Para Anchieta, governo ‘esvazia fronteiras’ e arrisca soberania e ‘índio não precisa de terra’
Fabiana Cimieri, RIO
O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), classificou ontem a política indigenista do governo Lula de “inconseqüente, incoerente e irresponsável”, em palestra para militares no Clube da Aeronáutica, no Rio. Para ele, o governo federal não tem condições de garantir a cidadania dos índios e cede a pressões internacionais para demarcar áreas de reserva junto à fronteira.
“Essa política equivocada de demarcação de áreas indígenas esvaziando as fronteiras é um risco à soberania nacional. Índio não precisa de terra e sim de condições de vida.” O governador disse que dos 2.212 quilômetros quadrados de fronteira entre Roraima, Guiana e Venezuela, apenas 350 quilômetros quadrados não se encontram em terras indígenas.
Segundo ele, há centenas de ONGs internacionais na região. “A Funai é um órgão para servir às ONGs e luta pela demarcação para justificar sua existência. Porque quem está levando saúde e educação aos índios é o governo de Roraima, apesar de ser obrigação do governo federal.”
Anchieta negou que defenda apenas os empresários do Estado, mas insistiu em que a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol em área contínua compromete a vida de famílias que estão lá há décadas. A reserva tem 1,7 milhão de hectares e inclui área de fronteira. Foi reconhecida em 1998, no governo FHC, e homologada em 2005. Arrozeiros que terão de sair da área são os que mais resistem e propõem uma demarcação em ilhas, que preserve os centros de não-índios.
Para Anchieta, o laudo antropológico que autorizou a demarcação é “fraudulento e mentiroso”. Ele já entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Serra do Sol, que ainda não foi julgada. Em abril, obteve liminar suspendendo a operação da Polícia Federal que retiraria os não-índios. O governador argumentou que a operação poderia criar um clima de violência na região.
“BODE EXPIATÓRIO”
Ontem, Anchieta disse que os índios “estão sendo usados como bode expiatório”. E ironizou, afirmando que é “coincidência” que as áreas de reserva estejam sobrepostas às de riquezas minerais. “Estou tentando evitar uma tragédia para nosso Estado. O que essas ONGs mais querem é ter um cadáver indígena para dizer que o País não cuida dos seus índios.”
Disse ainda ter tido acesso à prestação de contas de uma das principais ONGs que lutam pela demarcação da Serra do Sol, o Conselho Indígena de Roraima (CIR). Segundo ele, a ONG recebeu R$ 14 milhões da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) nos últimos dois anos e gastou R$ 12 milhões apenas com folha de pagamento e encargos.
Em São Paulo, o coordenador do CIR, Dionito José de Souza, reagiu: “O governo de Roraima é antiindígena porque considera os índios brasileiros como estrangeiros, o que ele diz são inverdades para manipular a sociedade.” Sobre a verba, explicou que o CIR emprega 450 funcionários por meio da Funasa. “Tudo é legal, temos prestações de contas, o Tribunal de Contas da União nos fiscaliza e se houvesse alguma irregularidade não teríamos esse repasse que temos desde 1996.”
O líder dos arrozeiros, Paulo César Quartiero (DEM), prefeito de Pacaraima (RR), também estava na palestra no Rio. Ele disse que acatará a decisão do STF. “Vamos ter que acatar, mas temos que tomar uma atitude. Nós nos sentiremos pessoas sem pátria”, disse. “Se o STF der área contínua, eles vão nos varrer do mapa? Vamos resistir com o quê? Vamos protestar.”
COLABOROU ROBERTO ALMEIDA
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Comentário: Saldade do tempo em que português atirava em índio que causava problema.
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