quarta-feira, 2 de julho de 2008

Exército colombiano anuncia o resgate de Ingrid Betancourt

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ex-candidata à Presidência colombiana estava em poder da guerrilha havia 6 anos; outros 14 reféns foram soltos

BOGOTÁ - O Exército da Colômbia resgatou em segurança a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, três americanos e onze militares seqüestrados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciou nesta quarta-feira, 2, o ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos. Os seqüestrados foram libertados após uma operação de infiltração na guerrilha na Colômbia. De acordo com o ministro, o Exército capturou os guerrilheiros que faziam um cordão de segurança na área de cativeiro dos seqüestrados e esses rebeldes teriam convencido os demais rebeldes a entregar os reféns.

O resgate, que aconteceu no departamento de Guaviare, no sudeste da Colômbia, foi fruto de uma operação de inteligência pela qual agentes do governo se infiltraram na guerrilha, informou a agência France Presse.



Santos disse que não houve mortos ou feridos na operação e disse ter perdoado esses guerrilheiros, esperando reciprocidade. Ele acredita que ao perdoar os rebeldes eles poderiam libertar o restante dos reféns.



Segundo o ministro da Defesa da Colômbia, a operação aconteceu a cerca de 70 quilômetros ao sul de San José del Guaviare, capital do departamento, próximo ao rio Apaporis. Vários guerrilheiros - inclusive um líder das Farc identificado como César - foram presos na operação de um grupo de elite das Forças Armadas colombianas.



Os reféns americanos - Keith Stansell, Marc Gonsalves e Thomas Homes - estavam seqüestrados desde fevereiro de 2003 na selva de Caquetá. Eles trabalhavam para a California Microwave Systems, empresa contratada pelo Departamento da Defesa dos EUA para recolher informações sobre as plantações de droga. As Farc os acusavam de ser espiões da CIA, informa o El Tiempo.



"Essa operação, chamada 'jaque', não tem precedentes e mostra a alta qualidade e profissionalismo das forças militares colombianas", destacou Santos, segundo o jornal El Tiempo. O ministro colombiano parabenizou a Inteligência e saudou o generais Freddy Padilla, comandante das Forças Militares, e Mario Montoya, chefe do Exército.



Lorenzo Betancourt, filho de Ingrid, disse esperar "de todo o coração" que a notícia se confirme. "Aguardo mais informações. Espero que seja verdade", disse à agência Efe o filho menor da franco-colombiana. O jovem disse que não recebeu até o momento informações das autoridades francesas sobre a libertação da mãe. Conheça a trajetória de Ingrid Betancourt:



Carreira política




Ingrid Betancourt, nascida em Bogotá (no Natal de 1961), veio de uma família já introduzida na política. Seu pai, Gabriel Betancourt, foi ministro da ditadura do general Rojas Pinilla e depois se tornou diplomata, enviado a Paris, onde Ingrid cresceu. Sua mãe, a Miss Colômbia Yolanda Pulecio, serviu o Congresso representando as comunidades pobres do sul de Bogotá.



Após a morte de Luis Carlos Galán, candidato à Presidência da Colômbia repressor ao tráfico de drogas, em 1989, Betancourt voltou ao seu país de origem e fazer algo por ele. Na década de 90, trabalhou no Ministério das Finanças e foi eleita para a câmara dos deputados em 1994, lançando o Partido do Oxigênio Verde.



Combateu a corrupção e o financiamento de campanha com dinheiro de drogas. Concorreu ao Senado em 1998, conquistando o maior número de votos entre os candidatos. Durante seu mandato, ameaças de morte a forçaram enviar seus filhos pra Nova Zelândia.



Após as eleições de 1998, Betancourt escreveu um livro. Sua primeira versão foi em francês, pois foi proibido de ser publicado na Colômbia. Após um tempo, recebeu versões em espanhol e inglês. No final de 2001, o governo colombiano e a opinião pública estavam ficando impacientes e desencorajados com a situação. Ingrid decide se candidatar a presidente.



O Seqüestro



Ao se lançar à Presidência em 2002 - eleição que Uribe venceu - Ingrid Betancourt queria ir a zona delimitada de San Vicente del Caguán para se encontrar com as Farc. Isso era um ato comum, e muitas figuras públicas visitavam a região, criada para negociações com a guerrilha.



Autoridades insistiam para que Betancourt não visitasse a região. Após ter o pedido de transporte com um helicóptero militar ter sido negado, ela decidiu ir pela estrada. Após parar no último posto policial antes da zona delimitada, os alertas dos militares não foi o bastante e sua comitiva seguiu em frente.



Ignoraram o aviso e as Farc seqüestraram grande parte dos integrantes, e continuaram presos nestes seis anos. O nome de Ingrid não foi retirado da campanha e no final atingiu 1% dos votos.



Com ela foi seqüestrada Clara Rojas, candidata à Vice-Presidência da Colômbia pelo partido "Oxígeno Verde" (Oxigênio Verde) e que foi libertada pelas Farc em 10 de janeiro último.O mesmo espírito destemido que levou Betancourt para Caquetá fez com que dissesse ao Congresso colombiano que o país estava sob governo "de um delinqüente", em referência ao então presidente Ernesto Samper (1994-1998).



Em outra ocasião, declarou que o partido em que iniciou sua vida política, o Liberal, era um clube de "ladrões e corruptos", e o Poder Legislativo, "um ninho de ratos".



Cativeiro



Em seu longo período de cativeiro de mais de dois mil dias, suportou a morte de seu pai, uma das pessoas que mais teve influência em sua vida.



A ex-candidata presidencial colombiana, que tem também nacionalidade francesa, se transformou na "jóia da coroa" das Farc, a mais importante moeda da organização guerrilheira junto com os cidadãos americanos.


Um dos chefes da guerrilha, José Benito Cabrera, conhecido como "Fabian Ramírez", não hesitou em afirmar, poucos dias depois do seqüestro de Betancourt, que a situação dela demoraria a ser resolvida, adiantando na ocasião que a ex-candidata seria a líder de um grupo de reféns "passíveis de troca" por cerca de 500 rebeldes presos.



A família de Betancourt recebeu a primeira "prova de vida" da ex-candidata presidencial em 24 de julho de 2002. Em um vídeo, a dirigente conservava seus brios rebeldes, rejeitava a troca proposta pelas Farc e cumprimentava seu segundo marido, o publicitário colombiano Juan Carlos Lecompte.



Como presente pelo 46º aniversário de Betancourt, Lecompte lançou sobre a selva colombiana, em 25 de dezembro último, cerca de 20 mil panfletos com fotografias recentes dos filhos de Betancourt, com a esperança de que pelo menos um deles chegasse às mãos de sua esposa.



"Este é um momento muito difícil para mim. Pedem provas de sobrevivência à queima-roupa e aqui estou te escrevendo colocando minha alma sobre este papel. Estou mal fisicamente. Não voltei a comer, estou sem apetite, meu cabelo cai em grandes quantidades", disse Betancourt à sua mãe Yolanda Pulecio.



Fugas



A ex-candidata presidencial, cujo único contato com o exterior vinha sendo feito por um aparelho de rádio, tentou escapar várias vezes de seus seqüestradores, segundo contaram alguns dos poucos reféns que conseguiram fugir dos guerrilheiros, como o policial John Frank Pinchao.



Embora Ingrid Betancourt tenha "uma coragem à prova de bala" e um ótimo humor, segundo alguns analistas, sofreu na carne os rigores do cativeiro na selva. Prova disso é um vídeo divulgado em 30 de novembro último, e no qual é vista em uma cadeira em meio à selva, extremamente magra, com o cabelo muito longo e um olhar triste e perdido, em imagens que para muitos ilustram o conflito colombiano.


'Dívida com a Colômbia'


Uma série de acontecimentos na Colômbia, como o assassinato de vários candidatos presidenciais, um frustrado processo de paz com as Farc, a ocupação rebelde do Palácio de Justiça - que culminou na morte de mais de 100 pessoas - e o surgimento do chamado "narcoterrorismo", fez com que Betancourt refletisse sobre suas metas.


Ela sabia que "tinha uma dívida" com a Colômbia, como já havia ensinado seu pai. "O país me chamava", chegou a declarar.

http://www.estadao.com.br/internacional/not_int199448,0.htm

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