quarta-feira, 11 de junho de 2008

Por que precisamos de Filosofia e Sociologia?

Prof Roberto Andersen
www.iupe.org.br
Fevereiro – 2004

Sempre que ouço esta pergunta surge em mim, imediatamente, um sentimento de “pena” para com a pessoa que a profere. Um sentimento que, ao mesmo tempo, me leva a compreender os motivos pelos quais toda uma geração, para não incomodar o sistema dominador, foi impedida de ter acesso às únicas disciplinas capazes de bem desenvolver a capacidade de discernimento, entendimento e compreensão da vida e dos fatos: a Filosofia e a Sociologia.

O sistema as retirou, durante quase vinte anos, dos currículos escolares e perseguiu arduamente os que ainda tentavam, por meio de poesias, peças teatrais, músicas e artes, construir no adolescente e no jovem um pouco do necessário espírito da curiosidade positiva e do questionamento responsável, que são as únicas formas de permitir a criatividade e a evolução intelectual do gênero humano.

Durante todos esse anos calaram-se os jovens. Alguns foram calados “a pulso”... dando muito trabalho aos órgãos repressores, mas a maioria foi calada pelo forte e inteligente sistema de manipulação de massa, levando em consideração os ensinamentos de Maquiavel (O Príncipe) e do Padre Baltasar Gracián (A Arte da Prudência).

Se a filosofia ensina a pensar o mundo, a vida e os fatos de forma profundamente analisadora e questionadora, na procura das razões primeiras de tudo, a sociologia ensina a pensar o grupo social e as razões que os levam a tomar atitudes muitas vezes consideradas como irracionais.

Ambas fazem do Ser Humano mais do que um simples elemento no grupo, já que desenvolvem nele a habilidade necessária ao exercício da verdadeira cidadania, com competência não só para entender o mundo e os fatos, mas também para influenciar e participar ativamente das necessárias reconstruções sociais.

É, então, o correto aprendizado dessas duas disciplinas, que afasta o Ser Humano da alienação social, ou seja, impede sua fácil manipulação o que, infelizmente, ocorre com grande parte da humanidade. Essa manipulação está descrita, com bastante propriedade, nas obras citadas de Maquiavel e Gracián.

Aprender Filosofia é aprender a olhar o mundo e os fatos com mais cuidado e mais responsabilidade, procurando analisar os seus porquês. Aprender Sociologia é aprender a analisar o comportamento social com mais abrangência, procurando compreender as atitudes das pessoas e dos grupos para poder interferir no momento certo e da forma mais acertada, para alcançar os seus objetivos.

Embora as disciplinas estejam de volta o adolescente e o jovem ainda continuam alienados e sem a menor capacidade de exercer um bom questionamento produtivo ou uma verdadeira participação social, já que muitos professores e pais ainda não conseguiram entender a responsabilidade de sua tarefa.

A tarefa agora é dos pais e dos professores, inserindo nas aulas e nas conversas o ensinamento da neutralidade do pensamento, da análise racional e do entendimento da capacidade intuitiva e criativa de cada um, para que, aos poucos, o adolescente e o jovem possam vir a construir a sua identidade própria, evitando a alienação atual evidente nas cópias televisiva dos “Big Brothers, Malhações” e outros elementos “mediocrizadores” de nossa juventude.

Todos precisamos de muito esforço e dedicação para afastar os únicos modelos conhecidos durante o período das trevas, iniciado no governo Médici e com péssimas conseqüências sentidas até os dias de hoje, que eram os modelos ideais de incitação à acomodação social, como bem deseja qualquer sistema dominador mundial.

Mas para isso temos que incentivar aos professores para que saiam de um dos “nichos” de proteção, originários desses quase vinte anos de “pão e circo”.

O primeiro é o teórico total e analítico estreito, ou seja, aquele que sugere a seus alunos o envolvimento total com uma linha filosófica ou sociológica, e o ensina a escrever, falar, discursar, elaborar trabalhos, dissertações e teses obrigatoriamente enquadrados em um referencial teórico muito bem definido, sem qualquer ligação com a realidade do dia-a-dia.

O segundo é o teórico revoltado extremista, que não aceita opiniões discordantes das suas insatisfações para com o mundo, a vida e o sistema vigente, incapacitando, da mesma forma que o modelo anterior, qualquer desenvolvimento mental sadio e produtivo.

O caminho é simples e prático. Observe a criança, sua natural curiosidade e sua verdadeira criatividade. Embora ela, além de amor, precise de limites para o entendimento das regras sociais e o despertar do necessário instinto da conquista, ela não deveria ser tolhida em sua curiosidade nem em sua criatividade.

Se adotarmos esse modelo para nós mesmos, veremos que os limites são os éticos, que devemos estar sempre dispostos a adotar, mas curiosidade, exercício do questionamento, análise neutra dos fatos e criatividade devem ser incentivadas a cada instante, já que é a única forma de crescermos intelectual e emocionalmente e afastarmos o fantasma da mediocridade.

Esse é exatamente o modelo básico conseqüente do correto e eficaz estudo da Filosofia e da Sociologia.

Iupe-Site/ass/filosofia/filosofia-001.htm
Última atualização: 20/02/2004

http://www.iupe.org.br/ass/filosofia/Fil-001.htm

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