sábado, 26 de julho de 2008

Terror na Palestina

Quem trouxe o terror para as ruas de Jerusalém? Quem iniciou o ciclo de destruição e caos? Quem é que explodiu com inocentes e edifícios? Quem é que assassinou soldados Britânicos, enquanto outros lutavam contra a ‘Alemanha Nazi’? O terror na Palestina só tem um pai: o Sionismo.
Detesto clichés. No entanto aquele sobre o terrorista de uns ser o libertador[1] de outros tem uma certa verdade.

Frequentemente o ‘freedom fighter’ é visto como tal em resultado de uma visão romântica ou ingénua, como é o caso da imagem de Che Guevara.

Por vezes a passagem do tempo distorce a percepção, particularmente em casos em que a “correcção política”[2] impede que se analisem os factos. É nesta categoria que podemos incluir a campanha de terror organizada por Avraham Stern, Yitzhak Shamir, Menachem Begin, e outros, no protectorado Britânico da Palestina.

A população judaica na Palestina

Há a comum noção errada de que foi apenas após o final da II Guerra Mundial que a população judaica surgiu na Palestina em resultado da imigração proveniente da Europa arrasada pela guerra, e que isso, juntamente com as tentativas Britânicas para conter o fluxo levou à campanha Sionista pela independência. Isto não é verdade, e para analisarmos as raízes da campanha Sionista temos de olhar para o início do séc. XX.

Em 1918 havia cerca de 50.000 judeus na Palestina, número esse que foi aumentando gradualmente até ao ponto de ter duplicado por volta de 1925. Tão cedo quanto 1921 os Palestinianos Árabes pressionaram[3] a Grã-Bretanha com o objectivo de obterem um governo representativo que lhes permitisse ter poder de veto sobre qualquer futura imigração. Sentindo um descontentamento crescente entre os Árabes, e perante um cenário de motins de rua em 1921/22, o Alto Comissário Britânico[4] Sir Herbert Samuel ordenou a suspensão da imigração Judaica, e embora as tensões tenham arrefecido imediatamente, ela foi calmamente retomada. Ainda antes destes distúrbios, em 1920, um organização judaica para-militar ilegal, a ‘Haganah’, foi formada no Protectorado.

A imigração aumentou em 1933, em resultado da ascensão ao poder de Hitler. Entre 1933-36 a população judaica aumentou de 230.000 para 400.000. A 15 de Abril de 1936 os Árabes declararam uma greve geral que rapidamente se tornou numa rebelião aberta. As autoridade Britânicas só conseguiram restaurar a ordem em Outubro, altura em que já tinham morrido 138 Árabes, 80 Judeus, e 33 soldados Britânicos. As tentativas Britânicas para resolver o problema tornaram-se cada vez mais desesperadas. Em 1937 uma Comissão Real[5] anunciou que um plano para dividir o protectorado em dois Estados: a Galileia e a planície junto à costa pertenceriam aos Judeus, enquanto que Gaza, Sameria, a Judeia do Sul e o deserto de Negev seriam governadas pelos Árabes[6]. Os Britânicos, cada vez mais proteccionistas em relação aos seus poderes políticos e interesses comerciais, manteriam o controlo de Jerusalém, Belém[7], Jaffa e Lod. Os judeus concordaram com o plano, vendo-o como uma maneira de conseguir um ponto forte[8], mas os Árabes não. Eles compreenderam que qualquer concessão ao lobby Sionista seria rapidamente seguida por mais exigências e intimidação. O plano nunca foi implementado. Foi também em 1937 que Vladimir “Zeev” Jabotinsky, Sionista e Comunista, formou a “Irgun Zvai Leumi” (Organização Militar Nacional).

Jabotinsky e a Irgun

Jabotinsky nasceu em Odessa, em 1880, foi jornalista e escritor, e nos meses finais da I Guerra Mundial, estranhamente[9], juntou-se ao Exército Britânico (não se sabe com que objectivo) e lutou ao lado das tropas do General Allenby. Juntamente com Avraham Tehomi, Jabotinsky formou a Irgun, com elementos militantes da Haganah.

Os objectivos declarados da Irgun eram expulsar os Britânicos da Palestina, derrotar politicamente os Árabes, trazer um milhão de colonos Judeus por ano e colonizar ambas as margens do rio Jordão.

O Gang Stern

Após a morte de Jabotinsky, em 1940, (sofreu um ataque cardíaco enquanto angariava fundos junto dos judeus de Nova Iorque) a liderança da Irgun passou para um imigrante polaco chegado recentemente – Menachim Begin. Ao mesmo tempo o movimento dividiu-se, tendo os elementos mais brutais afastado-se sob a liderança de Abraham Stern, formando aquilo que veio a ser conhecido como o ‘Gang Stern’. O Gang Stern acreditava que não devia haver qualquer limitação à expansão Sionista e tentou, imediatamente, forçar uma mudança de política assassinando oficiais Britânicos. O ódio de Avraham Stern pelos Britânicos era de tal ordem que os considerava um inimigo maior do que Hitler, e opunha-se a que judeus se alistassem para a guerra contra a Alemanha. Sentimento bizarro, mas que ajuda a compreender a ideologia de Stern.

De facto, em Setembro de 1940, o gang Stern entrou em negociações com Mussolini, através de um emissário, e em Janeiro de 1941 Stern enviou, pessoalmente, um agente a Beirute (controlada por Vichy) para entregar uma carta aos representantes do Reich. Foi também no Gang Stern que o futuro Primeiro Ministro de Israel, Yitzhak Shamir - adquiriu notoriedade, assumindo a liderança do grupo terrorista após a morte de Stern. O extremismo político de Stern, as tentativas de ligação com os Nazis, os assaltos à mão-armada valeram-lhe o desprezo da maioria dos Judeus. Os Britânicos intensificaram a sua ‘caça’ e capturaram-no num esconderijo em Tel Aviv, a 12 de Fevereiro de 1942, onde foi imediatamente fuzilado. Há uma palavra hebraica – MEKHABBEL – que descreve alguém que luta contra o Estado através de violência política. Por outras palavras: um terrorista. Stern, Shamir e os seus camaradas usavam esta distinção com grande orgulho.

Parece que os terroristas não tinham problemas em assassinar os seus, para alcançar os seus objectivos. Em Novembro de 1940, a Haganah colocou explosivos no SS Patria no porto de Haifa. Em resultado da catástrofe morreram 270 imigrantes. Em 1942 os Sionistas usaram explosivos para afundar o SS Struma no mar Negro. Morreram 769 homens, mulheres, e crianças. Ambas as atrocidades foram atribuídas à imposição Britânica de quotas de imigração.

O terror começa a sério

A evolução do nacionalismo Sionista tinha levado a um ponto em que os radicais é que tinham o controlo. E assim a matança começou.

Em Novembro de 1942, os assassinos Eliyahu Hakim e Eliyahu Beit-Tzur, do Gang Stern, viajaram até ao Cairo e assassinaram o Lorde Moyne, Secretário de Estado Colonial Britânico para a Palestina[10]. (Ambos foram apanhados e enforcados pelos Britânicos. O Primeiro Ministro Israelita, Yitzhak Shamir, antigo membro do Gang Stern, trouxe os seus restos mortais para Israel para que fossem sepultados como “heróis”. Muitas ruas receberam o nome destes assassinos e terroristas).

Como acontece frequentemente, à medida que a campanha de terror se intensificou, as vitimas foram os polícias e soldados Britânicos. A lista seguinte não é, de maneira alguma, exaustiva, mas ilustra bem a campanha de terror e assassínio levada a cabo pelos Sionistas.

14 Fevereiro 1944 – 2 polícias mortos

2 Março 1944 – 1 polícia morto

23 Março 1944 – 3 mortos no Quartel General de Tel Aviv. Três policias mortos no bombardeamento do Quartel General em Haifa. Superintendente da polícia assassinado em Jerusalém

8 Agosto 1944 – 10 polícias mortos durante a tentativa falhada de assassinio do Alto Comissário Britânico

29 Agosto 1944 – Oficial superior da polícia assassinado

29 Setembro 1944 – assassínio do assistente do superintendente

25 Abril 1946 – 7 soldados assassinado, durante o sono, em Tel Aviv

22 Julho 1946 – 91 mortos no ataque bombista ao hotel King David, que servia de escritórios do Secretariado do governo Palestiniano e de Quartel General do exército Britânico. O bombardeamento foi feito com a conivência da Agência Judaica, de David Bem-Gurion.

13 Novembro 1946 – 2 polícias mortos em ataques bombistas

18 Novembro 1946 - 5 polícias mortos em ataques bombistas

21 Novembro 1946 – ataques bombistas aos escritórios do governo Britânico. 9 mortos

2 Dezembro 1946 – 4 soldados Britânicos mortos

Natal de 1946 – ataque à bomba a esquadra de polícia. 6 mortos

26 Dezembro 1946 – 4 cidadãos Britânicos, raptados e espancados

29 Dezembro 1946 - 3 soldados Britânicos, raptados e espancados

12 Janeiro 1947 – 2 polícias mortos em atentado bombista

1 Março 1947 – atentado bombista ao clube de oficiais, em Jerusalém, e outros ataques terroristas. 18 mortos e 85 feridos

18 Abril 1947 – ataque ao hospital militar Britânico. 1 morto

20 Abril 1947 – ataque ao armazém da Cruz Vermelha. Vários soldados feridos

22 Abril 1947 – ataque a um comboio. 5 soldados mortos e 23 feridos

26 Abril 1947 – polícia assassinado em Haifa

9 Junho 1947 – 2 polícias raptados e espancados

31 Julho 1947 – 2 sargentos são encontrados enforcados. Os seus corpos estavam mutilados

Agosto 1947 – 3 polícias assassinados

26 Setembro 1947 - 4 polícias assassinados

29 Setembro 1947 - 9 polícias e 4 civis assassinados

Janeiro 1948 – 1 soldado morto e 4 feridos
Fevereiro 1948 – 27 soldados e aviadores Britânicos assassinados e 25 feridos num ataque a um comboio

23 Fevereiro 1948 – 2 polícias assassinados na cama de hospital em Wallach, e 1 polícia assassinado em Jerusalém

Aprovação oficial

Não há qualquer dúvida de que esta campanha de terror, teve, pelo menos, a aprovação da Agência Judaica (organização oficial representante dos Judeus Palestinianos). O conluio entre a Agência e o Gang Stern é confirmado no Livro Branco do Gabinete Colonial Britânico sobre a Palestina[11]. O presidente[12] da Agência Judaica era David Ben-Gurion, que mais tarde se tornou no primeiro Primeiro Ministro Israelita. De facto, tem sido alegado que foi Ben-Gurion que aprovou o ataque ao hotel King David. Shamir e Begin nunca tentaram esconder o seu passado de “freedom fighters”, vangloriando-se da campanha para livrar a Palestina dos odiosos Britânicos.

Quando a Union Jack foi hasteada pela última vez em Jerusalém, a 14 de Maio de 1948, Ben-Gurion tornou-se Primeiro Ministro.

Algumas semanas antes deste acontecimento a Irgun e o Gang Stern viraram as suas atenções para outros alvos. A 10 de Abril de 1948 a população de Nasr el Din foi massacrada. A 5 de Maio de 1948 foi a vez de homens, mulheres e crianças da aldeia de Khoury. No dia em que o mandato Britânico acabou os aldeões de Beit Drass foram chacinados.

Na aldeia de Deir Yassin, a Irgun matou 250 Árabes, numa orgia de violência sem precedentes. O Secretário de Estado Britânico para as Colónias, falando aos Comuns disse: “Esta bárbara agressão é uma prova de selvajaria. É um crime a acrescentar à longa lista de atrocidades cometidas pelos Sionistas até este dia, e para o qual não conseguimos encontrar palavras de repulsa...”

Perto do final de 1948, o Gang Stern assassinou o mediador das Nações Unidas para a Palestina, o Conde Folke Bernadette. O seu “crime” foi preocupar-se com os Árabes Palestinianos.

Infâmia e Traição

Devemos ter em mente que tanto a Irgun como o Gang Stern incluíam “Bretões”. Alguns, alegadamente, lutaram nas ‘Brigadas Internacionais’ comunistas durante a Guerra Civil Espanhola. Outros, vergonhosamente, eram antigos soldados Britânicos que viraram armas contra os seus antigos camaradas. Devemos também lembrar-nos de que muitos destes actos assassinos contra soldados Britânicos foram levados a cabo enquanto o Exército Britânico libertava campos de concentração na Europa.

Durante toda esta campanha de terror podemos ver a mão de homens que mais tarde se tornariam altas figuras do Estado de Israel e heróis nacionais. Outra figura, que fez nome como o “Carniceiro de Beirute”, muito depois da retirada Britânica, é Ariel Sharon, que também se tornou Primeiro Ministro de Israel. Parece que a linhagem continua, o que não é nada bom sinal para os Palestinianos, ou para qualquer hipótese de paz, numa parte do mundo que tem conhecido muito sofrimento e derramamento de sangue ao longo dos séculos.

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Notas:

[1] no original: freedom fighter
[2] no original: political correctness
[3] no original: lobbied
[4] no original: British High Commissioner
[5] no original: Royal Commission
[6] no original: Galilee and the Coastal plain were to be Jewish, whilst Gaza, Sameria, South Judea and the Negev desert were to be run by the Arabs
[7] no original: Bethlehem
[8] no original: foothold
[9] no original: contrived
[10] no original: British colonial Secretary of State for Palestine
[11] no original: British Colonial Office White Paper on Palestine (cmd. 6873)
[12] no original: Chairman

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