terça-feira, 24 de junho de 2008

Ex-porta-voz diz que Bush escondeu a verdade sobre Iraque

28/05/2008 - 16h12

WASHINGTON (Reuters) - Em um novo livro que promete causar polêmica, Scott McClellan, ex-porta-voz do governo dos EUA, acusou o presidente George W. Bush e seus principais assessores de esconder a verdade para defender a necessidade da guerra contra o Iraque.

McClellan, o primeiro membro do governo Bush a escrever um livro criticando o dirigente (que é texano como o ex-porta-voz), atraiu na quarta-feira críticas de seus ex-colegas da Casa Branca. Eles questionaram porque o porta-voz continuou no cargo se tinha essas opiniões, até agora desconhecidas.

"Se ele acredita que agradará a seus adversários, está redondamente enganado. E, infelizmente, ele acaba de perder os únicos amigos que tinha", afirmou Dan Bartlett, que trabalhou como conselheiro da Casa Branca.

McClellan, no livro "What Happened -- Inside the Bush White House and Washington's Culture of Deception" (Por dentro da Casa Branca de Bush e da cultura de logro de Washington), descreve-se como um antes admirador sincero de Bush que, por engano, viu-se ao lado da "campanha para vender a guerra" no Iraque.

O ex-porta-voz, que argumentou veementemente a respeito da necessidade da guerra quando falava aos microfones da Casa Branca, escreveu que a decisão de invadir o país árabe havia sido um "erro fatídico."

"Segundo acredito, a guerra só deveria ser travada quando necessária, e a guerra do Iraque não foi necessária", afirmou.

DÍVIDA COM O PAI

McClellan descreveu Bush como um "homem com carisma pessoal, perspicácia e uma enorme habilidade política", um homem "mais do que inteligente para ser presidente." Ao mesmo tempo, o ex-porta-voz dissemina críticas ao antigo patrão nas 341 páginas do livro.

"O presidente tinha prometido a si mesmo que conseguiria realizar o que seu pai não havia conseguido ao conquistar um segundo mandato", escreveu McClellan.

"E isso significava estar o tempo todo em campanha, nunca explicar nada, nunca desculpar-se, nunca voltar atrás. Infelizmente, essa estratégia implicou em outras consequências menos justificáveis: nunca refletir, nunca reconsiderar, nunca ceder. Especialmente quando se tratava do Iraque."

Em 2006, McClellan foi substituído no cargo de secretário de imprensa da Casa Branca por Tony Snow. E Snow deu lugar a Dana Perino há cerca de um ano. Perino criticou McClellan.

"Scott, agora descobrimos isso, ficou desapontado com sua passagem pela Casa Branca. Para os que, como nós, lhe dávamos um apoio incondicional antes, durante e depois de seu período como secretário de imprensa, isso provoca espanto. Isso é triste. Esse não é o Scott que conhecíamos", escreveu a atual porta-voz em um e-mail enviado a repórteres.

"O livro, segundo o divulgado pelos meios de comunicação, foi descrito ao presidente. Não acredito que ele se manifestará a esse respeito. Ele tem assuntos mais prementes para lidar do que fazer comentários sobre livros de ex-funcionários", disse ela.

Os EUA invadiram o Iraque sob a acusação de que o então ditador iraquiano, Saddam Hussein, possuía armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas. Bush começou a defender a necessidade de invadir o território iraquiano em 2002, depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra Nova York e Washington.

McClellan, em um capítulo chamado "Vendendo a Guerra," disse que Bush e seus principais assessores não avaliaram direito as implicações do conflito, preferindo ao invés disso defender a necessidade da guerra manipulando a opinião pública.

Segundo o ex-porta-voz, Bush e seus assessores não lançaram mão de uma estratégia aberta de enganação, mas fizeram esforços para "esconder a verdade, minorando o principal motivo para iniciar a guerra e enfatizando uma motivação menos importante que poderia ser enfrentada de outras formas (por meio de pressões diplomáticas mais intensas, por exemplo)."

http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2008/05/28/ult729u74375.jhtm

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