte milhares de adversários políticos e religiosos. [...] Foi sepultado como um santo, um ídolo, um salvador. (ibidem).
Percebe-se claramente o completo desprezo do autor ao elemento religioso do fato. Khomeini estava para os xiitas como o Papa está para os católicos, um homem santo, um guia espiritual, e isso lhes bastava. O autor ignora tudo isso, relacionando apenas argumentos materialistas e ocidentais para detestar o aiatolá.
O artigo trata os iranianos como um bando de miseráveis que sofreram lavagem cerebral, como se Khomeini tivesse criado o Islã xiita e não aceita que, aquilo que soa bizarro aos olhos ocidentais e até dos muçulmanos sunitas, nada mais é que uma maneira diferente de demonstrar pesar.
Há uma legenda ao lado de uma das fotos no fim do artigo que resume bem a imagem que a revista construiu do povo iraniano: “Os idólatras avançam sobre o cadáver e uivam: terra em transe”. (ibidem).
Apesar da cobertura etnocêntrica da Veja, houve na mídia brasileira, tentativas de compreender o fenômeno. Foi o caso do jornal O Estado de S. Paulo, que num pequeno Box, como se diz na linguagem jornalística, intitulado “Histeria também é comum no Ocidente”, explicava:
As cenas de histeria e desespero coletivo ocorridas no enterro do aiatolá Khomeini não são privilégio dos iranianos nem característica específica do ramo xiita da religião islâmica. [...] Na Alemanha dos anos 30 [...] o líder nazista era saudado como o “pai do renascimento alemão”, num país que não era conhecido pelo fanatismo religioso. Enquanto levantavam o braço na clássica saudação nazista, em delírio as crianças gritavam e as mulheres caíam em prantos. [...] A histeria coletiva atingiu multidões na China dos primeiros anos da Revolução Cultural (entre 1966 e 1976). Em nome da pureza ideológica, templos religiosos e escolas foram destruídos, por “guardas”, que empunhavam como estandarte o Livro Vermelho de Mao Tse-tung. O culto a um líder morto pode se assemelhar a uma romaria religiosa, como as filas para ver o corpo de Vladimir Lênin... (07/06/89).
Muito embora o jornal compare Khomeini a figuras como Hitler e Mao Tse-tung, nota-se pelo menos uma tentativa de relativizar os fatos e compreender a catarse coletiva ocorrida no Irã, demonstrando que estes fenômenos não são tão incomuns como possam parecer.
Não que Khomeini, pelo menos para um não-xiita mereça algum tipo de apologia. Ele estava longe de ser um santo ou de atingir a perfeição, pelo menos para aqueles que não seguem suas crenças. O que se defende aqui é o respeito à diferença cultural e a tentativa de compreender os valores de um povo a partir de sua própria perspectiva e não com referenciais totalmente estranhos àquela cultura, caindo assim no puro etnocentrismo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se pode afirmar, com raras exceções, que houve propriamente uma “visão brasileira” da revolução. A maioria absoluta das notícias utilizadas neste trabalho, colhidas entre os principais jornais do País, eram meras traduções de artigos fornecidos por agências de notícias internacionais. Dentre todo o material pesquisado, a única correspondente enviada ao Irã, foi a já citada jornalista Mara Pinheiro que, a serviço do Jornal da Tarde, fez um instigante relato do clima das gigantescas passeatas que levaram milhões às ruas a protestar contra o regime do xá. A jornalista infiltrou-se nas manifestações, conversou com os participantes e numa narrativa envolvente, descreveu as “internas” da Revolução. A revista Veja, por sua vez, enviou o jornalista Pedro Cavalcanti ao Iraque na ocasião do conflito com o Irã. Nas demais matérias pesquisadas, não havia correspondentes brasileiros na região, mas sim em Washington, Londres ou Paris. Durante os primeiros anos do processo revolucionário não se notou nos grandes jornais brasileiros, uma interpretação diferente do restante da mídia internacional. A única característica diferenciadora seria o fato de a Revolução ser retratada como um processo anárquico e perturbador da ordem, pensamento possivelmente decorrente do fato de o Brasil estar em plena ditadura militar na época, como mostra a matéria do jornal O Estado de S. Paulo de 18/01/79, intitulada: “Irã, primeiro dia: 30 mortes, renúncias, caos”. Em outro caso, mais explícito, no mesmo jornal, do dia 24/01/79, a manchete era: “Exército do Irã reafirma lealdade ao xá”. No corpo do texto, o jornalista, não identificado, afirmava que “... os militares iranianos continuam leais ao xá Reza Pahlevi e defenderão a qualquer preço o governo legal e constitucional do primeiro-ministro Shapur Bakhtiar...” (O Estado de S. Paulo, 24/01/79).
A revista Veja de 21/02/79, num Box intitulado “Via satélite, a dúvida: isso pode ocorrer aqui?” Colocou no ar a possibilidade de que uma insurreição popular de grandes proporções, aos moldes da iraniana ocorresse no Brasil. Entrevistando “... uma fonte em permanente contato com o general João Baptista Figueiredo...”, a reportagem procurou descobrir se passava pela cabeça do alto escalão do governo militar tal hipótese. Segundo a fonte não-identificada,
O regime do xá era brutal. [...] Já no Brasil estamos caminhando dentro da democracia e a situação das faixas pobres tem perspectivas concretas de solução. [...] Essa revolta toda, misturada com a reação religiosa, aconteceu, entre outras coisas, porque o Irã é um país que ia financeiramente bem, mas onde a quase totalidade da população vive à margem dos benefícios (Veja 21/02/79).
O então presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, Joaquim dos Santos Andrade ao ser procurado pela reportagem, respondeu:
Não acredito que aconteça a mesma coisa no Brasil. [...] Mas é bom lembrar que o povo está distante, longe das discussões; e, quando a distância aumenta, o povo grita. (idem).
Pedro Sampaio, presidente do sindicato dos petroleiros de Santos ia mais longe e afirmava: “Nós também precisamos de um aiatolá”. (ibidem).
Não podemos deixar de citar também o então líder dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que chegaria à presidência do Brasil em 2003, Luís Inácio Lula da Silva: “A vitória da revolução se deveu principalmente ao trabalho político no seio da massa popular”. (ibidem).
A cobertura brasileira dos eventos que se sucederam no Irã, seguiu mais ou menos a linha da imprensa norte-americana, chegando simplesmente a transcrever matérias inteiras, sempre ligando o Irã ao fanatismo, e ocultando possíveis motivações políticas em cada ato extremo eventualmente cometido por iranianos.
É fundamental para o historiador que este se liberte do discurso unilateral, pois se aceitar passivamente a versão única dos fatos propagados pela mídia, perder-se-á o questionamento, o senso crítico, algo imprescindível para a autonomia do profissional da área. Segundo Arbex, (ARBEX, 2000, p.193).
O preconceito cega e impede que a história seja contada. (...) É no processo de interlocução com o outro, no exercício cada vez mais difícil de saber identificar e escutar outras vozes, que o historiador pode resgatar a memória dos fatos para além de sua representação, encontrando as perguntas certas que deverão orientar o seu trabalho de investigação.
Evidentemente, o regime iraniano está longe da perfeição, a começar pela existência do cargo de “Líder Supremo”, que, sempre nas mãos de conservadores, emperra as reformas políticas e sociais que o país tanto necessita. Mas suas características sócio-culturais e a soberania do Irã precisam ser respeitadas, para que este se desenvolva a seu próprio modo, como outros países orientais, sem perder sua identidade cultural, e sua soberania política e econômica.
[1] De uma forma geral, imam é um título dado àquele que lidera as orações ou a um eminente teólogo.Entre os xiitas,no entanto,o imam é um iluminado que deve guiar todo o mundo islâmico em assuntos religiosos ou seculares.
http://www.urutagua.uem.br/005/17pol_traumann.htm#_ftnref2
O objetivo deste artigo é analisar como a Revolução Iraniana de 1979 foi noticiada pela imprensa escrita brasileira. Por meio de pesquisas realizadas nos arquivos da Editora Abril, em que foram consultados jornais como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, entre outros, além da revista Veja, buscamos observar se houve necessariamente o que poderíamos chamar de “visão brasileira” do processo, ou se a imprensa nacional apenas reverberou conceitos e preconceitos das agências de notícias internacionais. É importante lembrar de que este é um trabalho em progresso, em que teceremos considerações preliminares sobre o processo que culminou na instauração de uma República Islâmica no Irã.
“Revoluções são como febre” escreveu o norte-americano Crane Brinton, professor da Universidade de Harvard, em seu clássico “The Anatomy of Revolution”, (BRINTON, 1965, P.18) A fase inicial é marcada por alta temperatura e delírios. Na segunda fase, a temperatura diminui e há uma longa convalescença. E finalmente há a recuperação e a volta à saúde normal. O elemento religioso, onipresente na Revolução Iraniana não é novo, pois, em menor ou maior grau estava presente em vários movimentos históricos como a Reforma, o Renascimento e, senão de forma direta, no fervor e na ética dos jacobinos franceses. No caso da Revolução Iraniana, a fase do delírio é marcada pela execução sumária de contra-revolucionários e membros do antigo regime, além da célebre tomada da embaixada norte-americana em Teerã, que durou quatrocentos e quarenta e quatro dias. Além do já citado livro de Brinton, na parte teórica deste projeto, fiz uso de textos que se reportam à área historiográfica conhecida como História do Tempo Presente. Dentro do livro “Usos e Abusos da História Oral”, organizado por Janaína Amado e Marieta de Moraes Ferreira, utilizei o texto de Luísa Passerini, intitulado “A ‘lacuna’ do presente”, em que a autora discorre sobre os “marcos históricos” de diversas nações, como o ano de 1789 para a França e o de 1936 para a Espanha. A Revolução Iraniana de 1979, é, sem sombra de dúvida, um divisor de águas na história do País, ainda mais tendo em vista que, segundo dados estatísticos, cerca de sessenta por cento da população do país tem menos de trinta anos, e portanto, nem se recorda da ditadura do xá e jamais viveu em um outro regime que não seja o vigente. Assim como na parábola de Kafka citada por Passerini, o presente iraniano tem sido empurrado de lá pra cá pelo seu passado e pelo seu futuro, muitas vezes indeciso entre a questão ideológica de manter vivos os ideais de uma Revolução realizada há mais de duas décadas e o desafio de se manter política e, sobretudo, economicamente viável no processo de globalização.
Lidar com a história do tempo presente é, com certeza, uma experiência interessante, pois aquele que produz o texto vivencia o momentum em que o processo histórico está sendo deflagrado. Claro que no caso deste trabalho, por se tratar de um regime instável como o iraniano, corre-se o risco de se perder a atualização dos fatos, já que a Revolução ainda está em curso e o período de convalescença que vive não exclui totalmente uma recaída ao estado febril. Mas como diz François Bedarida em seu texto “Tempo presente e a presença da História”:
A história do tempo presente é, por definição, uma história inacabada: uma história em constante movimento, refletindo as comoções que se desenrolam diante de nós sendo, portanto, objeto de uma renovação sem fim. (P.229).
Segundo Pierre Nora, em sua entrevista à Jean Jacques Brochier, inclusa no livro A Nova História,
...não existe o pseudo-acontecimento. É o próprio acontecimento que, em relação à História Tradicional, mudou de natureza, por causa da transformação operada pelos mass-media. (...) Outrora, num sistema de informações tradicional, passavam-se coisas que não afetavam profundamente a vida das massas, ou estas massas não sabiam que essas coisas afetavam profundamente as suas vidas, ou então ninguém lhes prestava atenção. (...) O nascimento e o desenvolvimento dos mass-media alterou completamente a estabilidade do sistema: aquelas três instancias agora não são mais que uma. (...) Não há acontecimento sem os media. (Nora, 1977, p.46).
Atualmente, a informação é adquirida primeiramente de modo visual, ligado às imagens e apenas posteriormente podem ser acrescentadas análises mais profundas do acontecido. A chegada do Homem à Lua, por exemplo, está indelevelmente ligado às imagens do desembarque dos astronautas.
O que Nora nos diz é que nas outras divisões tradicionais da historiografia francesa (História Antiga e Moderna), o acontecimento histórico só se tornava um marco, porque os historiadores assim o decidiam, em função do que determinado fato pudesse ter provocado. Na História Contemporânea, no entanto, o historiador perdeu o controle sobre o que é acontecimento. Devido ao grande fluxo de informações existente, o fato, por si só, se impõe ao historiador. (NORA, 1977, p.49). Hoje, o historiador interpreta o mundo juntamente com outros profissionais como sociólogos e geógrafos e seu diferencial está em fornecer explicações plausíveis aos problemas colocados,pois devido à enorme torrente de informações o público sente a necessidade de compreensão imediata dos fatos e de entender suas raízes históricas (NORA,1977,p. 48). Atualmente, somos diariamente bombardeados com os mais diversos tipos de conhecimentos, úteis ou inúteis, principalmente através da TV e da internet. O ambiente tecnológico do final do século XX criou percepções de tempo e espaço inéditas na história humana. Nunca foi tão fácil informar-se sobre o que se passa nos recônditos mais distantes do planeta. Após a Guerra do Golfo,em 1991,em que a rede de TV norte-americana CNN transmitiu pela primeira vez uma guerra ao vivo, a tradicional imprensa escrita precisou adaptar-se a um novo tipo de leitor, mais acostumado a receber informações através de imagens, e com menos paciência para textos demasiadamente longos. Segundo José Arbex Jr., autor da tese de doutorado “Telejornovelismo (Mídia e História no contexto da Guerra do Golfo)”,
À exceção de poucos jornais e revistas, a imprensa escrita adotou uma série de procedimentos destinados a “competir com a TV” (textos curtos, parágrafos pequenos, letras em corpos garrafais, fotos coloridas) de tal forma que o leitor não se sinta “cansado” e possa ler de maneira mais rápida e cômoda possível.Assim, o leitor do jornal está exposto ao impacto da televisão,mesmo que não assista á televisão.(Arbex,2000,p.16)
No entanto, paralelo a todo esse desenvolvimento tecnológico, ocorreu uma grande concentração de poder nas mãos de alguns conglomerados de mídia, que determinam ao leitor o que é ou não notícia, e se for, como esta será transmitida ao leitor ou telespectador. Ao contrário do que muitos esperavam a popularização da TV á cabo, não levou a um jornalismo mais independente, mas apenas o domínio desta pelas grandes corporações de mídia. Ainda segundo Arbex,
A mídia cria diariamente a sua própria narrativa sobre o mundo e a apresenta aos telespectadores - ou aos leitores de jornais – como se essa narrativa fosse a própria história do mundo. Os fatos, transformados em notícia, são descritos como eventos autônomos, completos em si mesmos. Os telespectadores, passivamente embalados pelo “estado hipnótico” diante da tela de TV, acreditam que aquilo que vêem é o mundo em estado “natural”, é “o” próprio mundo. (Arbex, 2000, p.67)
Um bom exemplo disto é o conflito entre israelenses e palestinos. Cada ação perpetrada por grupos extremistas palestinos é visto como não tendo uma motivação palpável, uma origem histórica que a desencadeasse ou que esta motivação fosse apenas o “fanatismo” ou a “loucura” característica dos “fundamentalistas” islâmicos. A visão palestina raramente é mostrada, como a ocupação que já dura trinta e sete anos, a política de repressão de direitos civis, a instalação de postos militares que impedem a livre circulação da população em seu próprio território e a desobediência às resoluções da ONU, que ordenam a retirada israelense dos territórios ocupados. Todos estes fatores são omitidos do telespectador ou leitor na transmissão da notícia Israel é invariavelmente retratado como uma vítima, um pequeno país cercado de inimigos que apenas se defende. Segundo Carlos Dornelles, autor de Deus é inocente, sobre a cobertura da imprensa nos conflitos do Oriente Médio.
Cabe aqui lembrar o tipo de linguagem ideológica utilizado pela imprensa para descrever os conflitos. Todo ataque de Israel é considerado “retaliação” ou “resposta” ou “reação”. Para os palestinos, a definição oficial é “atentado”, como se não houvesse o menor motivo para uma retaliação contra a ocupação ou contra os ataques israelenses. (Dornelles, 2002, p.240)
A análise de Dornelles é um bom exemplo de como a mídia muitas vezes interpreta uma notícia de acordo com os interesses norte-americanos na região. Veremos adiante que Saddam Hussein já foi aliado dos Estados Unidos, e, na época, mesmo já sendo um ditador cruel para seu povo, era poupado pelas agências de notícias internacionais.
Contudo, para uma melhor análise dos acontecimentos no Irã e para inteirar o leitor do contexto histórico da época, faz-se necessária uma breve retrospectiva histórica do processo.
Por sua posição geográfica estratégica, entre o Oriente e o Ocidente, e por suas riquezas naturais, o Irã foi alvo de diversas invasões ao longo de sua História, desde os antigos gregos, liderados por Alexandre, o Grande, passando por árabes, mongóis e turcos, até a Inglaterra. Este contato com outros povos proporcionou aquisições a adaptações culturais importantes, como a religião islâmica trazida pelos árabes, a medicina judaica e o uso do inglês como segunda língua.
O Irã é particularmente único. Ao lado do Iraque é um dos únicos países islâmicos de maioria xiita, e o único formado por arianos. Etnicamente, está entre árabes, asiáticos e indo-afegão-paquistaneses. O Tadjiquistão, único país além do Irã a usar o idioma farsi, é sunita, ou seja, faz parte da vertente majoritária do Islã.
No século XX, Rússia e Reino Unido dividem o território em áreas de influência. A dinastia dos Pahlevi surgiria em 1921, quando o general Reza Khan derruba o último sultão Kajar, e proclama-se rei (xá, em farsi). Foi Reza Khan quem, em 1935 batizou o país com seu nome atual, Irã, já que até então seu território ainda era denominado Pérsia. A mudança de nome é uma clara alusão à origem indo-européia daquele povo. Em 1941, o xá é forçado a abdicar por forças inglesas e soviéticas devido à sua simpatia pelo nazi-fascismo. Em seu lugar assume seu filho Mohamad Reza Pahlevi, que logo perde o poder numa eleição democrática para o primeiro-ministro Mohamad Mosadegh, que em 1953, nacionalizou as companhias petrolíferas. Tal medida incomodou de sobremaneira as potências imperialistas, nem um pouco interessadas em qualquer movimento que pudesse levar á independência de seus protetorados. O serviço secreto inglês, juntamente com a CIA americana, tramou e executou um golpe militar para alçar Pahlevi novamente ao poder. Este episódio, conhecido como “Crise de 53” provoca, na maior parte dos iranianos, uma sensação de derrota e humilhação frente à Comunidade Internacional.
Em 1962, o agora xá Reza Pahlevi anuncia a implantação da chamada Revolução Branca, baseada no capitalismo de Estado, na abolição de formas semifeudais de distribuição de renda e de uma popularização do ensino. O xá passa a cortejar os Estados Unidos e a apoiar o Estado de Israel, obtendo assim, grande apoio do Ocidente, que o recompensava com pesados investimentos, mantendo a economia em bom funcionamento.Obviamente essas medidas não encontraram eco nas massas iranianas, solidárias à causa palestina.
O plano de desenvolvimento proposto por Pahlevi mostrou-se deficiente em longo prazo, pois beneficiava somente uma elite urbana em detrimento da maioria da população que vivia na zona rural, e que não possuía sequer luz elétrica ou água encanada. O governo, ao invés de reinvestir os lucros dos seus projetos em programas sociais, passou a investir em tecnologia militar de ponta, tornando-se, em pouco tempo, o maior comprador mundial da produção bélica americana. Assim, apenas aumentou o fosso entre a elite ocidentalizada e os pobres tradicionalistas. A conseqüência desta falta de apoio à agricultura, foi um grande êxodo rural, que em dez anos chegou quase a dobrar o número de habitantes da capital, Teerã. Esta mão-de-obra desqualificada para serviços urbanos, fixava-se nas periferias, inchando-as, evidenciando as abissais diferenças entre pobres e ricos, tanto econômica quanto culturalmente. A título de exemplo, às vésperas da Revolução,em 1979, apenas 1% da população concentrava 80% da renda privada do país. (Jornal do Brasil, 20/01/79).
O xá sabia que, para implantar sua revolução precisaria usar de métodos repressivos. Assim, instaurou um regime ditatorial e silenciou a oposição usando para isso sua polícia secreta, a Savak, que funcionava nos moldes do Mossad israelense. Embora tenha sido oficialmente criada como um grupo de contra-espionagem, suas principais táticas eram a tortura e a intimidação, fazendo com que os opositores do regime se sentissem como prisioneiros em seu próprio país, e ainda com a conivência dos Estados Unidos e de Israel. Os intelectuais iranianos mostravam-se preocupados, pois tinham consciência de que a modernização ocorrera depressa demais, e o iraniano médio sentia-se desorientado. O filósofo Ahmad Fardid cunhou o termo “ocidentoxicação” (ARMSTRONG, 2001, p.277-279) para descrever o sentimento geral. Não que estes intelectuais não se sentissem atraídos pelos valores democráticos ocidentais, mas não sabiam como adaptar esses valores ao Irã, sem perder a identidade cultural e a soberania política e econômica.
Em 1973, ocorreu a crise do petróleo, que provocou uma terrível inflação no país, levando ao desemprego mais de um milhão de iranianos, além de levar à falência muitos comerciantes que não conseguiram suportar a concorrência estrangeira no mercado. Em 1977, pela primeira vez a inflação passa a afetar também a classe média. Nesse contexto surgiram dois grupos guerrilheiros, o marxista Fedayin-e-Khalk, e o islâmico Mujahedin-e Khalk, que passam a praticar atentados contra militares e consultores americanos. O ressentimento contra os americanos era enorme, pois pareciam lucrar com o caos no país. O Fedayin-e-Khalk era ligado ao Tudeh Party of Iran (TPI), ou Partido Popular do Irã em português, que nasceu das cinzas do Partido Comunista Iraniano, fundado em 1920, e duramente perseguido por Reza Shah. O Tudeh se formou em 1941, aproveitando o breve vácuo de poder criado pela derrubada de Reza Shah pelos ingleses, após este ter cedido bases iranianas a Hitler quando os alemães atacaram a URSS. Os comunistas iranianos foram beneficiados pela libertação de presos políticos, entre eles, muitos membros de seu partido. Os principais ideais do grupo que nascia eram lutar pela soberania do país, pela reforma agrária, por uma reforma no sistema tributário e pelo confisco dos bens de Reza Shah em favor do povo iraniano. O partido teve também papel ativo no apoio ao governo nacionalista de Mossadegh no início da década de 50, e na resistência ao governo entreguista de Pahlevi.
Na Revolução Iraniana, o Tudeh foi de grande importância na mobilização e conscientização das massas, distribuindo panfletos, criando um jornal próprio (“Navid”) e realizando palestras onde lembravam o povo da necessidade de viver em um país realmente soberano, e que para isso, segundo o partido, o xá deveria ser derrubado e as empresas do país, nacionalizadas.
Com a oposição de religiosos e marxistas o regime do xá tornava-se cada vez mais autoritário e repressor. Muitos iranianos buscaram ajuda nos ulemás (líderes religiosos), embora estes se mostrem receosos em se envolver, ou por medo, ou por não acreditar que alguma mudança fosse possível. O aiatolá Ruhollah Khomeini, que havia sido preso em 1963, devido ás suas idéias, consideradas subversivas pelo regime, e que vivia então exilado no Iraque, torna-se o maior símbolo da resistência á tirania do Xá. Quando estudantes fizeram um protesto, em 1975, para lembrar a prisão de Khomeini, a polícia invadiu a madrasah (escola religiosa) Fayzyya e atirou um estudante do telhado, matando-o. Em seguida, fechou a escola, numa evidente demonstração que o xá não aceitaria qualquer tipo de oposição. Com este ato, Pahlevi só fez crescer sua fama de inimigo da religião e aumentou a popularidade de Khomeini.
Em 1977, Jimmy Carter ascende á presidência dos EUA, e inicia uma campanha pelos direitos humanos. Ao tomar conhecimento de um relatório da Anistia Internacional sobre os tribunais e prisões iranianas, convence o governo iraniano a afrouxar a censura, resultando numa onda de publicações de teor oposicionista oriundas de quase todas as camadas sociais.
Porém, ainda não existia clima de revolução. Apesar da maioria dos religiosos manterem-se em silêncio, os intelectuais promoviam leituras de textos francamente hostis ao governo no Instituto Goethe de Teerã. Mas a trégua foi curta. Em três de novembro de 1977, o filho de Khomeini, Mustafá, morre envenenado no Iraque. As principais suspeitas recaem sobre a Savak. Multidões choraram a morte do filho de Khomeini, mas ainda não havia sinal de levante generalizado. No dia 13 do mesmo mês, Pahlevi viajou aos EUA, onde se encontrou com Carter. Na virada daquele ano, Carter retribuiria a visita, e chegaria à Teerã em péssima hora. O xá havia acabado de proibir as manifestações de pesar por Mustafá, que segundo a tradição xiita deveriam acontecer 40 dias após a morte da pessoa. Ao visitar o país nessas circunstancias para demonstrar apoio ao governo, Carter assumiu claramente o papel de inimigo. Os iranianos não conseguiam compreender como o presidente americano, que se apresentava como um cristão praticante podia apoiar um governante que reprimia e torturava seu próprio povo.
No começo do ano seguinte, Pahlevi comete um erro grosseiro: manda distribuir um panfleto que absurdamente acusava Khomeini de trabalhar para o Serviço Secreto Inglês, além de por em dúvida sua integridade moral.
Quatro mil estudantes saem ás ruas em protesto exigindo liberdade de expressão, a reabertura da madrasah Fayzyya, a libertação de presos políticos e o retorno de Khomeini. O que obtém, em troca, é a violência: a polícia abre fogo contra a população desarmada matando 70 pessoas. Foi o começo do fim para o xá.
Era o estopim da revolução. Se antes a oposição era liderada por intelectuais e acadêmicos, agora os ulemás tomavam a linha de frente. Entre junho e julho o xá, pressionado, prometeu eleições livres e a volta do pluripartidarismo, medidas que acalmaram especialmente os intelectuais,que deram a luta por vencida. Mas um incêndio criminoso atribuído à Savak ocorrido num cinema da cidade de Abadan, que resultou na morte de cerca de 400 pessoas reacendeu as chamas da revolução, que agora era irrefreável. Em quatro de setembro, ocorreu uma grande marcha pacífica no centro de Teerã, em que os manifestantes oferecem flores aos soldados. Pela primeira vez nem um tiro foi disparado e a manifestação contou com a participação da classe média. Finalmente abandonado pelas classes mais abastadas, o xá numa medida desesperada decide proibir qualquer tipo de aglomeração. Os manifestantes ignoraram a lei marcial e o que ocorre em seguida foi um verdadeiro massacre: 900 pessoas foram mortas pela polícia. A comoção toma conta de todo o país e os operários da indústria petrolífera decidiram cruzar os braços. O xá ficou cada vez mais isolado. Khomeini, que havia sido expulso do Iraque a pedido do xá,e encontrava-se exilado em Paris, passa a coordenar da capital francesa as manifestações que se agigantavam e chegavam a atrair dois milhões de pessoas. A situação era absolutamente insustentável: as promessas do xá, já não recebiam crédito e sua saída começou a ser negociada.Finalmente o soberano do Irã percebe o absurdo de ter como principal inimiga sua própria população e deixou o país rumo ao exílio no Egito. Seus representantes, liderados por Shapur Bakhtiar, ainda fizeram um último esforço para manter-se no poder, dissolvendo a Savak e libertando presos políticos, mas viram-se forçados a tender a principal reivindicação popular, que era a autorização do retorno de Khomeini, que chega à Teerã em 01/02/79, onde foi recebido por um milhão de pessoas.
Ente todas as revoluções da História, a iraniana primou pela quase unanimidade da oposição à ordem reinante, já que cerca de noventa por cento da população colocou-se contra o governo Pahlevi. Ao contrário da Revolução Russa, comandada pelos bolcheviques, uma minoria dentro daquela sociedade, o levante no Irã mobilizou todos os setores sociais, desde os mais pobres até a elite. Este particular fez da Revolução Iraniana um dos mais importantes movimentos sociais do século XX.
A COBERTURA INICIAL:
Analisando os periódicos da época da Revolução notamos que, inicialmente o processo revolucionário contava com a simpatia da muitas pessoas, especialmente de setores da esquerda. A violência do regime do xá era amplamente divulgada, e de forma geral a imagem que se tinha era de que um movimento genuinamente popular havia chegado ao poder no Irã.Podemos perceber nas palavras da enviada especial á Teerã, Mara Pinheiro, do Jornal da Tarde, um certo ar de fascínio,quando ela descreve as manifestações.
A verdade é que nenhum dos jornalistas estrangeiros em Teerã jamais havia visto tanta gente reunida de uma só vez. Pois o que aconteceu nesses últimos dois dias na capital do Irã, ultrapassou todo e qualquer prognóstico. As dimensões das duas manifestações são tão gigantescas que qualquer paralelo com outra manifestação já vista torna-se impossível. [...] Uma cidade inteira nas ruas manifestando-se pacificamente. (Jornal da Tarde, 28/12/78)
A edição do Jornal do Brasil de 17/01/79, narrou assim a reação do povo iraniano à partida do xá:
A Rádio Irã anunciou a partida do xá no noticiário das 14 horas locais.Imediatamente milhares de pessoas saíram ás ruas, jogando balas, cravos vermelhos e beijos aos soldados.[...],enquanto todos os motoristas faziam soar as buzinas e acendiam os faróis de seus veículos gritando em coro: “O xá partiu, viva Khomeini!”.(idem).
Quando o regime cai definitivamente, o mesmo jornal, em sua edição de 25/02/79, o repórter parece de certa forma contagiado pelo espírito da revolução:
No dia 11 de fevereiro, naufragou definitivamente o efêmero governo de Shapur Bakhtiar, e com ele, o que restava do odiado regime do xá Reza Pahlevi. (idem).
Até a revista Veja que, como veremos adiante, se tornaria no Brasil a mais ferrenha crítica do regime de Khomeini, comentou a apoteótica chegada do aiatolá ao Irã, e a alegria do povo com o evento. No entanto, esta postura está claramente atrelada á posição norte-americana na época:
A recomendação do embaixador americano em Teerã, William Sullivan, seria a de deixar que o processo revolucionário seguisse seu curso; apoiar Khomeini, líder de um movimento que,em última análise,seria,apesar de tudo, basicamente,pacifista, e, dessa forma,se tentaria evitar uma confrontação em larga escala que poderia terminar beneficiando os marxistas.” (Veja,07/02/1979)
No âmbito internacional, especialmente na mídia francesa, a postura era francamente pró-revolução como atestam as seguintes manchetes:
“A abominável repressão no Irã”, de 30/01/1976, “O massacre dos manifestantes de Teerã”, de 11/09/78, ambas do Lê Monde ou a reportagem da revista Lundi, intitulada “Todo um povo contra o tirano”. Na edição do jornal francês sobre o massacre há uma irônica charge em que o xá, portando uma faca ensangüentada afirma: “Fiz isso para salvar a democracia.”
No entanto, os revolucionários assumiram um país falido, pois no fim da monarquia, pela absoluta impossibilidade de se tocar qualquer negócio, mais de três bilhões de dólares foram retirados do Irã. Além disso, assim que a revolução foi consumada surgiram as primeiras fissuras na coalizão oposicionista que conduzia a luta contra o xá.
E o confronto principal seria entre esquerda e religiosos. O jornal O Estado de S. Paulo fez uma análise bastante lúcida sobre como eram os frágeis e totalmente vinculadas ao momento a união entre os dois grupos.
A débil aliança formada entre os religiosos xiitas e os marxistas que integram a Frente Nacional, parece estar chegando ao fim. A decisão de Khomeini de excluir de seu “Governo Provisório Islâmico” tanto o líder da frente Karim Sandjabi, quanto os demais esquerdistas que o apoiaram na luta contra o xá, já está provocando manifestações de protesto e ira.[...]. O confronto e a cisão já eram esperados. Khomeini e seus seguidores se opuseram ao xá por este ter tentado ocidentalizar e industrializar o Irã, deitando por terra algumas tradições muçulmanas [...].Os líderes da Frente Nacional, por sua vez, decidiram lutar contra o soberano por ele ter se negado a promulgar reformas políticas e democráticas, por ter dado amplos poderes ao exército e à polícia secreta, e , finalmente por ter permitido a dilapidação dos cofres públicos. A única coisa que os religiosos e os políticos tinham em comum, era o ódio ao soberano. Com a saída deste do país, ressurgiram as velhas diferenças. (18/01/79)
A escritora norte-americana Robin Wright, em seu livro The Last Great Revolution, lembra que, a principio, Khomeini não reivindicava o exercício do poder (WRIGHT, 2000 p. 16). Pelo contrário, para perplexidade da mídia ocidental, assim que a euforia pelo seu retorno arrefeceu, Khomeini voltou á Faculdade de Teologia de Qom, onde lecionava antes de ir ao exílio. Pretendia deixar o poder nas mãos dos revolucionários. No entanto, o quadro muda assim que se começa a falar sobre a elaboração de uma constituição para o país. Os grupos revolucionários eram muito heterogêneos, e cada qual tinha sua visão para o que deveria ser o novo Irã. Alguns queriam o modelo francês, com um presidente forte, outros sugeriam outras mudanças, mas nenhum sequer citava o clero em suas propostas. Temerosos de serem marginalizados, ou mesmo excluídos do processo, seguidores de Khomeini conseguiram introduzir uma emenda que vetava certas candidaturas. Funcionou, e, assim, conseguiram a maioria. O poder do presidente ficou reduzido, pois ficaria abaixo do Líder Supremo, o Velayat-e Faqih, comumente chamado Faqih, cujos poderes eram enormes, com poder de veto até sobre o nome do comandante-em-chefe.
O poder foi dividido á moda ocidental, em executivo, legislativo e judiciário, mas para cada cargo havia outro, com poder ao menos equivalente exercido por um clérigo. No judiciário foram criados tribunais revolucionários para julgar, sempre a portas fechadas, pessoas acusadas de comportamento anti-revolucionário. No legislativo, os duzentos e setenta membros do parlamento estavam à sombra dos doze membros do Conselho dos Guardiões, que tinham poder de veto sobre leis consideradas anti-islâmicas.
A partir deste momento, o tom da imprensa em relação à revolução começa a mudar. A repressão aos anti-revolucionários e o modelo de governo que se configurava, nitidamente não ocidental, fez com que as primeiras críticas mais contundentes surgissem. No final de 1979, ocorreria algo que faria do regime iraniano um pária na comunidade internacional.
No dia quatro de novembro de 1979, cerca de quinhentos estudantes iranianos cercaram a embaixada norte-americana em Teerã, que consideravam um QG da contra-revolução, tomando como reféns cerca de cem pessoas, das quais cinqüenta e duas ficaram sob o poder dos estudantes durante exatos quatrocentos e quarenta e quatro dias. O estopim do seqüestro foi o fato dos EUA terem aceitado a entrada de Reza Pahlevi no país para o tratamento de um câncer, em setembro daquele ano. Muitos iranianos não acreditavam que o ex-soberano estivesse realmente doente, e temiam que sua entrada nos EUA, representasse uma nova tentativa de reconduzi-lo ao poder, como em 1953. Segundo entrevista concedida por um dos líderes do cerco, Ibrahim Asghrzadeh (WRIGHT, 2000, P.255) á Robin Wright, a principio, os objetivos dos estudantes eram limitados, pretendiam tomar a embaixada por três ou quatro dias no máximo. Mas o que os estudantes não esperavam era o apoio de Khomeini. Relatos dos reféns americanos são unânimes ao relembrar os rostos estupefatos dos estudantes,quando ao aiatolá apareceu na TV, dando sua “benção” à ocupação, chamando-a de “a segunda revolução”. Com esse gesto, Khomeini transformou um protesto estudantil em um ato de terrorismo de Estado, já que estava, em rede nacional, dando seu aval a um seqüestro, iniciando uma enorme crise internacional. Toda e qualquer simpatia que o Ocidente pudesse ter pela revolução se esvaiu neste episódio. A partir de então o processo revolucionário iraniano estaria definitivamente ligado aos termos “fanatismo” e “radicalismo” e a palavra “xiita”, que nada mais é do que um grupo minoritário dentro da religião islâmica se tornaria de uso corrente no Brasil, especialmente na mídia impressa para designar pessoas de posturas radicais.
Com a morte de Reza Pahlevi no Egito, em 1980 e a invasão do Iraque ao Irã os seqüestradores tornam-se mais receptivos à negociação. Carter, totalmente desgastado com o prolongamento da crise que já se arrastava há mais de um ano, perde as eleições para o ex-ator de filmes de faroeste, Ronald Reagan. Com a intermediação de diplomatas argelinos, o seqüestro chega ao fim, em 20/01/81, ironicamente no dia da posse de Reagan.
O IRÃ NA BERLINDA
Uma das mais longas e sangrentas guerras do século XX iniciou-se no final de setembro de 1980, quando o ditador iraquiano Saddam Hussein invadiu o Irã. O pretexto foi o repúdio, por parte do Iraque, ao acordo de Argel (1975), mediado pelo então secretário de Estado Henry Kissinger. O referido acordo definiu os limites dos dois países ao Shatt Al Arab (“Costa árabe”), um canal de duzentos quilômetros formado pela confluência dos rios Tigre e Eufrates e que passa entre os dois países. O Iraque alegava necessitar de uma saída para o mar, o que facilitaria o escoamento de sua produção de petróleo. A região abriga importantes instalações petrolíferas, tanto do Irã, quanto do Iraque. Saddam Hussein desejava voltar à situação anterior a 1937, quando o Iraque detinha soberania sobre a totalidade do curso de água. Outro motivo que levou Saddam a considerar que sua empreitada seria bem-sucedida era o enfraquecimento do exército iraniano, já que os principais generais e demais comandantes militares de alta patente do exército do Irã haviam sido executados pelos revolucionários. O ditador estimou que talvez jamais se repetissem condições históricas tão favoráveis para o Iraque árabe derrotar o antigo inimigo persa e com isso arrebatar para si o posto de senhor do Golfo Pérsico, vago desde a queda do xá. O momento também parecia propício para Saddam ocupar o papel de líder do mundo árabe, sucedendo o nacionalista egípcio Gamal Abdel Nasser, morto em 1970.
O conflito durou oito anos e matou cerca de um milhão e meio de pessoas, e feriu muitas mais, gerando ainda, milhões de refugiados. Do lado iraquiano pereceram por volta de 375.000 pessoas, enquanto que do lado iraniano mais de 300.000, além dos milhares de mutilados que, infelizmente, levariam para sempre as marcas desta guerra. No fim, nenhum dos motivos alegados para o início da guerra havia encontrado solução. As fronteiras entre os dois países permaneceram praticamente inalteradas.
A guerra Irã-Iraque, no entanto, pode servir como um exercício de observação de como a mídia pode construir a imagem de um aliado ou inimigo de acordo com o que pedem as circunstâncias. Analisando o conflito com o distanciamento que mais de duas décadas permitem, não deixa de ser curioso notar como o “inimigo” que toda potência hegemônica precisa ter para justificar o seu domínio pode mudar de rosto. Sabemos que, após a Guerra do Golfo de 1991, Saddam Hussein se transformou, na mídia e conseqüentemente no imaginário ocidental na mais completa tradução do que seria o “Mal Absoluto”, sendo inúmeras vezes comparado a ditadores como Hitler e sendo chamado de sanguinário,carniceiro,louco e outros adjetivos tão “abonadores” quanto.
No entanto, no começo da década de 1980, o “Mal” atendia pelo nome aiatolá Khomeini, e Saddam era o líder moderno e laico que poderia refrear a exportação da Revolução Islâmica que ameaçava os interesses econômicos do ocidente na região.
Em 01/10/1980, a guerra entre Irã e Iraque foi matéria de capa da revista Veja, a principal revista semanal de informação do país. Nesta matéria, Saddam Hussein, então aliado norte-americano, é descrito como “aguerrido” e sempre chamado de “presidente” e não de ditador, epíteto que se tornou inseparável de Saddam na mídia ocidental na década de 1990.
Segundo a cobertura da prestigiada revista, que hoje soaria irônica, “até os adversários mais ferrenhos admitem que Hussein talvez seja hoje em dia, o mais objetivo e pragmático líder entre os potentados árabe do petróleo.” (Veja, 01/10/80 p.36)
O citado periódico ainda revelava que o bilionário banqueiro David Rockefeller costumava passar horas em amistosa conversa com o ditador, descrito como “cavalheiro de maneiras educadas, impecáveis ternos de corte europeu, tem uma coleção de cachimbos Danhill e se locomove numa limusine Mercedes-Benz”. (idem, p.35). No decorrer da matéria o autor, cujo nome não é revelado quando a revista quer passar sua opinião, ainda tece loas ao processo de modernização vivido pelo Iraque sob sua gestão. Em nenhum ponto da reportagem é citado o fato de que Saddam ascendeu ao poder por meio de um golpe militar, mas seu partido o Baath, é elogiado por ser “ferrenhamente anticomunista”, o que, em tempos de Guerra Fria, era o que bastava para ser considerado um país aliado.
Como se vê, o benefício da dúvida concedido pelo Ocidente á revolução iraniana, durou muito pouco tempo. Após o seqüestro na embaixada americana, o regime iraniano passa a ser demonizado. Simplesmente todas as declarações dadas pelo clero iraniano eram rechaçadas e ridicularizadas, enquanto que as afirmações de qualquer ocidental sempre eram avalizadas, num surto de etnocentrismo raras vezes visto na mídia brasileira até então. Infelizmente este processo de não legitimização do argumento do “inimigo” se tornaria comum após os atentados ao World Trade Center em 2001. De acordo com Dornelles,
“... a idéia sempre foi mostrar Bin Laden como um fanático religioso disposto a destruir uma civilização, alguém que não tem motivação política, mas que é movido pela inveja, pelo rancor. Duas semanas depois dos atentados, Bin Laden mandou uma carta á rede de TV Al Jazira criticando os Estados Unidos pelo apoio á Israel e pela presença de tropas americanas na Arábia Saudita. Mas a imprensa americana e toda a imprensa ocidental destacaram apenas a questão religiosa.” (Dornelles, 2002, p. 183).
No jornal inglês The Independent, de 16/11/2001, o jornalista inglês Robert Fisk afirmou: “Nos próximos dias será feito um esforço para esquecer os motivos dos atentados. E as atenções estarão voltadas para quem e como foram executados.”
Guardadas as devidas proporções foi isto que aconteceu na cobertura jornalística da Revolução após o seqüestro na embaixada americana. De repente, os motivos da revolução e os massacres promovidos pelo xá foram esquecidos. Após o caso dos reféns raramente se lê na imprensa sobre os anos pré-revolução. Passa a ser construída a imagem de um regime opressor e marcado pelo fanatismo religioso, omitindo o fato de que a revolução foi um movimento que englobou todos setores da sociedade iraniana e contou com amplo apoio popular.Porém, a partir do momento que este regime chocou-se com o governo norte-americano, o Irã passa a ser tratado como um Estado bárbaro, ou como afirmaria um repórter não-identificado da revista Veja “inegavelmente, um dos regimes mais detestáveis, incômodos e criadores de caso que o mundo contemporâneo já conheceu.” (Veja, 01/10/80)
Obviamente que não queremos aqui justificar seqüestros ou atentados, mas o fato da mídia ter, nestes casos, ocultado ou minimizado o fato de que ambos os atos tinham alegado fundo político (o exílio do xá e a presença de tropas norte-americanas na Arábia Saudita, respectivamente),concorreu para que os autores destes atos fossem retratados como indivíduos movidos unicamente pelo fanatismo religioso,o que evidentemente não era o caso dos iranianos, que pelos relatos dos reféns não possuíam grande fervor religioso,mas sim eram extremamente politizados, chegando ao ponto de tentar “doutrinar” os reféns para que estes entendessem sua revolta anti-americana.(WRIGHT,2000,P.145)
No final de 1986, mais um capítulo da animosidade entre EUA e Irã seria escrito. Este caso seria conhecido como Irã - Contras. Tal episódio consistiu numa negociata secreta entre o governo de Ronald Reagan e o de Khomeini, para libertar reféns norte-americanos no Líbano, em troca de armas. Com o dinheiro obtido nesta venda, Washington patrocinava a ação dos “contras”, guerrilheiros que lutavam contra o regime socialista instaurado na Nicarágua pela Revolução Sandinista (ARBEX,1993). Toda a operação havia se iniciado em 1985,quando o então Primeiro-Ministro de Israel, Shimon Peres, comunica a Reagan a proposta de poderosos executivos israelenses, de vender armas ao Irã, para facilitar a libertação de reféns americanos no Líbano. A mando de Reagan, John Poindexter, assessor de segurança nacional da Casa Branca e seu braço direito, o coronel Oliver North, organiza missões secretas. Tendo Israel como parceiro no transporte de armamentos e peças para helicópteros e caças para o Irã, vários reféns norte-americanos são libertados. Na época, o Irã encontrava-se em guerra com o Iraque e sofria com a falta de reposição de peças de reposição devido ao embargo americano. Uma das ilegalidades deste caso é que Reagan precisava ter notificado o Congresso para a suspensão temporária do embargo, que, aliás, ele próprio havia assinado. Como não fez isso, transgrediu as leis norte-americanas, e criou um problema para o Senado e na Casa dos Representantes. Em ambas as instituições foram abertas comissões de inquérito, que quase levariam Reagan ao impeachment. Além disso, o presidente norte-americano se mostrou totalmente incoerente em relação á política oficial de seu país que era de não negociar com terroristas.
A revista Veja fez uma cobertura parcial do caso. Na edição de 26/11/86, numa matéria de três páginas, o lado iraniano da história, ou seja, Khomeini merece poucas linhas, em que é retratado como já era de hábito: simplesmente um lunático.
...o aiatolá Khomeini [...] emitiu seu repúdio a Reagan: “Uma grande explosão ocorreu na casa negra”, vociferou o aiatolá referindo-se à Casa Branca, agora que a política de Reagan foi revelada. Chamando o presidente dos Estados Unidos de “Grande Satã” como de costume, Khomeini sepultou qualquer intenção de entendimento que porventura o governo americano tenha cultivado desde que as negociações secretas entre os dois começaram, há dezoito meses.”
Os termos são escolhidos a dedo. Khomeini “vocifera”, enquanto os políticos americanos entrevistados no restante da reportagem “afirmam”. O aiatolá chama os EUA de grande satã, “como de costume”, passando a imagem de alguém irremediavelmente agressivo e fanático, a qual não se deve dar ouvidos. Mas o pior fica para o fim das parcas linhas dedicadas a Khomeini. Apesar do longo histórico dos EUA em apoiar interesses que poderiam prejudicar politicamente o Irã (golpe de 53, xá Reza Pahlevi, Saddam Hussein, etc.), Khomeini é acusado pela referida revista de “sepultar qualquer intenção de entendimento”, como se as concessões tivessem que partir apenas do Irã, e apenas dele dependesse o entendimento entre os dois países.
No final de novembro de 1986, o secretário da Justiça dos EUA, Edwin Meese, revelou que boa parte do dinheiro arrecadado com a venda de armamentos ao Irã, cerca de trinta milhões de dólares, havia sido depositado na conta de contra-revolucionários nicaragüenses. No entanto, o Congresso havia proibido ao governo americano prestar qualquer ajuda aos “contras” sem que antes houvesse um amplo debate no Parlamento. Em poucas palavras, o Governo estava burlando a lei, mediante o uso de uma operação clandestina. Durante os interrogatórios das comissões de inquérito ficou claro que altos funcionários do governo estavam envolvidos na operação, inclusive o então vice-presidente George Bush. O presidente Reagan negou totalmente qualquer responsabilidade, que foi totalmente assumida pelo Coronel North. A popularidade do presidente, que estava em baixa, cresceu quando assumiu que, a seu ver, qualquer ação visando a erradicação do comunismo era legítima. O mesmo ocorreu com North, apoiado até em manifestações de rua, que foi condenado a apenas três anos de prisão domiciliar, uma pequena multa e serviços à comunidade. Das investigações emergiram contrabandistas de armas, especuladores, tráfico de influência, mas, sobretudo a falta de ética manifestada pelo Poder Executivo.
A MORTE DE KHOMEINI: O ADEUS DO IMAM.
Praticamente, desde o início da Revolução, Khomeini que, na época, já tinha 76 anos, preparava o espírito da nação para a ocasião de sua morte.
Segundo matéria publicada no Jornal da Tarde, transcrita da revista alemã Der Spiegel:
Ele autorizou o governo a sonegar a notícia de sua morte pelo tempo que julgar necessário para o interesse da segurança do Estado. [...] Mas aqui está a providência mais importante: Khomeini assinou e lacrou, em 1983, um documento de 30 páginas e determinou que este só fosse lido depois de sua morte. E só se dispõe a revelar antecipadamente um ponto do testamento: o de que hipotecava plena confiança ao aiatolá Hussein Ali Montazeri. (23/12/85).
Os últimos meses de liderança do imam[1] foram conturbados. Além da polêmica sobre o livro de Salman Rushdie, autor de Os versos satânicos, acusado por Khomeini de blasfemo, e que resultou numa sentença de morte que nunca foi efetivamente cumprida, até por ser contrária á própria lei islâmica, que não permite julgamentos extraterritoriais, o líder iraniano ainda expulsou do governo seu ex-aluno e, aquele que, segundo o Der Spiegel seria o seu sucessor, Ali Montazeri. O motivo da mudança de planos foi um discurso realizado por ocasião dos festejos do décimo aniversário da Revolução, em que Montazeri convocava o governo a reparar certos erros do passado e admitindo que a Revolução não houvesse conseguido cumprir muitas de suas promessas. Além disso, em entrevista ao The New York Times, Montazeri mostrara-se preocupado com a péssima repercussão do caso Rushdie para a imagem do país. A fala de Montazeri e a rígida medida adotada por Khomeini, ajudaram a causar um clima de instabilidade. Este clima se agravaria pouco tempo depois.
No dia 23/05/89, Khomeini foi submetido a uma cirurgia de emergência para estancar uma hemorragia no aparelho digestivo. Estava reagindo bem, mas dez dias, 03/06/89, seu estado piorou e o líder da Revolução morreu. Apenas oito horas após o anúncio da morte, a Assembléia dos Sábios designou Ali Khamenei, então presidente do país, como novo Líder Supremo. Assim que a morte do imam foi anunciada, a mídia de todo o mundo iniciou um debate sobre a sua sucessão, mal conseguindo esconder a torcida por um líder laico exilado. O jornal O Estado de S. Paulo de 05/06, publicou uma pequena matéria em que o filho do xá Reza Ciro, acenava com a possibilidade de retorno e assegurava que, com Khomeini, morria também a Revolução. O Jornal da Tarde da mesma data procurou também Shapur Bakhtiar e Bani Sadr.
Shapur Bakhtiar não considera importante a forma de governo. Cita a monarquia espanhola como exemplo de democracia e a república chilena como exemplo de ditadura. A seu ver a República Islâmica está morta e os próprios religiosos sabem disso. (05/06/89).
Bani Sadr afirmava o mesmo com palavras diferentes, insinuando um golpe ao lembrar pela enésima vez suas boas relações com as Forças Armadas. O fato é que toda a mídia considerava a Revolução morta e bastava agora que se decidisse entre a volta da monarquia, a um governo parlamentarista ou um regime apoiado pelos militares. Aparentemente, não passava pela cabeça de ninguém que o Irã continuaria a Revolução. Sem o mesmo fervor de dez anos antes e mais amadurecido, mas certamente repudiando a volta de velhos membros da política iraniana.
Enquanto isso no Irã, esses nomes nem eram lembrados. Para a população em geral, com a transferência de cargo de Khamenei de presidente para Líder Supremo, deixando a presidência vaga era chegada à hora de decidir entre o filho do imam, Ahmad Khomeini e o presidente do parlamento Ali Akhbar Rafsanjani. Khamenei logo demonstrou seu apoio à Ahmad que, certo da vitória, já discursava como presidente, embora sem sequer oficializar sua candidatura. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo,
Depois do luto, a incerteza política no Irã deve crescer até agosto, quando se realizarão eleições para a Presidência da República. Até agora o único candidato é Rafsanjani. Juntamente com a escolha do novo chefe de Estado, deve ser aprovada uma reforma na constituição que dará mais poderes ao presidente. (06/06/89).
No citado periódico, explicava-se também a indiferença iraniana em relação a possíveis sucessores de Khomeini que se encontravam no exílio.
Os grupos que mantém uma parcela do poder atualmente no Irã constataram, com certo alívio, que a oposição iraniana no exílio está tão ou mais dividida do que o próprio regime. Isso faz com que a preocupação principal no momento se situe no plano interno. Nada indica que os vários grupos em Paris, Nova York ou Bagdá possam concluir alianças táticas à curto prazo para ameaçar o poder dos religiosos em Teerã. (idem).
No dia 07/06, Khomeini seria sepultado numa das maiores manifestações públicas da História. Cerca de quatro milhões de pessoas acompanharam o funeral. Oito pessoas morreram na tumultuada cerimônia.
Na mídia brasileira, destacou-se a cobertura da revista Veja. Não por seu jornalismo sério e imparcial, mas por uma das maiores demonstrações de sensacionalismo e etnocentrismo jamais vistas nestas plagas. Comecemos pelo título e subtítulo:
Pandemônio do adeus: numa explosão de fanatismo e histeria, os iranianos se despedem de Khomeini e cultuam seu legado de ódio e intolerância. (14/06/89).
A referida publicação comete, já no início da matéria, um grave erro: a generalização. Não são alguns, ou uma parte da população, mas “os iranianos”, ou seja, um todo, a população de um país, cultua o “ódio” e a “intolerância”, passando assim, a imagem de um povo de má índole que odeia (especialmente a “nossa” civilização ocidental), e não uma população que estava, à sua maneira, lamentando a morte de um líder querido, de alguém que teria libertado-os do regime opressor do xá. A principal característica da matéria é a absoluta incompreensão do significado de um aiatolá para um xiita. A palavra aiatolá, vem do árabe, e significa “sinal de Deus”, e Khomeini era considerado um imam, um legítimo sucessor de Ali e Hussein, respectivamente genro e neto do Profeta Mohammad. No entanto, é impossível descrever o preconceito que permeia todo o texto sem citar alguns trechos.
... O Irã entrou em transe para se despedir do aiatolá Ruhollah Khomeini, chefe supremo, ditador e pai espiritual dos 60 milhões de iranianos e dos xiitas de todo o mundo [...] Cenas dramáticas, quase grotescas marcaram as cerimônias fúnebres do homem venerado há décadas com fanatismo crescente por seus seguidores. (idem).
O fato de o funeral ter sido um tanto tumultuado, algo inevitável devido à intensa aglomeração de pessoas e o forte choque emocional pelo qual passavam, foi usado pela revista como “prova” do fanatismo iraniano. Segundo a Veja, o que houve foi um “desvario”, e o locutor da TV iraniana emocionado, “descabelava-se”. O repórter não identificado mostrava-se atônito com a admiração ao homem que segundo ele,
... Lançou o Irã nas trevas da intolerância e condenou-o ao isolamento internacional, persistiu por oito anos numa guerra cruel, e economicamente devastadora e levou à morte milhares de adversários políticos e religiosos. [...] Foi sepultado como um santo, um ídolo, um salvador. (ibidem).
Percebe-se claramente o completo desprezo do autor ao elemento religioso do fato. Khomeini estava para os xiitas como o Papa está para os católicos, um homem santo, um guia espiritual, e isso lhes bastava. O autor ignora tudo isso, relacionando apenas argumentos materialistas e ocidentais para detestar o aiatolá.
O artigo trata os iranianos como um bando de miseráveis que sofreram lavagem cerebral, como se Khomeini tivesse criado o Islã xiita e não aceita que, aquilo que soa bizarro aos olhos ocidentais e até dos muçulmanos sunitas, nada mais é que uma maneira diferente de demonstrar pesar.
Há uma legenda ao lado de uma das fotos no fim do artigo que resume bem a imagem que a revista construiu do povo iraniano: “Os idólatras avançam sobre o cadáver e uivam: terra em transe”. (ibidem).
Apesar da cobertura etnocêntrica da Veja, houve na mídia brasileira, tentativas de compreender o fenômeno. Foi o caso do jornal O Estado de S. Paulo, que num pequeno Box, como se diz na linguagem jornalística, intitulado “Histeria também é comum no Ocidente”, explicava:
As cenas de histeria e desespero coletivo ocorridas no enterro do aiatolá Khomeini não são privilégio dos iranianos nem característica específica do ramo xiita da religião islâmica. [...] Na Alemanha dos anos 30 [...] o líder nazista era saudado como o “pai do renascimento alemão”, num país que não era conhecido pelo fanatismo religioso. Enquanto levantavam o braço na clássica saudação nazista, em delírio as crianças gritavam e as mulheres caíam em prantos. [...] A histeria coletiva atingiu multidões na China dos primeiros anos da Revolução Cultural (entre 1966 e 1976). Em nome da pureza ideológica, templos religiosos e escolas foram destruídos, por “guardas”, que empunhavam como estandarte o Livro Vermelho de Mao Tse-tung. O culto a um líder morto pode se assemelhar a uma romaria religiosa, como as filas para ver o corpo de Vladimir Lênin... (07/06/89).
Muito embora o jornal compare Khomeini a figuras como Hitler e Mao Tse-tung, nota-se pelo menos uma tentativa de relativizar os fatos e compreender a catarse coletiva ocorrida no Irã, demonstrando que estes fenômenos não são tão incomuns como possam parecer.
Não que Khomeini, pelo menos para um não-xiita mereça algum tipo de apologia. Ele estava longe de ser um santo ou de atingir a perfeição, pelo menos para aqueles que não seguem suas crenças. O que se defende aqui é o respeito à diferença cultural e a tentativa de compreender os valores de um povo a partir de sua própria perspectiva e não com referenciais totalmente estranhos àquela cultura, caindo assim no puro etnocentrismo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se pode afirmar, com raras exceções, que houve propriamente uma “visão brasileira” da revolução. A maioria absoluta das notícias utilizadas neste trabalho, colhidas entre os principais jornais do País, eram meras traduções de artigos fornecidos por agências de notícias internacionais. Dentre todo o material pesquisado, a única correspondente enviada ao Irã, foi a já citada jornalista Mara Pinheiro que, a serviço do Jornal da Tarde, fez um instigante relato do clima das gigantescas passeatas que levaram milhões às ruas a protestar contra o regime do xá. A jornalista infiltrou-se nas manifestações, conversou com os participantes e numa narrativa envolvente, descreveu as “internas” da Revolução. A revista Veja, por sua vez, enviou o jornalista Pedro Cavalcanti ao Iraque na ocasião do conflito com o Irã. Nas demais matérias pesquisadas, não havia correspondentes brasileiros na região, mas sim em Washington, Londres ou Paris. Durante os primeiros anos do processo revolucionário não se notou nos grandes jornais brasileiros, uma interpretação diferente do restante da mídia internacional. A única característica diferenciadora seria o fato de a Revolução ser retratada como um processo anárquico e perturbador da ordem, pensamento possivelmente decorrente do fato de o Brasil estar em plena ditadura militar na época, como mostra a matéria do jornal O Estado de S. Paulo de 18/01/79, intitulada: “Irã, primeiro dia: 30 mortes, renúncias, caos”. Em outro caso, mais explícito, no mesmo jornal, do dia 24/01/79, a manchete era: “Exército do Irã reafirma lealdade ao xá”. No corpo do texto, o jornalista, não identificado, afirmava que “... os militares iranianos continuam leais ao xá Reza Pahlevi e defenderão a qualquer preço o governo legal e constitucional do primeiro-ministro Shapur Bakhtiar...” (O Estado de S. Paulo, 24/01/79).
A revista Veja de 21/02/79, num Box intitulado “Via satélite, a dúvida: isso pode ocorrer aqui?” Colocou no ar a possibilidade de que uma insurreição popular de grandes proporções, aos moldes da iraniana ocorresse no Brasil. Entrevistando “... uma fonte em permanente contato com o general João Baptista Figueiredo...”, a reportagem procurou descobrir se passava pela cabeça do alto escalão do governo militar tal hipótese. Segundo a fonte não-identificada,
O regime do xá era brutal. [...] Já no Brasil estamos caminhando dentro da democracia e a situação das faixas pobres tem perspectivas concretas de solução. [...] Essa revolta toda, misturada com a reação religiosa, aconteceu, entre outras coisas, porque o Irã é um país que ia financeiramente bem, mas onde a quase totalidade da população vive à margem dos benefícios (Veja 21/02/79).
O então presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, Joaquim dos Santos Andrade ao ser procurado pela reportagem, respondeu:
Não acredito que aconteça a mesma coisa no Brasil. [...] Mas é bom lembrar que o povo está distante, longe das discussões; e, quando a distância aumenta, o povo grita. (idem).
Pedro Sampaio, presidente do sindicato dos petroleiros de Santos ia mais longe e afirmava: “Nós também precisamos de um aiatolá”. (ibidem).
Não podemos deixar de citar também o então líder dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que chegaria à presidência do Brasil em 2003, Luís Inácio Lula da Silva: “A vitória da revolução se deveu principalmente ao trabalho político no seio da massa popular”. (ibidem).
A cobertura brasileira dos eventos que se sucederam no Irã, seguiu mais ou menos a linha da imprensa norte-americana, chegando simplesmente a transcrever matérias inteiras, sempre ligando o Irã ao fanatismo, e ocultando possíveis motivações políticas em cada ato extremo eventualmente cometido por iranianos.
É fundamental para o historiador que este se liberte do discurso unilateral, pois se aceitar passivamente a versão única dos fatos propagados pela mídia, perder-se-á o questionamento, o senso crítico, algo imprescindível para a autonomia do profissional da área. Segundo Arbex, (ARBEX, 2000, p.193).
O preconceito cega e impede que a história seja contada. (...) É no processo de interlocução com o outro, no exercício cada vez mais difícil de saber identificar e escutar outras vozes, que o historiador pode resgatar a memória dos fatos para além de sua representação, encontrando as perguntas certas que deverão orientar o seu trabalho de investigação.
Evidentemente, o regime iraniano está longe da perfeição, a começar pela existência do cargo de “Líder Supremo”, que, sempre nas mãos de conservadores, emperra as reformas políticas e sociais que o país tanto necessita. Mas suas características sócio-culturais e a soberania do Irã precisam ser respeitadas, para que este se desenvolva a seu próprio modo, como outros países orientais, sem perder sua identidade cultural, e sua soberania política e econômica.
[1] De uma forma geral, imam é um título dado àquele que lidera as orações ou a um eminente teólogo.Entre os xiitas,no entanto,o imam é um iluminado que deve guiar todo o mundo islâmico em assuntos religiosos ou seculares.
http://www.urutagua.uem.br/005/17pol_traumann.htm#_ftnref2
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